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Essa rima ficou supimpa! Será que eles deixam publicar na Klaxon?...
Quem acompanhou a primeira postagem sobre este assunto, verá que estou repetindo aqui muita coisa. O tema não é controverso, mas poderá espantar muita gente. Nem os mais ferrenhos comunistas, nem os mais babantes direitistas, sabem que Iosif Stalin, ditador e marechal da União Soviética, também escreveu poesia no começo de sua juventude. É realmente um assunto pouco divulgado entre quem não conhece algo da língua russa, mas alguns de seus poemas foram traduzidos no ápice de seu regime e ficaram guardados por décadas, sendo publicados há algum tempo.
A. Andreienko organizou e comentou em 2005 uma seleta de poemas e cartas escritos por Stalin na juventude, chamando-a I. V. Stalin: Poemas. Correspondência com a mãe e parentes (Сталин И. В.: Стихи. Переписка с матерью и родными), publicada em Minsk pela FUAinform. Mesmo no cenário russo, o aparecimento desse volume deve ter parecido peculiar. Andreienko introduz dizendo que a tradição poética continuou, por muito mais tempo, bem mais vigorosa na Rússia e na Ásia Oriental (mesmo entre grandes governantes) do que na Europa Ocidental, onde sua antiga relação, inclusive, com a ciência foi perdida há séculos. Para ele, o poeta não é necessariamente quem “vive no mundo da Lua”, mas até o contrário, pois saber escrever em versos revelaria um pensamento claro e sintetizador. Esse seria o caso de vários grandes líderes da atualidade (obviamente ele só cita comunistas leste-asiáticos), e com Stalin não poderia ser diferente.
Enquanto estava no seminário religioso em Tbilisi, o jovem Ioseb Dzhugashvili escreveu alguns poemas em georgiano, dos quais seis foram publicados na mesma época (meados da década de 1890). Os dois que estou postando hoje não têm título nem na coletânea citada, nem nas Obras completas de Stalin, e por isso dei-lhes títulos simples e curtos em português. Torpe saiu em 1895 no n.º 218 do jornal Iveria, dirigido pelo grande poeta e publicista georgiano Ilia Chavchavadze, hoje considerado “Pai da Pátria”. Madrugada saiu no n.º 234 da mesma revista, no mesmo ano. Stalin, que ainda não tinha adotado esse pseudônimo, assinava seus poemas como “Soso” ou “Soselo”, nome com que também era conhecido entre os íntimos.
Poemas do jovem Ioseb também apareceram numa crestomatia de textos georgianos editada em 1907 pelo ativista M. Kelendzheridze, ao lado de outros grandes poetas, e na abertura de um manual de alfabetização lançado em 1916 pelo pedagogo Yakob Gogebashvili (o poema “Utro”/“Alba”, que traduzi anteriormente). O agora Stalin não publicou poemas no período soviético, mas num arroubo extremo de puxa-saquismo, Lavrenti Beria, chefe da polícia política (ele mesmo também georgiano), convocou em segredo os melhores especialistas, entre eles Boris Pasternak e Arseni Tarkovski, para transformar em poemas as traduções literais em russo dos textos do patrão. Deveriam compor uma coletânea de luxo para os 70 anos de Stalin, em 1949, mas o poeta, por razões misteriosas, ao descobrir o plano, chutou o pau da barraca e mandou parar tudo.
A seguir na coletânea de Andreienko, narra-se outro episódio folclórico envolvendo Stalin e a poesia épica georgiana, e então aparecem os poemas, em russo. São 6 páginas, seguidas de mais 6 páginas com “poemas sobre Stalin”, e depois lembranças sobre a juventude do líder, as cartas etc. “Torpe” e “Madrugada” estão nas páginas 8 a 10, e nas Obras completas (t. 17, Tver, Companhia de Edições Científicas “Severnaia korona”, 2004), nas páginas 3 e 4. Julgou-se ainda por bem publicar na coletânea outra tradução de cada poema, feita por Lev Kotiukov, e nas Obras outra tradução de “Torpe” por Feliks Chuiev. Eu traduzi este poema confrontando as três versões, mas traduzi “Madrugada” sem considerar a de Kotiukov. Nos dois casos, procurei levar em conta o esquema rítmico e métrico do russo, mas não quis fazer rima com os mesmos sons do russo, e por vezes, como é comum na poesia em português, também traduzi palavras oxítonas no fim dos versos por palavras paroxítonas.
