quinta-feira, 20 de março de 2025

Votos de Emmanuel Macron pra 2021


Endereço curto: fishuk.cc/voeux2021

Desde a primeira posse de Emmanuel Macron, em 2017, os registros no site oficial do Elysée começaram a ficar muito bagunçados, e alguns discursos sumiram, outros ficaram mais difíceis de encontrar, não foi constituído um acervo de vídeos históricos etc. Por isso, fiquei dependente do que pude encontrar pelo Google ou no YouTube.

Curiosamente, os europeus pareciam gostar nos anos 2000 muito mais do Dailymotion ou do Vimeo do que do próprio YouTube, portanto, foi muito mais fácil achar os discursos de Sarkozy na primeira plataforma. A partir de 2013, sob François Hollande, ficou mais fácil achar em canais diversos do YouTube, sobretudo de agências de notícias, como estes votos pra 2021. Porém, até hoje não entendo por que nenhum vídeo do presidente Hollande foi publicado no YouTube oficial, enquanto o Dailymotion oficial é o mais completo de todos. Além disso, conforme as datas dos vídeos, há um “buraco” no YouTube entre 28 de janeiro de 2011 e 15 (“Ao vivo”) ou 18 (“Vídeos”) de janeiro de 2019...

O ano de referência sempre é o próximo, ao qual cada presidente está desejando votos, e não o que está acabando, quando o discurso é gravado e lançado. Uso o Google Tradutor pra obter os textos mais rapidamente, mas revisando e confrontando manualmente com os originais. Pra França, a fonte desses textos, como é o caso dos votos pra 2021, está sendo um site de informações políticas, econômicas e sociais chamado “Vie publique”, ligado ao gabinete do primeiro-ministro, mas infelizmente pouco divulgado.



Francesas, franceses,

Meus caros compatriotas da França europeia [hexagone], do ultramar e do exterior,

Esta noite, não estamos vivendo um 31 de dezembro como os outros.

Onde, em nossas cidades e vilas, normalmente é época de grandes reuniões, elas estão proibidas este ano pela epidemia: as praças de nossas cidades estão escuras, e nossos lares menos alegres do que o normal.

O ano de 2020, portanto, termina como começou: com esforços e restrições. E, por meio das decisões que tive que tomar, estou plenamente consciente dos sacrifícios que pedi a vocês.

Acredito sinceramente que fizemos as escolhas certas nos momentos certos e quero agradecer vocês por seu civismo, por esse espírito de responsabilidade coletiva com o qual salvamos tantas vidas e que hoje nos permite resistir melhor do que muitos diante da epidemia.

Em nome de vocês, dedico esta noite uma lembrança às 64 mil vítimas desse vírus, em suas famílias e entes queridos. Pais, amigos e setores inteiros do imaginário francês nos deixaram nos últimos meses.

Sim, este ano de 2020 foi difícil. Ele nos lembrou de nossas vulnerabilidades. Foi ainda mais injusto com os mais vulneráveis. Mas juntos saímos dessa ainda mais unidos e tendo aprendido muito.

Dedico também uma lembrança a todos os nossos compatriotas que vivem na precariedade, por vezes na pobreza, para quem a crise que atravessamos torna o dia a dia ainda mais difícil.

Quero expressar nossa gratidão aos que se mobilizaram para cuidar, alimentar, educar, proteger, a todos os que, por meio de seu trabalho e empenho, nos permitiram permanecer firmes e unidos durante esses meses difíceis. E que esta noite, mais uma vez, estão fazendo tudo isso pela Nação.

Aos nossos concidadãos que trabalham nos setores da cultura, do esporte, dos restaurantes, da hotelaria, do turismo ou de eventos, aos estudantes que sofreram e sofrem ainda mais do que outros, quero dizer-lhes novamente que estaremos aí.

Obviamente, para podermos sair dessa situação o mais rápido possível.

E para que eles possam lidar com esse período tão difícil e injusto para eles, quando pedimos que trabalhem de forma diferente e, às vezes, até mesmo que deixem suas atividades.

Essa provação histórica também revelou a solidez de nossa Nação.

Apesar da pandemia, nunca desistimos de perseguir nossa ambição de progresso para todos, reduzindo impostos, concedendo novos direitos, como férias para cuidadores e a extensão da licença-paternidade, apoiando por meio de bônus a conversão de nossa frota automotiva, abrindo sedes da France Services em todo o país, investindo em nossa soberania e em nossa pesquisa de forma histórica e agindo para produzir mais na França, na Europa.

