quinta-feira, 13 de março de 2025

Votos de François Hollande pra 2017


Endereço curto: fishuk.cc/voeux2017

Desde a primeira posse de Emmanuel Macron, em 2017, os registros no site oficial do Elysée começaram a ficar muito bagunçados, e alguns discursos sumiram, outros ficaram mais difíceis de encontrar, não foi constituído um acervo de vídeos históricos etc. Por isso, fiquei dependente do que pude encontrar pelo Google ou no YouTube.

Curiosamente, os europeus pareciam gostar nos anos 2000 muito mais do Dailymotion ou do Vimeo do que do próprio YouTube, portanto, foi muito mais fácil achar os discursos de Sarkozy na primeira plataforma. A partir de 2013, sob François Hollande, ficou mais fácil achar em canais diversos do YouTube, sobretudo de agências de notícias, como estes votos pra 2017. Porém, até hoje não entendo por que nenhum vídeo do presidente Hollande foi publicado no YouTube oficial, enquanto o Dailymotion oficial é o mais completo de todos. Além disso, conforme as datas dos vídeos, há um “buraco” no YouTube entre 28 de janeiro de 2011 e 15 (“Ao vivo”) ou 18 (“Vídeos”) de janeiro de 2019...

O ano de referência sempre é o próximo, ao qual cada presidente está desejando votos, e não o que está acabando, quando o discurso é gravado e lançado. Uso o Google Tradutor pra obter os textos mais rapidamente, mas revisando e confrontando manualmente com os originais. Pra França, a fonte desses textos, como é o caso dos votos pra 2017, está sendo um site de informações políticas, econômicas e sociais chamado “Vie publique”, ligado ao gabinete do primeiro-ministro, mas infelizmente pouco divulgado.



Meus caros compatriotas,

Esta noite é a última vez que lhes faço meus votos como Presidente da República.

Para mim, é um momento de emoção e seriedade. Quero compartilhá-lo com vocês, francesas e franceses de todas as origens, convicções e crenças, da Metrópole e do Ultramar.

Primeiro, gostaria de falar com vocês sobre o que suportaram neste último ano, quando nosso país foi atingido por terríveis atentados: o de Nice em 14 de julho passado, mas também os de Magnanville e de Saint-Étienne-du-Rouvray. Penso neste momento nas vítimas, em suas famílias e nos feridos que sofrem no coração e na carne.

Sei também da inquietude que ainda perpassa vocês com essa ameaça terrorista que não diminui, como infelizmente foi demonstrado pelo que aconteceu em Berlim nos últimos dias. Portanto, cabe a mim e ao governo de Bernard CAZENEUVE [então primeiro-ministro] garantir a proteção de vocês. Estou dedicando a isso todos os recursos necessários e quero prestar homenagem a nossos policiais civis e militares e a nossos soldados que se dedicam até o sacrifício para garantir nossa segurança.

Face aos ataques, vocês se mantiveram firmes. Os terroristas queriam dividir, separar e assustar vocês. Vocês provaram ser mais fortes, concertados, solidários e unidos. Vocês não cederam a amálgamas, estigmatizações e brigas vãs. Vocês continuaram vivendo, trabalhando, saindo, movimentando-se e valorizando a liberdade. Vocês podem se orgulhar de si mesmos.

Mas ainda não acabamos com o flagelo do terrorismo. Teremos que continuar combatendo-o – no exterior, que é o sentido de nossas operações militares no Mali, na Síria, no Iraque – o Iraque aonde irei depois de amanhã para saudar nossos soldados. Combatê-lo também internamente para frustrar atentados, colocar indivíduos perigosos fora de ação e prevenir a radicalização jihadista.

Estejam certos de uma coisa: dessa luta contra a barbárie, nossa democracia sairá vitoriosa.

Meus caros compatriotas, cinco anos de presidência me deram uma experiência que quero compartilhar com vocês esta noite: a França é um país admirado, esperado e até mesmo desejado no mundo todo. Sem dúvida, é a herança de nossa História, de nossa língua e de nossa cultura, mas é, sobretudo, o respeito que inspiram nossos valores, nosso modo de vida, nosso apego à liberdade. Isso explica por que, quando somos atacados, o mundo inteiro está a nosso lado. É isso que dá credibilidade à palavra da França para apoiar grandes causas – tenho em mente o combate ao aquecimento global, pois lembrem-se, foi em Paris que se concluiu um acordo histórico; aí vocês notam, com os picos de poluição, a necessidade urgente, sobretudo, de implementá-lo. Portanto, eu lhes garanto: a França não deixará que ninguém ou nenhum Estado, mesmo o maior, ponha em causa essa grande conquista da comunidade internacional.

