quarta-feira, 29 de junho de 2016

Marcha dos tanquistas soviéticos, 1938


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Em memória do Dia da Vitória na Segunda Guerra Mundial, postei esta legendagem da canção patriótica soviética “Марш советских танкистов” (Marsh sovetskikh tankistov), a Marcha dos tanquistas soviéticos, os pilotos de tanque homenageados em canção de 1938 composta pelos irmãos músicos Samuil, Dmitri e Daniil Pokrass (melodia) e por Boris Laskin (letra).

O diretor Ivan Pyriev encomendou ao poeta Laskin uma canção para seu filme Traktoristy (Tratoristas), que homenageasse os tanquistas soviéticos e a fortaleza das fronteiras da URSS. Após escrever o texto, o letrista o levou aos músicos Pokrass e a música ficou pronta no dia seguinte. Nos anos de Khruschov, os versos com referências a Stalin e ao “primeiro marechal” (Kliment Voroshilov, Ministro da Defesa de 1934 a 1940 e um dos primeiros marechais da URSS) eram cantados com outras palavras. Até o filme teve o som modificado para se adequar a esse detalhe, e só em 2005 voltaria a ser exibido com o áudio original.

Este vídeo em honra a Stalin contém a canção original, tendo sido montado sem legendas talvez pelo usuário Otuzniak. Tirei a letra em russo desta página, para traduzir, mas ela também segue abaixo da legendagem, junto com a tradução, que foi encurtada nas legendas:



1. Броня крепка, и танки наши быстры,
И наши люди мужеством полны.
В строю стоят советские танкисты –
Своей великой Родины сыны.

Припев:
Гремя огнём, сверкая блеском стали,
Пойдут машины в яростный поход,
Когда нас в бой пошлёт товарищ Сталин,
И первый маршал в бой нас поведёт.

2. Заводов труд и труд колхозных пашен,
Мы защитим, страну свою храня,
Ударной силой орудийных башен
И быстротой, и натиском огня.

(Припев)

3. Пусть помнит враг, укрывшийся в засаде,
Мы начеку, мы за врагом следим.
Чужой земли мы не хотим не пяди,
Но и своей вершка не отдадим.

(Припев)

4. А если к нам полезет враг матёрый,
Он будет бит повсюду и везде.
Тогда нажмут водители стартёры
И по лесам, по сопкам, по воде.

(Припев)

____________________


1. Blindagem forte, nossos tanques rápidos
E nossa gente cheia de coragem.
Em formação os tanquistas soviéticos,
Filhos de sua grande Pátria.

Refrão:
Com aços retumbando e fulgurando,
Os tanques vão partir em marcha furiosa
Quando o camarada Stalin nos enviar
E o primeiro marechal nos guiar na luta.

2. O labor de fábricas e kolkhozes lavrados
Vamos defender, guardando nosso país,
Com o choque das torres de canhoneio,
Com rapidez e arremetidas de fogo.

(Refrão)

3. Saiba o inimigo que arma emboscada
Que estamos alerta, de olho no invasor.
Não queremos um palmo de terra alheia,
Mas da nossa não damos um centímetro.

(Refrão)

4. Se o inimigo feroz se meter com a gente
Será batido aonde quer que vá.
Então os motoristas vão dar o arranque
Pelos bosques, morros e pela água.

(Refrão)




domingo, 26 de junho de 2016

Мы коммунисты (Somos comunistas)


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Esta tradução de uma das canções mais famosas na propaganda soviética foi pedida por Guilherme Saldanha. Chama-se “Мы – коммунисты” (My – kommunisty), Somos comunistas, composta em 1958 com melodia de Serafim Tulikov e letra de Piotr Gradov. Esta gravação é a mais famosa versão da música e foi feita em 1959 pelo cantor Aleksandr Voroshilo, com lindo coral e orquestra junto.

A letra é muito simples e algumas palavras são repetidas diversas vezes, mas o lance da canção é brincar com a ordem flexível das palavras em russo e com a riqueza das terminações de caso, possibilitando rimas muito ricas. Entra em jogo também a concisão linguística, traduzida nas inúmeras omissões verbais nos casos em que usaríamos “ser” ou “haver”. O próprio título, que à letra se traduziria “Nós comunistas”, a rigor significa “Nós somos comunistas”.

Na expressão “Мы, коммунисты, правдой сильны своей!”, posso jogar de vários modos com a forma verbal “somos” omitida, traduzindo “Nós, comunistas, somos fortes de nossa verdade!” ou “(Nós) Somos comunistas, fortes de nossa verdade!”. Escolhi esta para a legendagem, por ser mais concisa. Em línguas eslavas como tcheco, polonês e servo-croata, o correto é omitir o pronome e usar o verbo “ser” conjugado, dando literalmente “Somos comunistas” mesmo.

A “Centelha”, entre aspas mesmo, é uma referência ao jornal Iskra (“Искра”, que significa “centelha”, “fagulha”, “faísca”), fundado no fim de 1900 por sociais-democratas russos exilados em Munique, que depois fugiram com a redação para Londres. Tendo sido o Partido Operário Social-Democrata da Rússia (precursor do Partido Bolchevique) fundado em 1898, foi logo desmantelado pelo tsar e reconstruído no exílio em torno do Iskra pelos ativistas do Grupo Emancipação do Trabalho, entre os quais Vera Zasulich, Pavel Axelrod e Georgi Plekhanov, junto com outra rede de intelectuais marxistas. Um deles, Lenin, após escapar da Sibéria, cresceria em influência e logo seria um dos líderes do jornal.

O vídeo sem legendas é uma bela montagem com uma versão remasterizada da canção, a qual no próprio site SovMusic.ru está com baixa qualidade. Eu tirei a letra em russo de um site musical, fiz algumas adaptações e posto abaixo com a tradução em português, depois do vídeo que legendei:


1. В наших рядах миллионы!
Ленина мы сыновья!
Реют над нами победно знамёна
Славного Октября!

Припев:
Мы, коммунисты,
Правдой сильны своей!
Цель нашей жизни –
Счастье простых людей!
Цель всей борьбы и жизни –
Счастье простых людей!

2. Пламя, зажжённое “Искрой”,
Не погасить никогда!
Пламя свободы в душе коммуниста
Будет гореть всегда!

(Припев)

3. Партия смелых и стойких,
Все мы гордимся тобой!
Первыми шли мы на новые стройки,
Первыми шли на бой!

(Припев)

4. Верно мы служим народу!
С нами великий народ!
Тот, кто за дружбу, за мир и свободу,
В наши ряды встаёт!

(Припев)

____________________


1. Milhões em nossas fileiras!
Somos filhos de Lenin!
Sobre nós tremulam triunfantes
Bandeiras do Glorioso Outubro!

Refrão:
Somos comunistas,
Fortes de nossa verdade!
É o objetivo de nossa vida
Fazer felizes os simples!
Objetivo de toda luta e vida
É fazer felizes os simples!

2. Que não se apague jamais
A chama acesa pela "Centelha"!
Na alma comunista a chama da liberdade
Vai arder para sempre!

(Refrão)

3. Partido dos firmes e corajosos,
És o orgulho de todos nós!
Fomos os primeiros a novas obras,
Fomos os primeiros ao combate!

(Refrão)

4. Servimos fiéis ao povo!
O grande povo está conosco!
Quem ama amizade, paz, liberdade
Desponta em nossas fileiras!

(Refrão)



quarta-feira, 22 de junho de 2016

Seminário “90 anos do PCB” (Unicamp)


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Fotos desse dia mui loco que só resgatei em março de 2024, rs:













Saudades da socióloga Carol Filho, minha amiga PSOLista!


Este é um fichamento pessoal das falas dos três palestrantes (Marly Vianna, Marcos Del Roio e Ivan Pinheiro) no seminário “90 anos do Partido Comunista Brasileiro e o comunismo no Brasil”, ocorrido na quarta-feira, 26 de setembro de 2012, no Salão Nobre da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e organizado pelo PCB de Campinas - SP. A ordem original das ideias foi por vezes adaptada para o modelo de composição escrita, e possíveis lacunas, falhas ou equívocos no texto são de responsabilidade apenas minha, sendo seu apontamento muito bem-vindo.


Marly Vianna (Universo) – O comunismo no Brasil

Vianna começa sua fala com uma homenagem a Carlos Nelson Coutinho, pesquisador marxista brasileiro falecido no último dia 20. Logo após, afirma julgar bastante amplo o tema que lhe fora atribuído, “o comunismo no Brasil”, e que tentará resumi-lo, esquematizando a fala em duas partes: 1) o que ela mesma pensa do percurso do Partido; 2) levantamento de algumas questões.

Cita brevemente Marx e sua ideia, já nos anos 1840, do “fantasma do comunismo”, e a frase da historiadora francesa Dominique Desanti (1919-2011), segundo a qual o comunismo é a “epopeia do século XX”. Vianna afirma geralmente ser crítica quanto à história do PCB, mas que nessa ocasião iria apenas louvar tudo o que na trajetória julgava digno de merecimento.

1) A sociedade brasileira é violenta, antidemocrática e antirrevolucionária, e nossas classes dominantes chegaram ao cúmulo de ter longamente sustentado o antirrepublicanismo e a instituição da escravatura. Tudo o que houve de ideias mais avançadas no Brasil fez e faz parte da história do PCB, ainda que se deva reconhecer a importância do anarquismo anterior (tanto que dos nove membros fundadores, sete eram dirigentes egressos do movimento anarquista) e das posteriores dissidências comunistas. Porém, a diferença entre comunismo e anarquismo está apenas no método de ação, pois a sociedade sem classes é seu fim comum. Marx nunca disse como seria a sociedade comunista, mas deu algumas indicações de como chegar a ela.