Nosso setor de saúde não apenas resistiu, mas também empreendemos nele uma transformação profunda e investimentos históricos, cuja relevância se tornará evidente nos próximos anos.

Nosso país foi um dos que mais interveio para proteger e apoiar jovens, trabalhadores e empreendedores. Assumo esse “custe o que custar”, pois permitiu preservar vidas e proteger empregos. Teremos que construir juntos as respostas que permitirão não tornar isso um fardo para as gerações futuras.

Esta noite, pela primeira vez, um país, o Reino Unido, deixará a União Europeia. Há alguns dias, selamos um acordo para organizar nossas futuras relações com ele, defendendo nossos interesses, nossos industriais, nossos pescadores e nossa unidade europeia. O Reino Unido continua sendo nosso vizinho, mas também nosso amigo e aliado. Essa escolha de deixar a Europa, esse Brexit, foi fruto do mal-estar europeu e de muitas mentiras e falsas promessas. Quanto a mim, quero dizer-lhes muito claramente: o nosso destino está, antes de tudo, na Europa.

Nossa soberania é nacional e farei tudo para retomemos o controle de nosso destino e de nossas vidas. Mas essa soberania também exige uma Europa mais forte, mais autônoma e mais unida. Foi isso que construímos em 2020.

Porque fomos capazes de liderar as transformações necessárias e fortalecer nossa credibilidade, fomos capazes de convencer a Alemanha, e depois os outros membros da União Europeia, a elaborarem um plano de recuperação único e massivo e a decidirem sobre uma dívida comum e solidária para preparar melhor nosso futuro, empenhando-nos na transição ecológica e digital e criando o máximo de empregos possível para nossos jovens.

Sim, este ano de 2020 não se resume à epidemia, mesmo que ela tenha mudado nossas vidas.

A meu ver, ela também revelou caminhos exemplares que são como bússolas para os próximos tempos.

De fato, nosso maior orgulho são as francesas e os franceses. Vocês.

Marie-Corentine tem 24 anos. Na primavera passada, esta enfermeira de Limoges recém-formada não hesitou em deixar tudo para ajudar as equipes do hospital de Créteil, sobrecarregadas pela afluência de pacientes com o vírus.

Jean-Luc é motorista de coleta de lixo na Guiana. Junto com seus colegas Anthony e Maxime, eles nunca pararam de trabalhar desde o início da pandemia. No auge do confinamento, constituíam essa “segunda linha” que permitiu ao país continuar a viver, e à vida continuar.

Gérald é um empresário perto de Angers. Para atender à demanda por máscaras, ele conseguiu, com seus funcionários, a façanha de abrir suas fábricas 24 horas por dia, 7 dias por semana e, mais recentemente, inaugurar outra em tempo recorde.

Lucas tem 11 anos e mora em Béthune. Ao descobrir a situação de isolamento de idosos com covid-19 no hospital de sua cidade, ele não hesitou um segundo e doou seu tablet para que eles pudessem se comunicar com seus entes queridos e voltar a sorrir. Ele foi seguido por muitos outros.

Rosalie vende livros em Bagnolet, em Seine-Saint Denis. Como todos os seus colegas, ela sofreu muito com o fechamento do comércio, apesar das ajudas, e ela soube inovar. Lançou um site para possibilitar vendas takeaway durante as semanas mais difíceis. E os clientes, no Natal, atenderam ao chamado.

Romain é um policial em Tende, nos Alpes Marítimos. Na noite de 2 para 3 de outubro, enchentes ameaçaram destruir uma casa de repouso. Correndo grande risco de vida, ele conseguiu evacuar mais de 70 moradores, salvando suas vidas. Com os policiais de Nice, que puseram fim ao atentado à Basílica de Notre-Dame de l’Assomption, com Arno, Cyrille e Rémi, policiais mortos enquanto socorriam uma mulher espancada em Puy de Dôme, com Tanerii, Dorian e Quentin, militares mortos na última segunda-feira numa operação no Mali, eles são heróis da Nação.

Medhi é professor de economia e ciências sociais nos bairros do norte de Marselha. Como milhares de professores, poucos dias após o assassinato de Samuel PATY, ele teve de organizar um curso sobre a laicidade. Para fazer isso, ele reservou um tempo para treinar com outros professores e inspetores escolares. Com coragem, ele então relembrou a seus alunos nossos valores, sua história. Assumindo essa alta missão de nossa escola, de nossos professores: formar republicanos.