Eu traduzi “Torpe” em pleno 7 de novembro de 2017, aniversário da Revolução Bolchevique, tendo começado de manhã na espera de um pronto-socorro aonde tínhamos levado minha avó, e terminado em casa à tarde. Mas “Madrugada” só concluí em 9 de fevereiro de 2018, após uns dias de interrupção e uma noite de inspiração. Esses poemas apresentaram dificuldades especiais devido à comparação entre vários textos ou à presença de alguns elementos próprios da cultura georgiana. O poema “Torpe” consistiu em toda uma recriação, tendo eu acrescentado várias figuras, próprias da cultura, política e religião brasileiras, que espero que vocês adivinhem. Já “Madrugada” ficou mais próximo do texto inicial, embora a literalidade estrita tenha sido impossível, e eu tenha adicionado até alguns elementos típicos brasileiros. Nos dois textos, aparecem ainda os nomes de dois instrumentos típicos da Geórgia, que mantiveram o nome original em russo: respectivamente, o panduri, um instrumento de três cordas tocadas com palheta e levemente aparentado ao bandolim, e o salamuri, um instrumento de sopro semelhante à flauta. Em “Torpe”, imaginando uma folia de Reis que passeia de casa em casa, unifiquei os conteúdos semântico e fonético em pandeiros e violas, e em “Madrugada”, não teve jeito, ficou flauta mesmo.
Lembro que as traduções são poéticas, e não literais, mas procurei manter ao máximo as mesmas informações passadas. Nem todas as palavras dos meus textos são de uso corrente, portanto, se surgir alguma dúvida, recomendo que procurem um dicionário, sendo talvez o Priberam, pro português europeu e brasileiro, o melhor acessível na rede. Conforme meu tempo disponível, vou traduzir os outros poucos poemas que faltam e postá-los aqui no blog. Infelizmente, eu traduzo a partir das versões russas, e não georgianas, idioma este que não conheço, mas acredito que isso não lhes tira a qualidade artística e o valor histórico. Boa leitura!
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(tradução anônima) Ходил он от дома к дому, А в песне его, а в песне – Сердца, превращённые в камень, Но вместо величья славы Сказали ему: “Проклятый, | (tradução de F. Chuiev) Он бродил от дома к дому, Но очнулись, пошатнулись, |
(tradução de L. Kotiukov) Шёл он от дома к дому, В напеве его и в песне, Сердца, превращённые в камень, Но люди, забывшие Бога, Сказали ему: “Будь проклят! | Torpe Batendo em porteiras estranhas, A música, o canto luziam Queimavam os peitos ouvintes, Num susto, varridas as nuvens, “O duro labor, se os vampiros |
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(tradução anônima) Когда луна своим сияньем Когда над рощею в лазури Когда, утихнув на мгновенье, Когда беглец, врагом гонимый, Тогда гнетущей душу тучи Стремится ввысь душа поэта, | (tradução de L. Kotiukov) Когда луна своим сияньем Когда над рощей безмятежной Когда, переведя дыханье, Когда герой, гонимый тьмою, Тогда гнетущий сумрак бездны Я знаю, что надежда эта |
Madrugada A Lua, com seu brilho forte, A mata, presa ao firmamento, Após parar rapidamente, O fugitivo, sem saída, E então as nuvens despedaçam O bom poeta sonha alto |
“Pai, você foi meu herói, meu...” Ah, sabe, deixa pra lá!
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