O PCB, portador das ideias mais avançadas da sociedade brasileira, sempre foi brutalmente reprimido, especialmente nas greves das primeiras décadas do século XX. Naquele período, especialmente na Primeira República, a legislação trabalhista era escassa, mas até a ela as classes dominantes já opunham feroz resistência. O PCB organizou quase toda a movimentação social posterior e se manteve firme até hoje, mas não deixou de cometer erros e de enfrentar muitas lutas internas que prejudicaram a união da classe operária. A primeira cisão importante e muito dolorosa foi nos anos 1930, por parte dos trotskistas, que eram muito fortes em São Paulo, talvez mais do que era o grupo de Lauro Reginaldo da Rocha (Bangu) no Rio. O grupo de Bangu também foi responsável pela linha de “união nacional” dos anos 1930 e 1940, influente na “conferência da Mantiqueira” de 1943 e considerada posteriormente um desvio de direita.

A luta contra o nazifascismo foi um dos momentos mais importantes do PCB, mas não tão fácil quanto pode parecer hoje. Quem vê do presente conhece perfeitamente a derrota nazista, mas o mundo em geral, na época, via os nazifascistas com simpatia, e os integralistas no Brasil não arregimentavam poucas pessoas, mas multidões, protagonizando ferozes lutas corporais de rua com membros da ANL nos anos 1930. Outras bandeiras importantes foram a luta pela paz dos anos 1940 e 1950, a defesa permanente do anti-imperialismo, especialmente na América Latina, do internacionalismo e a defesa intransigente da Revolução Cubana e do regime de Fidel Castro, mesmo após as críticas do dirigente ao PCB no início dos anos 1960. Houve ainda a luta pela autodeterminação dos povos, pelo petróleo, pelas reformas de base dos anos 1960, a qual hoje tem muitas vezes sua importância mitigada por alguns, e pela democracia, especialmente a democracia econômica, nos anos 1970. O Partido, em todo esse tempo, não deixou de trabalhar com a intelectualidade, os estudantes, a juventude e as mulheres.

As classes dominantes sempre exploraram exaustivamente os erros do PCB, a começar pelo discurso de Luiz Carlos Prestes de 5 de julho de 1935, em que pedia “todo poder à ANL”. Tais palavras de ordem acelerariam a repressão de Vargas, mas não foram o único motivo do fechamento da Aliança, cuja existência já corria sérios riscos. Outro momento delicado foi a entrevista de Prestes ao programa de televisão “Pinga-Fogo”, a 3 de janeiro de 1964, em que afirmava ter o controle da situação, embora isso não tivesse qualquer influência no golpe. Nos anos 1960, aliás, um acerto do PCB foi não ter optado pela luta armada contra os militares no poder, uma atitude impossível após tão grande derrota política, enquanto o erro foi não ter preparado qualquer oposição ao golpe, nem mesmo tê-lo previsto, ou previsto sua iminência.

2) Há de se perguntar qual é o papel dos comunistas numa sociedade como a nossa, em que a revolução não está na ordem do dia e em que está ocorrendo um “refluxo” dos movimentos sociais. Deve-se lembrar que quem faz a revolução não é o Partido, mas a classe operária por sua própria ação, a qual o Partido coordena, no máximo. Porém, o PCB nunca teve total respaldo da classe operária, o que prejudicou muito sua atuação revolucionária. Ainda hoje, o capitalismo é o mesmo de antes, tendo sido criadas apenas novas formas de dominação, por meio de uma sociedade de consumo dificílima de reverter, pois o “socialismo real” foi praticamente derrotado em 1991 e os EUA hoje fazem no mundo o que bem entendem.

A reversão da sociedade de consumo é justamente o maior desafio dos comunistas, pois a sociedade está muito individualizada, com cada um em sua casa acessando a internet (a qual, porém, pode ser uma grande ferramenta de mobilização), e ninguém mais conversando na rua. É paradoxal que eventos como a Parada Gay, um culto da Igreja Universal do Reino de Deus ou um jogo da Copa do Mundo (ou a comemoração de sua vitória) reúnam milhões de pessoas nas ruas, mas que o mesmo não ocorra para exigir, entre outras coisas, saúde e educação de qualidade. Assim, a tarefa de mudar o Brasil e o mundo é hercúlea, inclusive porque se o PCB hoje se encontra na legalidade, é porque não está incutindo medo nas classes dominantes, o que não tira do Partido a responsabilidade de dar às pessoas uma esperança no futuro.


Marcos Del Roio (UNESP) – O PCB no Brasil

Del Roio começa elogiando o fato de haver na plateia muitos jovens interessados e afirma que vai repetir muito do que Vianna falou, mas com enfoque na questão de qual é a estratégia da revolução, na história do Brasil e hoje em dia.

A história do PCB dos anos 1920 até o início dos anos 1980 (quando houve o que Gramsci chamaria de “crise orgânica”, na qual o Partido se descolou definitivamente de sua base, da classe operária) indica que em poucos momentos ele esteve completamente ligado às lutas proletárias, e que mesmo quando o operariado esteve maduro para a revolução, o PCB padecia de problemas estruturais, o que possibilitou, ao final, o surgimento do PT, com seu êxito fenomenal, apesar das inúmeras limitações.

O período que se estende dos anos 1920 a 1980 no Brasil significou o processo de nossa revolução burguesa, ou seja, de transformação do capitalismo local. Porém, embora o país estivesse se fazendo capitalista, urbanizado e industrializado, ele nunca viveu uma verdadeira revolução democrática, com plena liberdade de expressão, acesso à cultura e às necessidades básicas pelo povo. Nos anos 1920, o PCB ainda tinha a tarefa de conduzir a revolução democrática, mas sob a realização real da classe operária, enquanto o que se chamava de “revolução democrático-burguesa”, apesar do nome, não se pregava como necessariamente liderada pela burguesia, algo que o PCB não desejava, embora tivesse quase sempre uma compreensão escassa do que fosse uma “revolução democrático-burguesa”.

A Revolução Russa foi um longo processo, embora a data de 7 de novembro de 1917 tenha se tornado emblemática e histórica, e tudo isso influenciou muito o PCB, fundado ao longo de um trabalho que durou de 1918, quando começaram a pulular os vários grupos comunistas no Brasil, até 1924, quando a Internacional Comunista aprovou o ingresso do PC brasileiro. Esse foi o período de formação do PCB. Os anos de 1924 a 1934 foram marcados por uma visão teórica “tosca”, mas bastante clara: devia-se fazer a revolução democrático-burguesa pela ação da classe operária, do campesinato e da pequena burguesia, fórmula ainda vigente nos anos 1970, quando apenas se transformou a “pequena burguesia” em “camadas médias urbanas”.

A primeira década de existência do PCB foi um período notável, mas vivenciou a expulsão do grupo dos primeiros dirigentes em 1930. A partir de 1934, ocorreram mudanças com o ingresso de Luiz Carlos Prestes e, depois, com a formação da ANL, notavelmente a afluência de militares de esquerda junto com o “Cavaleiro da Esperança” e a consequente transformação da cultura e da visão de política do Partido. Passava-se agora a não cindir tanto com o Estado, como antes, e a ter uma perspectiva de política de Estado, especialmente com a bandeira da “união nacional”, traduzida na Europa pela luta antifascista, mas aqui, por ação do grupo de Bangu (1938), pela visão da burguesia industrial como progressista, e não mais como contrarrevolucionária, como se considerava a Revolução de 30. Essa linha se aproveitou de uma brecha da IC que permitia o apoio a frações da burguesia que pudessem ter contradições com o imperialismo, mas que não foi imposta como regra geral. A “união nacional” predominou até 1947 e teve como frutos a derrota do fascismo e a legalização do PCB, mas não resistiu à recomposição das classes dominantes sob o comando de Eurico Dutra e ao início da “guerra fria”, que influenciou a nova cassação do registro do PCB.

Progressivamente, aos atores tradicionais da futura revolução se somaram os setores da burguesia que poderiam ter uma capacidade “revolucionária” e, assim, integrar o vindouro “regime nacional-popular”. Essa concepção se afirmou em 1958, com a “declaração de março”, a qual, porém, permaneceu anti-imperialista e sem monopolizar a direção da revolução à burguesia, enquanto a revolução democrática deveria ser uma aproximação à revolução socialista, cuja hora ainda não havia chegado (a não ser para os trotskistas). Se a prática política era equivocada num ou noutro momento, já é uma questão diferente da que está sendo abordada.

Nos anos de 1934-35 e 1961-64, o povo esteve mais amadurecido para uma revolução, mas foi derrotado em ambas as ocasiões, e o PCB sempre se perguntou o porquê, e por que ele mesmo falhou em suas pretensões. Porém, o Partido nunca abandonou a via democrática de luta: de 1964 a 1979, continuou a elaborar uma estratégia democrática, quando se considerava que o Brasil já havia se tornado plenamente capitalista (anos 1970), mas necessitava lutar contra a ditadura “fascista”. Em 1974-75, uma grande catástrofe foi a grande repressão que se abateu sobre o PCB, incluindo a morte de dirigentes, quando os setores da liderança que não estavam no exterior também se exilaram.

