sábado, 8 de março de 2025

“Око”, o olho em russo arcaico


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Dedico esta publicação
à memória de Jaílson Mendes.
(Os fortes entenderão...)


Em conversa com um amigo meu, que não conhece a fundo línguas eslavas, estava lhe dizendo que, embora na maioria dessas línguas se use a palavra “óko” (e o plural “ótchi”, originalmente um dual) pra designar “olho”, em russo a palavra é bem diferente: singular “glaz”, plural irregular “glazá”, relacionadas com o radical “gliad-” (olhar, olhada). Conforme se lê no verbete do Wiktionary acima, a forma “oko” é arcaica e usada apenas em contextos poéticos, figurados ou eruditos, como na célebre canção Óchi chórnye (Olhos negros). Abaixo segue a declinação completa dessa palavra:


Já em ucraniano, seguindo a maioria das línguas eslavas, ainda é a forma padrão usada com o significado de “olho” (veja também a declinação):




Do nada, esse meu amigo me assusta com a pergunta se “oko” também não designava o toba, segundo lhe teria dito um antigo professor de russo seu, de origem ucraniana. Claro que por associação podemos pensar no “olho de trás”, mas nunca soube desse significado, e até fui na versão russa, na qual vi apenas “aquilo que pela aparência externa ou pela destinação faz lembrar o olho [glaz]”. Depois é que acabei achando a palavra “ochkó”, desconhecida minha até então, que tinha aquele sentido e tantos outros mais:




Enfim lhe disse também que, assim como várias palavras ou radicais do português moderno, a forma “oko” (às vezes alterando com “och(e)-”) hoje é de longe mais usada em derivações que guardam uma vaga relação com o sentido original, e não como vocábulo independente. Seguem os respectivos exemplos de “testemunha”, “óbvio”, “janela”, “remoto” (ou “a distância”, ou “in absentia”) e “óculos”, que, como entre nós, só se usa no plural:










sexta-feira, 7 de março de 2025

Votos de François Hollande pra 2014


Endereço curto: fishuk.cc/voeux2014

Desde a primeira posse de Emmanuel Macron, em 2017, os registros no site oficial do Elysée começaram a ficar muito bagunçados, e alguns discursos sumiram, outros ficaram mais difíceis de encontrar, não foi constituído um acervo de vídeos históricos etc. Por isso, fiquei dependente do que pude encontrar pelo Google ou no YouTube.

Curiosamente, os europeus pareciam gostar nos anos 2000 muito mais do Dailymotion ou do Vimeo do que do próprio YouTube, portanto, foi muito mais fácil achar os discursos de Sarkozy na primeira plataforma. A partir de 2013, sob François Hollande, ficou mais fácil achar em canais diversos do YouTube, sobretudo de agências de notícias, como estes votos pra 2014. Porém, até hoje não entendo por que nenhum vídeo do presidente Hollande foi publicado no YouTube oficial, enquanto o Dailymotion oficial é o mais completo de todos. Além disso, conforme as datas dos vídeos, há um “buraco” no YouTube entre 28 de janeiro de 2011 e 15 (“Ao vivo”) ou 18 (“Vídeos”) de janeiro de 2019...

O ano de referência sempre é o próximo, ao qual cada presidente está desejando votos, e não o que está acabando, quando o discurso é gravado e lançado. Uso o Google Tradutor pra obter os textos mais rapidamente, mas revisando e confrontando manualmente com os originais. Pra França, a fonte desses textos, como é o caso dos votos pra 2014, está sendo um site de informações políticas, econômicas e sociais chamado “Vie publique”, ligado ao gabinete do primeiro-ministro, mas infelizmente pouco divulgado.



Meus caros compatriotas,

Antes de lhes dirigir meus votos, gostaria de lhes falar sobre o que temos em comum e de mais estimado: nosso país.

O ano de 2013 foi intenso e difícil.

Intenso, porque a França assumiu suas responsabilidades durante graves crises internacionais: Mali, Síria e, bem mais recentemente, a República Centro-Africana.

Intenso, porque a Europa finalmente conseguiu superar a turbulência financeira que atravessava desde 2008.

Intenso, porque o Governo promoveu reformas para restaurar nossas contas públicas, melhorar a competitividade das empresas, modernizar o mercado de trabalho e consolidar nossas aposentadorias, tendo em conta o desgaste de cada trabalho.

Ele priorizou a educação – esse era meu compromisso – e tornou o casamento igualitário.

Mas 2013 também foi um ano difícil para muitos de vocês e para o país. Porque a crise se revelou mais longa e profunda do que nós mesmos havíamos previsto.

E pagamos o preço com um crescimento fraco e uma sucessão de planos sociais.

O próprio estado do país justificou que eu lhes pedisse esforços.

E sei o que eles representam.

Os impostos se tornaram pesados, pesados demais, tendo se acumulado ao longo de muitos anos.

Em 2013, o desemprego permaneceu em um nível alto, embora a tendência nos últimos meses tenha sido de melhora.

Os resultados certamente levarão um tempo para aparecer, mas estão aí. E tenho confiança nas escolhas que fiz para o país.

Esta noite repito a vocês: tenho apenas uma prioridade, um objetivo, um compromisso, que é o emprego!

Pois cada emprego criado é um pouco de força recuperada. Cada desempregado que volta a trabalhar é uma família que retoma o fôlego, é uma esperança que retorna, é poder de compra que se retoma, é justiça social reencontrada.

Em 2014, precisaremos da mobilização de todos para vencer essa batalha.

Por isso, estou propondo às empresas um pacto de responsabilidade. Ele é baseado em um princípio simples: menos encargos sobre o trabalho, menos restrições a suas atividades e, em troca, mais contratações e mais diálogo social.

Aliás, gostaria de homenagear os parceiros sociais que, no início do ano, já haviam conseguiram concluir um acordo sobre a segurança do emprego e, nos últimos meses deste ano, concluíram um acordo sobre formação profissional.

Ele permitirá que os jovens sejam melhor integrados. Aos desempregados, terem mais apoio em direção ao emprego. Aos menos qualificados, dispor de uma nova chance na empresa.

Por isso, uma lei será aprovada no início de 2014, porque quero traduzir essa reforma em realidade o mais rápido possível.

Por fim, a Nação deve se mobilizar em torno de sua escola, que deve aliar a excelência no acesso ao conhecimento com altos padrões no combate às desigualdades.

