À guisa de discurso especial lembrando o milésimo dia da invasão em larga escala da Rússia pela Ucrânia (já parcialmente tomada nas regiões de Donetsk, Luhansk e Crimeia desde 2014) em 24 de fevereiro de 2022, a presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, convocou uma sessão especial pra que o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky seguisse tentando convencer os legisladores a fazerem tudo pra cortar as asas de Putin. Dispensando sua típica gravação pelas redes sociais, sua exortação foi muito mais moral, já que não apresentou elementos novos, salvo o aparecimento dos militares norte-coreanos, no contexto em que os EUA acabam de dar mais liberdade pra que Kyiv use foguetes contra alvos dentro da Rússia. Eu traduzi a partir do inglês com a ajuda das legendas automáticas que apareciam no YouTube (o vídeo segue no final), e por vezes recorri às legendas em ucraniano pra tirar uma dúvida específica em meio a uma pronúncia não perfeita:
Estimadas senhoras e senhores, estimados amigos, nossos amigos, amigos da Ucrânia.
Obrigado por apoiarem a Ucrânia. Obrigado, Roberta [Metsola, presidente do parlamento], por convocar esta seção extraordinária do Parlamento Europeu para marcar o milésimo dia da guerra em larga escala. Obrigado por garantir que nem um único desses mil dias dessa terrível guerra se tornasse de traição a nossos valores europeus comuns. Provamos que esses valores não são apenas palavras, não algo abstrato. Os valores e o modo de vida europeus, quando passados à prática, protegem a vida das pessoas reais. Muito obrigado.
Juntos, a Ucrânia, a Europa inteira e todos os nossos parceiros nos EUA e no mundo todo conseguimos não apenas impedir que Putin tomasse a Ucrânia, mas também defender o território de todas as nações europeias. Mesmo unido ao norte-coreano Kim Jong-un, o campo de Putin continua menor do que a força da Europa unida. Advirto-os para que não esqueçam isso, não esqueçam o quanto a Europa é capaz de alcançar. E se pudermos deter a decadência do modo europeu de vida, certamente poderemos impelir a Rússia a uma paz justa.
A paz é o que mais desejamos. Dois anos atrás, propusemos a Fórmula da Paz, e sou grato a todos na Europa e a cada parceiro que a apoiou. E os srs., no Parlamento Europeu, estiveram entre os primeiros a apoiar a Fórmula da Paz. E a única que se opõe a ela foi aquela que começou esta guerra: a Rússia. E devemos impelir a Rússia a uma paz justa.
Cada ataque e cada ameaça vindos da Rússia devem ser respondidos com duras sanções. Pois mil dias foram cruciais para reduzir radicalmente a capacidade da Rússia de financiar sua guerra por meio da venda de petróleo. O petróleo é o sangue que circula pelas veias do regime de Putin, e a frota oculta de navios-tanque é o que o mantém vivo. Enquanto esses navios-tanque estiverem operando, Putin vai continuar matando. Sanções pesadas são essenciais.
Obrigado a cada um dos srs., obrigado novamente, Roberta, e obrigado a cada um dos srs. que apoia nosso povo, nossa resiliência, nossa capacidade de restaurar a segurança, mesmo após os mais devastadores ataques massivos da Rússia. Juntos realizamos muitas coisas, mas não devemos ter medo de fazer ainda mais. Agora, Putin trouxe 11 mil militares norte-coreanos até a fronteira com a Ucrânia. Esse contingente deve atingir os 100 mil. Enquanto alguns líderes europeus pensam em eleições ou algo similar às custas da Ucrânia, Putin está focado em vencer esta guerra. Ele não vai parar por conta própria: quanto mais tempo ele tiver, piores vão se tornar as condições.
Todo “hoje” é o melhor momento para impelir a Rússia com mais força, e está claro que sem certos fatores-chave, a Rússia vai se privar de uma real motivação para se empenhar em negociações significativas. Sem incêndios em seus depósitos de munição em território russo, sem o desmantelamento de sua logística militar, sem bases aéreas russas destruídas, sem a perda de sua capacidade de produzir mísseis e drones e sem o confisco de seus ativos [no exterior], os srs. sabem muito bem que Putin menospreza as pessoas ou as regras. Ele só valoriza o dinheiro e o poder. Isso é tudo de que devemos privá-lo para restaurar a paz.
Se alguém na Europa pensa que pode vender para Moscou a Ucrânia ou qualquer outro país como os Estados bálticos, os Bálcãs, a Geórgia, ou a Moldova e ganhar algo em troca, que se lembre-se desta simples verdade: ninguém pode desfrutar de águas calmas em meio a uma tempestade, e devemos fazer de tudo para terminar esta guerra de forma honesta e justa, como a sra. disse, Roberta, e juntos, claro. Mil dias de guerra é um tremendo desafio. A Ucrânia merece que o próximo ano seja tornado o Ano da Paz.
Obrigado novamente, muito obrigado, obrigado por suas resoluções, suas decisões, seus princípios, suas visitas à Ucrânia durante a guerra, durante seu primeiro ano, o qual foi particularmente tão difícil, e obrigado por sua fé na Ucrânia. Muito obrigado, Slava Ukraini!