Cinicamente, quando o capitalismo já estava plenamente implantado no Brasil, os industriais decidiram que não precisavam mais da ditadura, mas o Partido se encontrava numa crise, buscando formas de sair dela e com a direção muito dividida. De fato, em 1978, os documentos oficiais da direção em nada correspondiam ao pensamento da maioria dos quadros, e no início dos anos 1980, ocorreram uma forte sangria de quadros, a influência do “eurocomunismo”, especialmente da linha do PC italiano, e a paralisação dos trabalhos, até o colapso final nos primeiros anos 1990, com o fim do “socialismo real” na Europa. Mesmo assim, ainda não chegava ao fim a ideologia comunista, e se impunha a necessidade de aprender com a história do PCB, e não jogá-la toda fora, mesmo no particular e complexo contexto de hoje.


Ivan Pinheiro (Secretário-Geral do PCB) – A reorganização do PCB

Várias questões se colocam quando se pretende descrever a reconstrução revolucionária do PCB levada a cabo nos últimos 20 anos. A começar, é preciso ter em mente que o Partido, como dogma, acredita que a chegada ao socialismo só se dará por meio da ruptura completa com o capitalismo, e não com sua reforma. Do mesmo modo, hoje o PCB não pretende mais escrever para si uma história autoproclamatória, mas que louve merecidamente os acertos e condene duramente os erros, especialmente as falhas demonstradas em 1935 (crença nas “rebeliões de quartel” ou “quartelismo”), 1964 (despreparo diante da iminência do golpe civil-militar) e 1979 (pouco aproveitamento da situação criada pela anistia).

O período que vai até 1964 está envolvido pela crença ilusória na democracia burguesa, criada com a “declaração de março” de 1958, pois não se pensava que a burguesia seria capaz de esmagar os direitos democráticos com o golpe civil-militar. No período ditatorial, especialmente de 1964 a 1979, o PCB fez um acerto ao seguir a linha democrática contra aquele regime, muito bem caracterizado como “fascista”, e ao não ter embarcado na luta armada, o que não significa descartar hoje o levante armado, caso as multidões escolham essa via. O Partido considera a luta armada dos anos 1960-70 como voluntarista e foquista, mas de ebulição compreensível, dado o contexto criado pelo encanto da Revolução Cubana e pelo fervilhar da luta estudantil.

A formação da “frente democrática” foi uma escolha justa nos anos de 1979-80, mas não deveria ter continuado na segunda metade do governo Sarney, enquanto a saída de Prestes (1982) prejudicou muito o PCB, junto com o auge do reformismo, em 1986, quando estava claro que a “frente democrática” deveria se transformar numa “frente de esquerda”. Boa parte da militância começou, então, a se opor à maioria predominante no Comitê Central (CC) do Partido, a qual havia recaído na conciliação de classes, e num ativo sindical em Santos, em 1987, os participantes viraram a mesa e aprovaram a entrada dos comunistas na CUT. Em 1989, na UERJ, tentou-se liquidar o PCB no IX Congresso, mas não houve sucesso, e então um grupo criou o lema “Fomos, somos e seremos comunistas”. Em 1991, com a queda da URSS, em meio a um movimento de resistência dentro do Partido, a direção marcou um Congresso Extraordinário para o início de 1992, quando ocorreram, de fato, dois congressos, um que fundou o PPS e outro que deu continuidade ao velho “Partidão”.

Nos anos 1990, as esquerdas tornaram-se pouco visíveis com o fim do “bloco socialista”, e o PCB, um dos principais alvos dessa obscuridade, empreendeu a tarefa hercúlea de recuperar o registro do Partido Comunista Brasileiro, o que conseguiu em 1995. Posteriormente, um grupo que incluía Ivan Pinheiro recusou-se a priorizar a via eleitoral e percebeu, enfim, que na história do Partido houve poucos “comunistas” e muitos “pecebistas”, que na verdade eram apenas simpatizantes da agremiação e de suas lutas. Em 1998, em meio a graves lutas e crise, o PCB tentou reconciliar-se com o PC do B, mas, logo após, a perspectiva da vitória de Lula como Presidente da República apenas aumentou as diferenças entre os dois partidos. Com efeito, nessa década, a esquerda era mais unida diante de FHC como inimigo comum, mas ao mesmo tempo Lula se desprendia gradativamente de suas ideias originais a cada eleição. Em 2002, o PCB apoiou Lula, mas logo depois se afastou do novo governo, cujas contrariedades já eram visíveis desde o lançamento da Carta aos Brasileiros, na verdade, uma “carta aos banqueiros”, que prenunciava o favorecimento futuro aos EUA e aos bancos.

Entre 2002 e 2005, com a divisão reinante dentro do CC, o PCB não portou uma feição bem definida, até que em 2005, com o XIII Congresso, fez-se uma mudança radical com o início da “reconstrução revolucionária”. Desde então, a linha política, que comportou grande autocrítica e não apareceu de repente, analisa profundamente a estrutura de classes e do capitalismo no Brasil e julga que nosso capitalismo é completo, tem todas as instituições burguesas esperadas num país capitalista, o que não inspira a ilusão de alianças com quaisquer setores da burguesia. Recusa-se a linha do PC do B, segundo a qual a contradição principal é aquela entre nação e imperialismo estrangeiro, o que mitiga a necessidade de se lutar também contra os capitalistas brasileiros. A “democracia burguesa” é vista, de fato, como uma ditadura da burguesia sob uma roupagem democrática, o que obriga a especificar o regime instaurado em 1964 como “ditadura da burguesia de caráter militar”. Não será pelas instituições burguesas que se chegará ao socialismo, portanto, a estratégia e o caráter da revolução brasileira são socialistas, mas sem que se exija a instauração imediata do socialismo, pois não existem condições subjetivas para tanto. O instrumento central de luta deve ser uma frente de esquerda permanente, anticapitalista e anti-imperialista a se formar, que não atue apenas em períodos eleitorais. Evita-se o conceito de “filiação partidária”, preferindo-se o de “recrutamento”, para a formação de um partido de quadros com militantes fortes.

O PCB não morreu, mas vive e começa a chamar a atenção de outros setores da esquerda, da direita e da burguesia, pois não se trata mais da agremiação totalmente enfraquecida de 1992, embora ainda se esteja vivendo um período de reconstrução. Os jovens ainda viverão uma luta de classes como jamais viram, pois a crise do capitalismo sempre gera uma fascistização da política, em meio à qual ser comunista se torna uma tarefa muito difícil.



domingo, 19 de junho de 2016

Дорогой длинною, Por longo caminho


Link curto pra esta publicação: fishuk.cc/dorogoi


Se você chegou aqui por ocasião da morte de Silvio Santos, por favor leia também este artigo em que denuncio as mentiras propagadas pelos pasquins DCM e Fórum sobre o caráter da canção e sugiro que o Fantástico fez no domingo posterior uma alusão oculta a Eduard Khil, que era chamado exatamente de “Silvio soviético” durante a onda do meme “Trololó”!

Esta é a que muitos consideram de longe a canção russa mais célebre do mundo, mais até do que Katiusha e Noites de Moscou. “Дорогой длинною” (Dorogoi dlinnoiu), Por um longo caminho, soa familiar a muitos brasileiros por causa da abertura do antigo Show de Calouros, apresentado por Silvio Santos no canal SBT, quando a orquestra tocava anunciando os nomes dos jurados que entravam em sucessão.

De fato, é uma canção sentimental (“romança”) com letra de Konstantin Podrevski e melodia de Boris Fomin (1924), gravada primeiro em 1925 por Tamara Tsereteli e que logo alcançou enorme sucesso, não apenas pela melodia envolvente, mas também por sua letra nostálgica e implicitamente antissoviética. Destaca-se a referência à “troica com guizos” (тройка с бубенцами), definida no Aurélio como “Grande trenó [...] puxado por três cavalos emparelhados”, símbolo da Rússia antiga, cujo fim se lamenta em meio à insegurança dos novos tempos. A censura soviética notou isso e proibiu, em 9 de março de 1927, novas execuções da canção.

Ela logo se tornou clássica nos círculos emigrantes russos da Europa Ocidental e dos EUA, especialmente em bares e restaurantes, e foi regravada nas décadas de 1920-30. Apenas com a reabilitação da canção sentimental como gênero na URSS, a partir do fim dos anos 1950, muitas cantoras e cantores puderam dar-lhe em território soviético um segundo pico de popularidade. Porém, nos subterrâneos, Por um longo caminho continuou cantada nas rodas de parentes e amigos, por vezes quase como um hino familiar. Até aí, a letra inicial já tinha sofrido diversas mudanças, pelos mais variados motivos.

O Ocidente conhece ainda sua tradução para o inglês, com leve mudança na melodia, pelo norte-americano Eugene Raskin, filho de emigrados russos que assim compôs Those Were the Days em 1962. A nova canção foi gravada pela galesa Mary Hopkin em 1968 e ficou algum tempo entre as mais tocadas em diversos países, ganhando a partir daí traduções para inúmeros idiomas. Porém, os discos da canção e suas traduções sempre mostram Raskin como único autor, sem mencionar Podrevski ou Fomin.