2014 também será o ano de decisões fortes. Três são essenciais, a meu ver.

Primeiro, quero reduzir os gastos públicos. Devemos economizar onde for possível. E tenho a certeza de que podemos fazer melhor gastando menos.

Isso se aplica ao Estado, que deve se concentrar em suas missões essenciais, mas também às autoridades [collectivités] locais, cujas competências devem ser clarificadas; e à previdência social, que é nosso bem mais precioso, que deve pôr fim aos excessos – os quais conhecemos – e aos abusos. Porque põem em xeque a própria ideia de solidariedade.

Precisamos gastar menos para reduzir nosso déficit, mas também para poder reduzir impostos no longo prazo. Esse é o sentido da reforma tributária que empreendemos. Assumirei pessoalmente a responsabilidade e o monitoramento desse programa de economia durante todo meu mandato.

A seguir, a segunda decisão: quero simplificar a vida de cada um de vocês. Para procedimentos administrativos, atividades cotidianas, criação de empresas e consecução de investimentos. Tudo deve ser facilitado. É uma condição para sermos mais atrativos, mais modernos e mais flexíveis.

Por fim, quero que nosso país conclua sua transição energética. Seus objetivos são claros: economizar energia, renovar nossas habitações, combater o aquecimento global e apoiar o empreendedor autônomo [artisanat], bem como uma nova indústria que está surgindo graças à transição energética.

Meus caros compatriotas,

A França tem todos os atributos para o sucesso. Somos um país de invenção, inovação, criação, em todas as áreas. Penso na magnífica proeza que foi desenvolver um coração artificial, a primeira vez em que essa técnica foi desenvolvida no mundo. Penso também nos transportes, com os veículos elétricos; na agricultura, com a química verde; no digital, onde também somos os melhores; na cultura, onde temos excelência.

Portanto, a França será forte se soubermos nos unir em torno do essencial, isto é, do destino econômico, industrial e produtivo de nosso país nos próximos dez anos.

A França será forte se permanecer solidária. Se construir mais moradias, reduzir a pobreza e acolher melhor as pessoas com deficiência ou dependentes de outros.

A França será forte se for intransigente no respeito a suas regras: a segurança, que é a garantia da liberdade; a independência da justiça, que significa imparcialidade; a laicidade, que é a condição para vivermos juntos.

Serei intransigente diante de qualquer infração, diante do racismo, do antissemitismo e da discriminação.

A República não é negociável. As leis não são negociáveis. O modelo francês é muito menos negociável. Porque é ele que nos permite avançar, de geração em geração.

Esses valores, todos esses valores da República, também os afirmamos no mundo. A França está sempre na vanguarda, e tenho orgulho disso, a serviço da paz. É sua honra. É seu dever.

Por isso, intervimos no Mali, para combater o terrorismo. Atuamos para impedir o uso de armas químicas na Síria. Estamos presentes na República Centro-Africana para salvar vidas humanas e evitar que crianças sejam cortadas em pedaços, como tem acontecido. Para defendermos em todos os lugares os Direitos Humanos, a dignidade das mulheres, o tratamento diferenciado à cultura [exception culturelle] e a preservação do planeta.

Saúdo todos os que se dedicam a isso, e em particular nossos soldados que são mobilizados, às vezes, à custa de suas vidas. Nove deles, eu disse nove mesmo, tombaram pela França este ano. Curvo-me à memória deles e renovo meu apoio a suas famílias.

Meus caros compatriotas da Metrópole e do Ultramar,

Na próxima primavera, vocês serão consultados por meio de duas votações.

Eleições municipais para designar os políticos que serão parceiros do Estado para pôr nosso país em movimento, mas dentro de um quadro que deve ser precisado. Uma nova lei de descentralização concederá mais responsabilidades aos políticos e simplificará a organização territorial de nosso país, que se tornou indecifrável e onerosa.

Quanto à renovação do Parlamento Europeu, deve ser uma chance para promovermos uma maioria política que deverá centrar-se no emprego e na solidariedade, e não na austeridade e no egoísmo nacional.

Não é desmantelando a Europa que criaremos a França de amanhã. É fortalecendo-a que ela nos protegerá mais. E não deixarei fazer o que bem entenderem aqueles que negam o futuro da Europa, que querem regressar às antigas fronteiras, pensando que elas os protegeriam, que querem sair do euro. Serei o depositário de todas as gerações que lutaram pela Europa. Portanto, a partir da próxima primavera, tomarei iniciativas com a Alemanha para dar mais força a nossa União.

Meus caros compatriotas,

Mais do que nunca, devemos amar a França. Não há nada pior do que a autodepreciação. Ser lúcido jamais impediu que alguém fosse orgulhoso.

A França não é apenas uma grande história – e teremos que celebrá-la em 2014, no centenário da Primeira Guerra Mundial. A França é uma promessa, é um futuro, é uma oportunidade.

Sim, é uma sorte ser francês no mundo de hoje. E fortalecido por essa convicção, dirijo a vocês meus mais calorosos votos para este novo ano.

Meus desejos são de sucesso para todas e todos vocês, mas também para todos os outros.

Neste momento, não esqueço aqueles que estão sofrendo, que vivem isolados, que estão mal alojados ou que estão até mesmo sem teto.

Temos um dever de solidariedade para com eles.

Penso também em nossos concidadãos mantidos reféns. Um deles, o Padre VANDENBEUSCH, acaba de ser libertado. Estou feliz por ele e sua família. Mas ainda restam seis detidos.

Em nome da fraternidade que nos une, farei de tudo para libertá-los.

Estes são meus desejos para o novo ano: a batalha pelo emprego que deve ser o sucesso da França.

Viva a República!

Viva a França!



quinta-feira, 6 de março de 2025

Votos de François Hollande pra 2013


Endereço curto: fishuk.cc/voeux2013

Desde a primeira posse de Emmanuel Macron, em 2017, os registros no site oficial do Elysée começaram a ficar muito bagunçados, e alguns discursos sumiram, outros ficaram mais difíceis de encontrar, não foi constituído um acervo de vídeos históricos etc. Por isso, fiquei dependente do que pude encontrar pelo Google ou no YouTube.

