No último dia 17 de abril, completaram-se os 50 anos da tomada de Phnom Penh, capital do Camboja, pelas tropas do Khmer Vermelho, guerrilheiros comunistas que há muito conduziam uma guerra civil e eram comandados por Pol Pot, morto em 1998. Inspirado na Revolução Chinesa de Mao Zedong, mas muito mais radicalizado e violento, o grupo foi responsável pela morte de 20% da população cambojana da época e seu mando “só” durou pouco menos de quatro anos. “Khmer Vermelho” também era o nome genérico dos seguidores do Partido Comunista do Kampuchea, outro nome pelo qual o país é conhecido.
O regime do chamado “Kampuchea democrático” foi considerado por muitos como o pior exemplo de regime socialista, pau a pau ou pior que a dinastia coreana dos Kim, mas há muitas contradições em torno de sua história. Os EUA, por exemplo, o viram como uma força capaz de desestabilizar o Vietnã comunista, que estava a ponto de unificar Sul e Norte após quase 20 anos de guerra: no dia 30 de abril seguinte, os vietcongs tomariam Saigon, atual Cidade Ho Chi Minh, e terminariam o conflito. Os países do Sudeste Asiático nunca se deram muito bem entre si, e a rivalidade cambojana e vietnamita era particularmente forte, a ponto do Khmer Vermelho só cair após uma invasão pelo Vietnã, que ocupou o vizinho de 1979 a 1989.
E ainda hoje, o país não é conhecido por ser um exemplo lindo e maravilhoso de democracia, embora entre governo e povo, e entre todo o povo, uma coisa pelo menos seja contexto: ninguém aprova o regime socialista de Pol Pot nem tem saudades dele, e ainda hoje falar sobre a época constitui um tabu. Inclusive, eles próprios falam em “genocídio” da própria população, a despeito de uns ciberstalinistas ocidentais que gostam de passar pano pra qualquer chorume que se reivindique “leninista”. A maioria da população cambojana tem mais de 30 anos e pouco conhece sobre o Khmer Vermelho, o que torna indispensável o trabalho educativo de entidades da sociedade civil.
Uma delas é o Centro Bophana, nome que homenageia uma das jovens vítimas de Pol Pot e se dedica a documentar a história do Camboja em audiovisual e divulgar o material em diversas ocasiões. Segundo reportagem da Rádio França Internacional, ele teve a iniciativa de lançar em novembro de 2024 um aplicativo sobre a história do Khmer Vermelho, visando exatamente os jovens, mas que eu mesmo não instalei (se meses depois foi divulgado pela RFI, é de confiança, né?). Fotos, textos, vídeos e recursos interativos são apresentados em cambojano e inglês (acho que não em francês), tudo disponível pra baixar nas lojas virtuais do Google e da Apple.
O Khmer Vermelho também é amplamente conhecido pelo nome francês “Khmer Rouge”, talvez porque aquela região já foi colonizada pela França, muitos habitantes ainda sabem a língua e, inclusive, costumam imigrar em massa pro país europeu. Ho Chi Minh e o próprio Pol Pot, por exemplo, receberam uma educação refinada em francês nos próprios países (então colônias) e passaram vários anos na “Cidade Luz”, onde, vejam que curioso, tomaram conhecimento e se converteram ao comunismo! Junto a isso, o logotipo do aplicativo fica ainda mais engraçado com esse uso das iniciais pra figurar um guerrilheiro humilhando um cidadão comum, rs:

E pra terminar, trago este vídeo que estava guardado em meus backups desde os tempos do Pan-Eslavo Brasil e deve ter chegado até mim por alguma rede social. O arquivo tinha o nome “Tributo a Pol Pot”, e como não entendo a língua, a canção deve se tratar disso mesmo. Não veio com tradução nem com legendagens, não me incomodei em procurar o áudio original e, realmente, penso em quem teve a ideia tosca de exumar um cadáver desse. A única utilidade que vejo é o caráter histórico-informativo dos trechos, muito vívidos e bem conservados:
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