Desde a primeira posse de Emmanuel Macron, em 2017, os registros no site oficial do Elysée começaram a ficar muito bagunçados, e alguns discursos sumiram, outros ficaram mais difíceis de encontrar, não foi constituído um acervo de vídeos históricos etc. Por isso, fiquei dependente do que pude encontrar pelo Google ou no YouTube.
Curiosamente, os europeus pareciam gostar nos anos 2000 muito mais do Dailymotion ou do Vimeo do que do próprio YouTube, portanto, foi muito mais fácil achar os discursos de Sarkozy na primeira plataforma. A partir de 2013, sob François Hollande, ficou mais fácil achar em canais diversos do YouTube, sobretudo de agências de notícias, como estes votos pra 2020. Porém, até hoje não entendo por que nenhum vídeo do presidente Hollande foi publicado no YouTube oficial, enquanto o Dailymotion oficial é o mais completo de todos. Além disso, conforme as datas dos vídeos, há um “buraco” no YouTube entre 28 de janeiro de 2011 e 15 (“Ao vivo”) ou 18 (“Vídeos”) de janeiro de 2019...
O ano de referência sempre é o próximo, ao qual cada presidente está desejando votos, e não o que está acabando, quando o discurso é gravado e lançado. Uso o Google Tradutor pra obter os textos mais rapidamente, mas revisando e confrontando manualmente com os originais. Pra França, a fonte desses textos, como é o caso dos votos pra 2020, está sendo um site de informações políticas, econômicas e sociais chamado “Vie publique”, ligado ao gabinete do primeiro-ministro, mas infelizmente pouco divulgado.

Francesas, franceses,
Meus caros compatriotas da França europeia [hexagone] e do Ultramar,
Pela terceira vez desde o início de meu mandato, tenho a honra de me dirigir a vocês no dia 31 de dezembro.
Nesta época de festas de fim de ano, quando a maioria de vocês está reunida com a família ou entes queridos, gostaria primeiramente de mandar uma lembrança calorosa para aquelas e aqueles que estão doentes ou sozinhos.
Gostaria de saudar nossos compatriotas que, novamente esta noite, estão em seus postos. Nossos militares, nossos policiais civis e militares, nossos bombeiros, nossos profissionais de saúde, funcionários ou assalariados do setor privado ou associativo estão cuidando de nós, novamente esta noite, para que possamos viver estas poucas horas tranquilamente.
Todos nós precisamos disso. Pois durante o ano que está terminando, passamos por momentos de provação – a morte de nossos soldados no combate ao terrorismo, o assassinato de nossos policiais na Delegacia de Paris, a violência que perturbou a vida de nosso país, os desastres naturais que afetaram a França europeia e ultramarina; momentos de emoção também – o falecimento do presidente Chirac ou o incêndio que consumiu Notre-Dame.
Com o Grande Debate Nacional, diante da indignação expressa pelo movimento dos coletes amarelos, conseguimos estabelecer um diálogo respeitoso e republicano, sem precedentes numa democracia, e tomar decisões importantes.
Ao mesmo tempo, começamos a notar, em nossas vidas concretas, os primeiros resultados do esforço de transformação empreendido nos últimos dois anos e meio.
Mais de 500 mil empregos foram criados desde maio de 2017, muitas vezes beneficiando pessoas que estavam fora do mercado de trabalho há muito tempo; cada vez mais empresas sendo criadas; investimentos internacionais em nossa economia maiores do que os registados por nossos vizinhos; fábricas que estão reabrindo e permitindo que regiões em dificuldade recobrem a esperança: há anos a França não conhecia tamanho impulso.
Fizemos tudo isso juntos. Pois esses bons números que a cada dia tornam a França mais forte pertencem, antes de tudo, a vocês, são fruto de seu trabalho, dos riscos assumidos por nossos empresários, nossos autônomos, nossos comerciantes, nossos agricultores, fruto do gênio criativo de nossos inventores e artistas, do empenho dos trabalhadores, assalariados e engenheiros.
Esses números também constituem um incentivo para continuar o movimento já iniciado.
Eu dizia a vocês que são os terceiros votos que lhes dirijo. Geralmente é a época do mandato em que paramos de agir com vigor, sobretudo para não desagradar a mais ninguém à medida que se aproximam os futuros pleitos eleitorais – municipais, senatoriais, departamentais, regionais e, enfim, presidenciais.
Não temos o direito de ceder a essa fatalidade. É o oposto que deve acontecer.
Esta noite, assumo diante de vocês o compromisso de dedicar toda a minha energia para transformar nosso país, tornando-o mais forte, mais justo e mais humano.
Estou ciente de que as mudanças frequentemente perturbam. Mas as preocupações não devem levar à inação. Pois há coisas demais para fazer.
Também entendo como as decisões tomadas podem às vezes ser chocantes, despertar medos e oposição. Deveríamos por isso desistir de mudar nosso país e nosso dia a dia? Não. Pois significaria abandonar aqueles que o sistema já abandonou, trair nossos filhos, seus filhos depois deles, que então teriam de pagar o preço de nossa omissão.
