Mesmo mantendo a discrição e tentando passar uma imagem de sério e laborioso, o Presidente de Todas as Rússias, Vladimir Putin, volta e meia acaba sendo alvo de filmagens engraçadas e de zoação por parte da imprensa local e externa. Quem se põe a ocupar um cargo público nunca está blindado das ironias e dos olhares maldosos do grande público. No caso dos eslavos, os memes e outros vídeos humorísticos tomam um tempero especial, pois seu modo de pensar e agir é bem diferente do nosso, por isso causam um choque cultural com o jeito mais impulsivo e as situações inusitadas.
Apresento uma sequência com Putin, seus próximos e outras figuras do antigo espaço soviético:
No passado, os memes com episódios cômicos de Vladimir Putin por vezes chegavam, por vezes não chegavam ao Ocidente, em especial o Brasil, seja pelo desconhecimento da língua, seja pelo desinteresse das mídias oficiais ou independentes. Não raro seu fiel escudeiro, Dmitri Medvedev, ora colocado como presidente, ora como primeiro-ministro, também cai nas brincadeiras. Quando legendei uma das canções chamadas Hino a Putin, me deparei com o bordão “Путин ест детей” (Putin come crianças), mas eu nunca soube do que se tratava. Só há alguns meses pesquisei e descobri.
Em 2006, conversando com algumas crianças ao redor do Kremlin, Putin fixa sua atenção em Nikita, um loirinho de uns 4 ou 5 anos de idade (em outras fontes, dizem até 6), que ele segura antes que se vá com os responsáveis. O presidente rapidamente pergunta seu nome, e de repente levanta-lhe a camiseta e lhe dá um beijo na barriga. Putin então se apressa em se retirar junto com os assessores, acenando às câmeras e cumprimentando os presentes. Sempre que foi questionado a respeito do episódio, ele nunca soube explicar por que fez esse gesto, e isso deu ensejo a acusações de pedofilia nas redes sociais e a um dos bordões preferidos dos opositores, “Putin come crianças”.
No relacionamento com crianças em público, Putin procura passar uma imagem paterna, carinhosa e consoladora, nem sempre exitosa, como podemos ver nesta seleção que eu fiz. Eu cacei as filmagens específicas com Nikita (que depois ficou conhecido como “Umbiguita”, hahaha) e acabei achando outras coisas relacionadas que achei interessante colocar junto. Embora nem todas as situações sejam muito estrambólicas, vemos um Vladimir que gosta de agradar e distribuir beijinhos! Não pesquisei muito sobre cada reportagem específica, passo apenas os links dos vídeos originais, na ordem em que aparecem, que recortei no quadro ou na duração:
http://youtu.be/VJlsmQPAxNk
http://youtu.be/-tj_m8vgH04
http://youtu.be/Cb4B4h4yS4I
http://youtu.be/HxC-mJwBwbo
http://youtu.be/Md1f2N8VqkA
http://youtu.be/R1hqi4_IGtA
Montagem cômica ainda a respeito do tema “Putin come crianças”, misturando trechos de uma entrevista sua, talvez a coletiva de final de ano. É um vídeo bem bobinho, mas ainda assim resolvi repostar com tradução e legendas, rs.
Quem são afinal as (belas?) descendentes de Vladimir Putin que ele teve com a ex-esposa Liudmila? É raro eu repostar vídeos prontos de outros canais, mas neste caso me dei uma exceção. O YouTube “foto albom”, de onde tirei esta montagem, tem muitos outros vídeos com teor e formato parecidos. Segundo o admin, as informações que ele dá em russo na descrição foram tiradas na internet: eu as traduzi abaixo.
A vida privada de Putin e de sua família na Rússia é um tabu pra imprensa. Ninguém conhece cara a cara suas filhas, e na rua elas sempre andam escoltadas. A família Putin gerou duas meninas: Maria Pútina, que nasceu em Leningrado em 28/4/1985, e Iekaterina Pútina, que nasceu em Dresden (então Alemanha Oriental) em 31/8/1986. Seus nomes homenageiam as avós Maria Ivanovna Pútina e Iekaterina Tikhonovna Shkrebneva. Estudaram alemão a fundo no ginásio Peterschule de São Petersburgo, cursaram 2 anos na escola Haas junto à embaixada da Alemanha em Moscou e passaram em definitivo ao homeschooling em 2000, por razões de segurança.
