domingo, 23 de fevereiro de 2025

Esperanto, idioma sem pátria?


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Estava procurando no Google (sem sucesso...) sobre Jimes Vasco Milanez, que me chegou ontem numa lista de e-mails como o compositor de uma música em esperanto, e acabei topando com este artigo, publicado pelo Jornal da Unicamp (que quase ninguém lê, na verdade) na edição 313 correspondente a 20 de fevereiro a 5 de março de 2006. Só descobri o texto hoje, mas por coincidência, eu começaria minhas aulas de graduação em História na Unicamp no dia 7 de março seguinte, uma terça-feira, e sempre contei a meus novos colegas sobre a existência do esperanto, apesar da recepção bastante irônica da ideia, rs.

Não sei qual é a razão da discrepância, mas na versão em PDF, indica-se que o artigo “O idioma sem pátria” foi publicado, na verdade, na edição 316 (20 a 26 de março de 2006).

Logo que ingressei, também conhecei o núcleo de esperantistas da Unicamp, que sempre circulava pelo IFCH, meu instituto, embora a maioria deles fosse das engenharias. Era uma das primeiras oportunidades de conversar pessoalmente com “samideanos”, não mais apenas online, e numa época em que a conexão de casa ainda era “a lenha”! Um dos primeiros que conheci foi exatamente o Jimes (na foto abaixo, o segundo a partir da direita), provavelmente um dos pioneiros do esperanto na Unicamp e que depois trabalharia na Petrobras, e nossa conversa inicial foi extremamente amigável, embora depois perdêssemos o contato.

Laços mais intensos mantive por um tempo com o Ricardo (primeiro à direita), que um dia me pronunciou a inesquecível frase “Mi estas vegano!” e depois me convidou pra uma deliciosa feijoada vegana, organizada no IFCH naquele meu primeiro semestre... (De fato, só conheci o veganismo, que ainda era considerado uma “seita fanática”, ao entrar na graduação, porque também tive um colega de turma conhecido como “Caio Vegan”, ainda sendo mais corrente o termo inglês.)

No início do segundo semestre de 2006, também participei de alguns encontros de conversação comandados pelo Lucas (primeiro à esquerda) no IFCH, onde também conheci a Tatiane Pacioni, outra vegana (rs) que na época já cursava russo com Nivaldo dos Santos. Ela me ensinou a primeira frase que aprendi na língua de Pushkin, sobre a qual reclamou que só foi transmitida muito pra frente no curso, pronunciando enquanto escrevia a lápis num papel: “Как ты живёшь?” [Kak ty zhiviósh?] (Como vai você?). E às vezes éramos levados pra visitar aulas pra esperantistas iniciantes em outros institutos (em geral a FEEC), numa das quais conheci o mineiro Francismar, que (outra coincidência!) seria mais tarde meu colega do curso de russo.

Desviando um pouco do tempo do artigo, andei afastado tanto do grupo de esperantistas quanto do próprio esperanto durante a graduação devido às premências estudantis, entre as quais as aulas de francês e russo. Inclusive, o início de 2009 foi quando “ousei” conhecer melhor a interlíngua da IALA e acabei a aprendendo rapidamente e criando laços com interlinguistas pelo Facebook. Porém, retomei algum contato com a “lingvo” em 2011, quando comecei no segundo semestre uma matéria opcional de esperanto oferecida pela reitoria e ministrada por outro ex-graduando, Rafael Zerbetto (não mencionado na matéria). Infelizmente, tive de deixar o curso – afinal, eu já era fluente, não? – porque estava a ponto de terminar meu TCC, só não defendido ainda naquele ano por força de uma greve de funcionários.

Também deixo anotado que um rudimentar curso online do professor José Lunazzi, por coincidência, foi o verdadeiro primeiro material com que este adolescente teve contato nos albores da “rede mundial”, pra aprender as noções maternais de esperanto, em meados de 2000... Acabei o conhecendo pessoalmente por volta de julho ou agosto de 2011, numa reunião de conversação antes do início do curso citado. Mas sinceramente falando, “meu santo não bateu” com o do renomado físico, mesmo ele ficando honrado com a menção a seu primitivo cibermanual. (Confesso que dei uma googlada pra saber se ele estava vivo, correndo o risco de atrair sua ira por essa menção meio impolida, mas acabei descobrindo que foi se encontrar com Zamenhof em maio do ano passado!)

