domingo, 14 de novembro de 2021

Idosa búlgara engole cédula eleitoral


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Hoje, dia 14 de novembro de 2021, ocorreram eleições nacionais duplas na Bulgária, pequena nação eslava no sul da Europa: as presidenciais, na qual o atual presidente Rumen Radev concorre a seu terceiro mandato, e as parlamentares, estas pela terceira vez em sete meses. A dificuldade de formar um governo estável e a disparada dos casos de covid, diante da baixa cobertura vacinal, após uma reação inicial relativamente exemplar, estão gerando crise política no país.

Mas um cômico incidente localizado se destacou no meio dos procedimentos. Na Bulgária eles estão usando uma máquina de votar diferente da brasileira, pois ela imprime o voto, mas você deve depositar seu comprovante (que vale, portanto, como cédula) numa urna física, e ele pode ser auditado por meio de um QR code impresso junto. O voto também fica registrado na máquina, pois qualquer discrepância pode ser verificada quando o registro é comparado com as assinaturas da lista de presença em cada seção.

Porém, o que confundiu muitos, sobretudo idosos, é que raramente as eleições presidenciais e parlamentares coincidem (“2 em 1”), e muitos não sabiam que o comprovante único representava os dois votos, e não apenas um. Assim, concluíam seu voto sem ter votado ou no deputado, ou no presidente. No Brasil, como sabemos, temos num ano a eleição dos políticos estaduais e federais, e dois anos depois a dos políticos municipais. Tem gente que por vezes se confunde com a urna eletrônica, mas todos sabem que o combo já fica registrado lá.

Na capital nacional Sófia, uma dessas velhinhas reclamou que queria votar de novo, pois tinha se confundido. A regra não permite refazer seu voto, nem colocar mais de um comprovante na urna, mas só na cidade foram relatados pelo menos 100 casos de eleitores que conseguiram refazer após dar chilique na seção eleitoral. O inusitado é que em estado de confusão, a mulher saiu correndo pro andar de baixo da escola, e ao ser detida na porta por policiais, levou a cédula à boca, mastigou-a e engoliu-a.

Aparentemente não houve nenhuma punição, e nem mesmo as funcionárias tinham visto antes algo parecido. Como o voto dela foi considerado anulado, o escalão superior recomendou que passassem um corretivo por cima de sua assinatura na lista de presença e escrevessem “Изяде разписката” (iziade razpiskata), “comeu o comprovante”. A notícia passou no jornal do meio-dia na Televisão Nacional Búlgara (BNT).

Eu tirei o vídeo abaixo desta página, cujo texto também traduzi e pode ser visto depois. Além deste, traduzi o texto de outro jornal, que traz mais detalhes narrados pelas testemunhas, e desta matéria peguei uma parte, em que uma funcionária do serviço eleitoral comenta as complexidades enfrentadas no processo em si. Eu legendei o vídeo com base nas informações obtidas, pois não entendo 100% búlgaro, por isso me desculpem por quaisquer erros ou falhas!


[Devemos lembrar que as SIK, comissões secionais, são subordinadas a uma RIK, comissão distrital, esta literalmente no nível de um raion. Por falta de conhecimento, exceto pra simplificar em alguns trechos do vídeo, não me arrisquei a traduzi-las como “zonas” e “seções” eleitorais do Brasil.]

BNT News, Mulher come a cédula da máquina após ter votado:

Desafios para as comissões eleitorais secionais (SIK) nas 23.ª e 24.ª Comissões Eleitorais Distritais (RIK) em Sófia.

Uma mulher engoliu seu comprovante de votação após ter votado em máquina no 9.º Liceu Francês de Sófia.

Ela fez sua escolha e recebeu o comprovante, mas pediu para votar com um segundo papel, o que não é possível. Por causa disso, a eleitora se irritou, começou a correr levando o comprovante e, nesse movimento, mastigou-o e engoliu-o.

“Até o momento nunca tínhamos visto algo assim”, informou a comissão eleitoral.

Em muitos postos de votação da 23.ª RIK em Sófia foi dado mais de um comprovante de votação, após atritos com eleitores que perderiam a chance de votar para presidente e para o Parlamento.

Infoteka, Mulher come o comprovante da máquina após ter votado:

Uma mulher em Sófia comeu seu comprovante de votação após ele ter saído da urna eletrônica.

“Comeu o comprovante” foi a anotação escrita na lista de presença, abaixo de seu nome e no lugar da assinatura.

Assim será justificada sua ausência em seu documento de votação pela SIK.

O motivo é que a senhora de idade confundiu-se ao votar e solicitou um segundo comprovante de votação. Após ele ter-lhe sido recusado, a eleitora se irritou e começou a correr levando o comprovante.

“Comecei a gritar: ‘Senhora, devolva o comprovante. A senhora precisa assinar. A senhora precisa pegar sua identidade de volta. Depois não dá mais’. Policiais a detiveram ao sair pelo térreo, e ela, na frente de todos eles simplesmente pegou e engoliu o comprovante”, contou Regina Shalagin, membro da SIK.

“Telefonei para a RIK. Eles pediram para que eu escrevesse que ela tinha comido o comprovante e que todos os membros assinassem. E assim procedemos. A meu ver, ela não votou. Ao contarmos os votos, vamos receber um número menor de cédulas, mas na RIK vamos nos justificar assim, pois esse é um caso único. Há 25 anos eu presido a SIK, é algo inacreditável”, acrescentou Snezhina Koleva, da comissão.

BNT News, Eleição 2 em 1 com máquinas confundiu parte do eleitorado (trecho):

“Essa é uma categórica violação das regras. Há diversos casos desse tipo. O que acontece? A única coisa que esperamos é que os cidadãos tenham votado em duas eleições diferentes. Mas caso alguém tenha agido de má-fé, a SIK irá comparar quantas assinaturas existem nas listas de eleitores e quantos votos confirmados pela máquina foram dados. Qual desses dados vai prevalecer? Muito difícil dizer na prática”, disse Nadia Angelova, membro da 23.ª RIK.

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