Adultas, fazem academia, praticam wushu (uma luta chinesa) e se dedicam aos idiomas: ambas falam fluentemente inglês, alemão e francês, e Iekaterina também sabe coreano. Em 2003 estavam em universidades de São Petersburgo, Maria estudando engenharia agronômica e Iekaterina a história do Extremo Oriente, com mestrado em Estudos Orientais. Hoje vivem no exterior, sob o cuidado que Putin tem em tirar a atenção da mídia sobre a família, o que levou ao pouco conhecimento público sobre suas filhas. Elas vivem fora dos holofotes e não expõem a vida privada, tanto que até suas feições são segredo de Estado: quem busca “Маша и Катя Путины фото” (Masha e Katia Putina foto) na internet, encontra até mesmo fotos de mulheres totalmente diferentes entre si.
De fato, muitíssimo poucas pessoas sabem qual a real aparência adulta das filhas de Putin. Nas próprias redes aparecem de tempos em tempos incontáveis relatos contraditórios sobre estarem casadas ou não e em que países estariam vivendo. Exceto pelos retratos de família, quem procura os nomes de Maria Pútina e Iekaterina Pútina nos buscadores não tem imagens com 100% de comprovação: elas nunca deram entrevistas a ninguém, e na imprensa russa nunca apareceram fotos suas como adultas.
Este vídeo se refere à mesma situação com que já fiz montagem no ano passado, mas o achei bem depois. O presidente da Chechênia, Ramzan Kadyrov, dança uma canção inteira composta em sua própria homenagem, com toda a habilidade adquirida em sua vida. A música se chama “Бенойн кӏант” (Benoyn kant) e é cantada em checheno pela artista Makka Mezhieva, pelo que pude identificar na declaração de direitos autorais. Baixei o vídeo sem alterações direto deste canal alemão que apresenta as culturas da Rússia.
Infelizmente não achei a tradução do título nem da letra. A dança típica do Cáucaso, incluindo a Geórgia, é a lezginka, como se pode ver no ritmo da canção. As roupas também são muito comuns no folclore da região, e são usadas também pelos georgianos e pelos cossacos da Rússia antiga que viviam nessas montanhas. Pelas cores e pela animação dos convidados, é uma cultura muito vívida e florida. Como toda nação influenciada pela religião muçulmana, vemos como os homens permanecem todos à frente incentivando o anfitrião (Kadyrov) com palmas, enquanto as mulheres se sentam numa parte separada.
Este vídeo, na época, viralizou entre os russos, mas não sei se chegou a haver algum upload traduzido e vindo do Brasil. Trata-se do então presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, dançando femininamente num evento social em abril de 2011, ao som da canção pop American Boy, cantada em russo pelo grupo Kombinatsia. A banda fez sucesso nos anos 90, quando Dmitri devia ser relativamente jovem, mas vemos que aí ele se solta junto com outro companheiro, que parece ainda mais empolgado do que ele.
Entre os muitos uploads no YouTube, eu baixei o desta página, tendo depois apenas cortado o quadro. Infelizmente, em algumas passagens o movimento mais largo das pernas e dos pés ficou um pouco sumido, então sugiro que também vejam a postagem original. Dmitri Medvedev foi primeiro-ministro de Vladimir Putin nos dois mandatos presidenciais deste, em 2000-2004 e 2004-2008. Em 2008, Medvedev foi eleito presidente e escolheu o próprio Putin como premiê, e por isso muitos supuseram que Medvedev não fosse mais do que um fantoche de Putin. Este, de fato, reformou a constituição e aumentou a duração do mandato pra 6 anos, tendo sido eleito em 2012 e reeleito em 2018, sempre com Medvedev como primeiro-ministro.
Na época da presidência Medvedev, quando ainda não estava muito claro ao Ocidente que Putin estava criando uma estrutura de poder unipessoal em torno de si, ele era considerado mais “moderno” e mais orientado às visões ocidentais. Por isso, o uso da música American Boy também teve uma leitura humorística, em situação na qual jamais se imaginaria encontrar Putin. Vejam ainda ao final, quando a banda finaliza, a viradinha de Medvedev na ponta do pé: mas o que é iffo???