Curiosamente, os europeus pareciam gostar nos anos 2000 muito mais do Dailymotion ou do Vimeo do que do próprio YouTube, portanto, foi muito mais fácil achar os discursos de Sarkozy na primeira plataforma. A partir de 2013, sob François Hollande, ficou mais fácil achar em canais diversos do YouTube, sobretudo de agências de notícias, como estes votos pra 2013. Porém, até hoje não entendo por que nenhum vídeo do presidente Hollande foi publicado no YouTube oficial, enquanto o Dailymotion oficial é o mais completo de todos. Além disso, conforme as datas dos vídeos, há um “buraco” no YouTube entre 28 de janeiro de 2011 e 15 (“Ao vivo”) ou 18 (“Vídeos”) de janeiro de 2019...

O ano de referência sempre é o próximo, ao qual cada presidente está desejando votos, e não o que está acabando, quando o discurso é gravado e lançado. Uso o Google Tradutor pra obter os textos mais rapidamente, mas revisando e confrontando manualmente com os originais. Pra França, a fonte desses textos, como é o caso dos votos pra 2013, está sendo um site de informações políticas, econômicas e sociais chamado “Vie publique”, ligado ao gabinete do primeiro-ministro, mas infelizmente pouco divulgado.



Meus caros compatriotas,

Fiel a uma bela tradição, dirijo a todos e cada um de vocês meus mais calorosos votos para o ano novo.

Em maio passado, vocês me confiaram a tarefa de liderar nosso país em um momento particularmente difícil. Com uma crise histórica, um desemprego que há quase dois anos não para de aumentar e uma dívida recorde.

Não ignoro nenhuma das inquietações de vocês. Elas são legítimas. E não pretendo esconder de vocês as dificuldades que nos aguardam. Eles são sérias.

Mas esta noite quero lhes expressar minha confiança em nosso futuro: a zona do euro foi salva e a Europa finalmente se dotou dos instrumentos de estabilidade e crescimento que lhe faltavam. Esse resultado parecia, há apenas seis meses, fora de alcance. Ele foi atingido.

Minha confiança está, acima de tudo, na França. Conheço o talento tanto de nossos empregadores quanto de nossos assalariados. Meu dever, meu primeiro dever, meu único dever, é fazer nosso país avançar e fazer nossa juventude recuperar a esperança.

Por isso, desde minha eleição, tomei três decisões principais com o governo de Jean-Marc AYRAULT.

A primeira foi restaurar nossas contas públicas. Quero livrar a França das dívidas. Foi necessário um esforço. Eu sei o que ele representa depois de tantos anos de sacrifícios. Garanto-lhes que cada euro arrecadado será acompanhado de uma luta drástica para reduzir gastos públicos inúteis. O dinheiro dos franceses é precioso. Cada um de vocês o ganha duramente. Ele deve, portanto, estar a serviço de um Estado exemplar e parcimonioso.

A segunda decisão é o pacto de competitividade. A partir de 2013, quero restituir margens de manobra às empresas, com um crédito fiscal de 20 bilhões de euros para permitir que elas contratem, invistam e exportem.

O terceiro é controlar as finanças: foi criado o Banco Público de Investimento, a próxima lei bancária nos protegerá da especulação e o imposto sobre transações financeiras será introduzido em nível europeu no ano que vem.

Essa marcha adiante não ocorreu sem sobressaltos nem contratempos. Concordo. Mas o cronograma que estabeleci visa fazer as reformas agora para sairmos da crise mais rápido e mais fortes.

Essas decisões eram essenciais e haviam sido adiadas por tempo demais. Eu as tomei com espírito de justiça.

Justiça fiscal, primeiramente. Agora, a renda de capital é tão tributada quanto a renda do trabalho. E sempre será exigido mais daqueles que têm mais. Esse é o sentido da contribuição excepcional sobre os rendimentos mais elevados que será reorganizada, seguindo a decisão do Conselho Constitucional, sem alterar seu objetivo.

Justiça social, com o aumento do salário mínimo, do RSA [auxílio desemprego sob condição de buscar trabalho ou realizar alguma atividade] e da ARS [subsídio de volta às aulas concedido a famílias mais pobres para arcarem com custos escolares gerais dos filhos]. E o direito de se aposentar aos 60 anos para quem começou a trabalhar cedo.

Justiça entre as gerações, com prioridade para a educação nacional, com professores mais numerosos e mais bem formados.

2012 foi, portanto, o ano em que iniciamos juntos a recuperação.

2013 será o ano da mobilização de todos para que tenhamos sucesso.

Todas as nossas forças estarão concentradas em um único objetivo: reverter a curva do desemprego dentro de um ano. Teremos que conseguir isso a todo custo.

Com 150 mil empregos promissores para os jovens mais distantes do mercado de trabalho. Com os contratos de geração que permitirão unir a experiência dos mais velhos com a esperança dos mais jovens. Eles entrarão em vigor amanhã.

Com a formação profissional que será reformada com prioridade para acompanhar os desempregados em direção ao emprego.

Mas o Estado não é o único ator. É por isso que o governo abriu negociações sobre a segurança do emprego.

Seu objetivo? Dar mais estabilidade aos assalariados e mais flexibilidade às empresas. Resumindo, afastar um duplo medo: o de ser demitido para trabalhadores, e o de contratar para empregadores. Se essa negociação for bem sucedida, será uma oportunidade para a França. Confio em que os parceiros sociais assumirão suas responsabilidades. Caso contrário, eu as assumirei.

Eis aí o rumo definido: tudo pelo emprego, pela competitividade e pelo crescimento.

Esse rumo será mantido com unhas e dentes. Não vou me desviar dele. Não por teimosia, mas por convicção. É do interesse da França.

Para se preparar para o futuro, nosso país precisa investir em todas as áreas; em nossos setores industrial e agrícola, na habitação, no meio ambiente, na saúde, na pesquisa e nas novas tecnologias. Por isso, pedi ao governo que propusesse uma estratégia de investimentos públicos e privados para modernizar a França tendo 2020 como horizonte.

Caros compatriotas da Metrópole, do Ultramar e no exterior, temos todos os recursos para ter sucesso, desde que concordemos com o essencial. E mesmo que às vezes possamos discordar em grandes questões societárias, como será o caso em 2013, a França é a França quando avança na igualdade de direitos – incluindo o casamento igualitário –, na democracia – incluindo a não acumulação de mandatos – e no respeito pela dignidade humana – incluindo a eutanásia.

A França também é ela mesma quando defende seus valores no mundo.

