quarta-feira, 9 de abril de 2025

Hino do partido comunista afegão


Endereço curto: fishuk.cc/pc-afegao


Na sequência do que publiquei ontem, segue outra canção que gosto muito de ouvir, cujo vídeo copiei deste canal repleto de materiais recuperados do período socialista do Afeganistão (1978-1992). Desta vez foi composta em dari, a variante afegã da língua persa, e trata-se do hino do Partido Democrático Popular do Afeganistão, fundado em 1965 e que praticamente era a mesma coisa que um partido comunista. Ele governou o país exatamente naquele período, após o golpe militar de 1978 chamado “Revolução de Sawr”, em referência ao mês do calendário zoroastrista em que estavam. Seu compositor e cantor que aparece no vídeo é o célebre músico afegão Mas’hur Jamal (1945-2014), que foi filmado em 1986 com a orquestra de Ustad Salim Sarmast, segundo este outro canal.

Ainda sob a monarquia, o comunismo afegão se dividiu em duas facções em 1967: a chamada “Khalq” (lit. “povo”), adepta do dogmatismo “marxista-leninista” mais radical e da tomada violenta do poder, e a chamada “Parcham” (lit. “bandeira”), moderada, reformista e defensora de uma frente ampla de esquerda. (Semelhanças com “bolcheviques e mencheviques” não são mera coincidência...) Em 1978, foram oficiais “khalquistas” que tomaram o poder, mas no fim de 1979, os invasores soviéticos, assustados com o extremismo que desagregava o país, colocaram um “parchamista” na presidência. Outro “parchamista” assumiu em 1987 e acelerou as tendências nacionalistas e islamizantes do governo, a começar pelo abandono das referências marxistas. Em 1990, o PDPA foi renomeado Partido da Pátria, e em 1992, banido pelos mujahedin, tendo sido refundado no exterior em 1997. Tentativas de ser legalizado, porém, inclusive sob o nome antigo, foram barradas pelo regime afegão de 2001-21.

A história de Mas’hur Jamal (que prefiro não escrever com “sh”, pois são dois sons separados), cujo nome de batismo era Jalil Ahmad, merece um parágrafo à parte, sendo difícil encontrar coisas sobre ele; mesmo o artigo da Wikipédia em persa tive que traduzir com o Google. Algumas fontes apontam seu ano de nascimento como 1946, mas o fato é que, tendo se exilado em 1992, morreu em Arnhem, na Holanda, em 2014, após anos lutando conta um câncer. Interessado pelo canto desde criança, ele se formou em Língua e Literatura Persa na Universidade de Cabul e deu aula de persa no Ensino Médio por um tempo. Hora de dizer: outra clivagem era a étnica, em que os “khalquistas” eram majoritariamente camponeses pastós e os “parchamistas”, majoritariamente intelectuais e outras classes médias tajiques. Juntou-se a grupos de cantores amadores na década de 1960, teve sua primeira canção transmitida pela Rádio Cabul em 1963 e chegou a presidir a União dos Artistas do Afeganistão. Conhecido por suas canções patrióticas e de tom descrito como “épico”, recebeu as condolências do então Ministro da Informação e Cultura, nas quais há dados sobre sua biografia.

Pra uma descrição um pouco mais longa do regime socialista afegão em si, sugiro que recorra à publicação de ontem, com o hino nacional (em pastó, provavelmente porque a fração “Khalq” foi a realizadora do golpe) que vigorou naquele período. Não há mais informações sobre a composição do hino do partido, que costuma ser chamado por seu primeiro verso (Você é nosso partido ou Você é nosso partido, nosso partido heroico), e a se julgar pelo álbum em que pode ter sido gravado, já existia em 1981, ou seja, com a fração “Parcham” já entronizada pela URSS. Achei neste canal (que tem também algumas imagens de época) a letra original copiável, que ajustei mais ao áudio, e comparei a tradução feita pelo Google com a versão em inglês do segundo link mencionado acima (canal Interkast). Acabei procurando algumas palavras isoladas no Wiktionary e minha tradução pode não estar literal, mas passa o sentido essencial.

