terça-feira, 15 de outubro de 2024

Eduardo Feinmann: “¡Sí, soy facho!”


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Quando invento de assistir a El Pase, programa noturno de notícias do canal argentino La Nación Más, em que o jornalista Eduardo Feinmann é o principal apresentador e comentarista, sempre sai algum novo meme. Foi o caso a participação de Jonatan Viale no fim da presidência Alberto Fernández, que disse que o aumento de preços por parte dos empresários não era porque eles queriam “joder culos argentinos”, mas porque teriam de acompanhar o descalabro econômico deixado pelo peronismo.

Seguindo a linha editorial de La Nación, Feinmann é conservador e radicalmente antiperonismo e, sobretudo, antikirchnerismo. Sem surpresa, assim como seria na Banânia, suas posições punitivistas, pró-Israel e pela liberdade de mercado passam por “fascistas” (chamados de “fachos” na gíria em espanhol e em francês) em alguns círculos. Também sem surpresa, continua defendendo o presidente Milei, embora de modo mais tímido. Tanto que no programa de 11 de outubro, eles comentam justamente a queda recente do “risco país”, a qual, convenhamos, sendo um índice puramente mercadológico, reflete muito mais a constância da política de austeridade do que a qualidade de vida da população.

Contexto: Feinmann tinha criticado algumas supostas irregularidades administrativas do reitor da Universidade Nacional de Rosario, Franco Bartolacci, um reconhecido apoiador das esquerdas políticas. Após as ilações do jornalista, como revela um dos parceiros de bancada, o reitor teria dito que ele era um “fascista”, supostamente culpando o “mensageiro” por ter trazido uma “mensagem” verdadeira. Achei a sequência engraçada e digna de um meme, por isso a separei abaixo e traduzi, mas sem transcrever em espanhol. As legendas automáticas do YouTube, que estão ficando cada vez mais eficientes, foram indispensáveis!

Enquanto isso, por culpa do “petismo” “lulista” “comunista” e “corrupto”, o Risco Brasil tinha caído pra 146 pontos no início deste outubro, indicando uma proximidade cada vez maior de recuperarmos o grau de investimento perdido com as burradas da Dilma. No fim do governo FHC, o Risco Brasil passava dos 2 000 pontos. Claro que a cada besteira que a Jararaca resolve soltar, “o” mercado fica nervoso, então espero que por um tempo mantenha a boca fechada.


– E além disso não questionam os dados, desqualificam o emissor da mensagem: “Ah, Feinmann é um fascista!”

– Ah é, disse isso?

– Não, não, digo em geral, não quero dizer que ele disse isso!

– Bartolacci, sim, o senhor tem razão. [Pro câmera:] Vem, faça primeiro plano. Vem comigo, vem, vem. Se aproxime de mim. Me deixe em primeiro plano, aqui, aqui. Quero que olhe bem em meus olhos, Bartolacci. [Pro câmera:] Mais, mais, mais, chegue mais! Bartolacci! Sim, sou um fascista. E daí? Qual é o problema? Tem algum incômodo? Sou contra os corruptos, isso é ser fascista? Então sim, sou fascista. Sou contra a bandidagem, isso é ser fascista? Sim, sou fascista. Sou contra as drogas, isso é ser fascista? Sim [sou fascista]. Sou contra gente indecente como o senhor, e isso é ser fascista? Sim, sou fascista. Saúdo-lhe fortemente!


Após a morte de Cid Moreira, pequena homenagem a ele e à “Amanda do Pânico”, que em 2014 trabalhava na Band e disse ter então vivido seu “auge da carreira”, rs!

domingo, 13 de outubro de 2024

Putin, o mais citado dos “cientistas”


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Este artigo publicado em 7 de outubro de 2024 na versão russa do Moscow Times se chama “Putin se tornou o ‘cientista’ mais citado entre os políticos russos” e foi escrito por Iaroslav Chingaiev. O título ficou ambíguo, porque ele quer dizer exatamente que vários políticos russos são citados como “cientistas”, e entre esses, Putin tem ganhado disparado. E sim, pra aumentar a possibilidade de financiamento e reduzir as chances de marginalização, políticos com pretensões “científicas” podem ser citados em pesquisas de todo o tipo... O artigo do Viorstka citado por Chingaiev explica exatamente por que as elites políticas russas se esforçam por aparecer em tais citações e o que ganham com isso, embora sejam ignorados em todo o resto do mundo.