Ela fez isso no Afeganistão. Sua missão foi cumprida. Como prometido, todos os nossos combatentes voltaram para casa no Natal. Expresso minha gratidão a nossos soldados por sua coragem e saúdo a memória dos que morreram pela França. São 88. E não me esqueço dos feridos: são mais de 700.

É sempre em nome desses valores que a França apoia a oposição à ditadura na Síria. E, no Mali, os povos africanos em sua luta contra a ameaça terrorista.

Penso especialmente em nossos reféns [tomados no Níger e no Mali por grupos terroristas islâmicos] e suas famílias, que vivem na angústia. Que eles saibam bem que tudo está sendo feito para obter sua libertação. Sem transigir em nenhum de nossos princípios.

Uma de nossas forças está na solidariedade. Ela é nossa dívida para com os povos oprimidos e, bem perto de nós, para com os mais frágeis, os doentes, as pessoas isoladas, aquelas com deficiência ou que sofrem com a precariedade ou a solidão. Não são meros receptores de assistência social. São cidadãos, machucados pela vida em dado momento.

Para uma grande Nação como a nossa, é dever de honra ser capaz de combinar competitividade e solidariedade, desempenho e proteção, sucesso e partilha.

É a ambição desta França reconciliada e autoconfiante que carrego para o ano que começa. É essa ambição que dá sentido ao esforço de todos.

Viva a República!

Viva a França!



quarta-feira, 5 de março de 2025

Wałęsa e amigos em prol da Ucrânia


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Meu amigo Claudio me mandou outro dia uma tradução desta carta aberta a Donald Trump publicada em 3 de março pelo ex-presidente polonês Lech Wałęsa (pron. “lérr vauénnça”) em sua página do Facebook e assinada por diversos outros prisioneiros políticos do tempo da Polônia socialista. Porém, a edição estava péssima, e decidi procurar o original, o que consegui por meio do New York Times, que a traduziu pro inglês e deixou o link original. O ex-líder sindicalista e fundador do célebre sindicato “Solidariedade”, que enfrentou os governos de Stanisław Kania e, após o golpe militar de 1981, do general Wojciech Jaruzelski, na virada entre as décadas de 1970 e 1980, expressou sua repulsa quanto ao (des)tratamento concedido pelo Imperador do Mundo ao presidente ucraniano Volodymyr Zelensky em Washington, no último 28 de fevereiro.

Embora de idade bem avançada e mesmo não tendo sido muito aprovado como primeiro presidente da Polônia pós-soviética, Wałęsa ainda tem sua voz muito respeitada e chegou a participar em manifestações de rua contrárias a vários retrocessos que o atual presidente ultraconservador Andrzej Duda queria impor. A sorte, pelo menos, é que na “Polska” até a extrema-direita é anti-Putler, o que não é necessariamente o caso em outros países da Europa e das Américas, e a contrariedade a Moscou nasceu de séculos de dominação imperial e repressão à cultura local, bem antes do bolchevismo.

Deixo a vocês o desfrute do conteúdo, lembrando apenas que entre nossas “ex-querdas”, ainda existe uma gigante incompreensão sobre a natureza do regime soviético e de seu surgimento e evolução nos países vizinhos a partir de 1945. Só porque esse bloco se dizia “antiamericano”, nossos “comunistas” se calaram diante da desumanização das populações locais, denunciando apenas os excessos ocorridos sob governos ditos “capitalistas” e “burgueses”. Infelizmente, esse desconhecimento, alimentado pela falta de domínio de línguas estrangeiras e pela tradução mais ampla somente de literatura enviesada (tanto pró-URSS quanto da direita moralista), acaba legitimando a defesa do indefensável, a qual termina se estendendo do terrorismo comunista pro genocídio putinista. Só pra ficar contra o Til Çan...

Associando essa distopia aos delírios do Tio Patinhas, Wałęsa joga nessa juventude aloprada um banho de água fria.



O Carnaval alemão costuma ser muito mais político (ou politizado) do que o nosso, mesmo no tocante aos carros alegóricos.


Depois da decisão dos EUA de suspender os fornecimentos à Ucrânia, se a resposta estivesse em minhas mãos, seria “Vamos fazer nossa parte”, nem um passo para trás. AMÉM.

Assinamos este texto:

Caro Senhor Presidente,

Assistimos com horror e desgosto à reportagem de sua conversa com o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. Esperamos que o sr. demonstre respeito e gratidão pela assistência material fornecida pelos EUA à Ucrânia na luta contra a ofensiva da Rússia. Agradecemos aos heroicos soldados ucranianos que derramaram seu sangue em defesa dos valores do mundo livre. Eles são os que estão morrendo na linha de frente há mais de 11 anos em nome desses valores e da independência de sua pátria atacada pela Rússia de Putin.

Não entendemos como o líder de um país que é um símbolo do mundo livre não consegue ver isso.

Também ficamos horrorizados pelo fato de que a atmosfera no Salão Oval durante essa conversa nos lembrou daquela que lembramos bem dos interrogatórios do Serviço de Segurança e dos tribunais comunistas. Promotores e juízes comissionados pela todo-poderosa polícia política comunista também nos explicaram que eles tinham todas as cartas na mão e nós não tínhamos nenhuma. Eles exigiram que interrompêssemos nossas atividades, argumentando que milhares de pessoas inocentes estavam sofrendo por nossa causa. Eles nos privaram de nossa liberdade e direitos civis porque não concordamos em cooperar com as autoridades e não lhes mostramos gratidão. Ficamos chocados que o sr. tenha tratado o presidente Volodymyr Zelensky de maneira semelhante.

A história do século 20 mostra que toda vez que os EUA tentaram se distanciar dos valores democráticos e de seus aliados europeus, acabaram ameaçando a si mesmos. O presidente Woodrow Wilson entendeu isso e decidiu levar os EUA à 1.ª Guerra Mundial em 1917. O presidente Franklin Delano Roosevelt entendeu isso quando decidiu, após o ataque a Pearl Harbor em dezembro de 1941, que a guerra em defesa da América seria travada não apenas no Pacífico, mas também na Europa, em aliança com os países atacados pelo Terceiro Reich.

Lembramos que sem o presidente Ronald Reagan e o envolvimento financeiro americano, a desintegração do império da União Soviética não teria sido possível. O presidente Reagan sabia que na Rússia Soviética e nos países que conquistou, milhões de pessoas escravizadas estavam sofrendo, incluindo milhares de prisioneiros políticos que pagaram por seu sacrifício em defesa dos valores democráticos com sua liberdade. Sua grandeza consistia, entre outras coisas, em ter chamado sem hesitação a URSS de “Império do Mal” e declarado uma luta decisiva contra ela. Nós vencemos, e uma estátua do presidente Ronald Reagan está hoje em Varsóvia, em frente à Embaixada dos EUA.

