quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Marcha do Regimento Preobrazhenski


Em agosto passado, enquanto eu estava legendando os hinos da Rússia tsarista, a espectadora Gilmara Azevedo de Souza me pediu uma canção que ela dizia ser um hino não oficial do século 17. Eu não conhecia essa música, mas se chamaria Marcha Preobrazhenski ou algo do tipo, e de fato seu nome completo é “Марш Лейб-гвардии Преображенского полка” (Marsh Leib-gvardii Preobrazhenskogo polka), Marcha do Regimento de Preobrazhenski da Guarda Imperial. Também é chamada de Marcha do Preobrazhenski ou Marcha de Pedro, o Grande, mas em síntese é uma canção marcial utilizada em diversas cerimônias oficiais com presença de militares, desde o tempo do tsar Pedro 1.º. Sendo usada ainda hoje, principalmente nas Paradas da Vitória de 9 de maio, é uma das marchas russas mais conhecidas, ladeada com a célebre Despedida da Eslava.

Essa foi uma das músicas cuja história foi mais difícil pra eu sintetizar, embora a tradução e a confecção do vídeo tivessem sido facílimas. O Regimento de Preobrazhenski, um dos mais antigos e elitizados do Exército da Rússia (por isso, permanece mítico até hoje), foi fundado em 1691 por Pedro, o Grande, e em 1700 passou a fazer parte da Guarda Imperial, fundada pelo mesmo imperador e destinada essencialmente à sua proteção. O nome provém do vilarejo de Preobrazhenski, perto de Moscou, onde o regimento foi formado, e preobrazhenie significa, originalmente, “transfiguração” (de Cristo, no monte Tabor). Na década de 1710, a musicalidade passou a ser regulamentada entre as tropas, e na mesma época surgiu a chamada Marcha do Preobrazhenski. Apesar das muitas pesquisas e debates, nunca se soube ao certo quem foi o autor, enquanto a letra (a variante mais conhecida), do século 19, também tem poeta anônimo.

De 1856 a 1917, o relógio da Torre do Salvador no Kremlin de Moscou tocava a melodia da Marcha do Preobrazhenski ao meio-dia e às 6 da tarde. Após a Revolução de Fevereiro (e isso responde às dúvidas de muitos conhecidos), a música foi usada informalmente por muitos como “hino nacional” no lugar de Deus salve o Tsar!, e enfim proibida com o Outubro bolchevique. Mas o Exército Branco continuou a empregando, assim como a emigração russa no Ocidente, que a tocava em suas cerimônias oficiais. Na URSS, aparecia apenas em filmes históricos, sendo usada nas paradas uma versão bem modificada, até ser plenamente restaurada na Rússia pós-soviética. É corrente inclusive em exércitos ocidentais, e dentro e fora da Rússia sofreu várias elaborações.

Se é que alguém notou, nem todas as minhas traduções de hinos oficiais e não oficiais foram estritamente literais, principalmente pra manter um uso equilibrado do espaço gráfico nos vídeos legendados. Da mesma forma, eu quis descomplicar as letras ou suprimir conceitos inúteis, quando isso não afetava o significado. Esta postagem inicia a subsérie dos hinos não oficiais da Rússia e da URSS, e a próxima missão será a legendagem e incorporação aqui no blog, dos hinos das Repúblicas da antiga URSS, nem todos eslavos.

Pro presente hino, eu tirei o áudio e a letra desta página, onde se ouve também a versão instrumental. Pra não alongar muito, eu não pus nada tocado, mas apenas cantado, e essa é a versão mais rápida que achei, embora eu só tenha achado em estilo capela. Nesta página tem outra versão cantada e tocada mais lenta, mas não a usei pra não matar vocês de sono. Eu mesmo traduzi, montei e legendei, mais uma vez usando a legenda bilíngue, com o russo transliterado, pra conforto de vocês, conforme meu próprio sistema. Vejam o vídeo duas vezes, lendo uma legenda de cada vez! Seguem abaixo a legendagem, o texto em russo e a tradução em português:


Знают турки нас и шведы
И про нас известен свет
На сраженья, на победы
Нас всегда сам Царь ведет

C нами труд Он разделяет
Перед нами Он в боях
Счастьем всяк из нас считает
Умереть в Его глазах

Славны были наши деды
Помнят их и швед, и лях
И парил орёл победы
На Полтавских на полях

Знамя их полка пленяет
Русский штык наш боевой
Он и нам напоминает,
Как ходили деды в бой

Твёрд наш штык четырёхгранный
Голос чести не замолк
Так пойдём вперёд мы славно
Грудью первый русский полк

Государям по присяге
Верным полк наш был всегда
В поле брани не робея
Грудью служит он всегда

Преображенцы удалые
Рады тешить мы Царя
И потешные былые
Славны будут век Ура!

____________________


Turcos e suecos nos conhecem
E somos famosos no planeta
Nos combates, nas vitórias
O próprio Tsar sempre nos guia

Conosco Ele divide o esforço
Nas lutas Ele vai à nossa frente
Todos consideramos fortuna
Morrer diante de Sua vista

Foram gloriosos nossos avós
Deles lembram sueco e polaco
E pairava a águia da vitória
Sobre os campos de Poltava

A combativa baioneta russa
Captura o estandarte deles
A nós também ela recorda
Como lutavam nossos avós

Nossa baioneta é mortífera
A voz da glória não se calou
Assim, avançaremos gloriosos
De alma, 1.º regimento russo

Nosso regimento jurou ser
Sempre fiel aos soberanos
Sem temer morrer na guerra
Sempre atuou de coração

Valentes do Preobrazhenski
Gostamos de distrair o Tsar
E os distraídos no passado
Que se gloriem para sempre!




domingo, 24 de setembro de 2017

Canção Patriótica: hino russo de Ieltsin

Esta peça é conhecida por “Патриотическая песня” (Patrioticheskaia pesnia), Canção Patriótica, e serviu de 1990 a 1991 como hino da RSFS da Rússia dentro da URSS, e da Federação Russa de 1991 a 2001. Originalmente, a melodia foi composta em 1833 pelo célebre músico russo Mikhail Glinka (1804-1857), como um trecho sem letra pra piano, intitulado em francês Motif de chant national (Motivo de canto nacional). Supõe-se que ele o teria feito como uma nova melodia pra letra do hino da Rússia que na época se chamava A oração dos russos. Mas ocorreu que no mesmo ano de 1833 foi adotada outra melodia, de Aleksei Lvov, que deu no hino Deus salve o Tsar!