O jornalista dissidente Kirill Martynov comparou o fenômeno aos trabalhos científicos da era soviética em todas as áreas, em que Marx, Engels e Lenin, pelo menos na introdução, eram inevitavelmente citados, além de Stalin, antes dele “cair em desgraça”, e por vezes até o líder do momento (Khruschov ou Brezhnev). Claro que nossos comunistas idiotas nunca viram isso como uma aberração, enquanto se trata claramente de um ranço autoritário e sufocador da liberdade de criação e investigação, mais ainda na Rússia enferrujada de Putin. Eu mesmo traduzi o artigo, só usando dicionário quando necessário:


Vladimir Putin se tornou o mais citado dos “cientistas” que ocupam cargos políticos na Rússia. Até agora, seus artigos e discursos foram citados em revistas, livros, manuais e monografias 16 278 vezes. A informação foi publicada pelo portal Viorstka, depois de analisar os dados do RINTs (sigla em russo pra Índice Russo de Citações Científicas).

O único que pode competir com Putin em número de citações é o chefe da Corte Constitucional, Valeri Zorkin, que é mencionado 14 280 vezes. O colaborador científico de um dos institutos da RAN (sigla em russo pra Academia Russa de Ciências) explicou que o nível tão alto de citações do presidente resulta do esforço por adquirir confiança. “Uma coisa é você simplesmente ter uma revista, outra coisa é Putin aparecer impresso nela. Uma coisa é você apenas ser um cientista, outra coisa é você ter seus pensamentos aprovados pelo próprio presidente”, comentou.

Em terceiro lugar no número de citações está o chefe do comitê da Duma Estatal para a Construção do Estado e a Legislação Constitucional, Pavel Krasheninnikov (7 200 menções), e em quarto, o diretor do “Instituto Kurchatov” e partidário próximo de Putin, Mikhail Kovalchuk (6 897 referências). Dmitri Medvedev, ex-presidente da Rússia e vice-presidente do Conselho de Segurança, é citado 5 792 vezes e ocupa o quinto lugar no ranking.

Segundo dados do RINTs, Putin acumula 579 publicações científicas, das quais a maioria são reimpressões de seus discursos e pronunciamentos públicos e artigos que os cientistas incluem em seus trabalhos à guisa de citações.

Porém, a nível internacional, a comunidade científica não reconhece Putin como um cientista. Nas bases de dados Scopus e Web of Science, não há trabalhos científicos nem do chefe de Estado, nem da maioria dos representantes da elite russa. Os cientistas ouvidos pelo Viorstka explicaram por que os políticos são ativamente citados em publicações científicas russas, mas ignorados na arena internacional. Isso se deve tanto a peculiaridades no funcionamento do RINTs quanto à comunidade científica russa como um todo.

Nas palavras do professor de filosofia da Universidade de Ruhr, Nikolai Plotnikov, o RINTs se transformou agora numa “grande máquina de produzir ciência fajuta”. “Talvez [ele] tenha mesmo sido pensado como um ranking de cientificidade pras publicações em língua russa, mas se transformou em seu contrário. E especialmente agora, porque algo foi perdido da ligação com a ciência mundial”, disse Plotnikov. Formalmente, as exigências das revistas russas e internacionais são as mesmas, mas “o problema reside na transgressão sistemática das regras pelos rankings russos e na picaretagem pura e simples”, sublinhou o especialista.

Pros membros da RAN, estar publicado apenas no RINTs é nível “cê é burro, cara!” [“фу таким быть!”: intraduzível, quando não concordam com seu jeito de ser ou agir], explicou um dos colaboradores da academia em conversa com os editores: “Se oficialmente a direção diz: ‘O Scopus agora não é importante’, na prática os bônus são divididos entre os membros com base nas publicações valorizadas pela base. E os trabalhos no RINTs somente são necessários pra evitar que você seja demitido”.



sexta-feira, 11 de outubro de 2024

NÃO CONVERSO COM EXTREMISTAS


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Como vemos todos os dias no noticiário internacional, este é o mexicano que representa Netanyahu na ONU e, além de falar esquisito, a imagem diz tudo. Mas não foi só por causa dele que vim aqui hoje:



O Bibi do Hamas tá só o humor do Padre Fábio na TV Pombinha em 2018 com seus ex-amigos, rs:


Olha o gáááááás... (Este meme que achei logo após o Équis ser liberado é aleatório, não tem relação com o conteúdo anterior!!!)