Além do refrão, a canção tem mais quatro estrofes, mas traduzi apenas as duas primeiras, as mais conhecidas e as cantadas na apresentação do cantor Sergei Lazarev (vídeo abaixo), que achei, porém, fantástica, na quinta transmissão ao vivo do show Prizrak opery (O Fantasma da Ópera), em 1.º de outubro de 2011. Neste endereço há o vídeo sem legendas, e nesta página há a letra tal qual ele canta. A única diferença é que no primeiro verso do refrão, ao invés de “ночью” [nochiu], Lazarev canta “ночкой” [nochkoi], respectivamente as formas do caso instrumental singular das palavras “ночь” e “ночка”, ou seja, “noite”, sendo o segundo um diminutivo de fato sinônimo.

Aleksandr Znatnov cita mais diferenças em seu artigo no n.º 11 de 2013 da revista russa Nash sovremennik, chamado “Por um tempo bom enluarado. A dramática história da canção ‘Dorogoi dlinnoiu’ e o destino trágico do autor de sua letra imortal”. O autor teria encontrado num arquivo a versão realmente primeira, rabiscada pela censura, em cujo refrão, ao invés da expressão “да ночью (ou “ночкой”) лунною” (e por uma noite enluarada), lê-se “погодой лунною” (por um tempo bom enluarado), e ao invés de “мучила” [muchila], passado do verbo “мучить” [muchit] (atormentar, torturar), lê-se “мучает” [muchaiet], presente do verbo “мучать” [muchat], um sinônimo coloquial do primeiro. Haveria ainda o primeiro uso do verbo “жечь” [zhech] (queimar, arder) no sentido de “expressar-se vivamente”, hoje popular entre os jovens ligados na internet. Aparece na segunda estrofe, na forma do passado “(мы) жгли” [(my) zhgli], que traduzi como “(nós) clamamos”. Quem encara russo pode ler online o artigo em PDF.

Outras duas interpretações em russo que acho lindas são a estilisticamente cigana de Tatiana Baleta e a de Eduard Khil, o famoso Mr. Trololo, que entre nós é conhecido, para fechar o círculo... como “Silvio Santos soviético”! O vídeo que legendei estava no meu antigo canal do YouTube, seguido da letra em russo e da tradução.

Nota (30/4/2018): Há alguns meses legendei também, embora pouco nítida, uma apresentação de Vadim Ananiev, célebre tenor do Coral Aleksandrov do Exército Russo (Coral do Exército Vermelho). Existem só dois uploads iguais desse vídeo no YouTube, e não há nenhuma outra versão de Ananiev cantando esta canção (embora haja com outros solistas do Aleksandrov), sendo que esta presente deve ter sido filmada com celular, e longe do palco. Por isso, mesmo não garantindo nitidez, resolvi cortar o enquadramento. Este show fez parte da turnê “Novoročný Koncert Sólistov Alexandrovcov” (Concerto de Ano Novo dos Solistas do Aleksandrov) em Bratislava, capital da Eslováquia, nos dias 10 e 11 de janeiro de 2010, tendo Ananiev se apresentado no primeiro. Ele canta uma terceira estrofe que não estava na letra de Lazarev, e cujo texto e tradução marquei abaixo com o n.º 4:




1. Ехали на тройке с бубенцами,
А вдали мелькали огоньки.
Эх, когда бы мне теперь за вами,
Душу бы развеять от тоски…

Припев:
Дорогой длинною, да ночью [ночкой] лунною,
Да с песней той, что вдаль летит, звеня.
И с той старинною, да с семиструнною,
Что по ночам так мучила меня.
Дорогой длинною, да ночью [ночкой] лунною,
Да с песней той, что вдаль летит, звеня.
И с той старинною, да с семиструнною,
Что по ночам так мучила меня.

2. Да, выходит пели мы задаром,
Понапрасну ночь за ночью жгли.
Если мы покончили со старым,
Так и ночи эти отошли.

(Припев)

3. Ехали на тройке с бубенцами,
А вдали мелькали огоньки.
Эх, когда бы мне теперь за вами,
Душу бы развеять от тоски…

(Припев)

4. В даль родную новыми путями
Нам отныне ехать суждено!
Ехали на тройке с бубенцами,
Да видать проехали давно!

(Припев)

И с той старинною, да с семиструнною,
Что по ночам так мучила меня.

____________________


1. Vocês iam na troica com guizos,
E ao longe cintilavam faíscas.
Ah, me bastaria segui-los agora,
E livraria minha alma da saudade...

Refrão:
Por um longo caminho, por uma noite enluarada,
Com aquela canção que voa longe tilintando.
Canção antiga, tocada a sete cordas,
Que tanto me torturava à noite.
Por um longo caminho, por uma noite enluarada,
Com aquela canção que voa longe tilintando.
Canção antiga, tocada a sete cordas,
Que tanto me torturava à noite.

2. É, quer dizer que cantamos à toa,
Em vão clamamos noite após noite.
Se acabamos com o que era antigo,
Daí essas noites também morreram.

(Refrão)

3. Vocês iam na troica com guizos,
E ao longe cintilavam faíscas.
Ah, me bastaria segui-los agora,
E livraria minha alma da saudade...

(Refrão)

4. Ao lar distante por novas trilhas
É nosso destino desde já voltar!
Íamos na troica com guizos,
Sim, fizemos a viagem há muito!

(Refrão)

Canção antiga, tocada a sete cordas,
Que tanto me torturava à noite.


quarta-feira, 15 de junho de 2016

Precisamos de língua internacional?


Link curto para esta postagem: fishuk.cc/lingua-franca



Por Erick Fishuk


Nota: No começo de fevereiro de 2012 escrevi este texto à mão, com o título original “O mundo realmente precisa de uma língua internacional?”, depois digitei e publiquei no meu blog “Materialismo – Filosofia” no dia 26, época em que já fazia quase 12 anos que havia começado a aprender esperanto e estava começando a retomar um pouco seu estudo, bem como o do problema das línguas auxiliares internacionais, que deixei largados durante boa parte de minha graduação (2006-2011). Claro que desde o início do meu mestrado, infelizmente marginalizei esse tesouro de novo, mas como estou transferindo alguns textos meus daquele blog para este, decidi também o republicar, por ser uma reflexão muito interessante e informativa. Hoje não discordo de muitas dessas ideias, mas fiz alguns retoques para postá-las aqui, além do que continuo menos interessado no problema abordado, por agora estar empenhado no aprendizado de mais idiomas “importantes” (italiano, alemão, espanhol etc.) e considerar o esperanto não como “o” idioma internacional, e sim mais um entre vários, embora crucial na minha formação cultural.


Introdução

Todos os brasileiros cultos já experimentaram dificuldades ao se relacionar com estrangeiros ou ler escritos publicados em países que não têm a língua portuguesa como oficial ou uma das oficiais. Mesmo certas pessoas de cultura ou renda média ou baixa alguma vez na vida sentiram, em situações cotidianas, as responsabilidades que a comunicação internacional implica. Não é fácil ter algo a dizer ou compartilhar sentimentos comuns com cidadãos de outros países, mas parecer privado de capacidade de comunicação escrita e falada. A barreira do idioma é um problema importante do atual mundo globalizado, e embora não seja a fonte de todas as discórdias, ao contrário do que apontaram alguns idealistas, atrapalha consideravelmente a resolução deles.

A percepção dos problemas causados pela diversidade de línguas não é nova, mas paradoxalmente a solução deles pareceu se encontrar cada vez mais distante à medida que a sociedade humana se tornava mais complexa. Ainda que o nível de várias tentativas no sentido de um entendimento acompanhasse o progresso qualitativo das ciências, a eficácia delas seguiu o mesmo caminho dos planos de pacificação política e bélica mundial, ou seja, tornaram-se belas ideias geniais submersas num mundo hostil que insistia em lhes dedicar perseguição ou simples indiferença. Quando muito, o próprio universo particular desses projetos terminava por reproduzir as mesmas dissensões e intermináveis disputas da realidade exterior que buscavam transformar. Também pudera, criações humanas não poderiam se isentar totalmente de nossa primordial irracionalidade animalesca.


O mito de Babel e a Babel real

É então que se levanta a discussão sobre a adoção de um único idioma internacional em que todos os seres humanos pudessem se compreender e resolver em comum seus tormentos. Não por acaso, o melhor livro em língua portuguesa que me instruiu até hoje sobre o assunto, Babel & Antibabel, de Paulo Rónai (1907-1992), leva o nome do mito bíblico que relata a confusão de línguas lançada sobre uma humanidade que pretendia realizar obras tão grandes quanto as de Deus, como a famosa torre que deveria alcançar os céus.

Há algo de conformista na cabeça do autor da lenda, mas a alegoria de Rónai não deixa de ser culturalmente válida. O autor húngaro radicado no Brasil deixa claro logo de início que a profusão de centenas de projetos de idiomas ou linguagens universais, longe de suprimir a confusão, só a aumentou consideravelmente. Os capítulos posteriores são uma deliciosa viagem pelos principais projetos e seus elaboradores, com boas doses de senso crítico e ironia, inerentes a qualquer bom prosador. No desfecho, Rónai ratifica uma ideia de Mario Pei, para quem a adoção de uma língua internacional deliberadamente escolhida e usada em organismos globais seria a melhor herança que poderíamos deixar para as futuras gerações, mas completa que ela não deveria suprimir a riqueza da diversidade linguística humana, como previram alguns pensadores, em prol da conservação de uma beleza comparável à da fauna e da flora naturais.

