sábado, 5 de abril de 2025

Brasil se saiu bem com “tarifaço”?


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Nesta breve participação de Stéphane Geneste no programa Aujourd’hui l’économie (Hoje a economia) da Rádio França Internacional (RFI), intitulada “Brasil, um dos ganhadores na guerra comercial de Donald Trump?”, ele mostra que o país tem boas oportunidades pela frente após o tarifaço geral decretado pela Boneca Russa e que seus negociadores têm sido ativos na busca por novas parcerias comerciais. Ao ler o texto publicado no último dia 3 de abril, devo admitir que a “nanodiplomacia” tão alvejada por minhas críticas até deu uma bola dentro, mas, além das potenciais armadilhas apontadas, eu diria que futuras blindagens só são possíveis com uma modernização completa de nosso modelo econômico: a saber, mais foco (mas não só, claro) na indústria e nas novas tecnologias. Segue minha tradução, com pouca adaptação no conteúdo:



Eis que Donald Trump declarou uma guerra comercial ao mundo inteiro. O presidente americano lançou sua ofensiva nesta quarta-feira, 2 de abril, e ninguém foi poupado, fossem amigos ou inimigos. Dez por cento no mínimo e às vezes mais pra alguns, como China, Vietnã e Camboja. O Brasil está entre os “sortudos” afetados por um aumento de apenas 10%.

Antes de tudo, vale lembrar que Brasil e Estados Unidos estão economicamente ligados. Os EUA são o maior investidor na maior economia da América Latina. O Brasil também é um dos grandes exportadores da região. Exemplos incluem soja, carne bovina, frango e aço. Aliás, os americanos importam muito tudo isso. Mas a balança comercial entre os dois países é superavitária do lado americano, o que é uma vantagem pra Brasília.

Fora da mira de Donald Trump – De fato, Donald Trump tem como alvo principal os países que mais exportam para os EUA do que importam. O Brasil pode, portanto, tirar proveito dessa situação. O presidente Lula, aliás, assimilou isso perfeitamente. Ele não quer encerrar o diálogo com Washington. Como prova, na semana passada, uma missão brasileira esteve na capital americana para se reunir com o governo Trump. Apesar disso, o Brasil respondeu com a votação, há algumas horas, pelo Congresso Nacional, de uma lei em resposta às medidas americanas. Mas o governo brasileiro também conseguiu estabelecer outras parcerias que lhe permitem evitar um prejuízo excessivo.

Vá procurar em outro lugar! – Entre essas novas parcerias, a China. Pequim também se tornou o maior parceiro comercial do Brasil. Os dois realizam muitas trocas. Empresas brasileiras exportam, sobretudo, soja, frango e carne bovina. E é aqui que fica interessante, como você bem percebeu, já que a China é particularmente visada pelos EUA. Pequim respondeu exatamente aumentando as tarifas sobre os produtos agrícolas estratégicos dos EUA, como soja e carne. A China pode, portanto, encontrar no Brasil uma alternativa viável pra suas necessidades em bens de consumo cotidiano. As empresas chinesas, e essa é obviamente a contrapartida, estão presentes em solo brasileiro, onde investem fortemente na construção de infraestrutura essencial à atividade econômica, como estradas, ferrovias e portos.

Uma oportunidade com riscos – Se olharmos apenas pro frango e ovos brasileiros, as exportações desses dois produtos à China estão explodindo. Entre 9% e 20% de aumento em relação ao ano passado. Como prova da confiança, o índice da bolsa brasileira, baseado principalmente em matérias-primas, subiu 9% nas últimas semanas , enquanto os principais preços globais estão no vermelho. Mas, embora essa situação pareça benéfica no curto prazo, no longo prazo ela expõe o Brasil a uma forte dependência da China. E se as relações sino-americanas melhorarem, todo o equilíbrio que acabamos de mencionar se tornaria instável. Portanto, as autoridades brasileiras estão jogando em vários tabuleiros. Recentemente, assinaram novos acordos com o Japão e, no âmbito do acordo do Mercosul, com os europeus. Uma situação que permite ao país fortalecer sua posição no cenário do comércio internacional e estimular seu crescimento econômico!



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