Adendo (carregado horas depois desta publicação): Finalmente alguém dizendo a verdade! Netanyahu e asseclas ajudaram deliberadamente no crescimento do Hamas (que alguns idiotas ocidentais ainda chamam de “resistência”) pra enfraquecerem as facções palestinas que não defendiam mais o fim de Israel. São as duas alas radicais opostas que melaram abertamente os Acordos de Oslo e intoxicaram o clima que culminou no assassinato de Rabin em 1995. Valem a pena os 17 minutos pra saber por que é mais do que justificado ao premiê o apelido de Bibi do Hamas:


terça-feira, 1 de outubro de 2024

“O FASCISMO COTIDIANO”




Do jeito que foi montada essa miniatura de um canal em francês, parece que é a região espanhola da Galiza e o norte de Portugal, onde estaria o desencarnado Nasrullah, que estão sendo bombardeados, rs.


O véio já tá tão caduco que começou até a xuitar em “judeu”, kkkkkk!



sexta-feira, 27 de setembro de 2024

Severa, chupas + prova 9,5 do Karnal


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Quem cursou História na Unicamp e passou pela matéria de História Antiga com o Prof. Dr. Pedro Paulo Abreu Funari não tem como não ter usado de manual pro semestre seu próprio livro, Antiguidade Clássica: a história e a cultura a partir dos documentos, um crácico da venda, revenda ou simples doação entre “bixos” e “veteranos”, rs. E quem, de outras maneiras, teve contato com o livro, sentiu um gostinho dos famosos grafites romanos, especialmente os de Pompeia antes da grande destruição pela erupção do Vesúvio, nos quais os romanos já faziam “memes” muito antes da internet, com seu fino senso de humor e inteligentes montagens com letras. Da crítica política à narração da própria vida sexual, passando por cotidianos prosaicos e materializações da imaginação, eles inundam os banheiros públicos, prostíbulos, muros e outras instalações e foram conservados ao longo dos séculos e apesar das intempéries, tendo sido descobertos, restaurados e catalogados por arqueólogos desde o século 19.

Se você acredita ou pelo menos teve contato com a narrativa da extrema-direita de que as faculdades públicas de humanidades sexualizam, desinibem e esquerdizam os jovens, sinto muito dizer: em parte isso é verdade, rs. Mas sem brincadeira, os trabalhos do Funari (que também muito escreveu sobre a própria ciência arqueológica) e de seus orientandos trazem outra visão da sexualidade difundida entre o povo romano, não só nos trisavós das “poesias de banheiro”, mas também em textos e diversas obras literárias. Não se “ensina” na Unicamp, é claro, que o cristianismo “é errado”, mas que simplesmente sua visão é diferente e, querendo ou não, nega muitos fatos da natureza humana de forma violenta e restritiva. A História, em todo caso, se não nos obriga a negar tudo o que nos rodeia, nos ajuda a ampliar nosso círculo de visão e concluir que nem tudo “sempre foi assim”, dando margem pra agir de outras formas construtivas, e não necessariamente “acertando contas” com o passado “machista e patriarcal”.

Mas que todo mundo ria na classe com as pinturas romanas dos “falos”, presentes aos montes nas ruas do antigo império, e com pesquisadores que dedicavam a vida a estudar essas obras e traziam infindas fotos delas em suas teses, ah, ria sim, rs... Em todo caso, quanto ao clima cultural geral, mais uma vez creio que os anos 2000 foram um “respiro” tanto em comparação com a hipersexualidade da década de 1990 quando com a virada “conservadora” a partir da crise de 2015 e da ascensão de Bolsonaro. Não sou budista, mas sempre acho também que o ideal é o “caminho do meio”: falar abertamente sobre sexualidade, como apenas mais um aspecto comum da existência humana, mas sem a pintar como algo obrigatório, onipresente e definidor de dignidades, tal se vê nas obras multimídia de ficção ou nas rodinhas de adolescentes. Inclusive, muito do “surto” de doenças mentais que vemos entre os jovens certamente vem dessa relação complexada, seja porque se fantasia uma “falta” que lhe foi imposta, seja porque o deboche não raro acaba levando ao vazio emocional.

