Nem a “passagem” do Homem do Baú foi poupada do lacre e das deturpações de parte de nossa esquerda, especialmente a mais radical e mais mal-educada, mesmo tendo em geral ligação com as melhores universidades públicas. É a que chamo várias vezes aqui de ex-querda bananeira, ou seja, aquela que não traz nenhuma contribuição teórica substancial e só “macaqueia” as últimas modas do exterior, exatamente os países “capetaliztas mauvadoens” mais desenvolvidos. Praticamente um espelho reverso de nossas direitas mais alopradas, sejam as ultraliberais ou as pentecostais.
Com o perigo de ser acusado de “censor”, há sites panfletários e sensacionalistas dessa linha que sequer deviam existir, muito menos ser chamados de “jornais” ou “imprensa”. A Níndia Mija, página de Feicebuco surgida na raiva dos protestos de 2013, é uma delas, porque exceto algumas denúncias pontuais, não publica nada de útil ou relevante. O DCM, a que chamo carinhosamente Diário do Meio da Bunda, vive de clickbaits financiados com mamata pública, e o grau de distorção e vergonha alheia a que muitos textos chegam é tamanho que dá medo até de abrir qualquer link deles. O portal Fórum é melhorzinho, mas não deixa de fazer análises toscas, sobretudo em matéria de geopolítica, em que é vítima do seguidismo às alas mais nojentas do restolho stalinista. Não chega aos pés da Carta Capital, que realmente defende a democracia, mas também não leio tão assiduamente.
Quem me conhece desde o Orkut, sabe que meu problema não é alguém se dizer “de direita” ou “de esquerda”, mas como minha afiliação é ao ofício de historiador, no qual sou formado e pós-graduado, o que não suporto é distorção ou mentira, seja de que lado for. Principalmente nas áreas de história da URSS e dos comunistas no Brasil, com as quais tenho mais familiaridade. Portanto, não adianta combater Bolsonaro, mas defender o ditador Maduro só porque ele é contra o Til Çan. Não adianta atacar Stalin, Mao, Hoxha e outros paranoicos, mas justificar os golpes militares no Cone Sul como “prevenção ao comunismo” (cuja ameaça, convenhamos, sequer existia). E se tantas vezes bato na que chamo de “ex-querda”, é justamente porque tenho um compromisso social, e quem também o tem não se pode deixar levar por desvarios intelectuais.
O exemplo mais recente, como eu disse, foi dado ontem, domingo, pelo DCM e pela Fórum, a respeito da canção russa (lançada já nos primeiros tempos da URSS, cuja formação, porém, implicou a submissão violenta de vários povos) Dorógoi dlínnoiu, que há muitos anos eu já tinha traduzido e legendado pro lendário canal Pan-Eslavo Brasil. Quem quiser, pode acessar a publicação e conhecer sua história muito mais anticomunista do que qualquer outra coisa... O resto da análise segue abaixo. Mas curiosamente, no sábado o Poder 360 tinha lançado uma análise muito mais sóbria, inclusive incorporando vídeos pra canção em suas várias etapas.
Aliás, não acho que o Fantástico tenha mostrado justamente a versão gravada por Eduard Khil (sem citar seu nome, ao modo de um hint) por acaso, entre tantas versões que apareceram durante o século 20. Quem tem memória dos anos de 2010 a 2012, lembra que o clipe dele viralizado na internet mundial e apelidado de “Trololó” foi associado por muitos brasileiros exatamente ao jeitão, à vestimenta e à voz/ritmo do Silvio Santos! Tanto que Khil foi então apelidado de “Silvio Santos soviético”, o que aumentou ainda mais sua popularidade no Brasil, rs:
Adendo (9/9/2024): Este desabafo do ex-Intercept no Instagram, que parece ter lido minha mente no dia em que publiquei o texto acima, resume perfeitamente o que sempre quis dizer por “ex-querda bananeira”, a começar pela hipocrisia. Reverberou em agosto passado, após o suposto vazamento de áudios sobre como Alexandre de Moraes estaria conduzindo “ilegalmente” as investigações contra propaganda antidemocrática nas redes sociais.
