Esta bela e edificante canção na língua pastó (mais conhecida como “pashto”), reconstituída por este canal com partes de diversas origens, se chama “گرم شه، لا گرم شه” (Garam shah, laa garam shah), que significa mais ou menos Fique ardente, fique mais ardente. Trata-se do hino nacional que vigorou na então chamada República Democrática do Afeganistão, existente de 1978 e 1992, baseada no modelo soviético e que muitos consideram justamente um Estado-fantoche da antiga URSS. A letra é do político e poeta comunista Sulaiman Laiq e a melodia é de Jaleel Ghahland, consistindo num refrão que, curiosamente, começa a canção e se toca antes das outras estrofes.
Estado culturalmente muito diverso, mas cujas línguas predominantes ainda hoje são o pastó (um parente distante do persa e do curdo) e o dari (o dialeto nacional do persa, muito parecido com o tajique), o Emirado do Afeganistão se tornou uma monarquia constitucional em 1926. Em 1973, o general e ex-premiê Mohammad Dawood Khan derrubou o rei, instaurou uma república ditatorial e fundou o Partido Revolucionário Nacional, único permitido. Em 1978, ele mesmo foi derrubado e morto com a maior parte de sua família, num golpe conhecido como “Revolução de Sawr” (mês do calendário zoroastrista) e conduzido por oficiais comunistas da fração partidária conhecida como Khalq. A palavra significa “povo” e aparece escrita em amarelo na parte superior esquerda da bandeira vermelha, bem como no centro do brasão nacional, vigentes até 1980.
O Afeganistão socialista (nome que prefiro a “comunista”, em se tratando de regimes e países) teve quatro líderes principais, tendo o último sido assassinado pelos Talibã em 1996 e o primeiro, assassinado pelo próprio sucessor. Este, Hafizullah Amin, que governou em 1979, curiosamente foi morto durante a invasão soviética, que teve como pano de fundo a colocação no poder de Babrak Karmal, novo boneco de Moscou (onde terminou morrendo de câncer), mas que misturava diversas razões. Uma delas foi a influência dos EUA no Paquistão, onde treinavam os mujahedin, futuros guerrilheiros muçulmanos que ajudariam a expulsar os soviéticos e derrubariam o regime em 1992. (Não se deve confundir a “República Islâmica” de 1992-96 com o “Emirado Islâmico” dos Talibã, dissidente dos mujahedin, em 1996-2001 e desde 2021.) Os próprios comunistas afegãos viviam se digladiando em pelo menos duas frações ferozmente inimigas.
O interessante vídeo abaixo tem legendas em pastó, inglês e hindi, mas traduzi a partir da versão dari, que coloquei no Google Tradutor e depois comparei com as traduções nas Wikipédias em russo, alemão e espanhol. Até passei o texto pastó no Google, mas ficou quase ininteligível, embora conservasse as ideias essenciais. A tradução na Wikipédia em inglês não fazia muito sentido, e terminei comparando com a das legendas, que parecia mais coerente com as outras. Como o texto na escrita perso-arábica já se encontra nas legendas, também trouxe uma romanização que mistura as feitas nas Wikipédias em inglês e em russo:
Refrão:
1. Atravessamos tempestades
(Refrão) 2. Nossa pátria revolucionária
(Refrão) 3. Queremos paz e fraternidade
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1. Muzh patufānuno kai
(Korus) 2. Dā inqilābi Vatan
(Korus) 3. Muzh pa nāṛivālo kai
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