sexta-feira, 11 de abril de 2025

Vitório Sorotiuk – 3 anos da invasão


Endereço curto: fishuk.cc/vitorio-ua

Meu amigo Claudio me mandou o arquivo Word original deste discurso proferido pelo então presidente da Representação Central Ucraniano Brasileira (RCUB), Vitório Sorotiuk (que deixaria o cargo alguns dias depois), na manifestação da comunidade no dia 22 de fevereiro de 2025, às 16h, na Praça da Ucrânia em Curitiba, PR. Gostaria de o republicar não somente porque admiro a figura desse ex-militante estudantil e opositor da ditadura civil-militar de 1964-85, mas também porque resume o óbvio sobre essa agressão bárbara que, infelizmente, precisamos estar todo santo dia lembrando nas redes, mesmo entre grupos que se dizem “progressistas”. Cada mínima manifestação da verdade pode nos fazer vencer em número... Infelizmente tive de corrigir alguns erros de redação mais evidentes, mas o estilo é completamente o do Vitório, e não o meu, que costumo imprimir a certas traduções:



Caros membros da comunidade ucraniana brasileira.
Amigos da comunidade ucraniana brasileira e da Ucrânia.


Segunda feira, dia 24 de fevereiro, completam-se três anos da agressão militar massiva da Rússia contra o território da Ucrânia e o seu povo, em continuidade à agressão sofrida a partir do ano de 2014.

Essa agressão provocou o maior deslocamento populacional na Europa, para o exterior e para o interior de um país, desde o fim da segunda grande guerra mundial em 1945. Mais de seis milhões de ucranianos saíram para o exterior. Além dos milhares de mortos em conflito, segundo a Escola de Economia de Kyiv (KSE), a guerra de agressão em grande escala da Rússia causou US$ 170 bilhões em danos diretos à infraestrutura da Ucrânia até novembro de 2024.

Assim, são dois os grandes objetivos presentes: buscar a paz com garantia de segurança permanentes à Ucrânia e a reconstrução da Ucrânia.

A Assembleia Geral da ONU, na sua resolução de 2 de março de 2022, qualificou imediatamente a guerra da Rússia contra a Ucrânia como um ato de agressão em violação do artigo 2.º da Carta da ONU e, na sua resolução de 14 de novembro de 2022, reconheceu a necessidade de responsabilizar a Federação Russa pela sua guerra de agressão, bem como legal e financeiramente responsável pelos seus atos internacionalmente ilícitos, e que a Rússia deve pagar reparações pelos ferimentos e danos causados.

Vivemos um momento delicado, em que os fiadores da soberania da Ucrânia estão colocando seus interesses econômicos oligárquicos acima das normas internacionais e dos tratados que assinaram.

Em 1994, no Memorando de Budapeste, quando a Ucrânia entregou o seu arsenal nuclear à Rússia em troca de respeito à sua soberania, cujo documento assinaram a Rússia, os Estados Unidos, o Reino Unido e posteriormente a França e a China, ficou estabelecido e escrito que reconheciam e garantiam a soberania da Ucrânia sobre o seu território. Em 1997, a Rússia e a Ucrânia assinaram o Tratado de Cooperação e Amizade e as partes acordaram respeitar a integridade territorial um do outro, a inviolabilidade das fronteiras, a solução pacífica de controvérsias e o não uso da ameaça ou força.

Mas, no momento, todo o avanço civilizatório através das leis e da construção de organismo internacionais de convivência entre os povos é deixado de lado para se colocar em primeiro plano a força militar e econômica. Apesar da adversidade, não podemos deixar de reivindicar as normas internacionais de convivência estabelecidas na Carta da ONU e de invocar as punições devidas ao agressor previstas no Estatuto de Roma, pois a Rússia cometeu o crime de agressão, crimes militares, crimes contra a humanidade e genocídio ao sequestrar milhares de crianças.