Não boto a mão no fogo pelo Glenn, mas há pouco ele era idolatrado pelos próprios “serei resistência” por seu combate ao bolsonarismo. Até encobri o nome da lacração que ele enquadrou como resposta, pra não dar “audiência solidária” ao ser. E as “fontes jornalísticas” de canais como Meteoro, Galãs etc. costumam ser exatamente essa constelação fake news que citei acima: BR 247, DCM, Brasil de Fato...
Acho que ele forçou a barra com o “fazem de tudo para chegar aos EUA”, pois podem estar subentendidos aqueles que são enganados pra atravessar ilegalmente a fronteira com o México, uma situação nada engraçada. No calor da hora, ele pode ter se referido, entre outros, aos trotskistas festivos, embora outro problema seja exatamente a dificuldade (não raro entrecortada por situações humilhantes) de conseguir vistos por quem quer pesquisar, trabalhar, estudar, se divertir etc. lá, o que não deixa de ser um direito de qualquer mortal.
Outros dois aspectos merecem clarificação. Primeiro, tanto o jornalista quanto este pobre historiador se referem a uma certa esquerda extremada, e não a toda a esquerda no Brasil, o que incluiria correntes e partidos totalmente díspares entre si. Ele não sei, mas eu mesmo especifiquei bem a quem me referia, e se Glenn “generalizou”, nada tenho com isso. Segundo, tenhamos sempre em conta que esse “saco pra chupar” não precisa ser necessariamente os EUA, mas qualquer outro país que por algum acaso seus guias espirituais sugerirem, incluindo a ditadura genocida putinista ou a cleptocracia petrolífera e narcoterrorista venezuelana. Ou seja, o problema não são os Isteites em si serem alvos de amor e ódio, mas o seguidismo acrítico de certos internautas viciados em algoritmos ao invés de livros. Você não sei, mas (ai de mim!) eu, por exemplo, gosto do Boulos por ser um intelectual coerente e combativo – não raro malhado exatamente por essa “ex-querda” a que me refiro –, e votaria nele com os pés nas costas, se morasse na capital paulista...
Contudo, a primeira prova de sua precisão é que Glenn não citou nomes, mas as putinetes do Cagões Feios se reviraram tanto de raiva que só faltou fazerem cogumelo atômico. O tal do Calejon, que parece que sempre fala com a boca cheia de farofa, não poupou impropérios pesados a quem chamaram de “Verdevaldo”, pilhido curiosamente cunhado (salvo engano) pelo fascistoide Augusto Nunes. A pergunta que me faço é: qual é o primeiro lugar aonde pensa ir dar aula ou pesquisar nossa elite intelectual “anti-imperialista”, inclusive a Sabrina “Tese Onze” Fernandes (com todo o respeito que tenho pelo trabalho dela)? Rússia, China, Cuba, Irã e Coreia do Norte não é...
E o triplex que o BBB aluga no sótão cerebral da cibermilitância todo ano chorando por uma tal de “representatividade”? Vocês vão ver, dizem nem estar aí pros EUA, mas nesta semana só vão falar de Kamala e Donald, provavelmente torcendo como doentes pela hiena punitivista.
Glenn, a ex-querda bananeira não é só vira-lata, mas também: arrogante (desde 2014 xingam nas redes quem critica ou não vota no PT, mas se acham moralmente superiores aos outros e não admitem ser contrariados, mais ou menos ao modo da Gadolândia pronta pra ser enganada de novo por um coach montanhista); amnésica (quiseram sair em massa do Équis depois de ser comprado pelo faxixta Ilomasque, mas permaneceram quase todos porque a falta de moderação permitia ofender, xingar, mentir e horrorizar à vontade); burra (enlouqueceram pela “vitória” da esquerda francesa, mas a Frente Popular teve de engolir um premiê conservador e aqui ninguém nem toca mais no assunto); e seletiva (imperialismo só o do Til Çan mauvadaum; a invasão da Ucrânia com assassinato de civis e destruição de cidades pela máfia de Leningrado, pra variar, “é culpa do palhaço”)...
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