De 1984 a 1986, a melodia de Glinka serviu de vinheta do telejornal Vremia (Tempo), da TV estatal. Em 1990, quando Boris Ieltsin foi eleito presidente da Rússia pelo voto popular e o destino de esfacelamento da URSS estava selado, ele escolheu pessoalmente essa melodia pra ser o futuro hino do país. Na época da URSS, a RSFS da Rússia não tinha um hino próprio, e usava o da própria URSS. A escolha de Ieltsin foi ratificada por unanimidade no Soviete Supremo (antigo parlamento) da Rússia em 23 de novembro, e confirmada pela nova Constituição de 1993. Mesmo apoiado pela Igreja Ortodoxa Russa, o hino foi usado sem letra até 1999 e nunca caiu no gosto popular.

Os atletas, principalmente, queixavam-se que ao subirem no pódio ou esperarem competições esportivas, não tinham uma letra grandiosa, que enaltecesse o país e suas belezas. No fundo, o hino soviético, que era no essencial um hino russo, continuava bastante estimado na Rússia. Em 1999, enfim foi aberto um concurso pra se adotar uma letra definitiva à Canção Patriótica, e dentre os 20 finalistas venceu o poema Slavsia, Rossia! (Glória à Rússia!), de Viktor Radugin. O processo de ratificação devia ocorrer em 2000, mas a renúncia de Ieltsin no Ano Novo atrapalhou os trâmites, e seu sucessor Vladimir Putin terminou abrindo nova contenda no mesmo ano. Terminou-se resgatando a melodia do hino da URSS, com uma nova letra, que foi adotada em 1.º de janeiro de 2001. Após seu descarte, a Canção Patriótica ficou conhecida pelo povo como “Canção das Privatizações” ou “Canção das Oligarquias”, pois foi o hino nacional durante uma década tida como ruim econômica e socialmente, com o surgimento de máfias e oligarquias, além das privatizações reputadas corruptas.

Apesar da mudança de hino em 2000, por alguns anos a Canção Patriótica seria tocada por engano em alguns torneios internacionais. O áudio da segunda legendagem foi retirado deste vídeo em que a Canção Patriótica é executada em Moscou, Praça Vermelha, no festival do Dia da Rússia, em 12 de junho de 2015. Toca a Orquestra Sinfônica Estatal “Nova Rússia”, regida pelo maestro Iu. Bashmet, e cantam os participantes do projeto artístico Tenores do Século 21. Eu bem que quis colocar esse lindo vídeo, no lugar de alguma das gravações anteriores com que eu tinha tomado contato, mas como não ia dar pra fazer legendas bilíngues, resolvi usar só o áudio e fazer minha própria montagem. A primeira legendagem, mais antiga, tem imagens históricas e apenas o texto traduzido, mas a segunda pode ser assistida até três vezes pra cada linha!

Duas observações sobre a montagem nova. Como fotos, eu busquei o máximo possível onde houvesse a bandeira da Rússia usada de 1990 a 1993. Se você ler na Wikipédia, ela era mais estreita, e a faixa azul era mais clara. A partir de 1993, tem uso a bandeira atual, mais larga e com azul mais escuro. E na tradução, no penúltimo verso “Slavsia, Rus”, a palavra Rus pode ser traduzida também como “Mãe-Rússia”. “Rus” era o nome de uma antiga federação política (séculos 9 a 13) concernente aos eslavos orientais, e também se usa pra designar o espaço geral por onde se espraiam os russos étnicos, independente de país. Rossia se refere ao país, federativo e multinacional, e ambos os nomes, como se vê, são usados na letra. “Rus” derivou russki, que é o russo étnico, e “Rossia” derivou rossiiski (adjetivo) e rossianin (substantivo), concernentes ao país Rússia. Por isso, a Federação Russa se chama “Rossiiskaia federatsia”, e não “Russkaia federatsia”.

A segunda legendagem possui uma revisão substancial da primeira e tem, como eu disse, as legendas em russo cirílico, russo latino (transliterado conforme meu próprio sistema) e em português. Seguem abaixo as duas montagens em ordem cronológica, o texto em russo e a tradução em português:




Славься, славься, родина – Россия!
Сквозь века и грозы ты прошла
И сияет солнце над тобою
И судьба твоя светла.

Над старинным московским Кремлём
Вьётся знамя с двуглавым орлом
И звучат священные слова:
Славься, Русь – Отчизна моя!

И звучат священные слова:
Славься, Русь – Отчизна моя!

____________________


Glória, Glória à Pátria, à Rússia!
Por entre eras e perigos você passou
E brilha o Sol sobre você
E o seu destino é radiante.

Sobre o antigo Kremlin moscovita
Ondeia a bandeira com a águia bicéfala
E ressoam as palavras sagradas:
Glória à Rússia, minha Pátria!

E ressoam as palavras sagradas:
Glória à Rússia, minha Pátria!


Adendos de 3/6/2023: Existe também este clipe com a versão instrumental (ou seja, a usada oficialmente), datado de 2013, que achei por acaso no YouTube e cuja fonte não tenho mais. Sublinho que a extinta União das Forças de Direita (1999-2008) resolveu adotar a canção como hino partidário bem no ano de sua extinção, e que em 2016 o recém-extinto Partido da Liberdade Popular (1990-2023) a tocava em seus comícios.