Contrariando as expectativas de muitos leitores condicionados por catequeses prévias, o autor postula que o idioma escolhido não deveria ser necessariamente planejado para ser fácil, racional e lógico, podendo até estar entre as comumente chamadas “línguas naturais”. Um idioma, diz, jamais poderia ser lógico e racional como a matemática, pois as relações e as situações em que é usado são absolutamente imprevisíveis, subjetivas e cheias de idiossincrasias. Esse é um raciocínio plenamente válido que se aplica à análise prática dos projetos mais frutuosos, como o esperanto e a interlíngua, que serão retomados mais adiante.

Porém, o argumento de que a gramática complexa não impediu a difusão de idiomas como o russo, o árabe e o mandarim não é muito útil ao problema da comunicação internacional. Se existe a possibilidade de se construir uma ferramenta de aprendizado fácil e rápido, a economia de tempo, dinheiro e energia possibilitada não poderia ser menosprezada. Além disso, ainda sem sair do campo da facilidade, uma língua “natural” acarreta privilégios morais, culturais e financeiros aos países que já a têm como oficial ou cuja população a fala majoritariamente: numa situação ideal, todos deveriam pagar a mesma quantia e encontrar as mesmas dificuldades ao aprender o projeto selecionado. Cabe mencionar aqui o velho exemplo de conferências internacionais em que os nomes de destaque não são os maiores especialistas no assunto debatido, mas os falantes mais hábeis dos idiomas de trabalho.

Antes de prosseguir, cabe definir e fazer uma anotação sobre os conceitos de “língua natural” e “língua artificial”. Geralmente são enquadradas na primeira categoria as línguas de cultura sustentadas por algum Estado nacional ou faladas por grupos humanos minoritários em sua vida cotidiana e artística, sendo passadas hereditariamente, enquanto na segunda categoria se encaixam as línguas elaboradas conscientemente por uma ou várias pessoas para determinado fim, com um vocabulário e uma gramática formados segundo critérios mais ou menos fixos e definidos com antecedência.

Algumas observações básicas fazem essas denominações caírem por terra. Uma língua considerada “natural” muitas vezes contém regras e palavras formuladas arbitrariamente por academias ou escritores eminentes que ajudaram a forjar ou modificar variantes dialetais escolhidas para serem línguas nacionais, como o italiano. Esse fato não torna melhor o termo “línguas nacionais”, pois há várias línguas perfeitamente complexas que não dependem nem foram adotadas por nenhum Estado-nação. Enquanto isso, idiomas que tiveram suas bases, diga-se melhor, lançadas por alguém ou uma instituição, mas se desenvolveram autonomamente na comunicação, na música, na mídia, na literatura e no dia a dia de seus falantes, muitas vezes já possuindo até mesmo falantes nativos, como é o caso do esperanto, remotamente poderiam ser chamados de “artificiais”. Para fins provisórios e com todas as suas falhas, parecem melhores, ou menos ruins, as respectivas expressões “língua étnica” e “língua planejada”.

Muitos podem argumentar que o inglês já se presta perfeitamente ao papel de idioma internacional, sem que ninguém se queixe disso, assim como foi no passado o francês e como futuramente poderá ser, por exemplo, o mandarim. É bom lembrar primeiramente que um idioma nunca se torna “internacional” por suas qualidades inatas, mas pela dominação política, militar, econômica ou cultural que seus falantes exercem sobre outros povos. Ademais, várias características do inglês, como suas palavras curtas e, às vezes, muito semelhantes e polissêmicas, a pouca internacionalidade de seus fonemas, as inúmeras locuções e expressões idiomáticas impenetráveis e a ortografia pouco sincronizada com a pronúncia, tornam-no muito sujeito a protagonizar mal-entendidos, equívocos e situações constrangedoras. Se tudo isso pode muitas vezes complicar a vida de quem se relaciona verbalmente ao vivo, maiores e não poucos transtornos causa em radiocomunicações, especialmente em aviões e navios, como expõe magistralmente o suíço Claude Piron (1931-2008) em seu livro O desafio das línguas, uma defesa eloquente da adoção generalizada de uma língua-ponte internacional, nomeadamente o esperanto. Por fim, embora grande parte da ciência e da tecnologia fale inglês, muito poucos habitantes da Terra o sabem com fluência suficiente para que realmente se pudesse supô-lo como compreendido em todos os países (ver nas referências bibliográficas o artigo em esperanto “Ĉiuj ja scias la anglan?” (“Todos sabem mesmo inglês?”), reprodução de um capítulo do livro Lagom finns bara i Sverige (Lagom só existe na Suécia), do linguista sueco Mikael Parkvall).


Os principais projetos de língua internacional

É impossível traçar num espaço tão curto uma história completa dos inúmeros idiomas e linguagens que desde o Renascimento, ou mesmo antes, foram criados para superar tais contrariedades, portanto é melhor começar da parte que mais interessa (boa parte das informações foi colhida do livro Babel & Antibabel, de Paulo Rónai). Após a sucessão de projetos que iam desde conjuntos de sinais, símbolos ou cores até verdadeiros idiomas cujos elementos eram inventados arbitrariamente, consolidaram-se as linguagens verbais que se inspiravam ou retiravam seus elementos das principais línguas étnicas de civilização. A primeira que conheceu alguma difusão significativa foi o volapuque, elaborado em 1879 pelo prelado alemão Johann Martin Schleyer (1831-1912). Porém, a falta de vontade de deixar o idioma seguir uma evolução natural, e não ditatorialmente regulada, e a dessemelhança dos morfemas com os de qualquer outra língua conhecida esgotaram os fulminantes sucessos e paralisaram seu progresso. Para se ter uma ideia, eis aqui frases e palavras como menade bal, püki bal (“uma humanidade, uma língua”), nuf (“telhado”), lel (“ferro”), vamamafel (“termômetro”) e o próprio nome original da língua, volapük, derivado de vol e pük, que remotamente lembram suas fontes inglesas world e speak...

O sucessor natural do volapuque foi o quase contemporâneo esperanto, obra do oftalmologista judeu-polonês Lejzer Ludwik Zamenhof (1859-1917) publicada em 1887, mas finalizada, ao contrário de outros projetos, apenas após longos testes orais, de tradução de obras clássicas da literatura universal e de produção de poemas e outros textos originais. Ligado a um ideal intrínseco de fraternidade internacional inspirado pelo cenário de conflitos étnicos do Império Russo em que viveu Zamenhof, segundo quem a incompreensão linguística era a principal causa de dissensões entre os povos, o esperanto ascendeu rapidamente no início do século XX e sobreviveu às duas guerras mundiais e à perseguição de ditaduras fascistas e comunistas. O próprio nome da língua significa “aquele que tem esperança” ou “aquele que espera”, em referência ao pseudônimo “Doutor Esperanto” com que foi assinado o primeiro manual.

Hoje, a despeito do pouco valor linguístico de alguns de seus elementos, o esperanto deve ser respeitado por ser uma realidade viva de nosso tempo e pela dimensão alcançada por sua literatura, comunidade, congressos, artes e sites. Ao lado de construções facilmente reconhecíveis para falantes de línguas ocidentais, como floro (“flor”), bona (“bom”), satelito (“satélite”) e Mia patro estas bela homo (“Meu pai é uma bela pessoa”), há outra menos óbvias, retiradas do francês (kurbo, “curva”; piedo, “pé”; vojo, “caminho”), do alemão (jaro, “ano”; tago, “dia”; knabo, “garoto”) e do latim (viro, “homem, varão”; apud, “perto de, junto a”; urbo, “cidade”). Existem ainda seis letras acentuadas que, à exceção do raríssimo Ŭ, não existem em outros idiomas (Ĉ, Ĝ, Ĥ, Ĵ e Ŝ), e algumas combinações de letras nem sempre tão universais, como SCeno (pron. “stsêno”), KVartalo (pron. “cvartálo”), eKSPLuati (pron. “ecspluáti”), aKCento (pron. “actsênto”), filoJN (pron. “fíloin”) e buDĜeto (pron. “bud-djêto”).

As insatisfações com certas características do esperanto e a resistência da maioria dos falantes a submetê-lo a uma reforma levou Louis Chevreaux, o Marquês de Beaufront (1855-1935), chefe do esperantismo na França, a defender, em 1907, perante uma Delegação para a Adoção de uma Língua Internacional constituída em Paris, não o idioma de Zamenhof, mas uma versão reformada chamada de ido (“descendente”, em esperanto). Ela adotava radicais, afixos e terminações considerados mais internacionais e suprimia as letras acentuadas, a marca do acusativo (a letra N final) e a concordância do adjetivo com o substantivo. Exemplos de sua maior transparência, apesar de manter vários traços do esperanto, são as palavras: patro (“pai”), matro (“mãe”) e genitori (“os pais”), em esperanto, respectivamente, patro, patrino e gepatroj; o substantivo linguo (“língua”, em esperanto lingvo), os adjetivos internaciona (“internacional”, em esperanto internacia) e mala (“mau”, em esperanto malbona) e o verbo komprar (“comprar”, em esperanto aĉeti). Porém, não conseguiu suplantar seu predecessor e hoje possui uma difusão insignificante, apesar de contar com alguma atividade na internet e de ter, em seu início, atraído a adesão de alguns linguistas de renome, como Otto Jespersen (1860-1943).

