quinta-feira, 24 de julho de 2025

Nem perca tempo com esse cara


Endereço curto: fishuk.cc/kobori



Pegou a referência, ordinário???


José Kobori é um renomado e experiente economista, empresário e analista financeiro, tendo trabalhado e lecionado em várias instituições, embora eu mesmo nunca tenha ouvido falar dele. Porém, dado meu interesse em geopolítica e atualidades, cada vez mais cortes de suas participações em “mesacasts” bananeiros me têm sido recomendados pelo YouTube, e muitas vezes o mesmo vídeo aparece sucessivas vezes. Os mais recorrentes são aqueles que têm miniaturas apelativas como “Me arrependi” ou “Fui liberal toda a minha vida”.

Nunca cliquei neles, mas há alguns dias decidi entrar no próprio canal de Kobori e verificar quais seriam suas contribuições originais, sobretudo numa visão de esquerda, pra entender a economia contemporânea. Os primeiros vídeos, então mais recentes, tinham caráter mais político, falando da diplomacia do TACO e da sabotagem do Bananinha, e quanto a isso não discordei em nada; nem mesmo no que tinha de puxação de saco da Jararaca e sua encenação como “arauto da soberania”.

Mas quão grande não foi minha decepção em ver, como um dos interlocutores, Elias Jabbour, passador de pano do Hamas e de Putin e trovador da ditadura chinesa. E na pior provocação: uma blusa ostentando a sigla DDR e o brasão da Alemanha Oriental, um dos países europeus mais repressores do século 20, cujo governo fuzilava quem simplesmente tentava pular o Muro de Berlim. Banalização do stalinismo inaceitável pra quem conhece o Stasi, comparável, portanto, à banalização da tortura cometida pelos militares brasileiros nos “anos de chumbo”:



Também vi um título que mencionava apoio ao ICL, grupo hoje pra mim intolerável por diversas razões. E um vídeo de seis minutos que tinha “Democracia chinesa” como parte do título confirmou minhas suspeitas iniciadas com a presença de Jabbour: Kobori faz parte daquele seleto grupo de intelectuais dedicados à propaganda de ditaduras com coloração “de esquerda” e cujo discurso antiamericano fajuto engana muita gente. Claro que a compreensão da China é muito mais complexa que seu sistema político, até porque a “democracia” tupiniquim não é perfeita, não justificando, porém, sua demolição total. O problema é que ele simplesmente usa os mesmos chavões comunistas que escuto desde o início da década de 2010 no Facebook e, depois, em outras redes, que de tão simplórios nem merecem discussão.

Não vou linkar o vídeo, e você que procure se sentir vontade. Já começa ruim: diz que as “fontes ocidentais” em geral, especialmente a mídia comercial, só passam uma imagem negativa e devem ser descartadas. Certamente ele fala de nosso próprio jornalismo, bastante superficial e pouco erudito, pois no exterior grande parte da mídia liberal, seja privada ou estatal, dá uma imagem muito matizada sem por isso justificar as violações de direitos humanos. Mas quais são as fontes de Kobori, então? Pasme, os apologistas Jabbour e Felipe Durante, além de (ai, historiadores!) “fontes oficiais do governo”. Sim, ele viola um dos princípios mais caros ao próprio Karl Marx, que nos recomenda jamais confiar totalmente no que os próprios personagens de uma época dizem sobre si mesmos...

Um princípio que, além de asqueroso e batido, é completamente ilógico, é reivindicar a “democracia chinesa” (tá, eles não se reivindicam uma democracia “estilo ocidental”, mas vamos poupar neurônios) como superior à “democracia brasileira que só serve ao 1% mais rico da população”. Vamos combinar: ou a democracia existe ou não existe. Ela pode ser imperfeita e deve ser aperfeiçoada em qualquer caso, mas ainda assim é muito melhor do que qualquer ditadura perfeita.

A história mostra que regimes autoritários (comandados por uma pessoa, grupo ou classe) podem trazer prosperidade até certo ponto, mas fracassam em suprimir contradições ou conhecer perfeitamente as necessidades gerais sem ampliar sua audiência. Essa imagem de “democracia pra poucos” recalca o fato de que ela deve ser ampliada, abrigar o máximo possível de diversidade, pois todo grupo de aventureiros que toma o poder “em nome do povo” ou “dos trabalhadores” – já que é impossível todos governarem ao mesmo tempo – inevitavelmente vai se alienar da realidade e cometer excessos injustificáveis.

E como o povo pode não governar, mas pode se fazer ouvido, nada como ler os comentários que Kobori, até agora, não censurou nem filtrou em seu vídeo. Exceto pelo gado que sempre vai mugir conforme o capim com que sonha, as pessoas que ainda conservam seu bom senso e trazem até detalhes bastante reveladores falam por mim. Deixam a mensagem de que certamente, por mais que a “ex-querda” vá o tietar como uma “justificação intelectual” (aquele famoso “Não quero argumentar, tó aqui o link pra você ler ou assistir!”), esse futuro candidato a celebridade política não merece nosso tempo livre: