domingo, 10 de setembro de 2017

“Marselhesa Operária” (hino da Rússia)

Esta é outra canção que esperei bastante tempo pra relegendar, usando uma tradução corrigida e um design moderno. Ela se chama “Рабочая Марсельеза” (Rabochaia Marselieza), A Marselhesa Operária (ou “dos Trabalhadores”, se quiser), e consiste na melodia pouco alterada da Marseillaise, o hino da França, com uma letra em russo. Foi usada como hino nacional da Rússia republicana logo após a abdicação do tsar Nicolau 2.º (março de 1917), e tem letra de Piotr Lavrovich Lavrov e melodia de Claude Joseph Rouget de Lisle (que também escreveu a letra francesa), levemente mudada por Aleksandr Konstantinovich Glazunov.

Conhecido também como Nova canção ou Renunciemos ao velho mundo (que é o primeiro verso), o hino não é uma tradução literal da versão francesa, e foi publicado pela primeira vez no jornal Vperiod! de 1.º de julho de 1875, com o nome Nova canção. O Governo Provisório adotou oficialmente a melodia da Marselhesa como hino nacional cinco dias após o tsar Nicolau 2.º ter renunciado, mas logo depois Glazunov adaptou a melodia pra se encaixar melhor no texto em russo. Em 4 de abril de 1917, o Soviete de Deputados Operários e Soldados de Petrogrado fez sua própria proclamação da Internacional como novo hino, mas ela não encontrou apoio ante um governo que deixou a decisão final pra futura Assembleia Constituinte.

A composição de Rouget de Lisle é de 1792, e a versão russa foi muito popular durante a Revolução de 1905, quando também existiam A Marselhesa dos Soldados, A Marselhesa Camponesa e outras adaptações. Mas Lenin, que chefiava o novo governo bolchevique desde novembro de 1917, considerava a Marselhesa um hino “burguês” e preferia muito mais a Internacional. Esta, porém, também em sua versão russa, só foi oficializada como hino da Rússia soviética em 23 de janeiro de 1918, e assim permaneceu até 1944.

Várias palavras constituem um uso literário ou antigo da língua russa, e algumas delas parecem até com o ucraniano moderno: zlatoi (e não zolotoi) pra “dourado”, liud (e não narod ou liudi) pra “povo”, “gente” ou “pessoas” (“povo” em polonês é lud), strazhduschi (e não stradaiuschi) pra “carente”, zaraz pra “de uma vez” (em ucraniano, significa “agora”) e godina (e não vremia ou pora) pra “tempo” ou “época” (em sérvio, búlgaro e macedônio, significa “ano”, e em ucraniano, hodyna é “hora”, como o polonês godzina e o bielo-russo gadzina).

Eu mesmo traduzi, legendei e montei os dois vídeos, tendo usado no segundo uma gravação do Coral Infantil da URSS (talvez dos anos 70) que pode ser baixada nesta página. Infelizmente, essa é a única versão com instrumentos que achei, além das soníferas gravações em capela, pois eu não queria repetir aquela bem animada, que já tinha postado no canal há quase 6 anos. Também no segundo vídeo, fiz a legenda russa em alfabeto latino, pra conforto de vocês, baseado no meu próprio sistema. Vejam este duas vezes, lendo uma legenda de cada vez! Seguem abaixo as duas legendagens, a letra em cirílico e a tradução em português:




1. Отречёмся от старого мира,
Отряхнём его прах с наших ног!
Нам враждебны златые кумиры,
Ненавистен нам царский чертог.
Мы пойдём к нашим страждущим братьям,
Мы к голодному люду пойдём,
С ним пошлём мы злодеям проклятья –
На борьбу мы его поведём.

Припев:
Вставай, поднимайся, рабочий народ!
Вставай на врага, люд голодный!
Раздайся, клич мести народной!
Вперёд, вперёд, вперёд, вперёд, вперёд!

2. Не довольно ли вечного горя?
Встанем, братья, повсюду зараз –
От Днепра и до Белого моря,
И Поволжье, и Дальний Кавказ.
На врагов, на собак – на богатых,
И на злого вампира – царя
Бей, руби их, злодеев проклятых,
Заблести, новой жизни заря.

(Припев)

3. И взойдёт за кровавой зарёю
Солнце правды и братской любви,
Хоть купили мы страшной ценою –
Кровью нашею – счастье земли.
И настанет година свободы:
Сгинет ложь, сгинет зло навсегда,
И сольются в одно все народы
В вольном царстве святого труда.

(Припев)

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1. Renunciemos ao velho mundo,
Sacudamos seu pó de nosso pé!
Combatemos os ídolos de ouro,
Detestamos o palácio do tsar.
Iremos a nossos irmãos carentes,
Iremos até as pessoas famintas,
Com elas maldiremos os cruéis
E vamos conduzi-las à luta.

Refrão:
De pé, levante-se, povo operário!
Afronte o inimigo, povo faminto!
Ressoe o grito do povo vingativo!
Avante, avante, avante, avante, avante!

2. Já não basta a miséria incessante?
Pois de pé, irmãos, em toda parte,
Do rio Dnieper até o mar Branco,
A bacia do Volga, o longe Cáucaso.
Contra os inimigos, cães, ricaços
E contra o tsar, malvado vampiro,
Lutem, abatam os vilões malditos,
Reluza a aurora de uma vida nova.

(Refrão)

3. E após o crepúsculo sangrento,
O Sol de amor fraterno e verdade,
Ao termos pagado terrível preço,
Com sangue, por uma Terra feliz.
E surgirá um tempo de liberdade:
Nunca mais haverá mentira e mal
E todos os povos serão um só
No reino livre do trabalho santo.

(Refrão)




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