Senhor Presidente, a ajuda material (militar e financeira) não pode ser equivalente ao sangue derramado em nome da independência e da liberdade da Ucrânia, da Europa e de todo o mundo livre. A vida humana não tem preço, seu valor não pode ser medido com dinheiro. A gratidão é devida àqueles que sacrificam seu sangue e sua liberdade. Para nós, membros do “Solidariedade”, antigos prisioneiros políticos do regime comunista a serviço da Rússia Soviética, isso é óbvio.

Apelamos aos EUA para que honrem as garantias que eles e a Grã-Bretanha forneceram no Memorando de Budapeste em 1994, que estipula explicitamente um compromisso de defender a inviolabilidade das fronteiras da Ucrânia em troca dela entregar seu arsenal de armas nucleares. Essas garantias são incondicionais: não há uma palavra sobre tratar tal ajuda como troca econômica.


Lech Wałęsa, ex-prisioneiro político, líder do Solidariedade, presidente da Terceira República Polonesa
Marek Beylin, ex-prisioneiro político, editor de editoras independentes
Seweryn Blumsztajn, ex-prisioneira política, membro do Comitê de Defesa dos Trabalhadores
Teresa Bogucka, ex-prisioneira política, ativista da oposição democrática e da Solidariedade
Grzegorz Boguta, ex-prisioneiro político, ativista da oposição democrática, editor independente
Marek Borowik, ex-prisioneiro político, editor independente
Bogdan Borusewicz, ex-prisioneiro político, líder do movimento clandestino Solidariedade em Gdańsk
Zbigniew Bujak, ex-prisioneiro político, líder do movimento clandestino Solidariedade em Varsóvia
Władysław Frasyniuk, ex-prisioneiro político, líder do movimento clandestino Solidariedade em Wrocław
Andrzej Gincburg, ex-prisioneiro político, ativista clandestino do Solidariedade
Ryszard Grabarczyk, ex-prisioneiro político, ativista do Solidariedade
Aleksander Janiszewski, ex-prisioneiro político, ativista do Solidariedade
Piotr Kapczyński, ex-prisioneiro político, ativista da oposição democrática
Marek Kossakowski, ex-prisioneiro político, jornalista independente
Krzysztof Król, ex-prisioneiro político, ativista pela independência
Jarosław Kurski, ex-prisioneiro político, ativista da oposição democrática
Barbara Labuda, ex-prisioneira política, ativista clandestina do Solidariedade
Bogdan Lis, ex-prisioneiro político, líder do movimento clandestino Solidariedade em Gdańsk
Henryk Majewski, ex-prisioneiro político, ativista do Solidariedade
Adam Michnik, ex-prisioneiro político, ativista da oposição democrática, editor de editoras independentes
Sławomir Najnigier, ex-prisioneiro político, ativista clandestino do Solidariedade
Piotr Niemczyk, ex-prisioneiro político, jornalista e impressor de publicações clandestinas,
Stefan Konstanty Niesiołowski, ex-prisioneiro político, ativista pela independência
Edward Nowak, ex-prisioneiro político, ativista clandestino do Solidariedade
Wojciech Onyszkiewicz, ex-prisioneiro político, membro do Comitê de Defesa dos Trabalhadores, ativista do Solidariedade
Antoni Pawlak, ex-prisioneiro político, ativista da oposição democrática e da Solidariedade clandestina
Sylwia Poleska-Peryt, ex-prisioneira política, ativista da oposição democrática
Krzysztof Pusz, ex-prisioneiro político, ativista clandestino do Solidariedade
Ryszard Pusz, ex-prisioneiro político, ativista clandestino do Solidariedade,
Jacek Rakowiecki, ex-prisioneiro político, ativista clandestino do Solidariedade
Andrzej Seweryn, ex-prisioneiro político, ator, diretor do Teatro Polonês em Varsóvia
Witold Sielewicz, ex-prisioneiro político, impressor de editoras independentes
Henryk Sikora, ex-prisioneiro político, ativista do Solidariedade
Krzysztof Siemieński, ex-prisioneiro político, jornalista e impressor de publicações clandestinas
Grażyna Staniszewska, ex-prisioneira política, líder do Solidariedade na região de Beskidy
Jerzy Stępień, ex-prisioneiro político, ativista da oposição democrática
Joanna Szczęsna, ex-prisioneira política, editora da imprensa clandestina Solidariedade
Ludwik Turko, ex-prisioneiro político, ativista clandestino do Solidariedade
Mateusz Wierzbicki, ex-prisioneiro político, impressor e jornalista de editoras independentes



Alice Weidel, líder da AfD, é retratada como dando um “falso agrado” aos jovens eleitores alemães de primeira viagem.



As redes sociais são apresentadas como a “fábrica de doces” onde a extrema-direita fabrica suas “deliciosas” mentiras.

terça-feira, 4 de março de 2025

Votos de Nicolas Sarkozy pra 2012


Endereço curto: fishuk.cc/voeux2012

Desde a primeira posse de Emmanuel Macron, em 2017, os registros no site oficial do Elysée começaram a ficar muito bagunçados, e alguns discursos sumiram, outros ficaram mais difíceis de encontrar, não foi constituído um acervo de vídeos históricos etc. Por isso, fiquei dependente do que pude encontrar pelo Google ou no YouTube.

Curiosamente, os europeus pareciam gostar nos anos 2000 muito mais do Dailymotion ou do Vimeo do que do próprio YouTube, portanto, foi muito mais fácil achar os discursos de Sarkozy na primeira plataforma. Não foi o caso, porém, destes votos pra 2012. Além disso, até hoje não entendo por que nenhum vídeo do presidente François Hollande foi publicado no YouTube oficial, enquanto o Dailymotion oficial é o mais completo de todos. E ainda por cima, conforme as datas dos vídeos, há um “buraco” no YouTube entre 28 de janeiro de 2011 e 15 (“Ao vivo”) ou 18 (“Vídeos”) de janeiro de 2019...