Wendie é uma jogadora de futebol. Como todos os atletas amadores e profissionais, ela teve uma temporada difícil, com treinos impossíveis, competições adiadas e partidas sem público. Porém, ela encontrou dentro de si a força de espírito para ir ganhar sua sétima Liga dos Campeões com seu clube de vida, um recorde, e para nos fazer sonhar neste período obscuro.

Mauricette tem 78 anos. Ela mora numa casa de repouso em Sevran e alguns dias atrás, como todos vocês viram, assim como eu, ela foi a primeira francesa a ser vacinada contra a covid-19, enviando, contra o obscurantismo e o conspiracionismo, uma magnífica mensagem de esperança para o ano que começa.

Todos esses nomes, esses rostos, são os de sua irmã, de sua vizinha, de seus amigos, desses milhares de anônimos que, empenhados e unidos, sustentaram nosso país durante essa provação.

Todos esses nomes, esses rostos, são os da esperança. Os da França.

Meus caros compatriotas,

Nossa Nação atravessou este ano com tamanha unidade e resiliência que nada pôde se opor a ela.

Nossa Nação tem sido capaz, nestes tempos difíceis, de tanta inovação, inventividade e generosidade: tudo lhe é possível.

Em 2021, portanto, aconteça o que acontecer, saberemos como enfrentar as crises – sanitária, econômica e social, terrorista, climática – que não terminarão no dia 1.º de janeiro. Os primeiros meses do ano serão difíceis e, pelo menos até a primavera, a epidemia continuará pesando muito na vida de nosso país.

Em 2021, aconteça o que acontecer, visto que nos preparamos para isso, também seremos capazes de enfrentar os desafios que virão:

– a transição ecológica e a proteção da biodiversidade, com a implementação das propostas da convenção cidadã, e outras reformas.

– a luta pela República e por nossos valores, pela laicidade, pela fraternidade, por mais segurança.

– a continuação de nosso compromisso com o mérito, o trabalho, a igualdade de oportunidades e o combate a todas as desigualdades e discriminações.

As provações que enfrentamos podiam ter diminuído nosso entusiasmo e amainado nossa esperança. Não foi esse o caso.

A esperança está nessa vacina que a genialidade humana criou em apenas um ano. Isso era impensável há apenas alguns meses. E eu lhes digo com muita determinação esta noite: não deixarei ninguém brincar com a segurança e as boas condições, supervisionadas por nossos cientistas e médicos, nas quais a vacinação deverá ocorrer. Menos ainda permitirei que haja uma lentidão injustificada pelos motivos errados: todo francês que quiser ser vacinado deve poder ser vacinado. Com segurança e na ordem correta, começando pelos grupos de risco.

A esperança está aí, e a cada dia cresce a esperança nessa recuperação que já está fervendo na França mais do que em outros lugares e que nos permitirá, a partir da primavera, inventar uma economia mais forte, ao mesmo tempo criadora de empregos, mais inovadora, mais respeitosa do clima e da biodiversidade e mais solidária. E sei que o Primeiro-Ministro e o governo estão totalmente mobilizados.

A esperança reside na liberdade que reencontraremos, na força de nossa cultura e de nossa arte francesa de viver, também nas lições de maior simplicidade, eficiência e, às vezes, simplesmente bom senso que aprenderemos com essa crise.

A esperança reside em nossa juventude. Nós lhe exigimos tanto: sacrifícios, renúncia aos encontros que são, nessa idade mais do que em outras, o sal da vida. Nós lhe exigimos tanto que salvassem vidas, especialmente as de nossos idosos mais frágeis. Portanto, nossas escolhas futuras guardam uma dívida para com ela, e eu a assumo: é por nossa juventude que devemos continuar agindo, transformando, avançando. Ao custo da crise, não adicionaremos o da inação.

Combatendo o vírus, atacando suas consequências econômicas e sociais e refundando uma sociedade mais forte, fraterna e sustentável, é a França de 2030 que construiremos. Esse é nosso rumo.

Portanto, juntos, em concórdia, olhemos para frente, olhemos para nosso futuro, preparemos desde já a primavera de 2021 que será o início de uma nova aurora francesa, de um renascimento europeu.

Continuemos sendo esse povo unido, solidário, orgulhoso de sua história, seus valores e sua cultura, confiante no futuro e no progresso, seguro de seu talento e sua energia e ambicioso por si mesmo. Aconteça o que acontecer.

Tenhamos orgulho. Orgulho de sermos “nós”, os franceses, a França.

É isso, meus caros compatriotas.

Feliz Ano Novo a todos.

Que 2021 seja um ano feliz para todas e todos, e um ano útil para nosso país.

Viva a República.

Viva a França.



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