Lucas já apareceu nesta página, entrevistado pela Veja pra matéria que também reproduzi aqui. Após esta enxurrada de boas memórias, algumas inéditas (rs), segue finalmente o texto do artigo de Alves Filho, com atualização ortográfica e poucos adendos gráficos:



Primeiro clube de esperanto do Brasil comemora 100 anos da língua artificial mais difundida no mundo

Em 1887, preocupado em aproximar e facilitar o entendimento entre cidadãos pertencentes às diferentes nações e culturas que compunham o Império Russo, o oftalmologista polonês Ludwik Lejzer Zamenhof criou o esperanto, língua que, conforme sua pretensão, deveria ter alcance internacional. Dezenove anos depois, em 17 de março de 1906, alguns moradores de Campinas, sob a coordenação de João Keating, professor do então Colégio Culto à Ciência, fundou [sic] na cidade o primeiro clube de esperanto do Brasil, o Suda Stelaro (Cruzeiro do Sul, em português).

Os 100 anos da chegada da língua ao país estão sendo comemorados pelos esperantistas desde 16 de março, com a abertura da “Semana Suda Stelaro”. “Além de festejar a data, nós queremos aproveitar essas atividades para divulgar o esperanto. Ao contrário do que muita gente pensa, não se trata de uma língua morta. Mesmo sendo desconhecida por boa parte das pessoas, podemos dizer que ela está mais viva do que nunca e tem cumprido a missão para a qual foi criada”, afirma Jimes Vasco Milanez, estudante da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) da Unicamp e membro do Kultura Centro de Esperanto (KCE), com sede em Campinas.

As atividades que compõem a “Semana Suda Stelaro” se estenderão até o dia 25 de março, com destaque para uma exposição filatélica que está sendo realizada na Biblioteca Central Cesar Lattes da Unicamp. No dia 16 foi lançando um carimbo postal em homenagem ao centenário da língua no Brasil, que traz a efígie de Zamenhof. Nos últimos dias também foram realizados um Festival de Línguas e um ciclo de palestras. “Ainda como parte das comemorações, o KCE e o Grupo Unicamp Esperanto promoverão dois cursos gratuitos de esperanto, um introdutório e um básico”, informa Jimes Milanez. As inscrições podem ser feitas pelo e-mail: curso.de.esperanto@gmail.com.

‘Eu sabo’ – Uma evidência de que o esperanto é uma língua viva e continua promovendo a aproximação entre pessoas de nacionalidades e culturas diferentes é o interesse crescente dos jovens pela língua. Das cinco pessoas que concederam entrevista ao Jornal da Unicamp, quatro têm entre 20 e 25 anos. “Antigamente, a maioria dos esperantistas pertencia a uma faixa etária mais elevada. De alguns anos para cá, porém, é possível notar uma participação maior dos jovens no movimento”, confirma Jimes Milanez. De acordo com ele, alguns fatores ajudam a explicar essa renovação. Primeiro, diz, o esperanto é relativamente fácil de se aprender. Isso ocorre, entre outros motivos, porque a língua, cuja base é o latim e as línguas germânicas, não apresenta exceções, como ocorre no português, por exemplo. A pronúncia é fonética, o que significa que cada letra tem um som. “No português, a criança erraria ao dizer ‘eu sabo’. No esperanto, ela acertaria”.

Outro motivo é o fato de que, ao aprender o esperanto, a pessoa tende a dominar outros idiomas com mais facilidade. Jimes Milanez cita um teste feito com um grupo de estudantes, que foi dividido em duas turmas. A primeira teve dois anos de aulas de francês. A segunda teve um semestre de esperanto e um ano e meio de francês. “Ao final do curso, os que estudaram também o esperanto apresentaram uma maior proficiência na outra língua”, afirma. Por fim, mas não menos importante, o esperanto de fato aproxima as pessoas. “A língua ajuda a criar laços de amizade”, assegura José Joaquín Lunazzi, professor do Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW).

Nascido na Argentina, Lunazzi decidiu aprender esperanto ao perceber que outros idiomas, incluído o inglês, não eram eficientes para promover a aproximação e nem facilitar o entendimento entre pessoas de nacionalidades diferentes. “Depois que aprendi o esperanto, essa integração foi muito facilitada. Numa das minhas viagens, fui recebido por uma família de japoneses esperantistas, que abriu sua casa para mim. Graças ao esperanto, eu tive a oportunidade de conhecer a cultura japonesa por meio da intimidade de sua gente. De outro modo, eu teria sido um turista comum, com uma compreensão superficial do país e das pessoas”, conta.