Por isso, a reforma da previdência com que me comprometi diante de vocês e que está sendo conduzida pelo Governo será levada a cabo.
Porque é um projeto de justiça e progresso social.
Um projeto de justiça e progresso social porque garante a universalidade: trata-se de fazer com que um euro de contribuição paga abra os mesmos direitos para todos desde a primeira hora de trabalho. Está longe de ser o caso hoje. Um projeto de justiça e progresso social porque resulta em maior equidade: levaremos em conta trabalhos árduos para permitir que aqueles que os realizam se aposentem mais cedo, sem que isso esteja vinculado a uma categoria ou a uma empresa. Queremos que cada um possa se beneficiar de uma aposentadoria digna, especialmente as mulheres, esquecidas pelo sistema atual e cujas aposentadorias são quase metade das dos homens; aqueles que fracassaram na carreira, os lojistas, os autônomos, os agricultores que nos alimentam, mas após toda uma vida de trabalho recebem apenas algumas centenas de euros de aposentadoria por mês; ou, finalmente, os milhões de franceses hoje forçados a trabalhar além dos 64 anos para receber sua aposentadoria integral.
Um projeto de justiça e progresso social, finalmente, porque se baseia num princípio de responsabilidade: trata-se de garantir o equilíbrio do sistema de repartição que usamos desde o Conselho Nacional da Resistência e, portanto, sua solidez ao longo do tempo. É a base da solidariedade entre gerações. Significa garantir que aqueles que trabalham sejam capazes de pagar a nossos idosos uma aposentadoria justa, num mundo – e isso é uma sorte – onde estudamos cada vez mais tarde e vivemos cada vez mais.
Portanto, não se enganem: ouço os medos e ansiedades que estão surgindo sobre esse assunto tão importante, que está no cerne da identidade francesa. Também ouço muitas mentiras e manipulações.
O apaziguamento deve sempre ter precedência sobre o confronto. Apaziguamento não significa desistir, mas respeitar uns aos outros em nossas divergências. Minha única bússola é e será o interesse de nosso país, nossa capacidade de garantir a melhor aposentadoria possível para nossos idosos, a defesa dos que nem sempre têm a capacidade de se expressar, ou seja, nossos filhos.
Por isso, juntamente com as organizações sindicais e patronais que o desejam, espero que o Governo de Édouard Philippe encontre em prol de vocês o caminho rumo a um compromisso rápido, respeitando os princípios que acabo de recordar.
Meus caros compatriotas, em algumas horas começará uma nova década.
Vejo as expectativas, a impaciência e, assim como vocês, estou ansioso para ver a situação melhorar mais rapidamente para todos nós, e especialmente para os mais vulneráveis entre nós. Estamos mudando as coisas, mas às vezes precisamos recuperar o tempo perdido. Isso não acontece da noite para o dia.
Assim, no raiar desta nova década, quero lhes garantir que não vou ceder ao pessimismo ou ao imobilismo. Sou o fiador do que faz de nosso país a França: nossas instituições, nossas forças vitais, nossa previdência social, nossa cultura, nossa laicidade, a igualdade entre mulheres e homens, nossa solidariedade. Assim como você, importo-me com o que nos liga, o que nos une, o que somos. Não devemos nos adaptar ao jeito que as coisas são – isso não é a França! –, mas permanecer fiéis ao que somos, construindo uma sociedade nova que responda de acordo com nossas escolhas às convulsões em curso.
Mais do que nunca, será essencial colocar o trabalho e o mérito no centro de nossa ação. O Governo fez muito para que mais franceses trabalhassem e para que o trabalho pagasse melhor. Devemos continuar nesse caminho. A redução do imposto de renda e a abolição completa do imposto de moradia para a grande maioria de vocês se tornarão realidade em 2020.
Quero que continuemos a estimular a iniciativa, a simplificar, a permitir mais inovação, a permitir que se trabalhe melhor, a compartilhar a riqueza criada em todas as empresas, a ajudar nossos agricultores e pescadores a viverem dignamente de seu trabalho, assim como todos os empreendedores e assalariados. É a condição para uma Nação forte e independente.
Se quisermos combater eficazmente as injustiças, o fato de crianças demais em nossa República verem seu destino definido no dia de seu nascimento, temos de continuar investindo mais na educação e na saúde. Educar, instruir, treinar, cuidar e apoiar são missões essenciais. Continuaremos fazendo da escola, da formação e do aperfeiçoamento por toda a vida a base de nossa sociedade. Iniciaremos a revalorização e transformação das carreiras dos professores, docentes universitários e cuidadores. Seguiremos uma política ambiciosa para os hospitais, que tanto me importam, e para uma medicina mais humana e centrada no paciente.
Este ano também teremos de tomar decisões essenciais para nossos concidadãos com deficiência e para nossos idosos dependentes.