Este canal de um conhecido trouxe há algum tempo uma novidade que eu desconhecia: em maio de 1991, com o concurso pra adoção da letra definitiva já aberto, o diretor artístico do Conjunto Aleksandrov (o Coral do Exército Vermelho), Ígor Gérmanovich Agafónnikov, realizou a gravação com uma das letras apresentadas, este parecendo ser o vídeo oficial no canal do conjunto.

Meu conhecido apresentou a letra (que não vou traduzir, pois a versão em seu canal já está ótima) como sendo de autor anônimo, mas depois de eu mesmo pesquisar em russo no YouTube e no Google, sobretudo em sites aleatórios russos, pude apurar que também essa letra foi escrita por Víktor Mikháilovich Rádugin (nome inteiro com patronímico), sobre quem não há sequer um verbete na Wikipédia russa. Inclusive, segundo este artigo (“O hino nacional em cerimônias militares”, em russo), esse poema também foi publicado numa edição noturna do jornal Izvestia de 18 de fevereiro de 1992, a qual não achei online, infelizmente.

Na verdade, segundo as atualizações mais recentes da Wikipédia em russo, foram enviadas de toda a Rússia mais de seis mil versões do texto ao governo durante a década de 1990! Mas até a readoção da melodia do hino soviético, a Canção Patriótica continuou sendo executada sem letra... No fim das contas, a versão mais famosa de Radugin (“Славься, славься, родина Россия...”), que legendei acima e que chegou a ser escolhida, jamais foi oficializada, certamente por causa da bagunça causada pela renúncia de Ieltsin.


quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Hino da União Soviética (texto de 1977)


Link curto pra esta publicação: fishuk.cc/urss1977

Ouça todos os hinos da Rússia!



Continuo realizando meu desejo de mais de três anos, que é publicar uma versão fixa das duas letras do Hino Nacional da União Soviética que vigorou de 1944 a 1991. Vou acabar repetindo aqui quase tudo o que eu já disse na postagem anterior. Essa melodia é a mais famosa entre os hinos da Rússia (tanto que hoje está vigorando novamente, com uma terceira letra), e se tornou um ícone cultural entre os aficionados por história do século 20, os comunistas e simpatizantes da antiga URSS e os que, por qualquer razão, têm saudades do mundo bipolar. Na postagem de hoje, vocês vão ler e escutar a letra adotada em 1977 e abandonada em 1991.

Desde quando a URSS foi formada, em 1922, até 1943, ela usou a famosa canção libertária A Internacional como hino nacional. Nos anos 30, começou um concurso pra escolher um novo hino próprio, original, e finalmente, em 14 de dezembro de 1943, o Birô Político do Comitê Central do Partido Comunista escolheu a melodia de Aleksandr Vasilievich Aleksandrov, consagradíssimo músico, e a letra de Sergei Vladimirovich Mikhalkov e Gabriel El-Registan. O hino foi executado em público pela primeira vez em 1944. A letra continha menções laudatórias a Stalin e aos combates da 2.ª Guerra Mundial.

Em 1956, no rastro do processo político chamado “desestalinização” e liderado por Nikita Khruschov, o hino passou a ser executado sem letra. Além dos óbvios incômodos causados pelos elogios a Stalin, a referência à Segunda Guerra, mais exatamente na terceira estrofe, estava agora superada num contexto de relativa paz e busca pela inserção mundial da URSS. Em 1970, o mesmo Mikhalkov preparou uma versão corrigida da antiga letra, que começou a ser usada em 1971 e foi enfim ratificada pelo Presidium do Soviete Supremo em 27 de maio de 1977, pra coincidir com o jubileu da Revolução de Outubro.

O hino soviético também foi o da RSFS da Rússia até 23 de novembro de 1990, quando ele se tornou apenas da URSS inteira e aquela república adotou a Canção Patriótica. Em 26 de dezembro de 1991, também foi executado pela última vez como hino da União Soviética, a qual tinha sido dissolvida no dia anterior, com a renúncia de Mikhail Gorbachov. A melodia foi enfim recuperada em 2000, pra integrar o novo Hino Nacional da Federação Russa, com letra quase toda modificada mais uma vez por Sergei Mikhalkov.

Ainda hoje, a versão do hino da URSS usada de 1977 a 1991 é um monumento admirado pelos fãs do país hoje extinto, muitos dos quais nem eram nascidos na época, e constitui um documento histórico de inegável importância. Na Letônia, Lituânia, Geórgia e Ucrânia, é proibido por lei executar publicamente o hino da antiga URSS, assim como empregar em público símbolos comunistas. No mundo cultural, a melodia também é atualmente usada em jogos eletrônicos e por bandas musicais alternativas ou engajadas.

O primeiro texto com que fiz as legendas foi uma tradução coletiva da turma de Russo II no Centro de Ensino de Línguas (CEL) da Unicamp, ministrado por Nivaldo dos Santos e o qual eu mesmo frequentei. Foi no segundo semestre de 2007, e o professor também fez a revisão final, mas só fiz o vídeo em novembro de 2010. Não acredito que eu tenha mudado demais a letra ao passá-la no computador, mas me lembro de tê-la publicado já duas vezes em formato escrito: em agosto de 2010, no meu antigo blog “Pensadores Libertos”, hoje extinto, e (mas não tenho certeza) no atual Materialismo.net, do qual já apaguei. Depois fiz mais duas legendagens, totalmente reformuladas e criadas conforme os padrões profissionais, mas levemente diferentes entre si.

Como se supõe, traduzi os dois últimos textos e fiz as legendas, tendo inclusive montado o primeiro e o terceiro vídeos. Na primeira e terceira versões, eu baixei o áudio desta página, que tem também outras canções populares. Eu baixei desta página o vídeo sem legendas da segunda versão, que constitui uma peça de propaganda estatal. Apenas a última versão tem legenda dupla, a de cima sendo o texto em russo transliterado, conforme meu próprio sistema. Seguem abaixo as três legendagens em ordem cronológica, o texto em russo e a tradução mais recente em português:






1. Союз нерушимый республик свободных
Сплотила навеки Великая Русь!
Да здравствует созданный волей народов
Единый, могучий Советский Союз!

Припев:
Славься, Отечество наше свободное,
Дружбы народов надёжный оплот!
Партия Ленина – сила народная
Нас к торжеству коммунизма ведёт!

2. Сквозь грозы сияло нам солнце свободы,
И Ленин великий нам путь озарил:
На правое дело он поднял народы,
На труд и на подвиги нас вдохновил!

(Припев)

3. В победе бессмертных идей коммунизма
Мы видим грядущее нашей страны,
И Красному знамени славной Отчизны
Мы будем всегда беззаветно верны!

(Припев)

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1. A união indestrutível das repúblicas livres
Foi coligada para sempre pela Grande Mãe-Rússia!
Viva, formada pela vontade dos povos,
Unida e poderosa União Soviética!

Refrão:
Glória à nossa Pátria livre,
Forte sustento da amizade dos povos!
O partido de Lenin, força popular,
Nos conduz rumo ao triunfo do comunismo!

2. Por entre tormentas nos brilhou o sol da liberdade,
E o grande Lenin iluminou nosso caminho:
Ele sublevou os povos por uma causa justa
E nos inspirou ao trabalho e ao heroísmo!

(Refrão)

3. Na vitória das ideias imortais do comunismo
Enxergamos o futuro de nosso país,
E à Bandeira Vermelha de nossa gloriosa Terra Natal
Seremos sempre irrestritamente fiéis!

(Refrão)


Esta senhora, que parece ter Alzheimer ou algo do tipo, está gritando, mais do que cantando, uma versão abreviada do Hino Nacional da URSS e o refrão da canção patriótica É vasto meu país natal, numa viagem em algum metrô da Rússia, não sei se de Moscou. O vídeo foi postado em 2011, então foi filmado nesse ano (que coincide com a qualidade da câmera de celular) ou antes.

Curiosamente, ela mistura partes das letras das versões de 1944 e 1977 do hino soviético, e canta apenas a primeira e terceira estrofes do hino de 1944, e não a segunda. Além disso, faz pequenas modificações nas letras, que porém dão outro significado, e busquei refletir tudo isso em minha tradução. Os passageiros foram heroicos em aguentá-la, mas o pior foi quando o cabeludo quase esganou a velha no final! E ela ainda conseguiu pará-lo pra poder pegar sua sacolinha que estava embaixo do banco, rs.


There is also a translation into English. Spread it among your friends!

1. The Great Russia has welded forever to stand
An indestructible union of free republics!
Long live the united, powerful Soviet Union,
Created by the will of the peoples!

Chorus:
Glory to our free Fatherland,
Firm stronghold of the peoples’ friendship!
Lenin’s party, the force of the people,
Leads us to the triumph of Communism!

2. Through storms the sun of freedom shone to us,
And the great Lenin illuminated our path:
He raised the peoples for a just cause
And inspired us to labor and to heroism!

(Chorus)

3. We see the future of our country
In the victory of the communist immortal ideas,
And we shall always be unreservedly loyal
To the Red Banner of our glorious Homeland!

(Chorus)


domingo, 17 de setembro de 2017

Hino da União Soviética (texto de 1944)

Após mais de três anos, estou realizando um antigo desejo. Hoje e na próxima postagem, estou publicando uma versão fixa das duas letras do Hino Nacional da União Soviética que vigorou de 1944 a 1991. Essa melodia é a mais famosa entre os hinos da Rússia (tanto que hoje está vigorando novamente, com uma terceira letra), e se tornou um ícone cultural entre os aficionados por história do século 20, os comunistas e simpatizantes da antiga URSS e os que, por qualquer razão, têm saudades do mundo bipolar. Na postagem de hoje, vocês vão ler e escutar a letra adotada em 1944 e abandonada em 1956.

Desde quando a URSS foi formada, em 1922, até 1943, ela usou a famosa canção libertária A Internacional como hino nacional. Nos anos 30, começou um concurso pra escolher um novo hino próprio, original, e finalmente, em 14 de dezembro de 1943, o Birô Político do Comitê Central do Partido Comunista escolheu a melodia de Aleksandr Vasilievich Aleksandrov, consagradíssimo músico, e a letra de Sergei Vladimirovich Mikhalkov e Gabriel El-Registan. O hino foi executado em público pela primeira vez em 1944. A letra continha menções laudatórias a Stalin e aos combates da 2.ª Guerra Mundial.

Em 1956, no rastro do processo político chamado “desestalinização” e liderado por Nikita Khruschov, o hino passou a ser executado sem letra. Além dos óbvios incômodos causados pelos elogios a Stalin, a referência à Segunda Guerra, mais exatamente na terceira estrofe, estava agora superada num contexto de relativa paz e busca pela inserção mundial da URSS. Em 1970, o mesmo Mikhalkov preparou uma versão corrigida da antiga letra, que começou a ser usada em 1971 e foi enfim ratificada pelo Presidium do Soviete Supremo em 27 de maio de 1977, pra coincidir com o jubileu da Revolução de Outubro.

O hino soviético também foi o da RSFS da Rússia até 23 de novembro de 1990, quando ele se tornou apenas da URSS inteira e aquela república adotou a Canção Patriótica. Em 26 de dezembro de 1991, também foi executado pela última vez como hino da União Soviética, a qual tinha sido dissolvida no dia anterior, com a renúncia de Mikhail Gorbachov. A melodia foi enfim recuperada em 2000, pra integrar o novo Hino Nacional da Federação Russa, com letra quase toda modificada mais uma vez por Sergei Mikhalkov.