Pois bem! Após longa digressão existencial, voltemos ao tema da publicação. Pra você rir um pouco do conteúdo do livro (e outros livros do Funari tratam do mesmo tema, como o agradável A vida quotidiana na Roma Antiga!), seguem a catalogação completa de Severa, chupas!, a decifração de cada parte do desenho e a explicação digitalizada do livro. Aproveitei pra incluir outros exemplos engraçados e, claro, o autógrafo do professor, que lhe pedi no meio do primeiro semestre de 2006, quando cursei História Antiga, uma das primeiras matérias da História! A imagem inicial disponível online, mais nítida e corrigida, vem desta publicação antiga, em que uma aficionada pela Roma Antiga expôs vários desses outros grafites. Curiosamente, há no blog um comentário deixado em 2010 por uma brasileira, estudiosa do mesmo tema, pedindo mais informações sobre o material e que logo em 2011 defendeu sua dissertação a respeito. Nas páginas 209 a 212, há exatamente uma explicação sobre nossa heroína, usando o próprio Funari como referência.







“Para o Erick, com afeto, P. P. Funari, 2006.” A gente se sente tão querido, rs (e ele viva me perguntando sobre o Bragantino, atual Red Bull!):


Estrelando também “Resolutus clunis: a senhora de ânus apertado”, kkkkk:


Funari também é cultura! Ele sempre põe em seus livros essas explicações eruditas, portanto, aproveite pra ficar menos burro aprender:


Aproveitei a ocasião pra enfim publicizar outra “lenda” que sempre faço correr entre amigos, conhecidos e contatos das redes: minha famosa prova da matéria de História da América I com Leandro Karnal e nota nove e meio. Desde que meu ex-professor de América Pré-Colombiana começou a ser tornar uma “estrela” da internet e a aparecer em entrevistas de rádio e televisão, falar que “tive aula com o Karnal” (que pra mim vai ser sempre o “Leandro”!) dá outro status, rs. E mais ainda quando li uma de suas entrevistas pra um grande veículo de mídia (não me lembro qual), em que ele era retratado como um professor “rígido” e com o qual “você já devia estar feliz caso tenha tirado seis”. Então pensei: “Pô, se ele é retratado como rígido e se a maior nota que em geral se podia esperar dele era seis, das duas uma: ou ele mudou muito o jeito de ser, ou (o que, me desculpem, acho mais provável nessa era dos smartphones, das bolhas ideológicas e das informações instantâneas...) o nível ‘dês graduandes’ piorou pra caramba!” Em suma, observando conversas entre alunos dele de anos posteriores, chego à conclusão de que os Homunculi militantes entram no curso de História não pra furar as próprias bolhas mentais (tal como chamamos hoje), mas pra as reforçar com um verniz erudito, sem acrescentar conteúdo substancial...

Porém, um pouco de história sobre essa raridade. Antes de passar no vestibular, eu sequer tinha ouvido falar do Karnal, embora antes do curso de América I (primeiro semestre de 2007) comecei a ouvir falar muito bem dele. Como todo bom CDF sem complexo de superioridade, procurei cursar a matéria seguindo meus três princípios: respeito ao professor, presença às aulas e dedicação às atividades designadas. A prova versava sobre questões que devíamos responder em várias linhas, relacionadas à obra A conquista da América: a questão do outro, de Tzvetan Todorov, um dos livros-texto que usamos no semestre. Curiosamente, uma colega cujo nome não quero citar e que nem atua mais na área teve um ataque de nervoso (ou ansiedade, sei lá), foi amparada pelo próprio Karnal e no fim das contas levou a nota cinco. Quanto a mim, sem contar um simpático “Boa resposta” em vermelho, nove e meio foi a nota mais alta da turma (que também contava com estudantes de anos anteriores, porque a grade é bem móvel) porque ninguém tirou dez, mas os outros dois colegas que também conseguiram a façanha de tirar nove e meio não estão mais entre nós... O que me fez pensar que havia uma “maldição” em torno dessa avaliação, cuja concretização, infelizmente, ainda não ocorreu, e espero que jamais ocorra, rs.

Acontece que também era pra entregarmos um ensaio no final do semestre, versando sobre o enorme livro O Novo Mundo: história de uma polêmica (1750-1850), de Antonello Gerbi, mas bem em maio, estourou a primeira greve das muitas que eu pegaria (ou que me pegariam...) ao longo da graduação, e se não me engano, a matéria foi interrompida no ponto onde tinha parado, como todas as outras. Foi uma experiência ruim, não por ser a primeira, mas porque na época eu não tinha carro, e como eu pegava van, perdia todo um dia de transporte pago (porque os grevistas mimadinhos moravam lá, né); e porque eu ainda não tinha pego o traquejo nos estudos, e interromper pra mim seria praticamente ficar meio sem saber o que fazer e temer perder o semestre pago com o dinheiro do contribuinte.