Dentro do universo das chamadas línguas internacionais a posteriori, ou seja, que extraíam seus elementos de línguas étnicas contemporâneas, começava progressivamente a predominar o princípio de que elas deveriam favorecer, antes de tudo, a compreensão imediata a quem não as tivesse aprendido de antemão, o que era chamado de “naturalidade” ou “naturalismo”, em detrimento do chamado “esquematismo” de projetos como o esperanto e o volapuque. Nesse espírito, o estoniano Edgar de Wahl (1867-1948), oficial da Marinha russa, lançou o Occidental em 1922, que atraiu bastante atenção nos primeiros tempos, mas nunca chegou a ter uma comunidade forte, ampla e difusa de usuários e propagandistas. Entre suas palavras mais ou menos internacionais se encontram líber (“livre”), position (“posição”), problema (“problema”), lingue (“língua”) e noi (“nós”), além dos menos reconhecíveis, ao menos para brasileiros comuns, chascun (“cada um”), ples (“por favor”), li (artigo definido), vers (“em direção a”) e buttre (“manteiga”).

O projeto significativo mais recente é a interlíngua, fruto de um intenso trabalho de pesquisa conduzido entre 1924 e 1951 por especialistas reunidos na norte-americana IALA (sigla em inglês para Associação para a Adoção de uma Língua Internacional). Levando ao extremo o ideal de compreensão imediata e visando menos à regularidade gramatical do que o Occidental, teve editados, ao final dos trabalhos, um dicionário interlíngua-inglês e uma gramática em inglês, por obra principal do alemão naturalizado norte-americano Alexander Gode (1906-1970) e do norte-americano Hugh Blair (1909-1967). É considerada sua característica principal a compreensibilidade praticamente perfeita a falantes de idiomas ocidentais, especialmente os românicos, por ter como fonte elementos que aparecem ao menos em duas ou três das principais línguas de cultura do mundo ocidentalizado: o inglês, o francês, o italiano e, considerados em conjunto, o espanhol e o português. Também são utilizados abundantes radicais latinos e gregos de uso internacional, e são aceitas ainda palavras eslavas, germânicas ou de outras origens que tenham se difundido mundialmente. A frase Io pote dicer multe cosas super le mundo in iste lingua dá uma mostra de sua utilidade, já comprovada no passado pelo uso nos ginásios suecos como introdução ao estudo de línguas e em resumos de revistas médicas internacionais, mas a comunidade de falantes, liderada pela Union Mundial pro Interlingua (UMI), permanece pequena, dispersa e com quase nenhum reconhecimento político.


Existe uma solução para o problema da língua internacional?

É voluntária a restrição apenas a esses projetos, os que alcançaram relativa visibilidade e solidez por muito ou pouco tempo, para agora se passar à questão da possibilidade de existir uma língua realmente universal. Do ponto de vista político e econômico, pouco provavelmente os movimentos que defendem os diversos projetos conseguirão a adesão das instituições nacionais e internacionais oficiais. Estas são movidas por poderosos interesses ocultos que praticamente impõem os idiomas dos principais países, pouco interessados em trocar sua prepotência cultural e a comodidade dos tradutores por um instrumento de comunicação neutro e apartidário. Quem conhece bem a geopolítica e história de hoje entende na hora por que as seis línguas oficiais da ONU são, atualmente, o inglês, o francês, o espanhol, o árabe, o russo e o mandarim.

Quanto às características internas de cada projeto, uma verdadeira internacionalidade parece impossível ou, na melhor das hipóteses, um tanto artificial. Quis o bom senso dos principais genitores do esperanto e da interlíngua, por exemplo, que eles se valessem principalmente dos idiomas ocidentais mais difundidos, como o inglês e o francês, ou que deram maior contribuição lexical a outros, como o latim e o grego antigo. Quem vai um pouco além do mundo europeizado nota como essa herança é praticamente ausente em grandes línguas de civilização, como o árabe, os vários dialetos chineses, o híndi, o japonês e outros, ou marca presença numa forma tão modificada que seus falantes reconhecem apenas com muita dificuldade a matriz originária. Poderia se argumentar que justamente o fato de idiomas como o inglês, o espanhol e o francês (que, por extensão, também carregam fortes traços greco-latinos) serem os mais falados como não maternos justifica sua escolha como fontes principais. Mas ainda assim deve-se verificar se tal conhecimento não é um privilégio de elites educadas e globalizadas.

A contribuição equitativa de cada língua do mundo, ou de todas as principais ou mais faladas, ou de todas as famílias e ramos linguísticos, apenas criaria uma mixórdia idiomática sem valor cultural, e ao mesmo tempo em que democraticamente não agradasse a ninguém, tiranicamente desagradaria a todos. O esperanto não deixa de ser um Frankenstein desse tipo, apesar de não ser exatamente um exemplo de abrangência mundial, mas as colocações puramente racionais feitas acima devem ceder em grande parte à realidade objetiva do idioma de Zamenhof, qual seja: sua difusão numa escala considerável para um projeto do tipo, sua riqueza literária e intelectual, que prova a plena aplicabilidade em todas as áreas do conhecimento e da arte, e sua calorosa aceitação mesmo entre povos não europeus, tais como os árabes, os indianos, os japoneses e os chineses. Se eles não o enxergam como “língua difícil” ou “instrumento estrangeiro de opressão”, cabe ainda verificar se é por causa de seus traços internos ou, como muitos defendem, por causa da pregação do ideal de paz e fraternidade universais que geralmente acompanham seu ensino.

Apesar disso, a discussão ainda está longe de terminar, e é provável que, considerada a relativa juventude da disciplina interlinguística, surjam ainda novos projetos de idiomas internacionais ao lado dos tradicionais, como os que se contentam com a união interna de certos ramos linguísticos, como os incipientes Folkspraak (germânicas), Slovianski (eslavas) e Romanova (românicas); ou que também se proponha, por mais que pareça injusto, uma ou outra língua étnica, em sua inteireza ou reformada, como já se buscou com o Basic English, ou até mesmo deformada, como o chamado BSE (badly spoken English, ou “inglês mal-falado”) da União Europeia (ver artigo de Martin Bohne nas referências bibliográficas) e o spanglish, fusão imigrante do espanhol com o inglês. Muito se há de fazer e escrever, enquanto a diversidade de línguas for mais um problema do que uma sonata agradável, e enquanto rios de dinheiro forem gastos com interpretação e tradução de documentos em grandes organismos regionais ou mundiais, quantias milionárias que bem poderiam ser destinadas, se realmente forem, a fins mais nobres. É claro que talvez o estímulo ao poliglotismo ilimitado possa ser uma das soluções, mas o que quer que aconteça, se um dia definhasse a carreira de tradutor e intérprete (mas não, obviamente, a de professor de idiomas), não seria o fim do mundo: ninguém lamentou o sumiço de telegrafistas, acendedores de lampiões e, em algum grau, de motoristas de bonde.


Tentando concluir

Nem todas as mudanças são para melhor, por mais que se baseiem nos mais recentes avanços da ciência e da tecnologia. Prova disso são as técnicas de extermínio humano em massa, os miniaparelhos eletrônicos descartáveis impostos pela lógica do consumo em detrimento do meio ambiente e as redes sociais na internet, que tornaram as relações humanas mais rápidas e amplas, mas também, como ressalta o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, mais líquidas e frágeis. De fato, conectar-se com o mundo todo não se mostrou um remédio, mas antes um agravamento da solidão espiritual típica das sociedades urbanizadas. Paulo Rónai, em Babel & Antibabel, descreve bem o sentimento de estar em família com os falantes da mesma língua materna, e de descoberta de novos segredos antes ocultos com o aprendizado de uma nova. A supressão das barreiras linguísticas pode ser realmente a maior herança que deixaremos a nossos descendentes, mas nenhuma mudança será tão revolucionária quanto a que restaurar na juventude o respeito ao clássico, o amor ao duradouro, a prática da sinceridade e a propensão ao esforço desinteressado em detrimento de facilidades inebriantes e ilusórias.


Bragança Paulista, 9-10 de fevereiro de 2012


Referências bibliográficas

BOHNE, Martin. “UE busca uma língua comum: ‘inglês mal falado’ em vez de esperanto”. Disponível aqui. Acesso em: 26 fev. 2012.

PARKVALL, Mikael. “Ĉiuj ja scias la anglan?” Disponível aqui. Acesso em: 25 fev. 2012.

PIRON, Claude. O desafio das línguas: da má gestão ao bom senso. Tradução de Ismael Mattos Andrade Ávila. Campinas, SP: Pontes; Brasília, DF: BEL, 2002.

RÓNAI, Paulo. Babel & Antibabel: ou O problema das línguas universais. São Paulo: Perspectiva, 1970.



domingo, 12 de junho de 2016

Um homem verbal (poema meu, 2003)


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Por volta de julho de 2010, faxinando papéis velhos no meu quarto, achei esta peça, que escrevi talvez no segundo semestre de 2003, inspirada na nomenclatura gramatical dos verbos em português. Logo publiquei no meu antigo blog “Pensadores Libertos”, com algumas alterações, sem mudar a essência original. Quando apaguei o blog, salvei as postagens, e em junho de 2012 decidi republicar o poema, com novos ajustes, no blog “Materialismo – Filosofia”, aberto naquele ano. Transferindo agora escritos pessoais meus de lá para este blog próprio de traduções e originais, apresento de novo a versão de 2012.