Ainda hoje, a versão do hino da URSS usada de 1944 a 1956 é um monumento estimado pelos admiradores de Stalin, pois ela seria a canção verdadeira, antes que começasse a “desestalinização”, iniciativa repudiada pelos marxistas-leninistas. Na Letônia, Lituânia, Geórgia e Ucrânia, é proibido por lei executar publicamente o hino da antiga URSS, assim como empregar em público símbolos comunistas. No mundo cultural, a melodia também é atualmente usada em jogos eletrônicos e por bandas musicais alternativas ou engajadas.

O primeiro texto com que fiz as legendas foi uma tradução coletiva da turma de Russo II no Centro de Ensino de Línguas (CEL) da Unicamp, ministrado por Nivaldo dos Santos e o qual eu mesmo frequentei. Isso foi no segundo semestre de 2007, e o professor também fez a revisão final, mas só fiz o vídeo no fim de 2010. Não acredito que eu tenha mudado substancialmente a letra ao passá-la no computador, mas me lembro de tê-la publicado já duas vezes em formato escrito: em julho de 2010, no meu antigo blog “Pensadores Libertos”, hoje extinto, e (mas não tenho certeza) no atual Materialismo.net, do qual já apaguei.

Como se supõe, eu traduzi o segundo texto e fiz as legendas, tendo inclusive montado o primeiro vídeo. Pra segunda versão, eu baixei desta página o vídeo sem legendas, porque sendo essa letra um monumento dos fãs de Stalin, não tinha sentido eu querer fazer uma montagem “neutra”. A diferença está apenas em que eu recortei o enquadramento do vídeo. Há ainda outras duas versões, com vídeos coloridos de paradas com Stalin: a de um canal especializado no período e a de um canal pessoal. Seguem mais adiante as duas legendagens em ordem cronológica, o texto oficial que tirei da Wikipédia russa e a tradução em português:





Outro vídeo, mas tirado desta fonte:

Союз нерушимый республик свободных
Сплотила навеки Великая Русь.
Да здравствует созданный волей народов
Единый, могучий Советский Союз!

Славься, Отечество наше свободное,
Дружбы народов надёжный оплот!
Знамя советское, знамя народное
Пусть от победы к победе ведёт!

Сквозь грозы сияло нам солнце свободы,
И Ленин великий нам путь озарил:
Нас вырастил Сталин – на верность народу,
На труд и на подвиги нас вдохновил!

Славься, Отечество наше свободное,
Счастья народов надёжный оплот!
Знамя советское, знамя народное
Пусть от победы к победе ведёт!

Мы армию нашу растили в сраженьях.
Захватчиков подлых с дороги сметём!
Мы в битвах решаем судьбу поколений,
Мы к славе Отчизну свою поведём!

Славься, Отечество наше свободное,
Славы народов надёжный оплот!
Знамя советское, знамя народное
Пусть от победы к победе ведёт!

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A união indestrutível das repúblicas livres
Foi coligada para sempre pela Grande Mãe-Rússia.
Viva, formada pela vontade dos povos,
Unida e poderosa União Soviética!

Glória à nossa Pátria livre,
Forte sustento da amizade dos povos!
Que a bandeira soviética, bandeira popular
Esteja à frente, de vitória em vitória!

Por entre tormentas nos brilhou o sol da liberdade,
E o grande Lenin iluminou nosso caminho:
Stalin nos educou e nos inspirou
Ao trabalho, heroísmo e dedicação ao povo!

Glória à nossa Pátria livre,
Forte sustento da felicidade dos povos!
Que a bandeira soviética, bandeira popular
Esteja à frente, de vitória em vitória!

Formamos nosso exército nos combates.
Varreremos os infames invasores do caminho!
Nas lutas decidimos o destino de gerações,
Conduziremos nossa Pátria até a glória!

Glória à nossa Pátria livre,
Forte sustento da honra dos povos!
Que a bandeira soviética, bandeira popular
Esteja à frente, de vitória em vitória!


quarta-feira, 13 de setembro de 2017

“A Internacional” como Hino Soviético

Quando postei a segunda legendagem desta canção, foi um presente duplo aos espectadores: de Ano Novo e de início das comemorações do centenário das duas revoluções russas (fevereiro e outubro) de 1917. Trata-se da tradução russa da Internacional (em russo, “Интернационал”, Internatsional), que serviu de hino soviético até 1944. A primeira versão que postei é de dezembro de 2011, mas no primeiro dia de 2017 fiz uma retradução, bem melhorada, adequei o vídeo ao padrão atual dos meus hinos nacionais e escrevi uma pequena história da canção.

Devo sempre lembrar que essa não é a tradução brasileira da Internacional. Esta é apenas a tradução literal da versão poética em russo, ou seja, nesta língua, ela segue a métrica artística, e na nossa, não. As traduções poéticas em português, que em geral começam com “De pé, ó vítimas da fome... De pé, famélicos da terra...”, podem ser encontradas aos montes no YouTube. Decidi traduzir literalmente a versão russa porque a julgo como um documento histórico independente da canção A Internacional em si, hino socialista e anarquista traduzido pra centenas de línguas.

A tradução da Internacional que mais se consagrou na Rússia na virada dos séculos 19 e 20 foi a do poeta e tradutor Arkadi Iakovlevich Kots (1872-1943), cujo nome de nascença era Aron e assinava também como “A. Danin”, “A. Bronin”, “A. Shatov” e “D-n”. Sua versão da Internacional é de 1902, quando saiu na revista Zhizn (Vida) de Londres, mas só tinha o refrão e as estrofes 1, 2 e 6 do texto original. Kots só traduziu o resto em 1931, resultado publicado apenas em 1937. Os sociais-democratas russos usavam a tradução de Kots como hino partidário, e Lenin gostava muito da canção, dizendo que era um tipo de símbolo comum que unia os operários do mundo todo. Em 23 de janeiro de 1918, tornou-se hino da República Socialista Federativa Soviética da Rússia e, em 30 de dezembro de 1922, da URSS.

