Estou postando aqui algumas canções que o cantor tajique Iskandar Qalandarov (cirílico: Искандар Қаландаров) interpretou durante uma festa celebrando o Ano Novo persa (Nowruz), provavelmente em 2019, e que tinham sido publicadas em meu extinto canal do YouTube, pro qual também eu queria separar outras faixas. Antes do fim do Pan-Eslavo Brasil, eu as tinha carregado sem tradução mesmo, traduzindo apenas os títulos em tajique que apareciam ao longo do vídeo, e queria separar quantas eu pudesse pra presentear os brasileiros com algo diferente de nossa cultura de massas. Se eu tiver tempo, vou separar as outras músicas do vídeo original e incorporar aqui também ou em outra publicação. Porém, eu queria colocar duas antes das outras, porque elas têm um significado especial.
Pode-se facilmente perceber que a primeira canção tem a mesma melodia de La paloma, muito conhecida no mundo hispânico. O nome apresentado é “Дилбарам” (Dilbaram), literalmente Minha amada (Dilbar também é um nome feminino na Rússia e países centro-asiáticos), embora pareça mais que ele pronuncie delbaram, forma da língua irmã persa (دلبرم).
Qalandarov também canta no grupo tajique Iqbol (Иқбол) e foi um de seus fundadores, em 1999. Quem gosta da língua tajique (ou do persa em geral) e da cultura da região, o canal dele é um prato cheio. Mesmo se não entendemos o idioma, o ritmo e a voz são muito bons! Quem tem uma cultura mais ampla, lembra que La paloma já foi gravada por Julio Iglesias, e quem tem mais idade lembra que a extinta dupla João Paulo & Daniel também a gravou em português como Paloma ainda em 1987, mas só estourou na década de 1990. Na verdade, La paloma foi escrita pelo compositor espanhol Sebastián de Iradier y Salaverri (1809-1865) por volta do distante 1863, com uma letra toda diferente da gravada por Iglesias.
Devido ao enorme sucesso que fez no México no fim do século 19, sobretudo por ter sido uma das canções preferidas dos imperadores Maximiliano e Carlota (no curto período em que o país teve uma monarquia), La paloma é erroneamente considerada uma obra mexicana. Em todo caso, é uma das melodias mais executadas do mundo, talvez até mais do que Yesterday dos Beatles, e citada até mesmo em O crime do Padre Amaro, de Eça de Queirós, como “A Chiquita, uma velha canção mexicana”. Não por menos, foi parar até no Tajiquistão... Infelizmente, não achei o texto completo e não conheço bem tajique pra traduzir literalmente.
O nome da segunda canção é “Соқӣ, ба нури бода” (Soqi, ba nuri boda), que originalmente é um poema do escritor persa Hafez de Shiraz (1315-1390), ou Hafez-e Shirazi, em tajique “Hofizi Sherozi” (Ҳофизи Шерозӣ). Hafez nasceu no atual Irã e foi também um místico sufi, escrevendo muito sobre o vinho e seus prazeres. Não tenho certeza, mas o título talvez signifique Garçom, sirva vinho, sendo que soqi era um responsável por servir bebidas em jantares de cerimônias nobres ou em ofertas pra deuses nos templos.
Infelizmente, não achei o texto completo desta canção e não conheço bem tajique pra traduzir literalmente. Mas aproveitem o conteúdo inusitado! O poema Garçom, sirva vinho, do qual essas são as primeiras palavras, e não tanto um título, também foi cantado e musicado por outros artistas. Segue o texto de Hafez que encontrei no Facebook (não conferi a correção com o áudio nem transliterei):
Соқӣ, ба нури бода барафрӯз ҷоми мо,
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Biyo ey dil (Ei, venha, coração):
Ey dukhtar (Ei, menina):
Jon modaram (Querida mãe):
Ozurda khotir (Lembrança angustiante):
Marjuna (nome próprio feminino):
Mohina (outro nome feminino):
Dar davlati Somoniyon (No Império Samânida):
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