quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

Não adianta dançar sobre o leite derramado


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Durante o fim do mês de janeiro e ao longo do mês de fevereiro, protestos de agricultores contra as perdas impostas pela intrincada legislação da União Europeia e pela concorrência considerada desleal com a Ucrânia, cujos grãos têm chegado ao mercado europeu mais rapidamente e menos caros em solidariedade humanitária (e porque os portos no mar Negro estão quase todos bloqueados), pipocaram em diversos países de toda a Europa. Tudo começou na França, onde os fazendeiros consideram totalmente impraticáveis as normas ambientais, sobretudo as relacionadas ao uso de pesticidas, normas muito mais leves nos países do Mercosul, cuja produtividade, pois, seria muito maior e esmagaria a concorrência com a produção local. Essa teria sido uma das razões pela qual, pela segunda vez (em 2019, Macron alegou que Bolsonaro estava devastando a Amazônia), o governo francês bloqueou o acordo comercial entre a UE e o Mercosul.

Porém, como em outros países do bloco europeu as preocupações são outras e muito variadas, o movimento tomou impulso na Europa Central e Meridional, quando já estava se encerrando na França. Na Bulgária, por exemplo, há mais de uma semana os agricultores estão bloqueando as principais rodovias do país e conseguiram o fazer, entre outras, na principal artéria nacional, a “Trákia”. Porém, no dia 12 de fevereiro, os jornais do meio-dia de canais como a BNT (TV nacional) e a NOVA registraram algo inusitado no vilarejo de Polikráishte (Поликраище), na região de Velíko Târnovo, durante o bloqueio da estrada que liga as cidades de Pléven a Rúse, e esta à cidade que dá nome à região. Enquanto os fazendeiros jogavam na pista 16 toneladas de leite fresco só pra não o botarem no mercado, uma música tradicional gravada soava ao fundo, o que pode ser ouvido nas duas transmissões, feitas a partir do mesmo ponto.

Na versão que coloquei primeiro, a da BNT, alguns manifestantes ao fundo estão dançando de mãos dadas, modo que é muito comum nos países dos Bálcãs. Pra alguém de fora do país, parece interessante ouvir esse tipo de música, mas deve ser ainda mais engraçado ver que, enquanto leite é jogado na estrada, ao invés de alimentar tantas crianças necessitadas na própria Bulgária, um punhado de agricultores dança alegremente em rede nacional. Os bloqueios também tem por objetivo forçar a renúncia do ministro da Agricultura, Kiríl Bâtev, que como todo político do país em qualquer época, é acusado de todo tipo de coisa. Não traduzi nenhuma fala ao pé da letra, nem legendei, mas apenas fiz as montagens nos momentos específicos pra que você possa “curtir as imagens”. Mudando um pouco o ditado, “não adianta dançar sobre o leite derramado”, ainda mais que no fim quem sofre é o povo pobre, nesses tempos de inflação. Divirta-se:



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