sábado, 28 de dezembro de 2024

Lukashenka e democracia à belarussa


Endereço curto: fishuk.cc/luka-democracia


Mais uma pérola que já estava esperando algum tempo pra ser publicada! No dia 28 de janeiro de 2022, o “líder autoritário” de Belarus (como o chama a Radio Svoboda), Aliaksándr Lukashénka, se dirigiu com uma mensagem à Assembleia Nacional e ao povo belarusso, que nada mais foi do que um mortífero monólogo de mais de duas horas e meia seguido de perguntas bem domesticadas. Já se aventava um possível ataque da Rússia contra a Ucrânia e, pra variar, ele fingiu que não tinha nada com isso. Na época, ficou muito famosa uma pergunta sobre o que ele entendia como “democracia à belarussa” (já explico melhor) e sua resposta segundo a qual, como ele era um “ditador” (querendo dizer, os países do Ocidente o chamavam assim), achava difícil entender a democracia. Até se refere cinicamente à repressão brutal dos protestos massivos de 2020, como se sua execração fosse mera questão de “ponto de vista”.

Dando o contexto, algumas revisões à Constituição seriam submetidas a referendo (teriam chance de perder?), e uma delas se referia ao acréscimo textual que dizia “A democracia de Belarus se baseia na ideologia do Estado belarusso”, seja lá o que esse dilmismo redacional queira dizer. Antes de uma pequena lambeção de saco, o personagem do Bob Esponja se apresenta como Aleksándr Dedínkin, professor da filial de Vitebsk da Universidade Internacional “MITSO”, instituição de ensino pertencente à Federação dos Sindicatos de Belarus. Historiador, ele tem até um canal no YouTube em que fala, sobretudo, sobre seu tema de pesquisa, a história da “Bielorrússia” soviética. Após relembrar aquela revisão, o docente arremata: “Уважаемый Александр Григорьевич, вопрос вот чем связан: а как вы понимаете демократию по-беларуски?” (Estimado Aliaksándr Ryhóravich, a questão se refere a isto: como é que o senhor entende a democracia à belarussa?)

Infelizmente, a fonte da qual tirei meu trecho do vídeo não está mais disponível, mas também existe a íntegra do evento martirizante (na qual a pergunta completa começa às 3h 1min 30seg) e um recorte feito pelo canal ONT. A vantagem deste é que ele não “pifa” no momento em que fala de Putin e Lukashenka na OSCE, como ocorre com os outros. Além da notícia já citada, utilizei uma reportagem do portal do “Parlamento da União Estatal” da Rússia e de Belarus e uma matéria da BBC em russo pra chegar a uma transcrição final, mais exata e que também tirei de ouvido. Ela pode conter imprecisões, e também não hesitei em manter alguns cacoetes orais. A divisão em parágrafos foi minha, um tanto arbitrária. Por opção política, mudei onde estava transcrito “belorússki” pra “belarúski”, o mais apropriado pra “Belarus”, verdadeiro nome atual do país:


Sabe, eu sou um “ditador”, é difícil pra mim entender a democracia. Mas este é um dos elementos da democracia: a disciplina. Olhamos numa direção, avançamos numa direção, com opiniões diferentes, mas decidimos e seguimos em frente. Sabe, não vejo a democracia à belarussa da mesma forma que é vista no mundo livre e nos EUA, bastião da democracia. O que aconteceu em nossas ruas teria sido ruim, mas o fato de uma menina ter sido baleada e de terem provocado duas guerras teria sido bom. Etcétera, etcétera. Ou seja, ninguém formulou esses padrões democráticos, residam eles em eleições ou em alguma outra coisa.

