Desde a primeira posse de Emmanuel Macron, em 2017, os registros no site oficial do Elysée começaram a ficar muito bagunçados, e alguns discursos sumiram, outros ficaram mais difíceis de encontrar, não foi constituído um acervo de vídeos históricos etc. Por isso, fiquei dependente do que pude encontrar pelo Google ou no YouTube.
Curiosamente, os europeus pareciam gostar nos anos 2000 muito mais do Dailymotion ou do Vimeo do que do próprio YouTube, portanto, foi muito mais fácil achar os discursos de Sarkozy na primeira plataforma. A partir de 2013, sob François Hollande, ficou mais fácil achar em canais diversos do YouTube, sobretudo de agências de notícias, como estes votos pra 2023. Porém, até hoje não entendo por que nenhum vídeo do presidente Hollande foi publicado no YouTube oficial, enquanto o Dailymotion oficial é o mais completo de todos. Além disso, conforme as datas dos vídeos, há um “buraco” no YouTube entre 28 de janeiro de 2011 e 15 (“Ao vivo”) ou 18 (“Vídeos”) de janeiro de 2019...
O ano de referência sempre é o próximo, ao qual cada presidente está desejando votos, e não o que está acabando, quando o discurso é gravado e lançado. Uso o Google Tradutor pra obter os textos mais rapidamente, mas revisando e confrontando manualmente com os originais. Pra França, a fonte desses textos, como é o caso dos votos pra 2023, está sendo um site de informações políticas, econômicas e sociais chamado “Vie publique”, ligado ao gabinete do primeiro-ministro, mas infelizmente pouco divulgado.
Hoje terminam os votos de fim de ano dos presidentes franceses desde 2007-2008, começando por Nicolas Sarkozy e passando por François Hollande e Emmanuel Macron. Amanhã vão sair na página a publicação oficial, catalogando todos os discursos, e o banner lateral, disponível na seção “Meus chuchus” de principais materiais de pesquisa. No futuro, se eu achar os vídeos, talvez eu também traduza as alocuções de 1974-1975 a 2006-2007 feitas por Valéry Giscard d’Estaing, François Mitterrand e Jacques Chirac, embora eu não vá legendar o audiovisual. Depois desta coleção, vou começar aquela com os discursos de fim de ano de Vladimir Putin e Dmitri Medvedev, presidentes da Rússia desde 2000.
Meus caros compatriotas,
Pela sexta vez, tenho o privilégio de partilhar com vocês esse momento de felicitações.
Com vocês, oficiais e soldados de nosso exército, que nos protegem. Com vocês, policiais civis e militares, bombeiros, forças de segurança e socorristas marítimos, que zelam por esta noite. Com vocês, médicos, cuidadores, pacientes. Com vocês, funcionários públicos que garantem a continuidade de nossos serviços. Com vocês, cidadãos engajados profissionalmente ou em nossas associações. Com vocês, nossos compatriotas do ultramar. Com todos vocês que estão com a família na França ou no exterior, e mais particularmente com vocês cuja vida os fez se sentirem sozinhos esta noite. Vocês que passam por provações e para quem nossos pensamentos se dirigem.
As cerimônias de felicitações têm esta singularidade: obrigam-nos a falar de um futuro que, na verdade, não conhecemos, mas que sabemos com certeza que teremos de enfrentar, com nossas forças e fraquezas, mas como um país unido.
Nas responsabilidades que me são atribuídas, nunca perco de vista esse imperativo de unidade da nação que formamos todos juntos.
Se cedêssemos ao espírito de divisão que nos pressiona por todos os lados, não teríamos quase nenhuma chance de sair dessa, em um mundo tão duro, em tempos tão difíceis. Portanto, desejo que vivamos 2023, tanto quanto possível, como um país unido e solidário, reconhecendo o lugar de cada pessoa e respeitando a todos.
Lembro-me dos votos que fazia a vocês nesta mesma hora, um ano atrás. Quem imaginaria naquele momento que, pensando que saíamos com muita dificuldade de uma epidemia global, teríamos de enfrentar desafios inimagináveis em poucas semanas: a guerra retornando ao solo europeu após a agressão russa mirando a Ucrânia e sua democracia; dezenas, talvez centenas de milhares de mortos, milhões de refugiados, uma terrível crise energética, uma crise alimentar ameaçadora, a invocação das piores ameaças, inclusive nucleares? Quem poderia ter previsto a onda de inflação então desencadeada? Ou a crise climática com seus efeitos espetaculares novamente neste verão em nosso país?
Entretanto, ao longo dessas temporadas de perigo, o que mais uma vez permaneceu constante este ano foi nossa capacidade coletiva de enfrentar juntos esses desafios.