Seguindo o nacionalismo de Stalin, houve nos anos 30 um concurso pro novo Hino Nacional da URSS, encerrado quando uma peça de Sergei Vladimirovich Mikhalkov, Gabriel Arkadievich El-Registan (letra) e Aleksandr Vasilievich Aleksandrov (melodia) foi aprovada em 14 de dezembro de 1943 pelo Birô Político do PC e executada no rádio pela primeira vez na noite de 17 pra 18 de abril de 1944. A melodia desse hino e o famoso começo do refrão – Slavsia, Otechestvo nashe svobodnoie (Glória à nossa Pátra livre) – ainda estão hoje no Hino Nacional da Federação Russa, e a tradução de Arkadi Kots da Internacional é agora o hino do Partido Comunista da Federação Russa (KPRF), do Partido Operário Comunista da Rússia integrado ao Partido Comunista da União Soviética (RKRP-KPSS) e da União da Juventude Comunista Revolucionária (bolchevique) (RKSM(b)).

Na segunda metade de 2016, eu já fiz uma retradução da Internacional em russo encomendada pelo historiador Daniel Aarão Reis pra coletânea que ele estava organizando e anotando, Manifestos vermelhos e outros textos históricos da Revolução Russa. Aliás, eu também traduzi vários textos, atas e manifestos escritos ao longo do ano de 1917, por monarquistas, bolcheviques e mencheviques, inseridos nessa coletânea. O livro saiu há alguns meses, e por isso faço meu “merchan” aqui: como foram minhas primeiras traduções publicadas, comprem e divulguem o livro que saiu pela Penguin-Companhia das Letras! Assim, dado que os direitos autorais ficaram com a editora, fiz algumas alterações nessa nova tradução pra que eu pudesse inseri-la nas legendas do segundo vídeo.

Assim como faço com os hinos das repúblicas da URSS, o áudio do segundo vídeo tirei desta página. Eu fiz a montagem da bandeira da RSFS da Rússia usada de 1918 a 1920, com o brasão que vigorou na mesma época. Seguem abaixo as duas legendagens, a letra em cirílico que serviu de hino de 1922 a 1944 e a tradução em português. A transliteração no segundo vídeo foi baseada no meu próprio sistema, então vejam este duas vezes, lendo uma legenda de cada vez!




1. Вставай, проклятьем заклеймённый,
Весь мир голодных и рабов!
Кипит наш разум возмущённый
И смертный бой вести готов.
Весь мир насилья мы разрушим
До основанья, а затем
Мы наш, мы новый мир построим, –
Кто был ничем, тот станет всем.

Припев (2x):
Это есть наш последний
И решительный бой;
С Интернационалом
Воспрянет род людской!

2. Никто не даст нам избавленья:
Ни бог, ни царь и не герой.
Добьёмся мы освобожденья
Своею собственной рукой.
Чтоб свергнуть гнёт рукой умелой,
Отвоевать своё добро, –
Вздувайте горн и куйте смело,
Пока железо горячо!

(Припев 2x)

3. Лишь мы, работники всемирной
Великой армии труда,
Владеть землёй имеем право,
Но паразиты – никогда!
И если гром великий грянет
Над сворой псов и палачей, –
Для нас всё так же солнце станет
Сиять огнём своих лучей.

(Припев 2x)

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1. Levante, mundo servilizado,
Com fome e chagado pela desgraça!
Nossa razão rebelde está queimando
E pronta para lutar a batalha mortal.
Vamos arrasar o mundo ditatorial
Desde as bases, e logo depois
Edificar uma Terra nova, nossa,
Quem não era nada vai ser tudo.

Refrão (2x)
Este é nossa último
E decisivo combate;
Pela Internacional
Os homens renascerão!

2. Ninguém vai nos libertar:
Nenhum Deus, tsar ou herói.
Vamos chegar à emancipação
Com nossas próprias mãos.
Para destruir o jugo de forma hábil
E retomar o que era de vocês,
Ardam a fornalha e batam no ferro
Com coragem enquanto ele ferve!

(Refrão 2x)

3. Somente nós, operários do Grande
Exército Mundial do Labor,
Somos autorizados a reger o mundo,
Mas nunca os aproveitadores!
E se explodir uma grande trovoada
Sobre a súcia de cachorros e algozes,
Do mesmo jeito vai se pôr a raiar
Para nós as luzes do fogo do Sol.

(Refrão 2x)



domingo, 10 de setembro de 2017

“Marselhesa Operária” (hino da Rússia)

Esta é outra canção que esperei bastante tempo pra relegendar, usando uma tradução corrigida e um design moderno. Ela se chama “Рабочая Марсельеза” (Rabochaia Marselieza), A Marselhesa Operária (ou “dos Trabalhadores”, se quiser), e consiste na melodia pouco alterada da Marseillaise, o hino da França, com uma letra em russo. Foi usada como hino nacional da Rússia republicana logo após a abdicação do tsar Nicolau 2.º (março de 1917), e tem letra de Piotr Lavrovich Lavrov e melodia de Claude Joseph Rouget de Lisle (que também escreveu a letra francesa), levemente mudada por Aleksandr Konstantinovich Glazunov.

Conhecido também como Nova canção ou Renunciemos ao velho mundo (que é o primeiro verso), o hino não é uma tradução literal da versão francesa, e foi publicado pela primeira vez no jornal Vperiod! de 1.º de julho de 1875, com o nome Nova canção. O Governo Provisório adotou oficialmente a melodia da Marselhesa como hino nacional cinco dias após o tsar Nicolau 2.º ter renunciado, mas logo depois Glazunov adaptou a melodia pra se encaixar melhor no texto em russo. Em 4 de abril de 1917, o Soviete de Deputados Operários e Soldados de Petrogrado fez sua própria proclamação da Internacional como novo hino, mas ela não encontrou apoio ante um governo que deixou a decisão final pra futura Assembleia Constituinte.