O poema é muito interessante, pois me inspirei a escrever depois de uma aula de teclado na minha cidade, quando estava no primeiro ano do Ensino Médio. Esperando me buscarem, eu estava lendo um livrinho didático daqueles que a Editora Escala publicava em papel-jornal, sobre nosso sistema verbal, e me absorvi na complexa nomenclatura! Isso tem muito a ver com eu ainda estar pensando em me tornar músico, mas bem naqueles dias eu ter decidido largar o teclado e ficar apenas nas letras e humanidades, virada decisiva que me puxou da música para as línguas e história, como vocês veem hoje! Por isso acho tão marcante o fato aparentemente banal da leitura na rua... Aproveitem o poema e, se possível, mandem opiniões!

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Sou um pretérito imperfeito.
Meu presente é simples;
o futuro, condicional,
eu queria que fosse o indicativo
de um tempo mais-que-perfeito.

O governo é imperativo,
mas subjuntivos possuem as armas
que apassivam um povo negativo
já sem dom reflexivo nem voz
neste sistema defectivo.

Preciso me tornar um particípio afirmativo,
mais um verbo regular não quero ser.
Talvez queiram um radical abundante
conjugando os gerúndios mais infinitivos,
um auxiliar na terminação
de uma flexão perfeita.



quarta-feira, 8 de junho de 2016

Notação arquivística na língua russa


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Muitos brasileiros devem ter lido livros sobre comunismo, a maioria de autores estrangeiros, ou mesmo textos russos em que os documentos de arquivo são citados com uma notação bastante peculiar. Buscando alguma explicação, achei há muitos meses este texto didático publicado por uma seção educativa do portal dos arquivos russos, a qual tem também outras coisas interessantes sobre diversos temas da história nacional. O texto se chama “O que é notação arquivística e como se guardam documentos em arquivos?” (em russo, “Chto takoie arkhivny shifr i kak dokumenty khraniatsia v arkhivakh?”; leia-o aqui), e há muito que salvei a página nos favoritos e queria traduzir. Fiz algumas adaptações para o leitor lusófono, incluindo as equivalências da terminologia arquivística que pesquisei na rede e deixando as palavras em russo quando julgasse útil.

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Junto aos títulos dos documentos em nosso site você vê numerações estranhas mais ou menos assim:

ГА РФ. Ф. 111. Оп. 5. Д. 669. Л. 342, 347–347 об., 374.
(GA RF. F. 111. Op. 5. D. 669. L. 342, 347–347 ob., 374.)

O que querem dizer, e por que escrevemos assim?

Essa é a notação arquivística e serve de endereço exato ao documento. Decifrando as siglas acima, temos:

Государственный архив Российской Федерации (Gosudarstvenny arkhiv Rossiiskoi Federatsii). Фонд (Fond) 111. Опись (Opis) 5. Дело (Delo) 669. Листы (Listy) 342, 347–347 оборот (oborot), 374.

Em português: Arquivo Público da Federação Russa. Fundo 111. Série 5. Dossiê 669. Folhas 342, 347–347 verso, 374.

Ainda não entendeu? Vamos explicar.

Pense num edifício enorme, em que há dezenas de grandes depósitos lotados de prateleiras com documentos, geralmente centenas de milhares de pastas e milhões de folhas. Claro que tudo deve ser guardado em sua integridade, mas ainda é preciso se orientar em seu manejo, saber onde está o quê e poder achar logo o que se precisa. Como elaborar um sistema para classificar documentos que permita encontrá-los facilmente, que faça tudo o que vai entrando nos arquivos (por exemplo, os dossiês de uma instituição qualquer nos próximos anos) juntar-se sem problemas ao que já estava e que não deixe desunidos os documentos relacionados entre si? Tendo se ocupado muito dessa questão no fim do século 19 e no início do 20, os teóricos da arquivologia concluíram que a melhor solução era manter os arquivos segundo o chamado princípio da proveniência (принципом единства происхождения). Na realidade, é um sistema bem simples e lógico: os arquivos se conservam tais como se formaram, ou seja, de instituições, pessoas ou famílias que são consideradas para eles seu órgão produtor (фондообразователь).

Ao ler isso, certamente você já percebeu que a palavra “arquivo” tem duas acepções: 1) instituição onde se conservam os arquivos; 2) conjunto documental de um órgão produtor: o arquivo de um escritor, poeta ou cientista, o arquivo de uma família nobre, o arquivo de uma fábrica, ministério ou órgão do governo. Para distinguir os dois casos, os arquivistas usam o termo fundo, que é justamente o arquivo na segunda acepção, relativo a uma pessoa ou instituição e guardado num arquivo público. Cada fundo recebe seu próprio número.

Um fundo pode ser pequeno, com apenas algumas pastas (dossiês), ou talvez muito grande, com milhares ou dezenas de milhares de dossiês. Estes são documentos guardados numa pasta ou envelope especial, sob um título comum com o número da série do fundo. As folhas de cada dossiê sempre são numeradas, mas à diferença das páginas de livros, a convenção dos arquivos é numerar exatamente a folha. Num livro, cada página é numerada, tanto na frente quanto no verso, e assim a folha do livro (folha de papel como objeto) contém dois números, um em cada página. Já nos arquivos, apenas o lado frontal é numerado (um número para cada folha de papel como objeto), e se ao citar for preciso fazer referência a um texto contido no verso da folha, é assim que se escreve, tal como no nosso exemplo: Лист (Folha) 347 оборот (verso) (Л. 347 об. – L. 347 ob.).

Resta explicar o que é a série: é a lista ordenada de dossiês do fundo, com o número e o título deles. E agora, pense numa grande instituição que todo ano (ou mesmo uma vez em alguns anos), como órgão produtor, cede a um arquivo público uma nova porção de seus documentos. Esse fundo, pois, está sempre aumentando, e então fazem assim: os documentos entregues uma vez vão formar uma série, que recebe um número, e cada documento é numerado pela ordem (frequentemente são agrupados por anos ou partes da estrutura institucional: materiais do secretariado, da seção de quadros ou de outras seções). Quando chega uma nova leva de documentos, eles vão formar uma nova série, a que se atribui o número seguinte (por exemplo, “série 2”) e cujos dossiês novamente são numerados pela ordem, a partir do 1. Além disso, ambas as séries, e todas as seguintes, vão se relacionar a esse mesmo fundo. E assim temos nossa notação: nome da instituição arquivística (ГА РФ, РЦХИДНИ, РГАСПИ), número do fundo (Ф.), número da série (Оп.), número do dossiê (Д.) e números das folhas (Л.).




domingo, 5 de junho de 2016

S. Courtois e o “relatório Khruschov”


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Historiador que escreveu o prefácio e coordenou O livro negro do comunismo (1997), cofundador e diretor da revista francesa Communisme desde 1982, diretor de pesquisa no CNRS (Centro Nacional de Pesquisa Científica) da França e professor do Instituto Católico de Estudos Superiores (ICES), Stéphane Courtois comenta o famoso “relatório secreto” lido por Nikita Khruschov no 20.º Congresso do Partido Comunista da União Soviética (PCUS). Foi na sessão de abertura do seminário “Héritage et mémoire du communisme en Europe” (Herança e memória do comunismo na Europa), intitulada “Le lourd héritage totalitaire du communisme dans l’espace européen” (A pesada herança totalitária do comunismo no espaço europeu) e organizada no dia 4 de março de 2009 na Fondation pour l’innovation politique (Fundação para a Inovação Política).

Courtois nasceu em 1947 e entre as décadas de 1960 e 1970 militou num grupo maoísta antes de se formar em direito e história e defender tese sob a orientação de Annie Kriegel, acadêmica famosa por sua posição anticomunista. Tendo estado várias vezes nos arquivos de Moscou entre 1992 e 1994, ficou célebre com seus trabalhos extremamente críticos aos regimes comunistas, notadamente O livro negro do comunismo, tributários das reflexões de Kriegel, François Furet e Ernst Nolte. Pró-americano assumido, sempre em polêmicas sobre totalitarismo, liberalismo, comunismo na França e comparações entre bolchevismo e nazismo, escreveu ou dirigiu também, entre outras obras em várias línguas, Eugen Fried, le grand secret du PCF, Dictionnaire du communisme e Le Bolchevisme à la française.

Eu baixei o vídeo sem legendas do canal YouTube da própria Fondation pour l’innovation politique, então traduzi a fala e legendei. As informações sobre Stéphane Courtois são da Wikipédia em francês. Mais abaixo do vídeo legendado está a fala de Courtois transcrita por mim, para os estudantes de francês, evitando onde possível as reticências e as expressões mais orais:


On a été là, entre 44-45 (quarante-quatre, quarante-cinq) et 53-56 (cinquante-trois, cinquante-six), dans des périodes de « totalitarisme de haute intensité » : véritablement les régimes ont tenté d’imposer complètement leur projet utopique, la collectivisation, l’industrialisation lourde, accélérée, forcée, l’idéologie obligatoire etc., avec la terreur à la clé. Et puis, après 56, on a assisté à ce que j’appelle un « totalitarisme de basse intensité », c’est-à-dire qui est moins violent, qui va moins loin dans l’application de ses principes, mais qui néanmoins reste du totalitarisme, et surtout est géré par les mêmes personnes. Il faut jamais oublier ça.