Mesmo hoje, e de carro, embora Bragança Paulista não seja tão longe do distrito de Barão Geraldo, continua sendo uma viagem, e na época não só as comunicações eram precárias (não dava pra avisar rápido tanta coisa pelo Orkut ou por um fórum do Yahoo, que ainda por cima exigiam um computador de mesa, quanto pelos aplicativos do Facebook ou WhatsApp), como também ninguém, nem mesmo os cabaços do CACH, do DCE ou do STU, se preocupavam em dizer quando a greve ia começar ou mesmo acabar, pra podermos nos planejar nas condições citadas. Será coincidência que hoje, com uma infinidade de tecnologias que permitem trabalhar a distância (smartphones e notebooks portáveis, VPN pro que só pode ser acessado por universitários, difusão da internet móvel, inúmeras bases online de artigos e os drives que podem armazenar arquivos PDF, os assassinos do velho xérox) e com a derrota dos partidos de extrema-esquerda no movimento estudantil em prol do PT e de coletivos sem filiação; será coincidência que as greves nas estaduais diminuíram drasticamente nos últimos anos?...

O único ponto positivo que eu via em encerrar o semestre no meio era justamente prescindir da avaliação final, sobretudo quando tinha obtido uma ótima nota na primeira. Assim como foi o caso com uma matéria na Faculdade de Educação em 2009, quando tirei dez numa prova e minha média ficou assim, minha média em América I com o Karnal ficou nove e meio, sem o risco de me dar mal num eventual ensaio difícil, e terminei mais aquele semestre feliz da vida, rs. Seguem as questões com qualidade um pouco ruim e mantida a parte em branco, e as respostas com minha maldita letra de mão da época, lembrando que se trata da ortografia anterior à reforma implementada em 2009:


Não sei por que ele também escreveu a nota por extenso, como fiz neste texto. Pra quem ficou curioso, o que parecem ser dois eles manuscritos logo abaixo são sua rubrica, que ele também usava em outras ocasiões:






quarta-feira, 25 de setembro de 2024

Zelensky no Conselho de Segurança


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Em sua conta no Facebook, o presidente da Representação Central Ucraniano-Brasileira, Vitorio Sorotiuk, publicou uma tradução do discurso de ontem do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky no Conselho de Segurança da ONU, por ocasião da Assembleia Geral deste ano, reunida em Nova York. Como Zelensky falou em ucraniano, acredito que Sorotiuk tenha traduzido direto desta língua, e agradeço a meu amigo Claudio por ter me enviado a publicação. Segue o texto abaixo, com o mínimo necessário de adaptações:


Suas Excelências!

Um dia, neste salão, eles certamente dirão que a guerra da Rússia contra a Ucrânia acabou: não congelada, não suspensa, não esquecida – verdadeiramente concluída.

E isso não vai acontecer porque alguém está cansado da guerra. Não porque alguém negociou algo com Putin.

A guerra da Rússia contra a Ucrânia terminará quando a Carta da ONU funcionar. Deve funcionar. Nosso direito ucraniano à autodefesa deve prevalecer. Nossa cooperação com os povos do mundo que valorizam a vida tanto quanto nós. Nossa integridade territorial. Nossa soberania, a independência do nosso país. Defendemos o que cada nação gostaria de proteger por si mesma. E o que a Carta da ONU garante para todos.

E é a Rússia que deve sempre mentir para justificar sua guerra. Não nós. A Rússia não pode se referir à Carta da ONU para explicar o que está fazendo contra nós, contra a Ucrânia, contra o povo da Ucrânia. Na verdade, em sua maneira pervertida, em seu mundo distorcido, ela se refere à Carta, mas é simplesmente loucura.