Este outro vídeo memético é aparentemente pouco conhecido no Ocidente: em algum evento cívico da Ucrânia que contava com um show de música, o então primeiro-ministro Viktor Ianukovych recebeu o presidente Vladimir Putin e o premiê Dmitri Medvedev. Ao lado deles, o senhor de cabelo loiro é Leonid Kuchma, então presidente ucraniano. Esse flagra foi feito em 2004, mas não sei exatamente a data e a ocasião, apenas identifiquei que alguém está cantando a música popular Smuglianka-moldavanka (A moldova moreninha).
Demonstrando pouco respeito ou reverência ao evento, Ianukovych está comendo escondido uma espécie de petisco em saco, que não sei se era salgado ou doce. De repente, ele oferece a Medvedev, que prontamente aceita, e depois a Putin, que por sua vez recusa, um tanto sem graça. Podemos notar que, sendo ainda início dos anos 2000, Putin não tinha feito todas as plásticas que deixariam seu rosto mais redondo e seus olhos mais puxados, além de seu cabelo ainda estar com a maior parte do loiro natural. O engraçado da ocasião é que o corrupto Ianukovych sempre foi visto pelos ucranianos como um bonachão comilão, e durante a revolta do Euromaidan em 2014, quando uma multidão invadiu sua residência oficial, ficou clara a vida de luxo que ele levava, enquanto a população estava pobre.
Deposto pelo próprio Parlamento em 22 de fevereiro de 2014, já como presidente, diante do aumento dos protestos populares, Ianukovych sempre foi visto como um aliado submisso da Rússia, dominando até mesmo mais o idioma russo do que o ucraniano. O fato de compartilhar essa “intimidade” com Putin e Medvedev deixa ainda mais caricato esse caráter de submissão. Depois de ter baixado o vídeo original, eu apenas cortei o quadro e aumentei o volume.
Os dançarinos também proliferavam no antigo espaço soviético e de países socialistas: o ex-presidente da Armênia Levon Hakobi Ter-Petrosyan, que tinha sido o primeiro após a dissolução da URSS, está dançando na campanha à reeleição em 2008. Eu baixei deste canal o vídeo, sem ter feito nenhuma mudança.
Ter-Petrosyan nasceu em Aleppo, na Síria, em 1945, de uma família que tinha resistido ao genocídio armênio promovido pelo Império Otomano (turcos) na época da 1.ª Guerra Mundial. No mesmo ano todos se mudaram pra Armênia Soviética, e mais tarde Ter-Petrosyan formou-se em Estudos Orientais, tendo se tornado um pesquisador com frutífera produção sobre história e literatura antigas. Poliglota, ele é fluente em ao menos sete idiomas: armênio, assírio, russo, francês, inglês, alemão e árabe. Foi um destacado líder nacionalista nos últimos anos da URSS, e por isso foi eleito em 1991 por voto popular o primeiro presidente da Armênia independente, e reeleito em 1996.
Sua reeleição foi marcada pela suspeita de fraude, reafirmada por observadores internacionais, e pela repressão a protestos populares que contestavam os resultados, o que, juntos aos problemas econômicos da década, ajudou a dissipar sua popularidade. Ele terminou renunciando em 1998, devido a discórdias com ex-aliados quanto à tentativa de pacificar o conflito da região de Nagorno-Karabakh, um enclave armênio dentro do Azerbaijão que se reconhece como entidade política independente. Segundo o próprio Ter-Petrosyan, seus esforços pra amenizar as tensões estariam dando certo. (Pretendo em breve legendar o discurso de renúncia, a partir de uma tradução em inglês.)
Afastado da vida pública e dos holofotes, ele dedicou um meio-tempo à pesquisa científica, até reaparecer em 2007 num discurso público em Ierevan marcando os 16 anos da independência da Armênia. Fazendo duras críticas ao governo da época, ele anunciou a intenção de disputar as eleições presidenciais de 2008, nas quais, afinal, ele terminou em segundo lugar. Provando do próprio veneno, Ter-Petrosyan contestou o resultado sob novas alegações de fraude, e os protestos de massa que ele convocou também acabaram fortemente reprimidos. Antes filiado ao Movimento Nacional Pan-Armênio, o político fundou em 2008 seu próprio Congresso Nacional Armênio, unificando mais de uma dúzia de partidos e ONGs.