Copiei a transliteração do comentário a uma das várias versões no YouTube, corrigi conforme o original e padronizei o uso do “sh” e do “ch”, bem como do hífen que separa, pra efeitos didáticos, a conjunção “o” (e) e a ligação possesiva “-(y)e”, ambas átonas. Neste vídeo também montado com cenas de época, Jamal aparece cantando outra música patriótica, e neste outro vídeo documental, dedicado ao papel das mulheres no Afeganistão socialista, há ainda mais mídia das décadas de 1970 e 1980. Mesmo que você não entenda persa/dari (como eu, aliás, rs), é um prato cheio de conhecimento histórico!


Refrão:
Você é nosso partido, nosso partido heroico
Nossa esperança, nossa esperança infinita
Nosso hino, nossa existência, nossa alma
O desejo vermelho de nossos caídos
No nome glorioso da galáxia
De nosso sangue saem flores e estrelas
Aos pés daquela bandeira carmim
Damos a vida mil vezes por você
Damos a vida mil vezes por você
Por você, por você
Damos a vida mil vezes por você
Por você, por você

1. Você é o Sol de nosso Sawr imortal
O partido do sangue que lançou a revolução
Rumo às trincheiras e rodas dos tanques
Agora e sempre por você nos sacrificamos
Agora e sempre por você nos sacrificamos
Sacrificamos, sacrificamos, sacrificamos

(Refrão)

2. Tendo passado por esta batalha feroz
Levaremos você à Terra do Sol
E essa sempre foi a última palavra
Vivam seu nome e sua voz
Vivam seu nome e sua voz
Sua voz, sua voz, sua voz

(Refrão)

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Band-e bargadān:
Tu hezb-e mā, tu hezb-e qahramān-e mā
Umid-e mā, umid-e bikerān-e mā
Sorud-e mā, vujud-e mā, ravān-e mā
To ārezu-e sorkh-e raftagān-e mā
Banām-e purshuku-he kahkashāniyat
Ze khun-e mā gol u setār-e sar zanad
Ba pāye ān darafsh-e arghavāniyat
Hazār bār jān dehim barā-ye tu
Hazār bār jān dehim barā-ye tu
Barā-ye tu, barā-ye tu
Hazār bār jān dehim barā-ye tu
Barā-ye tu, barā-ye tu

1. Tu āftāb-e Saur-e jāvedān-e mā
Tu hezb-e khun neshsatgān-e inqelāb
Ba sangar-o ba charkh-o lāye khusha hā
Hamesh-e hast-u bud-e mā fedā-ye tu
Hamesh-e hast-u bud-e mā fedā-ye tu
Fedā-ye tu, fedā-ye tu, fedā-ye tu

(Band-e bargadān)

2. Azin guzargahe nabard-e ātashin
Tarā ba shahr-e āftāb me barem
Va in bavad hamesha harf-e vāpasin
Ke zindabād nām-e tu, sadā-ye tu
Ke zindabād nām-e tu, sadā-ye tu
Sadā-ye tu, sadā-ye tu, sadā-ye tu

(Band-e bargadān)

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بند برگردان:

تو حزب ما، تو حزب قهرمان ما
امید ما، امید بیکران ما
سرود ما، وجود ما، روان ما
تو آرزوی سرخ رفتگان ما
بنام پُرشکوه کهکشانیت
ز خون ما گل و ستاره سر زند
به پای آن درفش ارغوانیت
هزار بار جان دهیم برای تو
هزار بار جان دهیم برای تو
برای تو، برای تو
هزار بار جان دهیم برای تو
برای تو، برای تو

۱. توآفتاب ثور جاویدان ما
تو حزب خون نشستگان انقلاب
به سنگر و به چرخ و لای خوشه ها
همیشه هست و بود ما فدای تو
همیشه هست و بود ما فدای تو
فدای تو، فدای تو، فدای تو

(بند برگردان)

۲. ازین گذرگاهی نبرد آتشین
ترا به شهر آفتاب می بریم
و این بود همیشه حرف واپسین
که زنده باد نام تو صدای تو
که زنده باد نام تو صدای تو
صدای تو، صدای تو، صدای تو

(بند برگردان)



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