Em meio a autoelogios sobre Olimpíadas, tecnologia e investimentos, presidente da França fez rara autocrítica ao reconhecer que, “ao menos por enquanto”, a dissolução da Assembleia Nacional causou mais confusão política do que esclarecimento da vontade popular. Analistas o consideram cada vez menos interessado por questões internas e mais ávido por escapar pro internacional ou pro que é feito pra estrangeiros verem.
Cabe lembrar que o presidente francês só pode dissolver a Assembleia Nacional, câmara baixa do Parlamento eleita por sufrágio universal, mas não o Senado, eleito por sufrágio indireto. Quanto à Alemanha, o Bundestag (Câmara Federal) é a instância eleita universalmente, mas o Bundesrat (Conselho Federal), que não é o “conselho de ministros”, também não é uma “câmara alta”, mas tem funções próprias diferentes e é igualmente eleita indiretamente.
Fonte do texto original: site da presidência francesa.
Meus caros compatriotas,
Juntos neste ano, provamos que o impossível não era francês.
Fomos a primeira Nação a modificar nossa Constituição pra garantir o direito das mulheres a interromperem voluntariamente a gravidez. Avançamos na igualdade de gênero graças, entre outras coisas, à coragem daquelas que a conseguiram denunciar [referência aos chamados “processos de Mazan”, envolvendo o casal Gisèle e Dominique Pelicot].
Continuamos construindo uma ecologia do progresso e combatendo as mudanças climáticas ao reduzir nossas emissões, remodelar fábricas e também seguir na luta por nosso presente e nosso futuro.
Celebramos, 80 anos depois, a bravura dos combatentes da Resistência e dos que nos libertaram, da Normandia à Provença.
Nos recordamos daqueles que tombaram pra que a França pudesse se reerguer. Nossos heróis, nossos idosos, nossos aliados, aqueles vindos de todos os continentes pra libertar a pátria.
Como prometido um ano atrás, também vivemos momentos de muito orgulho. Primeiro, organizamos neste verão Jogos Olímpicos e Paralímpicos que imediatamente entraram pra história, entraram em nossas memórias, em nossos corações que fizeram vibrar um país unido, de Saint-Denis ao Taiti, e mostraram uma França cheia de audácia, de brio e loucamente livre.
Uma França que brilha com suas façanhas desportivas, emoções e generosidade, uma cidade de Paris magnificada.
Sim, nossos Jogos Olímpicos e Paralímpicos são e vão permanecer como um momento inesquecível na vida da Nação.
Neste mês de dezembro de 2024, como tínhamos prometido, devolvemos ao culto e reabrimos ao público Notre-Dame de Paris. Cinco anos após o incêndio de 2019, Notre-Dame reconstruída continua sedo o símbolo de nossa vontade francesa.
Milhares de operários, artesãos, mulheres e homens reconstruíram a catedral dia após dia durante esses cinco anos. Foi devolvida a todos, e o mundo inteiro pôde contemplar esse trabalho.
Amanhã, saibamos manter o melhor do que fomos durante este ano de 2024. Unidos, determinados, solidários e diante de cada uma das grandes provações, diante do que tantos disseram ser impossível, conseguimos, porque permanecemos unidos.
Unidos, determinados e solidários também estivemos diante das provações e tragédias de 2024: as catástrofes climáticas, a crise que ainda hoje atravessam nossos agricultores, os quais vamos continuar protegendo e apoiando, as tensões em vários territórios nossos e a desaceleração econômica mundial.
Juntos, estamos hoje ao lado dos habitantes de Mayotte, nos quais pensamos com emoção e fraternidade. E, claro, estamos e vamos estar ao lado de todos os nossos territórios ultramarinos, das Antilhas à Nova Caledônia, que tanto sofreram nos últimos meses.
Também estamos enfrentando a instabilidade política, que não é específica à França, pois também a vemos entre nossos amigos alemães que acabaram de dissolver sua Assembleia [o Bundestag, câmara federal eleita por sufrágio universal]. Mas isso nos preocupa autenticamente.
Esta noite, devo bem admitir que a dissolução trouxe, por enquanto, mais divisões à Assembleia [Nacional, câmara baixa do Parlamento francês] do que soluções para os franceses.
Se decidi a dissolver, foi pra devolver a palavra a vocês, reencontrar a clareza e evitar a ameaça do imobilismo. Mas a lucidez e a humildade exigem admitir que, até o momento, tal decisão produziu mais instabilidade do que serenidade, pelo que assumo toda minha responsabilidade.
Contudo, a Assembleia atual representa o país em sua diversidade e, portanto, também em suas divisões. Ela é plenamente legítima e, nesta configuração inédita, mas democrática, deve ser capaz de obter maiorias, como fazem, aliás, os parlamentos das grandes democracias, e nosso governo deve ser capaz de seguir um caminho de compromisso pra poder agir.
Gostaria de agradecer aqui a Michel BARNIER, que depois de Élisabeth BORNE e Gabriel ATTAL, se comprometeu com sinceridade, e envio meus melhores votos a François BAYROU e a seu governo.
Desejo que o ano que se inicia seja de recuperação coletiva, que ele permita estabilidade e bons compromissos pra tomar as decisões certas a serviço dos franceses.