A composição de Rouget de Lisle é de 1792, e a versão russa foi muito popular durante a Revolução de 1905, quando também existiam A Marselhesa dos Soldados, A Marselhesa Camponesa e outras adaptações. Mas Lenin, que chefiava o novo governo bolchevique desde novembro de 1917, considerava a Marselhesa um hino “burguês” e preferia muito mais a Internacional. Esta, porém, também em sua versão russa, só foi oficializada como hino da Rússia soviética em 23 de janeiro de 1918, e assim permaneceu até 1944.

Várias palavras constituem um uso literário ou antigo da língua russa, e algumas delas parecem até com o ucraniano moderno: zlatoi (e não zolotoi) pra “dourado”, liud (e não narod ou liudi) pra “povo”, “gente” ou “pessoas” (“povo” em polonês é lud), strazhduschi (e não stradaiuschi) pra “carente”, zaraz pra “de uma vez” (em ucraniano, significa “agora”) e godina (e não vremia ou pora) pra “tempo” ou “época” (em sérvio, búlgaro e macedônio, significa “ano”, e em ucraniano, hodyna é “hora”, como o polonês godzina e o bielo-russo gadzina).

Eu mesmo traduzi, legendei e montei os dois vídeos, tendo usado no segundo uma gravação do Coral Infantil da URSS (talvez dos anos 70) que pode ser baixada nesta página. Infelizmente, essa é a única versão com instrumentos que achei, além das soníferas gravações em capela, pois eu não queria repetir aquela bem animada, que já tinha postado no canal há quase 6 anos. Também no segundo vídeo, fiz a legenda russa em alfabeto latino, pra conforto de vocês, baseado no meu próprio sistema. Vejam este duas vezes, lendo uma legenda de cada vez! Seguem abaixo as duas legendagens, a letra em cirílico e a tradução em português:




1. Отречёмся от старого мира,
Отряхнём его прах с наших ног!
Нам враждебны златые кумиры,
Ненавистен нам царский чертог.
Мы пойдём к нашим страждущим братьям,
Мы к голодному люду пойдём,
С ним пошлём мы злодеям проклятья –
На борьбу мы его поведём.

Припев:
Вставай, поднимайся, рабочий народ!
Вставай на врага, люд голодный!
Раздайся, клич мести народной!
Вперёд, вперёд, вперёд, вперёд, вперёд!

2. Не довольно ли вечного горя?
Встанем, братья, повсюду зараз –
От Днепра и до Белого моря,
И Поволжье, и Дальний Кавказ.
На врагов, на собак – на богатых,
И на злого вампира – царя
Бей, руби их, злодеев проклятых,
Заблести, новой жизни заря.

(Припев)

3. И взойдёт за кровавой зарёю
Солнце правды и братской любви,
Хоть купили мы страшной ценою –
Кровью нашею – счастье земли.
И настанет година свободы:
Сгинет ложь, сгинет зло навсегда,
И сольются в одно все народы
В вольном царстве святого труда.

(Припев)

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1. Renunciemos ao velho mundo,
Sacudamos seu pó de nosso pé!
Combatemos os ídolos de ouro,
Detestamos o palácio do tsar.
Iremos a nossos irmãos carentes,
Iremos até as pessoas famintas,
Com elas maldiremos os cruéis
E vamos conduzi-las à luta.

Refrão:
De pé, levante-se, povo operário!
Afronte o inimigo, povo faminto!
Ressoe o grito do povo vingativo!
Avante, avante, avante, avante, avante!

2. Já não basta a miséria incessante?
Pois de pé, irmãos, em toda parte,
Do rio Dnieper até o mar Branco,
A bacia do Volga, o longe Cáucaso.
Contra os inimigos, cães, ricaços
E contra o tsar, malvado vampiro,
Lutem, abatam os vilões malditos,
Reluza a aurora de uma vida nova.

(Refrão)

3. E após o crepúsculo sangrento,
O Sol de amor fraterno e verdade,
Ao termos pagado terrível preço,
Com sangue, por uma Terra feliz.
E surgirá um tempo de liberdade:
Nunca mais haverá mentira e mal
E todos os povos serão um só
No reino livre do trabalho santo.

(Refrão)




quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Боже, Царя храни! (Deus salve o Tsar!)

O último hino do Império da Rússia, período em que mandavam o tsar e a tsarina, foi “Боже, Царя храни!” (Bozhe, Tsaria khrani!), Deus salve o Tsar!, utilizado de 1833 a 1917. Neste ano, em 8 de março, houve a Revolução de Fevereiro (segundo o calendário juliano), que destronou o soberano e instaurou um governo republicano provisório. A letra é de Vasili Zhukovski, e a melodia é de Aleksei Lvov.

Em 1833, o tsar Nicolau 1.º visitou a Áustria e a Prússia, onde era recebido com a melodia de God Save the King, então usada como hino russo com letra de Vasili Zhukovski sob o nome A oração dos russos. Essa melodia não agradava ao soberano, que na volta incumbiu Aleksei Lvov, o músico mais próximo dele, de compor um novo hino, que também recebeu letra de Zhukovski. Ele foi executado pela primeira vez em 18 ou 25 de dezembro de 1833, sob o nome A oração do povo russo, e foi oficializado no dia 31, já chamado Deus salve o tsar!. Com a Revolução de Fevereiro, foi substituído pela Marselhesa Operária, e este foi substituído após a Revolução de Outubro pela Internacional traduzida em russo. Na URSS, o hino só seria ouvido de novo em 1958, no filme Tikhi Don. Em seu livro Ante um limiar histórico: silhuetas políticas (não traduzido), Trotsky chama o canto tsarista de “hino de guerra dos pogroms”.

