Dedico esta publicação
à memória de Jaílson Mendes.
(Os fortes entenderão...)
Em conversa com um amigo meu, que não conhece a fundo línguas eslavas, estava lhe dizendo que, embora na maioria dessas línguas se use a palavra “óko” (e o plural “ótchi”, originalmente um dual) pra designar “olho”, em russo a palavra é bem diferente: singular “glaz”, plural irregular “glazá”, relacionadas com o radical “gliad-” (olhar, olhada). Conforme se lê no verbete do Wiktionary acima, a forma “oko” é arcaica e usada apenas em contextos poéticos, figurados ou eruditos, como na célebre canção Óchi chórnye (Olhos negros). Abaixo segue a declinação completa dessa palavra:

Já em ucraniano, seguindo a maioria das línguas eslavas, ainda é a forma padrão usada com o significado de “olho” (veja também a declinação):


Do nada, esse meu amigo me assusta com a pergunta se “oko” também não designava o toba, segundo lhe teria dito um antigo professor de russo seu, de origem ucraniana. Claro que por associação podemos pensar no “olho de trás”, mas nunca soube desse significado, e até fui na versão russa, na qual vi apenas “aquilo que pela aparência externa ou pela destinação faz lembrar o olho [glaz]”. Depois é que acabei achando a palavra “ochkó”, desconhecida minha até então, que tinha aquele sentido e tantos outros mais:


Enfim lhe disse também que, assim como várias palavras ou radicais do português moderno, a forma “oko” (às vezes alterando com “och(e)-”) hoje é de longe mais usada em derivações que guardam uma vaga relação com o sentido original, e não como vocábulo independente. Seguem os respectivos exemplos de “testemunha”, “óbvio”, “janela”, “remoto” (ou “a distância”, ou “in absentia”) e “óculos”, que, como entre nós, só se usa no plural:





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