O ano de referência sempre é o próximo, ao qual cada presidente está desejando votos, e não o que está acabando, quando o discurso é gravado e lançado. Uso o Google Tradutor pra obter os textos mais rapidamente, mas revisando e confrontando manualmente com os originais. Pra França, a fonte desses textos, como é o caso dos votos pra 2012, está sendo um site de informações políticas, econômicas e sociais chamado “Vie publique”, ligado ao gabinete do primeiro-ministro, mas infelizmente pouco divulgado.



Meus caros compatriotas,

O ano de 2011 está chegando ao fim. Nele, muitas convulsões ocorreram.

Desde o início da crise que em três anos levou várias vezes a economia mundial à beira do colapso, nunca escondi de vocês a verdade sobre sua gravidade nem sobre as consequências que ela podia ter sobre o emprego e o poder de compra.

Essa crise sem precedentes, que pune 30 anos de desordem planetária na economia, no comércio, nas finanças e na moeda, e sem dúvida a mais grave desde a Segunda Guerra Mundial, essa crise ainda não acabou.

Ela arrastou para a turbulência países como Grécia, Irlanda e Portugal, bem como países tão poderosos quanto a Espanha e mesmo a Itália.

Na tempestade, vocês sofreram. Sei que a vida de muitos de vocês, já testada por dois anos difíceis, foi severamente testada mais uma vez. Vocês terminam o ano mais preocupados consigo mesmos e com seus filhos.

Entretanto, há motivos para esperança. Devemos e podemos continuar confiando no futuro. Pois se tantos países passaram por dificuldades insuperáveis, a França aguentou. Ela resistiu.

Se ela aguentou, se ela resistiu, se ela até agora conseguiu afastar a dúvida que desencadeia a crise de confiança, foi graças à coragem e ao sangue frio que vocês têm demonstrado há três anos, foi graças à solidez de nossas instituições, foi graças a nossa proteção social, que garante a solidariedade durante as adversidades, foi graças às reformas que realizamos nos últimos anos. Penso em particular na reforma da previdência e em todas as medidas visando reduzir nossos gastos públicos, que permitiram à França manter a confiança dos que lhe emprestam suas poupanças para financiar a economia nacional.

Não se trata de negar as dificuldades que estamos atravessando. Mas nessas adversidades, a França conseguiu preservar o essencial. Gostaria de prestar uma homenagem especial a todas e todos vocês que, com seu trabalho, contribuíram para o desenvolvimento de nossa economia.

Meus caros compatriotas,

Devemos ser corajosos, devemos ser lúcidos.

O que está acontecendo no mundo anuncia que o ano de 2012 será o de todos os riscos, mas também de todas as possibilidades. De todas as esperanças, se soubermos enfrentar os desafios. De todos os perigos, se ficarmos parados.

Adiar as escolhas porque elas são difíceis é a pior opção. Quando se decide tarde demais, o preço a pagar é mais alto e os sofrimentos são maiores.

Em 2012, o destino da França pode mudar mais uma vez.

Sair da crise, construir um novo modelo de crescimento, engendrar uma nova Europa: eis alguns dos desafios que nos aguardam. Quero expressar minha convicção de que, unidos a nossos parceiros europeus, seremos mais fortes para enfrentá-los.

Mas esses desafios são impostos a nós. Não podemos recusá-los nem os afastar. Não podemos ignorar esse mundo novo.

Daqui a cinco meses, teremos eleições presidenciais. É uma data importante, pois quando chegar a hora, vocês farão sua escolha. Mas até lá, devo continuar agindo, pois a história das próximas décadas está sendo escrita agora.

Junto com o Primeiro-Ministro, reuniremos no próximo dia 18 de janeiro os representantes das forças econômicas e sociais de nosso país. Ouvirei as propostas de todos e, antes do fim de janeiro, tomaremos e assumiremos decisões importantes, pois as apostas são cruciais.

A crise é grave, as circunstâncias são excepcionais, as decisões devem fazer jus a essa gravidade. É um dever do qual não fugirei.

Não subestimo os impactos que as agências de classificação de risco e as agitações do mercado financeiro podem ter sobre nossa economia, nem igualmente nossos erros passados, mas digo isto para que todos possam ouvir: não são os mercados nem as agências que farão a política da França.

No fundo, a única maneira de preservar nossa soberania e controlar nosso destino é escolher, como fizemos até agora, o caminho das reformas estruturais em vez do caminho das reações precipitadas que só aumentam a confusão e a desordem, sem restaurar a confiança.

Não está em questão uma nova rodada de cortes de gastos para o próximo ano. O que tinha que ser feito, foi feito pelo Governo.

Agora devemos trabalhar prioritariamente pelo crescimento, pela competitividade e pela reindustrialização, as únicas coisas que nos permitirão criar empregos e poder de compra.

Três assuntos me parecem dominar os outros.

Não sairemos dessa deixando para trás quem já está sofrendo as consequências dolorosas de uma crise pela qual não é responsável. Não construiremos nossa competitividade com base na exclusão, mas em nossa capacidade de dar a todos um lugar na Nação. Por isso, quem perdeu seu emprego deve receber agora toda a nossa atenção.

Precisamos mudar nossa visão sobre o desemprego. Fazer com que a especialização dos desempregados se torne a principal prioridade, para que todos possam reconstruir um futuro para si. Nosso objetivo deve ser especializar, e não apenas indenizar. Ninguém deve poder eximir-se dessa obrigação ou ser privado dessa possibilidade.

A segunda questão é o financiamento de nossa proteção social, que não pode mais se basear principalmente no trabalhador, muito vulnerável à deslocalização. Precisamos aliviar a pressão sobre o trabalhador e fazer com que as importações, que competem com nossos produtos devido à mão de obra barata, contribuam financeiramente. Há anos esse tópico tem estado no centro de todos os debates. Ouvirei as propostas dos parceiros sociais e então decidiremos.

O terceiro assunto é o da desregulamentação financeira, que choca vocês tanto mais que ela está, em grande parte, na raiz das dificuldades atuais.

O mercado financeiro deve estar envolvido na reparação dos danos que ele mesmo causou. É uma questão de eficiência. É uma questão de justiça. É uma questão de moral. O imposto sobre transações financeiras deve ser implementado.

Meus caros compatriotas,

Meu dever é o de encarar os desafios e proteger vocês.

Podem ter certeza de que assumirei completamente e até o fim as pesadas responsabilidades que vocês me confiaram e que jamais deixarei de agir em nome do interesse geral.