Certa vez, afirmei com a Rússia na OSCE que eles vêm e criticam que não temos democracia, não seguimos os padrões, etc. Putin e eu acrescentamos [ironicamente]: “Vejam, deixem nossos Ministérios do Exterior oferecerem opções.” Então se recusaram mesmo a ouvir isso. Ou seja, esses padrões uniformes não existem. Mas a democracia: demos significa “povo”, e kratos significa “poder”. Falei certo? Sim. É o poder do povo, e o referendo é justamente um elemento dessa democracia. Mas não, não querem nos ouvir.

A democracia tem a ver, antes de tudo, com os direitos das pessoas. Enquanto Homo sovieticus, da antiga URSS, entendo que nos ensinaram isto: direitos e deveres ao mesmo tempo. Eis seus direitos ao trabalho, à saúde, à educação – você deve a possuir –, a um salário, caso trabalhe. “Quem não trabalha, não come.” Etcétera, etcétera. Nisso consiste a democracia. Ficam com esse falatório sobre liberdade de expressão, depois controlam toda a mídia e, vejam, calam a boca justo do presidente de um país democrático. Calaram sua boca, ele nem se mexeu e por pouco não prenderam o coitado do Trump. Pelo quê? Pelo que ele disse.

Portanto, essa não é nossa compreensão sobre a democracia. Afinal, a democracia são direitos, liberdades, a verdadeira liberdade, nos limites da lei. Você pode e tem o direito de comprovar seu valor: vá e crie uma empresa, trabalhe. Isto aqui é seu, e isto aqui é do Estado em forma de impostos, e não sonegue, pois se sonegar, você vai parar “lá” [na cadeia]. Nisso consiste a democracia, ela deve partir da vida, do povo, já que é o poder do povo. Posso ter parecido confuso, caótico, mas é esse meu entendimento. Um dia vou pensar melhor, mas falar mais concretamente.



Вы знаете, я же “диктатор”, мне трудно понимать демократию. Но это один из элементов демократии: дисциплина. Смотрим в одну сторону, двигаемся в одну сторону, с разными мнениями, но определяемся, и двигаемся, чтобы двигаться вперёд. Знаете, я не вижу демократию по-беларуски так, как её видят в свободном мире и оплоте демократии – США. То, что у нас на улицах было, это было плохо, а то, что девчонку застрелили, которые две войны прошли, это хорошо. И так далее, и тому подобное. То есть, никто не выработал эти демократические стандарты. Будь то на выборах, ещё где-то.

Мы в ОБСЕ с Россией когда-то предложили, вот они приезжают, нас критикуют: нет демократии, стандарты, прочее. Мы добавили с Путиным: “Слушайте, давайте пусть наши МИДы предложат варианты.” Так, они отказались даже это слушать. То есть, нет этих единых стандартов. Но демократия: “демос” – народ, “кратос” – власть. Правильно сказал? Да. Это власть народа, и референдум – это и есть элемент этой демократии. А нет, слышать не хотят.

Демократия – это права людей прежде всего. Я понимаю, как человек советский, бывший советский, нас это учили: права и обязанности сразу. Вот твои права на труд, на здравоохранение, на образование – ты должен это иметь –, на зарплату, если ты трудишься. “Кто не работает, тот не ест.” И так далее, и тому подобное. Вот и вся демократия. А эта болтовня – свобода слова, а потом управлять всеми средствами массовой информации и закрывать рот аж целому президенту демократической страны. Заткнули рот его, даже не дёрнулся, чуть-чуть в тюрьму не посадили бедолагу, Трампа. За что? За то, что он говорил.

Поэтому это не наше понимание демократии. Поэтому демократия – это права, свободы, настоящая свобода, в рамках закона. Имеешь право, можешь проявить себя – иди, создавай предприятие, трудись. Это – твоё, это – государства в виде налогов, не обманывай, обманешь – пойдешь “туда” [в тюрьму]. Вот и вся демократия, она должна быть от жизни, от народа, поскольку это власть народа. Но может вот так путанно, сумбурно, но я вот так это понимаю. Когда-нибудь подумаю, но скажу конкретно.



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