sexta-feira, 10 de março de 2023

“Hava nagila” (Xuxa) + Chuck e Larry


Link curto pra esta publicação: fishuk.cc/havanagila


O vídeo original sem legendas, na fonte de onde eu o tirei, atualmente está privado, e não sei se é porque foi bloqueado por razão de direitos autorais. Trata-se de um clipe inusitado, talvez incluído na famosa coleção Xuxa Só Para Baixinhos: é a canção judaica Hava nagila (hebraico: הבה נגילה), título que significa Alegremo-nos ou Vamos nos alegrar. Todo mundo já escutou em algum momento da vida essa melodia, na verdade baseada numa canção folclórica ucraniana em estilo niggun da região da Bucovina, cuja autoria alguns atribuem aos judeus hassídicos locais. A letra, porém, possui muitas variações ao redor do mundo, e a mais conhecida e aqui apresentada pode ter sido escrita em 1918 pelo etnólogo e músico judeu de origem letã Abraham Zevi Idelsohn (1882-1938).

O compositor viveu na Palestina de 1905 a 1922 e teria composto Hava nagila em comemoração a dois eventos ocorridos 1917: a Declaração de Balfour, na qual o Império Britânico apoiava a causa de um Estado judeu na região, e a vitória britânica local sobre o Império Otomano durante a 1.ª Guerra Mundial. A partir de então, com a vigência do mandato britânico na Palestina até 1948, ano de criação do Estado de Israel, começaria uma emigração judaica massiva saída, sobretudo, da Europa. Entre eles estavam os judeus hassídicos mencionados, dos quais Idelsohn escreveu, em 1932, ter sido inspirado por aquela canção. Outros, porém, afirmam que a letra é de Moshe Nathanson, que tinha sido aluno universitário de Idelsohn em Jerusalém.

Hava nagila se tornou uma das primeiras canções folclóricas de Israel escritas em hebraico, tornando-se presença obrigatória em festas de casamentos judeus e em celebrações do bar-mitzvá. A letra é baseada no versículo 24 do salmo 18 da Bíblia hebraica, que na edição católica da Paulus (1990) tem a seguinte redação: “Este é o dia em que Javé agiu: exultemos e alegremo-nos com ele.” (Na igreja, durante o salmo responsorial, eu também ouvia a versão cantada “Este é o dia que o Senhor fez para nós,/Alegremo-nos e nele exultemos.”) Curiosamente, a primeira gravação comercial de Hava nagila foi feita em Berlim, em 1922.

A dança das crianças é assaz peculiar, e não sei que jovem atualmente consegue ler caracteres em estilo analógico. A letra, a tradução e as informações estão na Wikipédia em português e inglês, esta sendo mais rica nos relatos. Apenas fiz algumas adaptações nas legendas, e no vídeo original há também a letra em transliteração do hebraico, por isso não vou pôr aqui embaixo. De acordo com a língua, dado que a pronúncia é “naguila” com “g” gutural, às vezes a palavra pode estar grafada com ou sem o “u” (como se em italiano escrevêssemos “naghila”). Depois das legendas em português, o texto em hebraico, sem os niqqud que indicam os sons vocálicos:


2x:
הבה נגילה
הבה נגילה
הבה נגילה ונשמחה

2x:
הבה נרננה
הבה נרננה
הבה נרננה ונשמחה

!עורו, עורו אחים
עורו אחים בלב שמח
עורו אחים בלב שמח
עורו אחים בלב שמח
עורו אחים בלב שמח
!עורו אחים, עורו אחים
בלב שמח


Muitos jovens não conhecem o filme I Now Pronounce You Chuck and Larry, produzido nos EUA em 2007 e lançado no Brasil como Eu os declaro marido... e Larry. Pra quem gosta de zoar com o português europeu, pode deliciar-se com o fato dele ter sido chamado em Portugal como Declaro-vos Marido e... Marido, perdendo boa parte da graça. Na época ele foi um baita sucesso nacional de bilheteria, e deu espaço aos ainda ignorados direitos das comunidades de gênero, mas ainda assim recebeu críticas pelos estereótipos que usou dos gays e asiáticos.

O célebre judeu Adam Sandler interpreta o bombeiro Chuck, que trabalha no Brooklyn e certo dia teve sua vida salva pelo colega Larry, papel de Kevin James. Chuck é solteiro e gosta de farrear com mulheres, enquanto Larry cria sozinho dois filhos e tem problemas pra colocá-los como beneficiários de um seguro de vida. Pra driblar a burocracia, e como forma de retribuição, Chuck aceita fingir com o amigo um casamento gay só pra assinar os papéis, chegando inclusive a fazer uma “festa” pra enganar os fofoqueiros. Todo o enredo gira em torno dessa peripécia pra escapar dos desconfiados ante a farsa, e é muito divertido, apesar das cenas de humor dito “grosseiro”!

Talvez a cena mais engraçada seja a da contratação de uma agência de casamento só pra tirar fotos das bênçãos, do bolo e da dança. O caricato ministro religioso com feição de asiático genérico, personagem controverso, trocando os erres pelos eles (piada que quase custou a cabeça de Abraham Weintraub, a qual só caiu depois de chamar o STF de “vagabundos”...), conduz a cerimônia, enquanto uma velha que parece ser sua mãe toca órgão. Após o rito em modelo evangélico, pro qual até um mendigo idoso aleatório foi convidado, começa ao som de Hava nagila a “dança” forçadamente encenada por Chuck e Larry. Tendo dormido, o mendigo acorda com um flash da câmera e de repente começa a dançar à moda “russa”, até enfim “queblar a pelna”.

E é essa dança cômica que eu também trouxe aqui! Infelizmente, sem ser apenas o sermão do “cílculo”, em boa qualidade só achei em inglês, embora as falas importantes em português sejam apenas “Bem judaico!” e (com sotaque) “Ele queblou a pelna!”, que inseri pra maior clareza. Vejam também em espanhol.