A Rússia permaneceu em silêncio porque não conseguiu explicar por que um míssil russo atingiu recentemente um navio com grãos a caminho de um porto egípcio do outro lado do Mar Negro. A Rússia está em silêncio ou mente sobre por que seus drones e mísseis são detectados no espaço aéreo da Polônia, Moldova e Romênia. Todos os dias os ucranianos são feridos e mortos. Todos os dias. Hoje, bombas russas atingiram edifícios residenciais novamente. Até mesmo uma padaria comum se tornou um alvo. O que é tão perigoso para a Rússia na produção de pão? Putin não tem resposta. E a Rússia nunca tem uma resposta honesta para a questão de por que seu exército mata crianças na Ucrânia, “derrota” escolas e hospitais, luta não pela justiça, mas pela desenergização da nação vizinha. Putin não tem nada a dizer se perguntado por que ele está tentando arrastar Belarus para a guerra, por que seus propagandistas ameaçam os povos do Cáucaso ou da Ásia Central, ou por que a Rússia investe mais não no desenvolvimento da humanidade, mas no ódio. A Rússia não tem nenhuma razão legítima – absolutamente – para tornar o Irã e a Coreia do Norte cúmplices de fato em sua guerra criminosa na Europa, quando suas armas nos matam, matam ucranianos e ajudam Putin a roubar nossas terras de nosso povo.

Sabemos que algumas pessoas no mundo querem falar com Putin. Nós sabemos disso. Conheça, converse, comunique. Mas o que exatamente eles podem ouvir dele? Que ele está chateado porque exercemos nosso direito de proteger nosso povo? Ou que ele quer continuar a guerra e o terror apenas para que ninguém pense que ele estava errado? Isso também é loucura.

Desde o primeiro segundo desta guerra, a Rússia faz o que não pode ser justificado de forma alguma sob a Carta da ONU. Cada cidade ucraniana destruída, cada vila queimada – e já existem centenas e centenas delas – é a prova de que a Rússia está cometendo um crime internacional. E é por isso que esta guerra não pode simplesmente “ser isolada”. É por isso que esta guerra não pode ser acalmada pela conversa. Ações necessárias. E sou grato a todas as nações que realmente ajudam de uma maneira que salva a vida do nosso povo.

Putin violou tantas normas e regras internacionais que não vai parar sozinho. A Rússia só pode ser forçada a fazer a paz. E isso é exatamente o que é necessário – forçar a Rússia à paz como o único agressor nesta guerra, o único violador da Carta da ONU.

Agora, com a aproximação do terceiro inverno desta guerra, a Rússia está novamente tentando destruir nossa energia, e neste outono eles estão agindo de forma ainda mais cínica. Eles estão se preparando para atacar nossas usinas nucleares, três delas, temos essa informação e temos evidências disso. Se a Rússia está disposta a ir tão longe, isso significa que nada do que você valoriza importa para Moscou. Esse tipo de cinismo russo continuará a atacar se for dado qualquer lugar no mundo.

A Carta da ONU não deixa espaço para isso. E é por isso que a Fórmula da Paz também não deixa lugar.

Em 2022, no auge da guerra, quando propus a Fórmula da Paz, propus aderir à Carta da ONU – para tornar efetivo tudo para o qual esta organização foi criada. Cada ponto da Fórmula da Paz é baseado nos princípios, propósitos e normas da Carta da ONU – nos direitos que ela garante aos países e nas resoluções da Assembleia Geral, que já são apoiadas pela maioria dos países.

E não existem versões diferentes da Carta da ONU para diferentes partes do mundo. Não há quase estatutos regionais. Não há uma Carta da ONU separada para os BRICS ou o G7. Não há uma Carta da ONU Rússia-Iraniana separada ou uma Carta da ONU Sino-Brasileira separada. Há apenas uma Carta da ONU que une a todos – deve unir a todos. O caminho para uma paz justa é um: passos claros que todos entendem igualmente, e isso se reflete na Fórmula da Paz. Esta é a implementação da Carta da ONU. E todos nós sabemos o que fazer se avaliarmos honestamente a situação e realmente quisermos parar a guerra da Rússia. E o mais importante, ajam. Juntos, é claro. Claro, em unidade. Sem criar divisões novas e desnecessárias do mundo em blocos ou grupos regionais. A unidade sempre funciona por causa da paz.

Precisamos preparar uma segunda Cúpula da Paz para acabar com a guerra. Todos juntos. E convido todos vocês – todas as nações de princípios – a se juntarem a nós neste processo. Qualquer um que realmente respeite a Carta da ONU.

Convidamos a China. Convidamos o Brasil. Eu já convidei a Índia. Trabalhamos com os países da África, com toda a América Latina, Oriente Médio, Ásia Central, Europa, região do Pacífico, América do Norte. Todos são igualmente importantes para a paz. Todos. Sem exceções. Assim como a Carta da ONU deve funcionar sem exceção. Este é um processo que nos levará à paz. Para uma paz justa. Paz verdadeira. Um mundo que será duradouro. Todos nós já sabemos como alcançá-lo. Temos uma fórmula para a paz. Temos a Carta da ONU. E temos toda a força que precisamos para trazê-la à vida.