Diante de potências, antigas e novas, a França deve reafirmar sua independência. Em um ambiente internacional cheio de incertezas, com clima de guerra fria, poucos países têm a capacidade de tomar decisões soberanas por meio de sua defesa, ou seja, seu exército e sua política externa. Nós a temos. E devemos fazer de tudo para preservar essa liberdade estratégica, porque a França tem um espaço e uma mensagem a defender. Ela não aceita as violações mais básicas dos direitos humanos – o uso de armas químicas, os massacres de populações civis como em Aleppo, a perseguição de minorias religiosas, a subjugação das mulheres. A França jamais admite um fato consumado, o questionamento de fronteiras. Por toda parte, ela busca soluções por meio do diálogo, inclusive no Oriente Próximo e Médio. A França luta pelo desenvolvimento da África e pela redução das desigualdades, pois sabe que é aí que está a solução para a migração. Eis o que significa ser francês hoje, e eu gostaria que vocês pudessem, mais uma vez, se orgulhar disso.

Meus caros compatriotas, durante todo o meu mandato, tenho apenas uma prioridade: restaurar nossa economia para reduzir o desemprego. Assumo as escolhas que fiz – os resultados estão chegando, mais tarde do que eu esperava, concordo, mas estão aí –, as contas públicas foram restauradas, a Previdência Social está equilibrada, a competitividade de nossas empresas foi recuperada, a construção de moradias atingiu um nível recorde, o investimento está retornando e, sobretudo, o número de pessoas procurando emprego finalmente está caindo há um ano. Ao mesmo tempo, tal como eu queria, o progresso social não parou seu curso; novos direitos foram concedidos para os assalariados, para a formação ao longo da vida, para a integração dos jovens e para o acesso universal à saúde para todos. Ainda há trabalho a ser feito, mas o fundamento está aí, as bases são sólidas.

Esses sucessos pertencem a vocês. Vocês devem se apropriar deles, não para negar as dificuldades que permanecem, não para esconder o sofrimento que persiste ou para adiar as escolhas, algumas ainda devendo ser feitas, mas para terem consciência de seus pontos fortes, talentos, habilidades e sucessos. Nosso principal adversário é a dúvida. Vocês devem ter confiança em si mesmos, sobretudo diante dos desafios que nos esperam. Neste fim de ano, tudo o que às vezes acreditávamos adquirido para sempre – democracia, liberdade, direitos sociais, a Europa e mesmo a paz – está se tornando vulnerável, reversível. Vimos isso no Reino Unido com o Brexit e nos Estados Unidos durante as eleições de novembro; vemos isso em nosso continente com a ascensão dos extremos. Há períodos na história em que tudo pode mudar. Estamos vivendo um desses.

Daqui a menos de cinco meses, meus caros compatriotas, vocês terão que fazer uma escolha. Será decisivo para a França, diz respeito a seu modelo social, ao qual vocês são apegados, pois ele garante a igualdade de todos perante os acasos da vida, particularmente da saúde. Diz respeito a seus serviços públicos essenciais, particularmente a escola da República, onde muito está em jogo, principalmente para os jovens que são a nossa esperança. Diz respeito também à capacidade de nosso país de compreender as grandes mudanças que são a revolução digital e a transição energética, para torná-las fatores de crescimento, bem-estar e emprego e não elementos adicionais de precariedade e instabilidade. Por fim, diz respeito aos valores. A França é aberta ao mundo, é europeia, é fraterna. Como podemos imaginar nosso país encolhido atrás de muros, reduzido a seu mercado interno, retornando a sua moeda nacional e, ainda por cima, discriminando suas crianças conforme suas origens! Mas não seria mais a França!

Essas são as principais questões. Os debates que se abrem as esclarecerão, mas nestas circunstâncias, o papel das forças e personalidades políticas é imenso. Elas devem estar à altura da situação, demonstrar lucidez, evitar brutalizar a sociedade e também evitar a dispersão que, para algumas de nossas forças políticas, levaria a sua eliminação. Mas aconteça o que acontecer, são vocês que terão a última palavra. Por isso, sua responsabilidade é tão grande e a França conta com vocês.

De minha parte, até o último dia de meu mandato, estarei totalmente comprometido em servir o nosso país, agir pela França, lutar pela justiça e pelo progresso, é o compromisso de toda a minha vida. Nunca renunciarei a ele. Compartilhei com vocês provações e sofrimentos, mas também alegrias e felicidades.

Tive o imenso orgulho de estar à frente de um povo firme, fiel a si mesmo e a sua vocação universal. É um vínculo inquebrável que nos une e que nada alterará. Reforçado nessa convicção, faço do fundo de meu coração meus mais calorosos votos para este novo ano.

Viva a República! Viva a França!



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe suas impressões, mas não perca a gentileza nem o senso de utilidade! Tomo a liberdade de apagar comentários mentirosos, xenofóbicos, fora do tema ou cujo objetivo é me ofender pessoalmente.