Todos deverão assumir suas responsabilidades, razão pela qual apelo a todos os que tomam as decisões nos negócios e na economia para que façam todo o possível para preservarem empregos. Apelo a todos os agentes do serviço público para que redobrem os cuidados para com todos os que precisarem de nossa solidariedade.

Meus caros compatriotas,

Tenho confiança nas forças da França.

Estou certo do caminho que devemos seguir.

A vocês, a todos os que lhes são queridos, a nossos soldados que arriscam suas vidas fora de nossas fronteiras, a suas famílias que vivem na ansiedade e a todos aqueles no mundo que lutam pela liberdade, dirijo esta noite meus melhores votos de felicidade para o ano que começa.

Feliz Ano Novo a todos.

Viva a República! E viva a França!



segunda-feira, 3 de março de 2025

Votos de Nicolas Sarkozy pra 2011


Endereço curto: fishuk.cc/voeux2011

Desde a primeira posse de Emmanuel Macron, em 2017, os registros no site oficial do Elysée começaram a ficar muito bagunçados, e alguns discursos sumiram, outros ficaram mais difíceis de encontrar, não foi constituído um acervo de vídeos históricos etc. Por isso, fiquei dependente do que pude encontrar pelo Google ou no YouTube.

Curiosamente, os europeus pareciam gostar nos anos 2000 muito mais do Dailymotion ou do Vimeo do que do próprio YouTube, portanto, foi muito mais fácil achar os discursos de Sarkozy, como estes votos pra 2011, na primeira plataforma. Além disso, até hoje não entendo por que nenhum vídeo do presidente François Hollande foi publicado no YouTube oficial, enquanto o Dailymotion oficial é o mais completo de todos. E ainda por cima, conforme as datas dos vídeos, há um “buraco” no YouTube entre 28 de janeiro de 2011 e 15 (“Ao vivo”) ou 18 (“Vídeos”) de janeiro de 2019...

O ano de referência sempre é o próximo, ao qual cada presidente está desejando votos, e não o que está acabando, quando o discurso é gravado e lançado. Uso o Google Tradutor pra obter os textos mais rapidamente, mas revisando e confrontando manualmente com os originais. Pra França, a fonte desses textos, como é o caso dos votos pra 2011, está sendo um site de informações políticas, econômicas e sociais chamado “Vie publique”, ligado ao gabinete do primeiro-ministro, mas infelizmente pouco divulgado.



Meus caros compatriotas,

O ano de 2010 está chegando ao fim. Sei que ele foi difícil para muitos de vocês. A crise econômica e financeira, iniciada há 3 anos, continua fazendo seus efeitos serem sentidos, e muitas pessoas perderam seus empregos, o que só exacerbou o sentimento de injustiça ressentido pelos assalariados que não tiveram nenhuma responsabilidade pela crise.

No entanto, graças ao trabalho dos franceses, a sua coragem, a sua capacidade de adaptação, à força de nossa economia e às vantagens de nosso modelo social, a recessão foi menos severa e duradoura do que a vivida por muitos de nossos parceiros.

E o ano de 2011 promete trazer esperança. O crescimento está voltando. As grandes reformas empreendidas estão começando a dar frutos. Nossas universidades, finalmente autônomas, estão se abrindo e se modernizando como nunca antes no passado. Nossos pesquisadores receberam recursos financeiros consideráveis graças ao grande empréstimo [programa de financiamento público massivo]. Nossas empresas aproveitam ao máximo o crédito fiscal de pesquisa para inovar. Mais de cinco milhões de assalariados cumpriram horas extras totalmente isentas de impostos, tanto para si mesmos quanto para as empresas em que trabalhavam, o que permitiu, apesar da crise, segurar o poder de compra. Nosso sistema previdenciário foi protegido da inevitável falência que o espreitava se não tivéssemos feito nada. As aposentadorias de nossos idosos é que foram salvas e, pela primeira vez, a França pôde enfrentar uma reforma capital sem violência nem bloqueio, graças ao serviço mínimo que funcionou bem e ao espírito de responsabilidade dos franceses que sabiam bem que esse compromisso, por mais doloroso que fosse, era inevitável. Quero prestar homenagem a sua maturidade e a sua inteligência coletiva.

A Europa conseguiu lidar com a tempestade, certamente não com suficiente completude, e muitas vezes sem a rapidez necessária, mas a Europa resistiu e nos protegeu.

Não acreditem, meus caros compatriotas, naqueles que propõem que abandonemos o euro. O isolamento da França seria uma loucura. O fim do euro seria o fim da Europa. Com todas as minhas forças me oporei a esse retrocesso que desrespeitaria 60 anos de construção europeia que trouxeram paz e fraternidade a nosso continente. Digo isso com tanto mais firmeza por sempre ter militado pela preferência comunitária e sempre lutado pela proteção de nossa indústria, pela reciprocidade e pelo fim da ingenuidade nas discussões comerciais com nossos principais parceiros. A Europa é essencial para nosso futuro, nossa identidade e nossos valores.

Minha mais profunda convicção para 2011 é que devemos continuar incansavelmente fortalecendo nossos pontos fortes e removendo nossos pontos fracos, sendo mais competitivos, formando melhor nossos jovens, trabalhando melhor, reduzindo nossos gastos públicos e nossos déficits, sob pena de ver nossa independência seriamente ameaçada. Vejamos o que aconteceu na Europa. Os países que quiseram viver acima de suas possibilidades, sem pensar no futuro, foram duramente punidos. Meu primeiro dever é proteger a França dessa perspectiva. Portanto, a França cumprirá seus compromissos equilibrando suas contas. Não vou abrir mão desse objetivo.

Sei que 2012 será um encontro eleitoral de grande importância. Mas estamos em 2011, não podemos nos dar ao luxo de um ano de imobilismo pré-eleitoral, enquanto o mundo avança a uma velocidade estonteante. Portanto, 2011 deve ser um ano útil para os franceses. A dificuldade não importa quando estão em jogo os interesses da nação e o bem comum dos franceses.

Em todas as circunstâncias, meu dever é colocar o interesse geral em primeiro lugar. Até o último minuto de meu mandato, essa será minha única regra. Assim, continuaremos com as reformas porque são a única maneira de preservar nosso modelo e nossa identidade, a única maneira de proteger a França e os franceses. Protegê-los da dependência, pois todos têm direito a sua dignidade diante dos tormentos da velhice. Protegê-los das deslocalizações, harmonizando nossa tributação com a de nossos vizinhos alemães. Protegê-los da violência cada vez mais brutal da parte de delinquentes reincidentes, abrindo nossos tribunais criminais para os júris populares. Assim, é o povo quem poderá opinar sobre a dureza da resposta a ser dada a comportamentos que deixam o país exasperado.

