domingo, 29 de outubro de 2017

Parlamento proclama República Catalã


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Mais um capítulo da queda de braço entre a Espanha e a Região Autônoma da Catalunha se consumou na última sexta-feira. Após um mês inteiro de debates, discursos e um referendo, em que os catalães disseram ter obtido sua independência dos espanhóis de forma unilateral, o Parlamento local finalmente votou a Declaração dos Representantes da Catalunha, isto é, proclamação da independência, conforme texto já dado no dia 10 de outubro e agora acrescido dos dispositivos resolutivos. A presidenta da casa, Carme Forcadell, conduziu os trabalhos, até se obter a contagem de 70 votos pela separação, 10 contra e duas abstenções. Com o resultado, e mesmo com a saída da oposição do plenário, em tese Carles Puigdemont, presidente da Generalitat, o governo da Catalunha, passaria a ser reconhecido como o presidente da nova República Catalã.

Mas no mesmo dia, a pedido do primeiro-ministro espanhol Mariano Rajoy, o Senado nacional aprovou a demissão de Puigdemont e o controle do governo local diretamente pelo governo da Espanha. Mesmo assim, os catalães fizeram festa, comemoraram com fogos, música e bebidas a declaração do Sim e pareceram não ligar pro que Madri pudesse vir a fazer. O projeto independentista não deixou de ter farpas, e como se pode ver, os opositores de Puigdemont deixaram suas cadeiras vazias e aí colocaram bandeiras da Espanha junto com as da Catalunha, em sinal de apoio à unidade dos dois territórios. Mesmo quase sem reconhecimento internacional, o Parlamento proclamou a República Catalã, que conta com uma boa parte do patrimônio econômico, artístico, histórico, universitário, turístico e cultural reivindicado por todo o Reino da Espanha. Outras regiões do país expressaram apoio aos catalães, sobretudo o País Basco (Euskadi), outra região de tendência separatista, mas o processo deste está menos avançado, e contaria com repressão ainda maior.

A presidenta do Parlamento, Carme Forcadell, em longa e concorrida sessão, leu o texto completo da declaração de independência e colocou em votação a pergunta sobre se a Catalunha deveria se constituir num Estado independente em forma de República. Podemos ver o momento em que ela mesma e o presidente da Generalitat, Carles Puigdemont, depositam seus votos na urna, pela qual não se puderam depreender os nomes de quem votou Sim ou Não. O barbudo à direita de Puigdemont, no final do vídeo, é o vice-presidente da Generalitat, Oriol Junqueras. Eu cortei alguns pedaços do vídeo original pra manter apenas o essencial, e fiz um novo enquadramento que tirasse o logotipo do jornal, já que não achei outra gravação resumida e sem marcas. Mas recomendo fortemente que vejam também o vídeo original no canal do El Periódico, que tem uma opinião independente dos grandes.

Logo após essa declaração unilateral de independência, os deputados e outros presentes começaram a entoar o hino nacional catalão, a canção Els Segadors, cujos primeiros acordes podem ser ouvidos baixinho no final do vídeo. O mesmo se deu nas ruas, onde os cidadãos o cantaram com muita força. Há uma diferença entre a bandeira catalã com o triângulo azul e a estrela branca, que simboliza apenas a luta pela independência, e a que possui apenas as listras amarelas e vermelhas, que é realmente a nacional. Nos vídeos de notícias a respeito desses fatos, postados na própria Espanha ou Catalunha, pode-se notar uma onda de enfurecimento, ofensas e contrariedade por parte dos espanhóis (mais raramente, de catalães contrários à secessão), que xingam os vizinhos e seus políticos na língua castelhana e descurtem em massa as postagens. Por mais que se possa duvidar da futura efetividade desse gesto político, não se pode negar que foi uma atitude corajosa vinda de Forcadell e Puigdemont, por encararem uma potência europeia da qual faziam parte há séculos, estarem dispostos a sofrer até consequências físicas e não contarem nem com apoio internacional.

Quero muito que vocês vejam também o evento completo, se tiverem tempo (5 horas!) e conexão de internet, pois gosto muito deste canal, onde sempre há vídeos interessantes com reportagens da Catalunha. Eu mesmo traduzi e legendei, baseando boa parte da fala dela no que está escrito na própria resolução, em documento carimbado e assinado na sexta-feira, uma relíquia histórica. Pra vocês procurarem ocasionalmente palavras em catalão com definição na própria língua, consultem este ótimo dicionário. Seguem abaixo o trecho falado por Forcadell em catalão, a transcrição e sua tradução em português:


En virtut de tot el que s’acaba d’exposar, nosaltres, representants democràtics del poble de Catalunya, en el lliure exercici del dret d’autodeterminació, i d’acord amb el mandat rebut de la ciutadania de Catalunya, [...]

CONSTITUÏM la República catalana, com a Estat independent i sobirà, de dret, democràtic i social. [...]

ASSUMIM el mandat del poble de Catalunya expressat en el Referèndum d’Autodeterminació de l’1 d’octubre i declarem que Catalunya esdevé un estat independent en forma de República.

I a continuació, votarem la part resolutiva d’aquesta proposta de resolució.

Anem a procedir al recompte.

La resolució de la Declaració dels representants del Parlament queda aprovada per 70 (setanta) vots a favor, 10 (deu) en contra i 2 (dues = dos) vots en blanc.

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Em virtude de tudo o que acabamos de expor, nós, representantes democráticos do povo da Catalunha, no livre exercício do direito de autodeterminação, e conforme o mandato recebido dos cidadãos da Catalunha, [...]

CONSTITUÍMOS a República Catalã como Estado independente e soberano, de direito, democrático e social. [...]

ASSUMIMOS o mandato do povo da Catalunha expressado no Referendo de Autodeterminação de 1.º de outubro e declaramos que a Catalunha agora é um Estado independente em forma de República.

E a seguir, votaremos a parte resolutiva desta proposta de resolução.

Vamos proceder à contagem.

A resolução da Declaração dos Representantes do Parlamento foi aprovada por 70 votos a favor, 10 contra e 2 abstenções.

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