Tudo do que vocês precisam é determinação.

Muito obrigado.

Glória à Ucrânia!





domingo, 22 de setembro de 2024

Arquivos sobre o PCB na Comintern


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Em minha tese de doutorado, por sugestão dada na banca de qualificação (fim de fevereiro de 2023) pelo prof. Angelo Segrillo (USP), o maior especialista brasileiro moderno em história contemporânea da Rússia, inseri este apêndice na versão final do texto. Ele julgou a iniciativa de extrema relevância pros pesquisadores brasileiros que não leem russo, ainda que em maior ou menor grau possam contar com as traduções automáticas (e nem sempre perfeitas) dos navegadores de internet. Por isso, e renovando minha gratidão por ele também ter participado da banca final no fim de janeiro passado e feito outras observações absolutamente pertinentes, republico aqui sem modificações o texto integral desse apêndice. Receio que ele ainda esteja incompleto, mas espero que seja de alguma valia pros fanáticos em história e geopolítica que vez ou outra vêm aqui prestigiar meu trabalho.


APÊNDICE II: Como encontrar os documentos sobre o PCB nos arquivos da Comintern

O siteДокументы Советской Эпохи” (Documentos da Era Soviética), uma das subdivisões do portal principal “Архивы России” (Arquivos da Rússia), guarda os arquivos da Internacional Comunista, dos organismos a ela ligados e dos partidos comunistas a ela filiados. Infelizmente, não existem versões traduzidas em nenhum outro idioma, e este anexo serve como um auxílio para quem deseja pesquisar materiais que podem, porém, estar em português, inglês, espanhol ou francês. A partir do menu que se encontra abaixo do grande título em vermelho, escolher a opção “ДОКУМЕНТАЛЬНЫЕ КОМПЛЕКСЫ” (conjuntos documentais), e na lista com cinco itens numerados que aparecer, escolher a opção 2 e clicar no link “Организации и учреждения (в т.ч. общественные)” [Organizações e instituições (inclusive sociais)], ao lado do qual também está escrito “Архив Коминтерна” (Arquivo da Comintern).

Na grande lista que aparecer, estão indicados os principais fundos pela sigla “РГАСПИ. Ф.” (RGASPI. F.), ou seja, Arquivo Estatal de História Social e Política da Rússia, fundo X. Logo no início, os fundos de 488 a 494 referem-se a cada um dos sete congressos que a Comintern conseguiu reunir.

Dentro do fundo 495 estão os “Опись” (dossiês) referentes a diversos órgãos internos da Internacional, como o CEIC (Comitê Executivo) (1), seu Presidium (2), Secretariado Político (3) e reuniões plenárias (159-171), o OMS (Departamento de Ligações Internacionais) (23) e as comissões sobre diversos assuntos ou partidos comunistas. Clicando-se no link referente a ele, abre-se uma página com os dados arquivísticos mais importantes, como “Архивный шифр” (Código de referência) e “Крайние даты” (Datas-limite). Na parte inferior, o link em negrito “Переход на следующий уровень” (Passar para o nível seguinte) permite o acesso à lista completa dos “Дело”, pastas em que se encontram os documentos propriamente ditos e cujos links levam a outras páginas com dados arquivísticos similares. Para se ter acesso aos documentos em formato de imagem, clica-se no número que aparece em forma de link após a frase em negrito, “Количество графических образов” (Quantidade de elementos gráficos).

As folhas são agrupadas de vinte em vinte. Na parte de baixo, a indicação “Страница X из Y” (Página X de Y) mostra a página (vintena) da pasta em que se encontra no momento e o total de páginas que tem aquela pasta. Existem menus de navegação que permitem pular entre as páginas (sinas simples de maior e menor) ou passar diretamente à primeira ou última página da pasta (sinais duplos de maior e menor). Além disso, pode-se digitar no campo X uma página específica. Ao clicar-se em qualquer imagem de folha, que é então aberta, pode-se clicar diretamente em qualquer uma das folhas daquela vintena ou, no menu inferior, aumentar ou diminuir o zoom (sinais de mais e menos), ativar a resolução original (1:1), voltar à visualização integral da folha (círculo com flecha) ou navegar entre as folhas (sinais de mais e de menos). Acima das fotos, o link “Карточка” (Cartão), com o ícone de uma folha, permite voltar à página anterior, com os dados arquivísticos da pasta. E nessa página, como também se pode notar, é possível por meio de links voltar diretamente à página “Организации и учреждения (в т.ч. общественные)” [Organizações e instituições (inclusive sociais)] – os documentos da Comintern – ou ao referido “Опись” (dossiê), “Фонд” (fundo) ou “Дело” (pasta).