Sim, durante este ano, a França e a Europa levaram juntas a voz do direito e da liberdade para apoiar a Ucrânia; milhares de vocês demonstraram solidariedade ao acolher, em nossas cidades e vilas, refugiados que fugiam da invasão russa.
A solidariedade nacional, financiada pelos contribuintes franceses, permitiu atenuar o aumento dos preços da energia para todos, preservar nossas empresas e, em particular, proteger os rendimentos dos mais modestos entre nós. E graças a nossa ação coletiva, sustentamos o crescimento, contivemos a inflação em níveis abaixo dos de nossos vizinhos e reduzimos o desemprego a seu nível mais baixo em quinze anos. De fato, continuamos a criar empregos este ano, e empregos de qualidade.
A cada desafio, a Europa nos permitiu agir de forma mais rápida e forte, para criar um bloco de resistência unida face à Rússia, reinvestir em nossas indústrias; e, sobretudo, encontrar as respostas aos desafios do século em escala continental. Assim, durante os seis primeiros meses deste ano, enquanto a França presidia o Conselho da União Europeia, tomamos decisões para reduzir em mais da metade nossas emissões de gases do efeito estufa até 2030, promulgamos um imposto de carbono em nossas fronteiras para proteger nossas indústrias e nosso planeta, decidimos juntos criar um imposto mínimo sobre as grandes multinacionais para combater a evasão fiscal e começamos juntos a regular melhor as grandes plataformas digitais.
E apesar de todas essas crises, de todos esses desafios, 2022 também foi, para todos nós, um ano democrático intenso, durante o qual vocês renovaram nossa Assembleia Nacional e decidiram, por ocasião da eleição presidencial desta primavera, confiar-me um novo mandato de cinco anos à frente de nossa nação, o que me honra e me responsabiliza.
2022 também foi mais uma vez um ano de brilho artístico, cultural e esportivo para nosso país, com dois prêmios Nobel e tantos grandes momentos de criação e esporte. Tenhamos orgulho de tudo isso, de tudo o que conquistamos juntos durante o ano que está terminando.
Precisamos nos munir desse orgulho e confiança para enfrentar o próximo ano. Porque acredito que este ano de 2023, antes de tudo, é um ano de questões que sei serem preocupantes e de crises a serem novamente enfrentadas.
Haverá cortes de energia? Se continuarmos a economizar energia, como temos feito há vários meses e como anunciei a vocês em 14 de julho passado, e se continuarmos a reativar nossos reatores nucleares conforme planejado, teremos sucesso. Está em nossas mãos.
Haverá aumento nos preços da energia? Aqui também colocamos em prática respostas concretas. Digo isso a cada um de vocês, pois, embora os preços da energia tenham atingido níveis históricos, o aumento permanecerá limitado em nosso país. Digo isso em particular a nossos autônomos, nossos padeiros, mas também a nossas empresas mais industriais. A partir de amanhã, vocês terão assistência adequada, além do escudo tarifário já em vigor, para que possa ser garantida a sustentabilidade de sua atividade, de nossos empregos e de nossa competitividade. E, sempre que necessário, o governo adaptará suas respostas, como tem feito a cada instante. Acima de tudo, aceleraremos as soluções para deixar nossas dependências e ter um preço de eletricidade correspondente a seu custo de produção.
Teremos outra onda de covid, e a epidemia acabará algum dia? Também seremos capazes de lidar com isso. Primeiro, graças ao uso razoável e apropriado do distanciamento físico contra o vírus, que aprendemos. Depois, graças à vacinação que demonstrou sua eficácia; e esta noite peço a todos os nossos compatriotas com mais de 70 anos, em particular, que tomem a dose de reforço ou se vacinem, caso ainda não o tenham feito. E finalmente, por meio de testes, sequenciamento genético e estabelecimento de controles fronteiriços.
Foi o que o Governo decidiu fazer em nossos aeroportos, a partir de amanhã, para os aviões que chegam da China, onde a epidemia está a todo vapor e onde muitas restrições foram flexibilizadas.