On nous parle de déstalinisation, j’en vais dire : « C’est une vaste rigolade ». Vous prenez l’URSS : quelle déstalinisation ? En portant la tête du Parti à M. (monsieur) Khrouchtchev, qui est couvert de sang, maintenant que nous avons beaucoup d’archives sur Khrouchtchev, il y a une très bonne biographie sur Khrouchtchev par l’Américain Taubmann. Cet homme est couvert de sang des pieds à la tête. Il faut quand même rappeler que Khrouchtchev, c’est l’homme qui a inauguré la Grande Terreur à Moscou, qui a tellement bien réussi que Staline en a fait son chouchou, il l’a envoyé prendre en main l’Ukraine, où ça se passait mal, il est arrivé début 38 (trente-huit) en Ukraine et là... Bon, là la Grande Terreur a commencé à faire des dégâts, et puis... La Pologne orientale, quand elle a été annexée, a été annexée à l’Ukraine. Qui s’est occupé de cette annexion ? M. Khrouchtchev. Qui s’est occupé de faire déporter plus de 60 000 (soixante mille) personnes, qui étaient les familles des officiers polonais ? M. Khrouchtchev. Les femmes et les enfants essentiellement.

Donc, quand on dit... Au même moment quand M. Khrouchtchev a donc pris la direction du Parti et a fait ce fameux XXe Congrès avec ce fameux « rapport secret » dénonçant Staline, qui était à la tribune à sa droite ? Le nouveau chef du KGB, M. Ivan Sérov, un homme couvert de sang des pieds à la tête, responsable de la plus grande opération de déportation de l’histoire mondiale, je vous le rappelle quand même : en cinq jours de février 1944 (mille neuf cent quarante-quatre), 520 000 (cinq cent vingt mille) Tchétchènes déportés. On a mobilisé pour ça 100 000 (cent mille) hommes des troupes du NKVD, plus tous les trains, les camions etc., en pleine guerre. Bon, donc voilà, lors on me disent « déstalinisation », je dis : « Soyons sérieux cinq minutes ! »

Je voudrais rappeler cette remarque de Khrouchtchev lors de son « rapport secret » de 56 (cinquante-six). Un moment donné, l’un des seuls moments où il aborde les crimes de masse, il parle de l’Ukraine, sans rappeler qu’il en était le patron d’ailleurs, et voilà ce qu’il dit : « Staline voulait déporter tous les Ukrainiens, mais les Ukrainiens », je le cite, « n’evitèrent ce sort que parce qu’ils étaient trop nombreux. » Ah oui ? Bon, là il y a un problème d’échelle : quand il faut déporter 500 000 (cinq cent mille) Tchétchènes, ça va, mais quand on a 35 (trente-cinq) millions de Polonais, c’est plus compliqué, ou 38 (trente-huit) millions d’Ukrainiens, c’est pareil. Donc: « Ils étaient trop nombreux et qu’il n’y avait pas d’endroit où les déporter. » Ah, oui, c’est vrai, il faut s’y penser à ce petit détail, où va-t-on les transporter... Et il conclut: « Sinon ils auraient été déportés eux aussi... ».

Maintenant que nous connaissons en détail l’opération du XXe Congrès, que nous savons que le fameux « rapport secret » n’est nullement comme on l’a longtemps cru, y compris des gens aussi compétents qu’Annie Kriegel, que c’était un « moment de lucidité » de Khrouchtchev, un « moment de sincérité », où à l’encontre de tout le Bureau politique il avait enfin dit les choses. Pas du tout ! Nous apprenons maintenant par les documents : c’est une opération soigneusement préparée, avec une commission du Bureau politique qui a préparé le travail, le Bureau politique se réunit, nous avons même le sténograme, nous l’avons publié dans la revue Communisme il y a déjà trois ou quatre ans... et donc voilà, et où les vieux Molotov, Vorochilov, Kaganovitch, les vieux staliniens, disent : « Oh là là, faut toucher rien, parce qu’on sait pas où on va si on ouvre la boîte de Pandore ! ». Où les jeunes, qui sont entrés au Bureau politique récemment et qui viennent de lire le rapport de la commission qui donne en détail les chiffres de la répression, sont effarés, en disant : « Mais c’est terrifiant, mais comment est-ce qu’on a pu faire une chose pareille ? » etc. Et Khrouchtchev, qui dit: « Mais de toute manière on n’était pas responsable, c’est Staline qui portera tout. »

Et la conclusion, c’est : amnésie et amnistie. C’est ça, l’opération est très claire, amnésie et amnistie : amnistie pour ceux qui sont responsables et amnésie pour la société. On n’a plus à parler de tout ça, c’est fini. On tourne la page, n’en parlons plus. Et je constate qu’ici il y a beaucoup de gens dans la gauche, dans l’extrême-gauche, mais aussi dans la gauche, malheureusement, qui sont sur cette position : n’en parlons plus, tournons la page. Et malheureusement ça s’est confirmé lors d’une fameuse séance du Conseil de l’Europe le 26 (vingt-six) janvier 2006 (deux mille six). Le Conseil de l’Europe n’a pas de pouvoir législatif, c’était simplement une recommendation morale, mais même ça on n’a pas pu le voter à la majorité qualifiée de deux tiers pour une recommendation, c’est-à-dire de faire porter l’accent, dans l’Europe nouvelle et réunifiée, sur la dimension criminelle du communisme. Ça n’a pas été possible. Évidemment toute l’extrême-gauche, tous les communistes ont voté contre, mais malheureusement les socialistes aussi.

Ça vous montre, je reviens à ce que disait Dominique Reynié au départ, ça vous montre le degré de blocage dans lequel nous sommes et le fait que nous sommes dans une véritable bataille, et c’est d’ailleurs pour ça que nous faisons, nous organisons ce séminaire seule cette année. Je m’excuse, j’ai été un peu long, mais c’est compliqué, c’est une question qui me passionne, mais qui est fondamentale pour l’Europe, parce que l’Europe est en train de se réunifier, elle se réunifie sur le plan politique, sur le plan juridique, administratif, sur le plan culturel bien sûr, sur le plan économique, mais il y a un plan sur lequel elle va avoir les plus grandes difficultés à se réunifier, c’est sur le plan de la mémoire et de l’histoire.


quarta-feira, 1 de junho de 2016

Canção sobre a Pátria (Meu vasto país)


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Famosíssima canção patriótica e popular russa, dos tempos soviéticos, que postei pelo Dia da Vitória na Segunda Guerra Mundial. É praticamente um Eu te amo, meu Brasil regado a vodca. Geralmente é conhecida pela primeira estrofe “Широка страна моя родная” (Shiroka strana moia rodnaia), É vasto meu país natal, mas também recebeu o nome “Песня о Родине” (Pesnia o Rodine), Canção sobre a Pátria. Foi composta em 1936 por Vasili Lebedev-Kumach (letra) e Isaak Dunaievski (melodia).

Não preciso falar sobre os dois autores, que já descrevi em outras postagens, especialmente Lebedev-Kumach, um dos mais conhecidos poetas e compositores da Era Stalin, praticamente seu trovador. Falo apenas sobre a canção, que foi composta para o filme Tsirk (Circo) e demorou meio ano para ficar pronta, tempo no qual eles compuseram outras músicas que ficaram igualmente célebres. Durante a Segunda Guerra, quando Churchill declarou apoio à URSS, a rádio BBC tocou essa canção no lugar da Internacional, que era então o hino soviético, e nas décadas de 1990 e 2000, sempre que voltava à baila a questão do hino da Rússia, ela também era proposta para essa função.

Renat Islamovich Ibragimov (n. 1947) é um cantor, ator, compositor, produtor, diretor de cinema e dirigente teatral de origem tártara, educado na música desde criança, tem títulos de Artista Popular por várias regiões da URSS e outros prêmios. Também atuou em óperas e gravou vários álbuns desde 1967. O vídeo sem legendas foi postado em 2008, então o show deve ser dessa época. Seguem as legendas com texto encurtado, o texto em russo e a tradução não encurtada:


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Припев:
Шиpока стpана моя pодная,
Много в ней лесов, полей и pек.
Я дpугой такой стpаны не знаю,
Где так вольно дышит человек.
Я дpугой такой стpаны не знаю,
Где так вольно дышит человек.

1. От Москвы до самых, до окpаин,
С южных гоp до севеpных моpей,
Человек пpоходит как хозяин
Hеобъятной Pодины своей.
Всюду жизнь пpивольна и шиpока,
Словно Волга полная, течёт.
Молодым везде у нас доpога,
Стаpикам везде у нас почёт.

(Припев)

2. Hад стpаной весенний ветеp веет,
С каждым днём всё pадостнее жить,
И никто на свете не умеет
Лучше нас смеяться и любить.
Hо суpово бpови мы насупим
Если вpаг захочет нас сломать,
Как невесту, Pодину мы любим,
Беpежём, как ласковую мать.

(Припев)

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Refrão:
É vasto meu país natal,
Cheio de matas, campos e rios.
Não sei de outro país assim,
Onde nosso respirar é tão livre.
Não sei de outro país assim,
Onde nosso respirar é tão livre.

1. De Moscou aos mais longes confins,
Dos montes do sul aos mares do norte,
A pessoa anda como dona
De sua enorme Pátria.
Por tudo a vida é ampla e variada,
E flui, como o Volga cheio.
Aqui os jovens sempre têm caminho,
Aqui os velhos sempre têm respeito.

(Refrão)

2. Vento de primavera sopra pelo país,
A cada dia a vida fica mais alegre,
E ninguém no mundo sabe
Sorrir e amar melhor que nós.
Mas vamos fazer cara bem feia
Se o inimigo quiser nos esmagar,
Amamos a Pátria como a uma noiva
E guardamos como a uma terna mãe.

(Refrão)