Especial interesse apresenta o dossiê 79, referente ao Secretariado Regional Latino-Americano (SLA/IC) no âmbito do CEIC, pois era aí que ocorriam as discussões de cúpula sobre questões do subcontinente. O dossiê 17 refere-se ao secretariado pessoal de Dolores Ibárruri no CEIC de 1935 a 1941, quando, após a reordenação da Comintern e o fim dos secretariados regionais, a espanhola ficou diretamente responsável pelos partidos latino-americanos; o dossiê 102 trata do mesmo assunto, mas referindo-se ao período de 1937 a 1940. Os dossiês 23 e 138 referem-se ao OMS. O dossiê 29 refere-se ao Partido Comunista do Brasil. Os dossiês de 73 a 75 contêm a correspondência de Georgi Dimitrov (1934-1944), respectivamente, com os órgãos dirigentes e os departamentos do CEIC, com a direção dos partidos comunistas de diversos países e com outros correspondentes. O dossiê 76 contém correspondência e outros documentos sobre as Brigadas Internacionais na Espanha. Os dossiês 79 e 101 referem-se ao SLA/IC, o primeiro abrangendo o período de 1921 a 1936, e o segundo abrangendo o período de 1928 a 1935. O dossiê 155 refere-se a um “birô negro (seção)” do Secretariado Oriental do CEIC, abrangendo o período de 1926 a 1937, embora não se saiba o porquê da vinculação de ambos os domínios. O dossiê 197 contém as pastas pessoais de vários membros do PCB e de outras pessoas ligadas ao movimento operário e pró-URSS, mas aparentemente não estão preenchidas com os arquivos digitais.

Dentro do fundo 503 está o “Опись” único, referente ao Secretariado Sul-Americano da Comintern (SSA/IC), sediado em Buenos Aires de 1925 a 1930, quando foi renomeado Birô Sul-Americano (BSA/IC) – nome com que o fundo é chamado – e transferido para Montevidéu. Os documentos abarcam o período de 1925 a 1935 e se relacionam, sobretudo, à correção doutrinária e à gestão de conflitos nos partidos comunistas concernidos. Seguindo-se os passos já mencionados para o avanço de níveis, as pastas 52 (“Teses do BSA/IC sobre o PCB”) e 54 (“Correspondência do birô com o representante no PCB e com o Comitê Central do PCB”) fazem referência direta ao Brasil e ao PCB, mas todas as outras também têm muito material dessa origem, como cartas e textos de brasileiros, material partidário e recortes de jornal. Além da pasta 1, “Informações sobre a formação do BSA/IC, correspondência do Birô”, são relevantes as pastas 6 (“Correspondência do BSA/IC com o CEIC e seus departamentos”), 8 (“Circulares, manifestos e panfletos do BSA/IC”), 14 (“Correspondência do BSA/IC com o Secretariado do CEIC”), 17 (“Circulares do BSA/IC aos partidos comunistas da América Latina”), 31 (“Materiais da [Primeira] Conferência dos Partidos Comunistas da América Central e do Sul”), 37 (“Correspondência do BSA/IC com os partidos comunistas e com pessoas”), 39 (“Informação sobre o trabalho do BSA/IC”), 44 e 53 (“Circulares do BSA/IC aos partidos comunistas da América do Sul”), 45 (“Correspondência do BSA/IC com os partidos comunistas”) e 49 (“Correspondência do CEIC com o BSA/IC”).

Algumas pastas com nomes indênticos possuem entre parênteses as indicações “1-й экз.” (1.º exemplar) e “2-й экз.” (2.º exemplar); neste caso, o segundo exemplar é apenas uma duplicata completa ou parcial do primeiro, que deve ser a versão consultada. Caso o navegador aponte problemas de privacidade, deve-se encontrar a opção que permita manualmente a entrada no site, já que os riscos apontados inexistem por tratar-se de um acervo disponível à consulta pública.

Para instruções menos detalhadas em inglês, mas com algumas dicas para fazer buscas no texto em russo, acessar esta página.