A canção inteira tem sete estrofes, sendo apenas a primeira delas cantada, e outra parte delas usada no velho hino A oração dos russos. Vasili Andreievich Zhukovski (1783-1852), poeta, crítico e tradutor, foi um dos fundadores do romantismo na poesia russa. Ganhou muitos títulos e condecorações, e se tornou muito próximo da corte tsarista, tendo iniciado a tradução da Odisseia em 1842. Em Düsseldorf, casou-se aos 58 anos com a filha de um famoso pintor, a qual tinha 19, e enfim morreu na própria Alemanha. Aleksei Fiodorovich Lvov (1798-1870) foi um compositor, maestro e político. Realizou uma carreira militar e foi considerado um musicista genial e virtuoso.

Em março de 2011, eu tinha postado minha primeira legendagem do hino Deus salve o Tsar!, e há muito queria ter feito algumas correções na letra. Foi aí que surgiu minha segunda legendagem, e uma das correções foi traduzir pravoslavny não como “guardião das traduções russas”, mas pelo seu sentido literal, “ortodoxo”, e outra foi traduzir o verbo tsarstvovat não como “imperar” (a Rússia era um império), mas “reinar”, que é mais simples. Tsarstvovat remete a “tsar”, e só temos “reinar” (rei), “imperar” (imperador) e “governar”. Também passei a usar “você”, e não “tu”, pra referir a Deus, e deixei a fórmula famosa, “Deus salve o Tsar!”, baseada na inglesa, sem a vírgula após “Deus”.

Eu traduzi, legendei e montei os dois vídeos, tendo tirado os áudios do segundo, que às vezes eram apenas trechos da versão integral, dos seguintes vídeos: um, dois, três e quatro. A segunda legendagem foi a primeira em meu canal em que inseri ao mesmo tempo três legendas: em russo cirílico e transliterado, e em português. Isso foi possível porque o hino é muito pequeno e os versos são bem curtos, e assim o vídeo ganhou mais graça. Eu pensei em usar a ortografia cirílica pré-1918, mas não ia mudar quase nada, e um dos versos ia ficar muito comprido. Seguem abaixo as duas legendagens, a letra em russo, a transliteração conforme meu sistema e a tradução:




Боже, Царя храни!
Сильный, державный
Царствуй на славу
На славу нам!

Царствуй на страх врагам
Царь православный!
Боже, Царя храни!
Храни! Храни!

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Bozhe, Tsaria khrani!
Silny, derzhavny
Tsarstvui na slavu
Na slavu nam!

Tsarstvui na strakh vragam
Tsar pravoslavny!
Bozhe, Tsaria khrani!
Khrani! Khrani!

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Deus salve o Tsar!
Forte, majestoso
Reine para a glória
Para nossa glória!

Reine para o terror dos inimigos
Tsar ortodoxo!
Deus salve o Tsar!
Salve! Salve!




domingo, 3 de setembro de 2017

Молитва русских (Oração dos russos)

Esta canção foi o primeiro hino usado oficialmente no Império Russo, adotado pelo tsar Alexandre 1.º. Ela se chama “Молитва русских” (Molitva russkikh), A oração dos russos, e foi usada de 1816 a 1833. Antes, a canção Ressoe, trovão da vitória! servia como hino, mas de forma não oficial e não ratificada por nenhuma lei. Após ter derrotado militarmente o Primeiro Império Francês, o imperador ordenou que fosse composto um hino nacional, e no fim de 1816 foi ratificado um poema de Vasili Andreievich Zhukovski. As duas primeiras estrofes já tinham sido publicadas em 1815 sob o título A oração do povo russo, e com esse nome o novo hino também era conhecido.

Tocada em encontros oficiais do tsar, A oração dos russos se empregava com a melodia do hino britânico God Save the King. Em 1833, o hino foi substituído por Deus salve o Tsar!, uma estrofe com texto também de Zhukovski, e melodia de Aleksei Fiodorovich Lvov, que seria o hino monárquico mais longevo, usado até 1917. O poema completo possui ainda mais três estrofes que eram pouco usadas, enquanto a autoria da melodia britânica permanece anônima. (A Wikipédia russa atribui a autoria, também da letra inglesa, a Henry Carey, mas na versão em inglês, afirma-se a incerteza.) Considera-se que Deus salve o Tsar! teria sido o primeiro hino genuinamente russo em letra e melodia, e outros dão esse título a Ressoe, trovão da vitória!, o qual, porém, nunca teve caráter oficial.

Não achei nenhuma versão marcial executada com a melodia de God Save the King, e pra não os matar de sono de novo, pus no vídeo um trecho desta gravação feita na melodia de Deus salve o Tsar! e que inclui, no começo e no fim, a estrofe usada nesse outro hino. A voz é de Valeri Malyshev, cantor que também gravou muitas outras canções religiosas ortodoxas. Num canal de que gosto muito, pode ser ouvida esta versão em capela da melodia original. Eu mesmo traduzi do russo e legendei, tendo confrontado também com as traduções em inglês e galego da Wikipédia. O texto em cirílico tem a ortografia pré-1918, e a transliteração, mais próxima da pronúncia, fiz seguindo a ortografia atual. Seguem abaixo minha legendagem, a letra em russo moderno e a tradução em português:


Боже, Царя храни!
Славному долги дни
Дай на земли!
Гордых смирителю,
Слабых хранителю,
Всех утешителю –
Всё ниспошли!

Перводержавную
Русь Православную
Боже, храни!
Царство ей стройное,
В силе спокойное!
Всё-ж недостойное
Прочь отжени!

О, Провидение!
Благословение
Нам ниспошли!
К благу стремление,
В счастье смирение,
В скорби терпение
Дай на земли!

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Deus salve o Tsar!
Longa vida ao glorioso
Conceda na Terra!
Ao freio dos soberbos,
Ao abrigo dos fracos,
Ao consolo de todos
Dê todas as coisas!

A primeira potência,
Mãe-Rússia ortodoxa,
Que Deus proteja!
Faça seu reino distinto
E tranquilo na força!
E tudo que for indigno
Afaste para longe!

Ó, Providência!
A graça divina
Conceda a nós!
Aspiração ao bem,
Modéstia na bonança,
Firmeza na aflição
Conceda à Terra!