Cem países – Lucas Vignoli Reis (estudante do IFGW), Herlen Batagelo e Ricardo Dias Almeida (ambos alunos da FEEC) também destacam a capacidade que o esperanto tem de estreitar as relações humanas. “Com a internet, essa característica ficou ainda mais evidente, pois a comunicação com pessoas de outros países foi facilitada. Atualmente, eu mantenho contato com esperantistas do Congo, Cuba e Japão, apenas para citar alguns exemplos”, afirma Lucas Reis. Segundo Jimes Milanez, o esperanto é falado hoje em cerca de 100 países, por um número não inferior a 1 milhão de pessoas. Esses números, diz, contestam a ideia de que a língua estaria morta ou que, por ter sido construída, não teria cultura própria.

Ao contrário, prossegue Jimes Milanez, o esperanto serve hoje à literatura e à música. “Só para se ter uma ideia, nós temos atualmente no mundo mais de 100 periódicos cujos textos são em esperanto. Há dez anos, a produção não era tão intensa. Até mesmo um dos livros da trilogia O Senhor dos Anéis já foi traduzido para a língua”, informa. Ainda como parte do esforço para divulgar o movimento no Brasil, a Liga Brasileira de Esperanto promoverá entre os dias 15 e 19 de julho, em Campinas, o 41.º Congresso Brasileiro de Esperanto. O tema do evento ainda não foi definido. A expectativa dos organizadores é que cerca de 700 pessoas participem do encontro. Em tempo: a palavra esperanto significa “aquele que tem esperança”.


EM ESPERANTO
[Coloquei os acentos, ausentes do original]

Unicamp 40 jaroj da historio
por Jimes Milanez

Kiel pri la 100 jaroj post la fondo de la unua Esperanto-grupo de Brazilo, Suda Stelaro, 2006 estas festa jaro ankaŭ por Unicamp. Antaŭ 40 jaroj, je la 5-a de Oktobro 1966, estis lanĉita la fundamenta ŝtono de ties centra kampuso, laŭ la projekto de ĝia fondinto, Zeferino Vaz.

Se 40 jaroj estas relative mallonga tempo kompare al la aĝo de multaj aliaj prestiĝaj universitatoj, la juna Unicamp jam estas inter la plej gravaj kaj renomaj brazilaj universitatoj kaj respondas pri ĉirkau 15% de la tuta brazila universitata esplorado. Ĝia instruado same havas fortan tradicion kaj ĝia porenira ekzameno estas unu el la plej konkuraj de la lando; nuntempe 32 000 studentoj frekventas la kvar kampusojn, en Campinas, Piracicaba, Limeira kaj Paulínia.

Gratulon, Unicamp, pro via datreveno!


EM PORTUGUÊS

Unicamp 40 anos de história

Como nos 100 anos da fundação do primeiro grupo de Esperanto do Brasil, Suda Stelaro, 2006 é um ano de festa também para a Unicamp. Há 40 anos, em 5 de outubro de 1966, foi lançada a pedra fundamental de seu campus central, conforme o projeto de seu fundador, Zeferino Vaz.

Se 40 anos é um tempo relativamente curto em comparação à idade de muitas outras universidades de prestígio, a jovem Unicamp já está entre as mais importantes e renomadas universidades brasileiras e responde por cerca de 15% de toda a pesquisa universitária brasileira. Seu ensino tem igualmente uma forte tradição e seu exame vestibular é um dos mais concorridos do país; atualmente 32 000 estudantes frequentam os quatro campi, em Campinas, Piracicaba, Limeira e Paulínia.

Parabéns, Unicamp, por seu aniversário!



Que felicidade, achei esta fotinho num portal chinês de esperanto, e salvo engano, trata-se exatamente de parte da turma (os heróis que chegaram ao final?) que frequentei em 2011! Lunazzi é o “véio de regata”, e Zerbetto está atrás, sorrindo de óculos. Paula Bissoli, também graduanda na época e igualmente uma talentosa fotógrafa e francófona provada, está bem na frente, e a menina de azul... era uma esquisita que sequer quis manter contato pelo Facebook!

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