O atual presidente da Armênia é Armen Sarkisyan, sem filiação partidária, eleito em 2018 pela primeira escolha presidencial indireta (feita pela Assembleia Nacional) da história pós-soviética. Eu acredito que essa dança de Levon Ter-Petrosyan tenha sido mesmo em 2008, e o mais interessante foi a edição que privilegiou a bandeira de Israel que era sacudida na ocasião: segundo os padrões conspiracionistas internacionais, o ex-presidente é acusado de favorecer os interesses dos “judeus ricos e globalistas” na Armênia.
A Ucrânia sempre foi um assunto crucial pra Rússia, então decidi incluir aqui também este vídeo. O comediante Volodymyr Zelensky, de 41 anos, foi eleito no fim de abril o novo presidente ucraniano, após uma eleição com mais de 30 candidatos e um segundo turno acirrado, disputado com o atual presidente, Petro Poroshenko. Este terminou perdendo, ficando com pouco mais de 20% dos votos, em clara demonstração de que o povo está insatisfeito com a corrupção, a piora do nível de vida e, razão da guerra civil, os atritos com a Rússia.
A votação de Zelensky foi bem menor no oeste nacionalista e ocidentalizado, mas mesmo assim ele obteve aí a maioria. Já no leste, de maioria russa, ele chegou ao pico de 88%, numa demonstração clara de que essa região abominou o nacionalismo e a russofobia de Poroshenko. Zelensky é totalmente estreante na política e era comediante antes de participar do pleito. Ele interpretava um professor anticorrupção que, pela força das circunstâncias, acabou de repente se tornando presidente da Ucrânia. Com posições societárias bem liberais, Zelensky também é pró-Europa e crítico de Vladimir Putin, mas se mostrou mais disposto a dialogar diretamente com o Kremlin pra resolver os problemas em comum.
Eu mesmo traduzi direto do ucraniano a breve mensagem postada em seu Facebook, e então legendei a partir desta fonte (visualização melhor com o celular na vertical). Seguem o texto original que tirei de outro site e a tradução em português:
Всім привіт, [em russo] ‘всем привет’. Хочу теж вам всім подякувати. Дякую вам, що ви з нами були всі ці чотири місяці. Це відповідальна робота. Робота, яку ви зробили. Це не я, ми разом це зробили. І головне, що ми зробили - ми об’єднали Україну, об’єднали наше життя, об’єднали наш народ. Дякую.
Olá a todos, olá a todos! Quero também agradecer todos vocês. Obrigado por estarmos todos juntos esses quatro meses. Foi um trabalho responsável. Um trabalho que vocês fizeram. Não fui eu, todos juntos fizemos isso. E o principal: o que fizemos foi unir a Ucrânia, unir nossas vidas, unir nosso povo. Obrigado.
Pra fechar, vamos ir um pouco além e dar uma escapadinha até os eslavos do sul. Este meme ficou perdido na videosfera do começo da década, e os poucos uploads brasileiros tiveram muito poucas visualizações. Ano 2000, a apresentadora sérvia Sanja Nikolić, no programa Halo Pink, está lendo alguns números e de repente tem um tipo de crise que a faz desmaiar. Não satisfeita, cai de um jeito que acaba levando junto parte do cenário, que pra piorar desaba bem na cabeça dela deitada. O apresentador principal até tenta ajudar, mas talvez de tão desnorteado ele tem um bloqueio e vai sentar de volta.
Que cena dramática! E eu ainda fiz umas edições pra ela ficar mais aproveitável ainda. O programa é do canal sérvio de TV paga Pink, que está sediado em Belgrado. Na época, o país ainda se chamava “Iugoslávia”, e após a desintegração da antiga unidade comunista tinham restado apenas os territórios da Sérvia e de Montenegro. Em 2003 o país se renomeou “Sérvia e Montenegro”, até os dois países enfim se separarem em 2006.
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