2020 também será o ano em que um novo modelo ecológico deverá ser implantado. Muitas decisões foram tomadas nesse sentido: fechamento de termelétricas a carvão, interrupção de novas perfurações, e não listarei tudo aqui. Tenho grandes expectativas quanto às propostas que estão sendo preparadas por 150 de nossos compatriotas que estiveram envolvidos na Convenção Cidadã e estão trabalhando incansavelmente há várias semanas. Na próxima primavera, caberá a nós afirmar novas e fortes escolhas, uma estratégia plurianual para reduzir nossas emissões de gases do efeito estufa e combater o aquecimento global, bem como trabalhar em prol da biodiversidade. Essa estratégia nacional deve ser ecológica e econômica: ou seja, devemos preservar o planeta criando novos empregos. Deve ser ecológica e social: devemos mudar nossos hábitos ajudando os mais pobres a ter transporte e moradia mais baratos e menos poluidores. Deve ser ecológica e cultural: uma nova política para nosso paisagismo, a redescoberta da beleza e a reinvenção de uma qualidade de vida à francesa. Vocês não esperaram o Governo para se envolver na questão; vocês estão na vanguarda de todos esses combates: diariamente, por meio de suas escolhas alimentares, de gestos simples e essenciais que vocês realizam, como os jovens nos mostraram pelo exemplo, numa mobilização sem precedentes. Devemos ampliar esse movimento e acelerá-lo em todos os níveis: local, nacional, europeu, internacional.
Por fim, 2020 deve abrir a década da unidade redescoberta da Nação.
Vejo divisões demais em nome de origens, religiões e interesses. Lutarei resolutamente contra as forças que minam a unidade nacional e, nas próximas semanas, tomarei novas decisões sobre essa questão.
O Estado e os serviços públicos têm um papel essencial no fortalecimento dessa unidade francesa. Sei que nessa questão também posso contar com todos os políticos eleitos. Esta noite, gostaria de mandar uma lembrança calorosa aos prefeitos da França. Em algumas semanas, muitos deles sairão após um ou vários mandatos, outros pedirão a confiança de vocês. Que esta noite sejamos novamente agradecidos a todos eles; são os pilares da República cotidiana, das regiões. Precisamos tanto disso.
E sei também que posso contar com vocês, meus caros compatriotas, sim, para garantir a unidade da Nação; lembremo-nos sempre de que temos mais deveres do que direitos para com a França. Nosso compromisso, nosso senso de dever e nosso senso de respeito pelos outros cidadãos são valores essenciais para nossa unidade e nossa concórdia. Esses valores estão no cerne do serviço nacional universal que será implementado ao longo do próximo ano e ao qual atribuo a maior importância.
Lembro-me daqueles dias de primavera, quando a torre de Notre-Dame queimou antes de desabar. A onda de emoção foi imediatamente seguida por uma onda de entusiasmo para reconstruir rapidamente essa joia nacional para os próximos mil anos. Porque todos viram em Notre-Dame a marca do espírito francês, algo além de nós.
Somos um povo de construtores, conscientes de nossa vocação universal. Um povo de longa data que, por saber de onde vem, sabe se projetar. Um povo que sempre sabe se elevar à altura das circunstâncias.
Esse senso de história, essa unidade muitas vezes testada, serão nossos maiores trunfos para enfrentar os tempos que virão.
Quando a história se acelera, o espírito francês não cede nada ao fatalismo.
Demonstramos isso preservando o Acordo Climático de Paris, influenciando a resolução das crises na Ucrânia, no Irã, na Líbia e na Síria, que têm impacto direto em nossa segurança, e nos engajando resolutamente contra o terrorismo no Sahel.
Teremos que demonstrar isso novamente nas próximas semanas e meses.
Em particular, para que se construa uma Europa soberana em termos de defesa, segurança, clima e tecnologia digital, uma Europa que, orgulhosa de seu modelo democrático que combina liberdade e solidariedade, seja ao mesmo tempo nosso escudo e nosso porta-voz. Nesse sentido, a saída do Reino Unido da União Europeia é um teste. Trabalharei para manter um relacionamento forte entre nossos dois países.
Meus caros compatriotas, se assim escolhermos e se nos unirmos, a década que se inicia pode ser a nossa, e nossa Nação poderá se tornar a que inventa os meios para vivermos fortes e felizes nestes tempos de grande convulsão.
Precisaremos saber fazer escolhas claras, investir no futuro, em nossa juventude, em nossa pesquisa e em novos modelos e projetar tendo esta década como horizonte.
Sim, acredito em nós, em nossa capacidade de construirmos a França juntos.
Juntos, façamos da década que está começando uma década francesa e europeia!
Cada um de vocês tem um papel a desempenhar, cada um de vocês é essencial para alcançar isso.
Portanto, desejo paz e felicidade a todos vocês. Quanto a mim, saibam o quanto aprecio a cada dia a imensa honra que me é concedida de lhes servir, presidir nossa República e preparar o futuro de nossa Nação. Dedicarei toda a minha energia a isso, com muito coração, portando todos os dias o entusiasmo e as exigências de vocês.
Desejo a vocês um Feliz Ano Novo de 2020.
Viva a República!
Viva a França!
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