Teremos que trabalhar mais em 2023? Aqui também, como prometi a vocês, este será de fato um ano de reforma previdenciária visando garantir o equilíbrio de nosso sistema pelos próximos anos e décadas. Precisamos trabalhar mais, é o sentido mesmo da reforma do seguro-desemprego que foi apoiada pelo Governo e votada pelo Parlamento. É também o sentido desta reforma, sobre a qual os parceiros sociais e o governo trabalharão nos próximos meses para terminar de implementar as novas regras que serão aplicadas a partir do final do verão de 2023. O objetivo é consolidar nossos regimes de aposentadoria por repartição, que de outra forma estariam ameaçados, pois continuamos financiando-nos a crédito. Para isso, a extensão de nossas carreiras profissionais será gradual e feita por etapas ao longo de quase dez anos. Também será justo, levando em conta carreiras longas, carreiras interrompidas e a dificuldade de certas tarefas e profissões. Mas é isso que nos permitirá equilibrar o financiamento de nossa aposentadoria, em nosso país, e é uma oportunidade, onde vivemos mais, de melhorar a aposentadoria mínima para todas e todos que trabalharam para ter seu sustento e de passar a nossos filhos um modelo social justo e sólido, porque será confiável e financiado no longo prazo.
Na longa história de nossa nação, houve gerações que resistiram, outras que reconstruíram e outras ainda que estenderam a prosperidade alcançada.
No que nos diz respeito, cabe a nós enfrentar esse novo capítulo de uma época difícil e, além das emergências deste ano, que acabei de mencionar em parte, ter a responsabilidade de reconstruir diversos pilares de nossa nação, sejam nossas escolas, nossa saúde, nosso transporte, a gestão de nosso território, nossas indústrias e assim por diante.
Para isso, precisamos permanecer unidos, mas também manter uma ambição coletiva intata, uma ambição de continuar transformando nosso país contra o corporativismo e todas as boas razões para fazer como antes, ou contra a tentação do espírito de derrota.
É assim que seremos úteis a nossos jovens e às gerações futuras. Há cinco anos, iniciamos em grande parte esse trabalho de transformação, simplificação e combate à lentidão. Mas às vezes é muito pouco e, várias vezes, muito lento.
E sou impaciente igual a vocês, mas sem nunca ceder à facilidade ou à fatalidade. Assim, desejo que 2023 seja para nós um ano feliz, com nosso trabalho e empenho em trabalhar para refundar uma França mais forte e mais justa e passá-la para nossos filhos.
É por meio de nosso trabalho e empenho que poderemos aumentar os recursos de nossas forças de segurança interna, de nossa Justiça, de nossas Forças Armadas, diante dos novos desafios geopolíticos e da proliferação dos conflitos.
É por meio de nosso trabalho e empenho que combateremos mais eficazmente o tráfico e a imigração ilegal para a França europeia [Hexagone] e para nossos territórios ultramarinos. Permaneçamos fiéis a nossos valores, sempre. Integremo-nos melhor por meio da língua e do trabalho, protejamos as lutadoras e os lutadores pela liberdade, bem como aquelas e aqueles que vêm do Irã ou de outros lugares, mas mantenhamos o controle de nossas fronteiras, da unidade da nação.
É por meio de nosso trabalho e empenho que também construiremos uma nação produtiva e ecológica. Sendo a transição ecológica uma batalha que deveremos vencer, precisamos travá-la com determinação e método. O planejamento ecológico será o instrumento dessa superação histórica para reduzir nossas emissões de CO2 e salvar nossa biodiversidade. Com nosso plano França 2030, continuaremos investindo, inovando e implantando uma ecologia em escala industrial. E após a lei que visa acelerar a implantação de energias renováveis, a lei sobre a energia nuclear marcará o lançamento da construção de novas usinas elétricas em nosso território.
É por meio de nosso trabalho e empenho que também restauraremos uma nação de confiança, tornando efetiva nossa laicidade todos os dias porque é um princípio de liberdade. E ela não tira em nada o lugar da religião no foro íntimo de cada um, para todos os que creem, e saúdo neste momento a memória de Sua Santidade Bento 16, cujo falecimento, eu sei, afeta muitos católicos na França e no mundo. Essa nação de confiança também será fortalecida por um combate constante a toda discriminação, em uma sociedade de respeito e reconhecimento. Ela também será fortalecida por uma luta diária que continuaremos travando para estar ao lado das pessoas com deficiência.
É por meio de nosso trabalho e empenho que devemos refundar nossos principais serviços públicos para que eles garantam plenamente nosso ideal de igualdade. Com o Conselho Nacional da Refundação, pusemo-nos a renovar o contrato entre as gerações e trabalhar para apoiar melhor nossos idosos em situação de dependência.
Também começamos a reavivar a confiança em nossa Educação Nacional e em nossa saúde, contando com a energia e dedicação de nossos professores e cuidadores. Continuaremos com ardor durante o próximo ano, com escolhas claras e fortes e um trabalho o mais próximo possível dos profissionais.
