terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

Morre último líder da Alemanha Oriental


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Esta notícia em inglês da Associated Press reproduzida pelo New Canaan Advertiser informa sobre a morte de Hans Modrow, político da República Democrática Alemã (Alemanha Oriental, ou ainda RDA, DDR), em 11 de fevereiro, e achei interessante traduzir e reproduzir aqui. A RDA foi um Estado socialista fundado em 1949 no que hoje é essencialmente o leste da Alemanha moderna, originado da zona de ocupação soviética após a derrota do nazistas na 2.ª Guerra Mundial. No essencial, era politicamente controlado pela antiga União Soviética e ficou conhecido como uma das ditaduras mais brutais da Europa na época da “guerra fria” (1948-1989), sobretudo sob o mando de Walter Ulbricht, que ordenou a construção do Muro de Berlim em 1961, e Erich Honecker, que reprimiu brutalmente as manifestações logo após os 40 anos da RDA e quando outros vizinhos socialistas já estavam avançados nas reformas.


Morre aos 95 anos o último líder comunista da Alemanha Oriental
GEIR MOULSON, Associated Press

BERLIM, Associated Press – Morreu Hans Modrow, que atuou como último líder comunista da Alemanha Oriental durante uma gestão turbulenta que se encerrou com a primeira e única eleição livre do país. Ele tinha 95 anos.

Modrow morreu na manhã de sábado, segundo tuíte da fração parlamentar do partido Die Linke (A Esquerda).

Um comunista de mentalidade reformadora, Modrow tomou o poder na Alemanha Oriental logo após a queda do Muro de Berlim e na sequência convidou forças de oposição para o governo, mas não conseguiu frear o crescente impulso rumo à reunificação alemã.

“O percurso totalmente pacífico do estabelecimento da unidade alemã foi exatamente uma especial conquista sua” escreveu Die Linke no Twitter. “Esse permanecerá sendo seu legado político.”

Durante os 16 anos em que chefiou o partido comunista em Dresden, a partir de 1973, Modrow construiu uma reputação de ser contra a ordem instituída. Ele rejeitou as regalias do partido e insistiu em morar num apartamento comum.

Um cargo na cúpula da liderança da Alemanha Oriental lhe foi negado até ser escolhido primeiro-ministro, uma função que antes acarretava pouca influência, em novembro de 1989 – dias após a queda do Muro de Berlim.

Quando o líder linha-dura Egon Krenz e seu Politburo governante renunciaram no começo de dezembro, Modrow emergiu como a principal figura política da Alemanha Oriental. Mas os comunistas já não podiam dominar sozinhos a situação. No mês seguinte, ele concordou em dividir o poder com uma oposição cada vez mais ruidosa e adiou a histórica primeira eleição livre da Alemanha Oriental para março de 1990, em meio à crescente insatisfação.

Mesmo que os protestos pela democracia estivessem rapidamente adquirindo um matiz pró-unificação, os comunistas inicialmente se opuseram a discutir essa possibilidade. Porém, em fevereiro de 1990, Modrow impeliu a conversações com a Alemanha Ocidental visando a uma eventual “pátria unida” que seria independente de blocos militares e governada por um parlamento conjunto em Berlim.

Modrow liderou a campanha eleitoral do Partido do Socialismo Democrático, novo nome dos comunistas, mas sua popularidade pessoal não bastou para evitar que eles terminassem apenas como o terceiro partido mais forte, com uma votação de 16%.

A vencedora foi uma aliança de partidos conservadores que favoreceu uma rápida reunificação e foi apoiada pelo governo do líder da Alemanha Ocidental, Helmut Kohl. A Alemanha foi reunificada sob a liderança de Kohl e como membro da OTAN em 3 de outubro de 1990, menos de um ano após a queda do Muro de Berlim.

Modrow se tornou membro do parlamento unificado, onde atuou até 1994, e presidente de honra do PSD pós-comunista – o antecessor do atual partido de oposição Die Linke. De 1999 a 2004, ele foi membro do Parlamento Europeu.

O passado de Modrow sob o domínio dos comunistas linha-dura o levou ao tribunal vários anos após a reunificação.

Em 1995, um tribunal o condenou por ter incitado a falsificação dos resultados das eleições locais de 1989 em Dresden. Foi-lhe imputada uma pena de nove meses com suspensão condicional e uma multa.

Modrow afirmou que o julgamento teve motivações políticas e garantiu que seu resultado agravaria a divisão entre alemães orientais e ocidentais. Seu advogado argumentou que, como primeiro-ministro, ele tinha feito reparos contra injustiças prévias ao supervisionar as eleições livres.

Mais tarde em sua vida, Modrow serviu no Conselho de Notáveis do Die Linke.

“Hans foi um socialista profundamente sincero e combativo”, tuitou Dietmar Bartsch, presidente da fração parlamentar do Die Linke. “Até os últimos anos foi um importante conselheiro em nosso partido, cuja sabedoria vai fazer falta.”