quarta-feira, 12 de março de 2025

Votos de François Hollande pra 2016


Endereço curto: fishuk.cc/voeux2016

Desde a primeira posse de Emmanuel Macron, em 2017, os registros no site oficial do Elysée começaram a ficar muito bagunçados, e alguns discursos sumiram, outros ficaram mais difíceis de encontrar, não foi constituído um acervo de vídeos históricos etc. Por isso, fiquei dependente do que pude encontrar pelo Google ou no YouTube.

Curiosamente, os europeus pareciam gostar nos anos 2000 muito mais do Dailymotion ou do Vimeo do que do próprio YouTube, portanto, foi muito mais fácil achar os discursos de Sarkozy na primeira plataforma. A partir de 2013, sob François Hollande, ficou mais fácil achar em canais diversos do YouTube, sobretudo de agências de notícias, como estes votos pra 2016. Porém, até hoje não entendo por que nenhum vídeo do presidente Hollande foi publicado no YouTube oficial, enquanto o Dailymotion oficial é o mais completo de todos. Além disso, conforme as datas dos vídeos, há um “buraco” no YouTube entre 28 de janeiro de 2011 e 15 (“Ao vivo”) ou 18 (“Vídeos”) de janeiro de 2019...

O ano de referência sempre é o próximo, ao qual cada presidente está desejando votos, e não o que está acabando, quando o discurso é gravado e lançado. Uso o Google Tradutor pra obter os textos mais rapidamente, mas revisando e confrontando manualmente com os originais. Pra França, a fonte desses textos, como é o caso dos votos pra 2016, está sendo um site de informações políticas, econômicas e sociais chamado “Vie publique”, ligado ao gabinete do primeiro-ministro, mas infelizmente pouco divulgado.



Meus caros e minhas caras compatriotas,

Os votos que lhes faço esta noite são diferentes de todos os que os precederam, porque acabamos de viver um ano terrível.

Começou com os ataques covardes ao Charlie Hebdo e ao Hypercacher, foi ensanguentado pelos ataques cometidos em Montrouge, Villejuif, Saint-Quentin Fallavier e no Thalys e terminou com o horror dos atos de guerra perpetrados em Saint-Denis e Paris.

Meus primeiros pensamentos vão para as vítimas do fanatismo, suas famílias mergulhadas na dor e aqueles que foram feridos na carne.

Esta noite, em nome de vocês, expresso a eles nossa compaixão e afeição. Essas tragédias permanecerão gravadas na memória de cada um de nós. Elas nunca desaparecerão.

Mas, apesar da tragédia, a França não cedeu. Apesar das lágrimas, ela se manteve de pé.

Diante do ódio, ela mostrou a força de seus valores. Os da República.

Francesas e franceses, estou orgulhoso de vocês. Nessas circunstâncias, vocês demonstraram determinação, solidariedade e sangue frio.

Neste momento, saúdo a bravura de nossos soldados e policiais civis e militares que correm tantos riscos por nossa segurança. Agradeço aos Serviços de Saúde, aos bombeiros, à proteção civil e a todos os voluntários que socorreram nossos compatriotas em perigo. Mas eu lhe devo a verdade: ainda não erradicamos o terrorismo. A ameaça permanece. Ela permanece inclusive em seu nível mais alto. Regularmente nós desbaratamos tentativas de atentados.

Portanto, meu primeiro dever é proteger vocês. Proteger vocês significa agir na raiz do mal: na Síria, no Iraque. Por isso, intensificamos nossos ataques contra o Daesh [o grupo Estado Islâmico]. Os golpes estão surtindo efeito, os jihadistas estão recuando, e então continuaremos enquanto for necessário.

Proteger vocês significa agir aqui, em nosso solo.

Na noite dos atentados, por proposta de Manuel VALLS [então primeiro-ministro], eu declarei estado de emergência. A seguir, diante do Parlamento reunido em Congresso em Versalhes, fiz conscientemente uma escolha compatível com o que havíamos sofrido. Primeiramente, decidi reforçar o pessoal e os recursos da Polícia, da Justiça, da Inteligência e das Forças Armadas. Depois, iniciei uma reforma do processo penal para combater mais eficazmente o crime organizado, seu financiamento e os canais que o alimentam.

Por fim, anunciei uma revisão da Constituição para fornecer uma base incontestável quanto ao recurso ao estado de emergência caso enfrentemos um perigo iminente e quanto à retirada da nacionalidade francesa de indivíduos definitivamente condenados por crimes terroristas.

Agora cabe ao Parlamento assumir suas responsabilidades. O debate é legítimo. Eu o respeito. Ele deve acontecer. E quando se trata de proteger vocês, a França não deve se desunir. Ela deve tomar as decisões certas para além das diferenças partidárias e de acordo com nossos princípios fundamentais. Eu garantirei isso porque sou o fiador.