Quem quer que seja, mesmo o menino de escola fundamental quando vai fazer um trabalho sobre a II Grande Guerra Mundial e se debruça sobre a problemática das razões do conflito, vai encontrar a resposta que o motivo principal da guerra está na ideologia nazista. O filósofo Slavoj Žižek disse que não há que se subestimar o poder material da ideologia na atual guerra de agressão russa à Ucrânia. É no ideário forjado pela elite russa em substituição à ideologia da antiga União Soviética que se deve buscar o principal motivo da guerra de agressão russa à Ucrania.

A Verkhovna Rada – parlamento supremo da Ucrânia – adotou, no início do mês de maio de 2024, uma resolução “Sobre o uso da ideologia do ruscismo pelo regime político da Federação Russa, condenando os fundamentos e práticas do ruscismo como totalitários e misantrópicos”. São consequência dessa ideologia a violação em massa e sistemática dos direitos humanos, tanto dentro da Federação Russa quanto nos territórios ocupados da Ucrânia. As liberdades de reunião, manifestação e partidária, assim como o feminismo e a liberdade sexual e comportamental, são vistas pela Rússia como “degeneração” da sociedade ocidental. A menor dissidência na Rússia é vista como traição aos interesses nacionais. Atualmente, está proibida a palavra “guerra”, e quem a usa está sujeito à prisão. Os oponentes políticos ou são mortos, envenenados ou presos quando têm sorte.

No texto de 44 mil caracteres que alcançam 20 páginas aproximadamente e que Vladimir Putin publicou antes da invasão massiva, e nas entrevistas concedidas, ele exprimiu com todas as letras que a Ucrânia é uma criação de Lenin, que a Ucrânia não existe. Como bem lembrou a Resolução do Parlamento Europeu em 23 de janeiro deste ano, o nacionalismo russo é a base da ideologia do Estado em que se aplica o conceito do “Russkiy Mir” – “mundo russo”. O autoengrandecimento da Rússia e dos russos às custas da opressão violenta, da negação do direito à autodeterminação ou, em geral, do direito à existência de outros povos

Por maior que fosse o esforço de diplomacia da Ucrânia nas negociações com a Rússia, não havia como demovê-la de seu apetite de agressão enquanto permanecer a ideologia do ruscismo. Assim como ocorreu quando a Alemanha foi conduzida pelos nazistas, não foram falhas de negociação dos demais países que provocaram a guerra, mas a ideologia nazista.

Apelamos para que os membros da comunidade busquem unir todas as forças para o apoio à Ucrânia. Não importa aqui se a pessoa é de direita, de centro ou de esquerda. Nosso combate é contra o totalitarismo de esquerda ou o fascismo de direita. O que importa é que esteja a favor da democracia e das normas internacionais. Temos que falar com todas as forças políticas. Nosso único lado é a defesa da paz, da democracia e da soberania da Ucrânia sobre todo o seu território.

A paz para a Ucrânia não pode ser a paz dos cemitérios e nem a paz do agressor. A paz para a Ucrânia deverá ser a paz de sua soberania sobre todo o seu território e garantias reais de segurança. A paz para a Ucrânia não pode ser o texto sem garantias do Memorando de Budapeste. O custo da guerra não poderá ficar em cima do ombro da Ucrânia, mas do agressor. Os crimes de agressão, de guerra, contra a humanidade e o genocídio não podem ser transacionados, mas investigados e punidos. A paz para a Ucrânia não pode ser aquela que beneficie o agressor, pois continuará a ser não só uma perda para a Ucrânia, mas também uma ameaça contínua à Europa e à paz mundial.

Apelamos para que a nossa comunidade se mantenha ativa e mobilizada em defesa da Ucrânia.

Apelamos para que o Brasil se mantenha dentro das normas do Direito Internacional como fundador da Nações Unidas – ONU, como também é a Ucrânia.


Слава Україні! Slava Ukraini! Viva a Ucrânia!
Героям Слава! Heroiam Slava! Vivam os Heróis!

Sábado, 22 de fevereiro
de 2025 – Praça da Ucrânia
Vitório Sorotiuk
Presidente da Representação
Central Ucraniana Brasileira



Ah, e antes que eu me esqueça...

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