É por meio de nosso trabalho e empenho que construiremos uma sociedade mais justa. Uma sociedade mais justa é, antes de tudo, uma sociedade onde a igualdade entre mulheres e homens seja efetiva, e essa também, a grande causa de meus dois mandatos de cinco anos, continuará impulsionando o trabalho do Governo e nutrindo a ação todos os dias. Mas uma sociedade mais justa também o é no âmbito social. Não aumentando impostos, não. Nem legando mais dívidas às gerações futuras. Mas melhorando o apoio a nossas crianças e adolescentes, reformando nosso ensino médio profissionalizante e melhorando a orientação de nossos adolescentes para que encontrem o treinamento certo e os empregos certos. Reindustrializando nosso país de modo mais rápido e forte, para oferecer novos empregos e carreiras do futuro. Pois a principal injustiça em nosso país continua sendo o determinismo familiar e a fraquíssima mobilidade social. E a resposta está na escola, na orientação, em nosso ensino superior, em nossa política de inovação e em nossa industrialização.
E como a confiança na vitalidade de nossa vida democrática também diminuiu, sabemos que teremos muito a fazer nos próximos meses. Nas próximas semanas e meses, lançarei as primeiras bases para um Serviço Nacional Universal. Teremos de lançar os ajustes necessários em nossas instituições e em nossa vida pública e cidadã. E com a Assembleia Nacional e o Senado, e também com o Conselho Econômico, Social e Ambiental, teremos de construir um melhor funcionamento dos poderes e uma associação mais frequente dos nossos concidadãos.
A França e a Europa têm um papel eminente a desempenhar neste momento de nossa humanidade, quando tantos regimes autoritários vêm abalar nossas democracias e seus fundamentos. Proteger nossas crianças, proteger nossa informação livre e independente, a ordem livre e justa que permite aos cidadãos serem felizes: eis alguns dos combates de nosso tempo.
Somos obrigados a abarcar tudo isso.
Sim, é por meio de nosso trabalho e empenho que poderemos dar-nos os meios para alcançar nossas aspirações de hoje e nossas ambições de amanhã.
Em suma, em 2023, teremos de consolidar passo a passo nossa independência energética, econômica, social, industrial, financeira e estratégica e fortalecer nossa força de espírito, se assim posso dizer. É isso que devemos a nossos filhos.
Não é, e nunca será, uma corrida por ilusões perdidas de antemão. Pois essa independência francesa deve encontrar seu retransmissor e complemento em nossa Europa. Quando tantos países sonham em ser impérios, quando tantas empresas imaginam ser reinos, temos um continente para formar um espaço de paz e liberdade, de prosperidade, solidariedade, direito e potência. Desde 2017, travamos esse combate para que nossa Europa reúna suas forças. Para que em 27, sejamos mais fortes.
Por isso tenho travado esse combate nos últimos anos, por isso vocês me ouviram também alertar outros europeus para defenderem nossas indústrias e empregos, há algumas semanas, após as decisões de outros continentes, e por isso redobrarei meus esforços nesse início de ano.
Meus caros compatriotas,
Esta noite, em nome de vocês, quero dizer a nossos amigos ucranianos: nós os respeitamos e os admiramos. Sua luta para defender sua nação é heroica e nos inspira. E durante o ano que começa, estaremos inabalavelmente a seu lado. Nós os ajudaremos até a vitória e estaremos juntos para construir uma paz justa e duradoura. Contem com a França e contem com a Europa.
Quanto a nós, sejamos essa geração de construtores.
Nos próximos meses de 2023, as obras de reconstrução de Notre-Dame de Paris, esse canteiro excepcional, caminharão para a conclusão. Nos próximos meses, todo o nosso país se reunirá fraternalmente às vésperas dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos e por ocasião da Copa do Mundo de Rugby na França. Nos próximos meses, graças ao plano França 2030, os primeiros carros elétricos construídos inteiramente em nosso território sairão das fábricas. E muitos outros projetos ocorrerão em todo o nosso território para permitir que a França reduza tanto o carbono quanto o desemprego. Nos próximos meses, em nossas salas de aula, hospitais e consultórios médicos urbanos, vocês verão os primeiros resultados palpáveis da renovação de nossa escola e de nossa saúde.
Por tudo isso, faço para todos nós meus melhores votos de unidade, audácia, ambição coletiva e benevolência. Meus caros compatriotas, juntos já superamos tantas crises. Sei que somos capazes de resolver aquelas diante de nós ser a geração com a responsabilidade de refundar a França e a Europa para transmiti-las mais fortes, mais belas e mais justas para nossos filhos.
Juntos teremos sucesso.
E forte dessa confiança, faço a vocês meus melhores votos para este novo ano.
Viva a República.
Viva a França.