Além disso, nunca aceitarei que os franceses possam ser colocados uns contra os outros. Dividir-nos é o que buscam os extremistas. Não aceitarei mais que alguém possa atacar – em nossa República laica – um de nossos concidadãos pela prática de sua religião. Ou ainda que locais de culto possam ser profanados, como uma sala de oração nos últimos dias na Córsega. Gestos assim nunca ficarão impunes, quer se trate de uma mesquita, uma sinagoga, um templo ou uma igreja. A honra da França está em jogo.

Meus caros compatriotas,

Em 2016, lutaremos contra o terrorismo. Sim, certamente, intensamente. Mas também contra tudo o que fragmenta nossa sociedade e que alimenta tanto o isolamento quanto a exclusão.

Se há um estado de emergência na segurança, há também um estado de emergência econômica e social.

A luta contra o desemprego continua sendo minha primeira prioridade.

Este será o tema dos textos elaborados pelo Governo para simplificar o Código do Trabalho, instituir uma nova previdência social profissional e aproveitar as oportunidades econômicas oferecidas pela revolução digital.

Simultaneamente, será lançado um plano massivo de formação para quem procura emprego: mais 500 mil pessoas receberão apoio para os ofícios do amanhã. Mas todos sabem que é nas PME [pequenas e médias empresas] que se criam os empregos. Além disso, novos auxílios à contratação serão introduzidos no início do novo ano.

Por fim, inúmeras filiais de aprendizagem serão abertas. Estabeleci a meta de que nenhum aprendiz fique sem um empregador e nenhum empregador fique sem um aprendiz. Todo jovem deve estar em treinamento ou emprego, seja qual for a forma. Esse esforço em favor da próxima geração é um dever sagrado. Ele exige uma mobilização de todos, do Estado, claro, das Regiões que acabaram de ser criadas e das empresas. Isso também é Unidade Nacional.

A França precisa de movimento, precisa de ações. Precisa também de compromisso. O Serviço Cívico é um fator de mistura, integração e inclusão. Mostrou sua utilidade para os jovens e para nossa sociedade.

Peço ao Governo, portanto, que inicie sua generalização por fases. As missões serão múltiplas: desde apoiar as pessoas mais vulneráveis até preservar o planeta.

O sucesso da COP21 foi um evento mundial. E um motivo de orgulho para a França, que selou um acordo em Paris entre 195 países para reduzir o aquecimento global. É um resultado considerável.

A França agora tem a responsabilidade de implementar o que foi decidido para o planeta. Mas também de estar um pouco mais à frente e ser um exemplo.

Por isso, lançaremos um grande programa de obras para a renovação de nossos edifícios, o desenvolvimento de energias renováveis e o crescimento verde. Faremos da causa climática um grande canteiro para o emprego e a qualidade de vida.

Francesas e franceses,

Os acontecimentos que vivemos nos confirmaram isso: somos habitados por um sentimento que todos compartilhamos. Esse sentimento é o amor à Pátria.

A Pátria é o fio invisível que entrelaça todos nós, franceses daqui ou de outros lugares, cidadãos de todas as condições, crenças e origens.

E a pátria está no cerne de meu compromisso, a Pátria que se realiza na abertura ao mundo, no respeito ao outro, na igualdade, na confiança no futuro, no futuro da França, e nunca no isolamento, no fechamento, na discriminação ou na nostalgia.

A Pátria, é em seu nome que construímos a Europa.

A Europa alcançou grandes feitos. Mas revelou deficiências que estão hoje a colocando em perigo.

Diante da afluência de refugiados causada pelos conflitos, a Europa deve ser capaz de proteger suas fronteiras e acolher quem busca asilo, ao mesmo tempo em que acompanha a volta com dignidade de quem não se qualifica. É um desafio maior, caso contrário, ressurgirão os muros que pensávamos terem sido derrubados pela História.

À medida em que se acaba, o ano de 2015 não nos liberta das causas dos dramas por que passamos. Ele nos obriga a encará-los de frente e tratá-los com firmeza. Mas o que aconteceu nos mudou, até nos transformou. E devemos usar essa vitalidade, essa energia que surgiu de nós mesmos – esse sobressalto que foi elogiado pelo mundo inteiro – para realizar todas as reformas, para sermos mais fortes economicamente, mais justos socialmente e mais exemplares democraticamente. É assim que a França sairá maior com essa bela ideia de fazer com que todos tenhamos sucesso juntos.

Minhas caras e meus caros compatriotas da Metrópole, do Ultramar e do exterior,

2015 foi um ano de sofrimento e resistência, então façamos de 2016 um ano de valentia e esperança. É com esse espírito que faço do fundo do coração meus melhores votos para vocês, seus entes queridos e sua família, porque vocês são a França, toda a França.

Viva a República e viva a França.



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