Com o primeiro-ministro François FILLON, em quem tenho total confiança, e com o governo, devemos trabalhar incansavelmente durante todo este ano a serviço de uma prosperidade francesa recuperada, que nos permitirá criar os empregos de que precisamos. Cumprirei meu dever ouvindo, dialogando, mas quando chegar a hora, tomando as decisões necessárias com espírito de verdade e justiça.

Farei isso respeitando escrupulosamente nossos mais caros princípios republicanos: a laicidade e a rejeição do comunitarismo. A lei que proíbe a burca será aplicada tanto no espírito quanto na letra. Faço a todos um lembrete de que não pode haver direitos sem a contrapartida de deveres. Por isso a escola é obrigatória. A evasão é inaceitável porque condena ao fracasso aqueles que nela recaem. O respeito à lei é intocável, ela não deve ser desrespeitada. Da mesma forma, o respeito devido à França por aqueles que acolhemos é uma exigência. A igualdade de oportunidades e a justiça, a não se confundirem com o igualitarismo ou o assistencialismo, devem nos levar a considerar a revalorização do trabalho como uma prioridade absolutamente intocável. Por fim, a liberdade deve andar de mãos dadas com o respeito que cada um deve aos outros.

Ao longo do ano, meus caros compatriotas, a França carregará a pesada responsabilidade da dupla presidência do G20 e do G8. Ela defenderá a ideia de um mundo mais regulado, menos brutal, onde a interdependência obriga todos a ouvirem mais os outros. Ela defenderá vigorosamente os interesses da França, sem jamais renunciar a seus valores, no que diz respeito ao multilateralismo, ao respeito pelos direitos humanos, à luta pelo desenvolvimento e ao imperativo da proteção de nosso planeta.

Meus caros compatriotas, quero lhes dirigir meus melhores votos, meus mais sinceros e calorosos votos de felicidade para este ano de 2011.

Tenho um pensamento especial para os que estão sofrendo e desorientados, especialmente nossos reféns, pelos quais seguiremos mobilizando todas as nossas forças até o dia de sua libertação, e para nossos soldados que estão passando este fim de ano longe de suas famílias, arriscando suas vidas para defender nossos valores e nossa liberdade.

Meus caros concidadãos,

Viva a República! E viva a França!



domingo, 2 de março de 2025

Discursos de Trotsky (áudio ou vídeo)


Endereço curto: fishuk.cc/trotsky-fala

Assim como eu fiz alguns anos atrás com Vladimir Lenin e Iosif Stalin, estou tentando fazer com Lev Bronstein, mais conhecido pela história como Leon Trotsky (1879-1940), uma listagem única de todos os seus discursos. Ao contrário de Lenin, que teve poucos discursos gravados em áudio, mas bem definidos, e de Stalin, que apareceu no topo do poder soviético por décadas, há bem menos áudios e vídeos de Trotsky. Muito cedo, ele foi alijado da liderança revolucionária e foi exilado, primeiro, na Sibéria e, mais tarde, em vários países em sucessão. Mas ao contrário dos outros dois, não há apenas discursos seus gravados em russo, mas também em inglês, francês e alemão, línguas que ele dominava mais ou menos bem (o inglês, a pior de todas).

Os vídeos legendados tinham sido originalmente publicados no Pan-Eslavo Brasil, meu antigo canal do YouTube. Aqueles sem legenda e apenas com a tradução escrita são posteriores a 2021, quando o Google “suicidou” a joia de minha coroa. A própria plataforma foi a fonte da maioria dos vídeos traduzidos, mas no site Sovmusic.ru, o maior acervo online de áudios e cartazes da era soviética, também existem gravações com o áudio de alguns dos discursos de Trotsky em MP3 pra se escutar lá mesmo ou se baixar. Nesta lista, não incluí os artigos escritos, que podem ser acessados clicando na tag “Leon Trotsky”.

As publicações listadas abaixo, classificadas por ordem cronológica, não fazem parte de uma produção padronizada e controlada, como ocorreu com os discursos de Lenin. Elas surgiram de acordo com minha possibilidade corrente de traduzir os discursos de Trotsky em texto e em vídeo. É pouco possível que surjam outras mídias faladas do ucraniano, mas esta lista pode ser atualizada, até se esgotarem todas as possibilidades.

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1. União fraternal das repúblicas soviéticas (abril de 1919)

2. A tarefa sagrada do Exército Vermelho (1920)

3. Trotsky defende a Revolução de Outubro (27 de novembro de 1932)

4. Trotsky antevê hegemonia dos EUA (novembro de 1932; título meu)

5. Os dez anos da Oposição de Esquerda (outubro de 1933; título meu)

6. Trotsky condena Processos de Moscou (fevereiro de 1937 ou depois; título meu)

7. Sobre a fundação da Quarta Internacional (18 de outubro de 1938)



sábado, 1 de março de 2025

Aplique nos fundos do Rabobank


Endereço curto: fishuk.cc/rabobank


Quando vi esta manchete no portal da Radio France Internationale, não acreditei que na Europa havia um banco holandês (ou neerlandês, como queira) chamado... “Rabobank”. Pior, após alguma pesquisa, descobri que no Brasil ele está amplamente vinculado ao agronegócio!





Meu objetivo aqui não é zoar com o setor mais tech e mais pop de nossa economia, mas reunir alguns memes pra que você possa se divertir neste começo de Carnaval, goste ou não de paciá nos broquinho. Sim, realmente digitei “rabobank memes” no Google Imagens e descobri que nossos irmãos hispanófonos também se refastelaram com o duplo sentido.

Sinceramente, ninguém é obrigado a aprender essas línguas românicas despudoradas pra adivinhar a piada que pode causar. Mas cá entre nós... já pensou em abrir sua poupança nessa instituição também? Rs:















Isso aí, Naldão: os agrolovers sonham com o Rabobank, que opera forte, muito forte no Fazendil:


Não sei se a inversão foi feita digitalmente ou se realmente os tontos dos operários trocaram as letras... Em inglês, “rob a bank” já não tem a alusão glútea das línguas “românticas”, mas pesquise o sentido você mesmo no Google!