Isso porque não podemos nos permitir esperar. O ano de 2025 deve ser um ano de ação, um ano útil pra vocês e pra permitir que vocês vivam melhor. Poder de compra, trabalho, segurança, justiça, bem como a ajuda a nossos políticos e associações: pra tudo isso, é necessário aprovar um orçamento.
Podemos tornar a vida melhor se chegarmos a um acordo sobre algumas questões simples: facilitar a vida de todos os que trabalham duro, melhorar a segurança no dia a dia, acelerar a Justiça e permitir que cada família tenha acesso à melhor educação pra seus filhos, à saúde e aos serviços públicos básicos. Cabe a nós, pois, fazer isso.
O ano de 2025 também deve ser um ano de unidade, de responsabilidade pra construirmos uma França mais forte e mais independente perante as perturbações do mundo.
As guerras na Ucrânia e no Oriente Médio não são conflitos distantes. Elas nos concernem diretamente e ameaçam a nossa segurança, nossa unidade e a nossa economia.
Os últimos acontecimentos na Síria, a manipulação das eleições na Moldova, na Geórgia e na Romênia, os atentados terroristas na Europa e em nossa vizinhança mostram como nossa segurança e o bom funcionamento de nossas democracias nunca podem ser considerados garantidos.
Por isso, a Europa não pode mais delegar sua segurança e defesa a outras potências. Em 2025, a França deve continuar investindo em seu rearmamento militar pra garantir nossa soberania, a proteção de nossos interesses e a segurança de nossos compatriotas. E quanto à Europa, ela deve acelerar pra assumir o comando de sua defesa, segurança e fronteiras. Isso é por que luto há tantos anos, que começamos a construir com nossos parceiros europeus e que vamos continuar.
Devemos ver lucidamente que o mundo evolui mais rápido e abala muitas de nossas certezas. O que considerávamos garantido não o é mais.
Não vai haver prosperidade sem segurança, e nesse sentido, por meio de seu poder diplomático e militar, a França tem sempre um papel a desempenhar.
Pra nossos filhos viverem melhor que nós, também é preciso que sejam inventadas na França e na Europa as tecnologias e empresas que vão moldar o mundo de amanhã, nosso futuro e nosso crescimento: a inteligência artificial, as revoluções quânticas, da energia e da biologia, pra citar só alguns desses projetos.
Os europeus devem acabar com a ingenuidade, dizer não às leis do comércio decretadas por outros e as quais só nós ainda respeitamos, dizer não a tudo o que nos faz depender dos outros, sem contrapartida nem preparação de nosso futuro.
De modo inverso, precisamos do despertar europeu, despertar científico, intelectual, tecnológico, industrial, do despertar agrícola, energético e ecológico. Pra isso, devemos avançar mais rápido, tomar nossas decisões mais rápido e mais firmemente enquanto Europeus, simplificar nossas regras pra nossos compatriotas e pra nossas empresas e investir mais.
Isto exige uma França que continue sendo atrativa, que trabalhe e inove mais, que continue criando empregos e que garanta seu crescimento sem comprometer suas finanças. Vou velar por isso.
Durante sete anos, conseguimos resistir às piores crises e, ao mesmo tempo, reduzimos o desemprego, nos reindustrializamos e atraímos as invenções do mundo todo.
Este ano, demonstramos novamente a capacidade de manter nossa posição em setores do futuro, por exemplo, com o lançamento do [foguete lançador de satélites] Ariane 6 ou a ligação do novo reator nuclear de Flamanville. Aí se constrói nossa independência e devemos permanecer fortes e confiáveis no coração de uma Europa que deve acelerar.
Cabe a nós, pois, fazer isso coletivamente, pois 2025 vai exigir audácia e senso de decisão.
Meus caros compatriotas, as grandes Nações são as que, nos momentos de crise e dúvida, sabem enxergar longe e se separar das polêmicas cotidianas pra construir o futuro e sair na frente.
É aí que estamos. Por isso, em 2025, vamos manter o rumo.
Já se passou um quarto de século. Algumas das promessas do ano 2000 foram cumpridas, mas também houve muitas desordens e desequilíbrios. Assim, durante o próximo quarto de século, desejo que sejamos capazes de decidir e agir, tendo 2050 como ponto de referência.
Vamos ter de fazer escolhas pra nossa economia, nossa democracia, nossa segurança e nossos filhos. Sim, a esperança, prosperidade e paz do próximo quarto de século dependem de nossas escolhas feitas hoje.
Por isso, em 2025, vamos continuar decidindo, e vou pedir que vocês também decidam sobre algumas dessas questões determinantes. Pois cada um de vocês vai ter um papel a desempenhar. Cada um de vocês vai ser necessário pro sucesso desse projeto que acabei de esboçar rapidamente diante de vocês. Sim, como ocorre com os grandes projetos que fizeram nossa História, e novamente no ano que acaba de terminar, cada um de vocês é necessário pra construir uma Nação e uma República ainda mais belas.
Por isso, desejo que em 2025 estejamos unidos, determinados e fraternos.
Um belíssimo e muito feliz Ano Novo de 2025 a vocês e seus entes queridos. Viva a República, viva a França.
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