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A que se deve a diferença na conjugação dos verbos acheter e jeter? Ambos são regulares com terminação “-er”, e, segundo a apostila [material complementar do curso], ambos têm um som de “e” fraco antes da terminação “-er”. Mas, no caso do jeter, você dobra o “t” nas conjugações. Já no caso do acheter, você põe um acento grave no primeiro “e”.
Essa é uma das dúvidas aparentemente inexplicáveis em francês. O francês tem uma ortografia altamente etimológica, ou seja, existem várias maneiras de representar os mesmos sons (e vários grafemas que, na verdade, nem som têm) que não se explicam pela lógica ou pela comodidade, mas pela evolução histórica das palavras. Por isso, por exemplo, pro mesmo conjunto “vérr” podemos escrever ver (verme), vers (rumo a), vert (verde) e verre (copo)! Pra nós, reles mortais, cabe apenas decorar esses adornos.
No caso dos verbos que terminam com as grafias “-eter” e “-eler”, existe um cuidado especial em que pode ajudar entendermos o conceitos de formas verbais rizotônicas e arrizotônicas (também útil em português). As formas rizotônicas são aquelas em que a sílaba tônica cai na raiz, por exemplo, “compro” e “achète”. As arrizotônicas são aquelas em que essa sílaba cai na terminação, por exemplo, “compramos” e “achetons”.
Pela regra, as formas arrizotônicas mantêm a grafia do infinitivo original, ou seja, “-eter” e “-eler” (com um só “t” ou “l” e “e” fraco ou mudo). Então, nosso problema se resume às formas rizotônicas, em que o primeiro “e” (que faz parte da raiz) é tônico, portanto obriga a certas mudanças ortográficas na palavra. Em francês, há dois jeitos do “e” não ser pronunciado fraco: 1) ele ser seguido de duas ou mais consoantes; 2) ser colocado um acento gráfico nele (“ê” ou “è”).
Há uma regra básica pros “e” não fracos segundo a qual, quando o “e” está numa sílaba fechada (foneticamente terminada em consoante), ele é aberto (como no português “café”), e quando está numa sílaba aberta (foneticamente terminada em vogal), é fechado (como no português “cadê”). No caso do “e” aberto em sílaba fechada, temos duas ortografias possíveis, portanto, pra aquelas terminações verbais com som “-él” ou “-ét”: “-èle(nt)/-ète(nt)” ou “-elle(nt)/-ette(nt)”.
Infelizmente, não há uma regra clara sobre se devemos dobrar a consoante final ou acrescentar o acento grave, e mesmo os dicionários muitas vezes não concordam entre si quanto à forma correta. A boa notícia é que, pela “ortografia recomendada” de 1990, que permite escrever o francês com algumas simplificações, esses verbos terminados em “-eter” e “-eler” podem ser conjugados sempre sob o modelo “-èle(nt)” e “-ète(nt)”, exceto justamente... jeter, appeler e derivados, que mantêm a ortografia histórica.
Os livros do [Jacques] Derrida [filósofo sobre quem nos focamos], infelizmente, não seguem a “ortografia recomendada”, embora isso não seja motivo de celeuma nas aulas. Dito isso, vou dar alguns exemplos nas duas ortografias pra ficar mais claro (apenas com o presente do indicativo), indicando com negrito as terminações problemáticas e com sublinhado a vogal tônica:
ACHETER (comprar): j’achète, tu achètes, il/elle/on achète, nous achetons, vous achetez, ils/elles achètent.
JETER (jogar, lançar): je jette, tu jettes, il/elle/on jette, nous jetons, vous jetez, ils/elles jettent.
Vou acrescentar o modelo do verbo appeler (chamar), porque ele tem uma pegadinha adicional: o “p” sempre duplo, que neste caso deriva da etimologia da raiz, e não da terminação: j’appelle, tu appelles, il/elle/on appelle, nous appelons, vous appelez, ils/elles appellent.
Reparou? Onde temos a voga tônica na raiz (“achet-” ou “jet-”), colocamos o acento grave ou dobramos a consoante (“achèt-” ou “jett-”). E onde temos a vogal tônica na terminação (“-ons” e “-ez”, nestes casos), não dobramos a consoante nem colocamos acento.
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