Estou começando hoje um projeto que acalentei durante anos, desde os tempos do Pan-Eslavo Brasil no YouTube. Nas próximas semanas, vou lançar todos os dias os discursos traduzidos de Ano Novo, mas ainda não publicados aqui, dos presidentes franceses e russos, após ter programado os conteúdos durante os fins de semana. Infelizmente, a única diferença é que os vídeos não vão ser legendados, aparecendo apenas no final da página tal como surgiram inicialmente.
Por enquanto, vou me limitar aos da França a partir de 2008, quando assumiu Nicolas Sarkozy, e da Rússia a partir de 2001, o segundo de Vladimir Putin, já que o primeiro da virada do 2000, feito em conjunto com o demissionário Boris Ieltsin, publiquei no fim do ano passado, devido a sua importância histórica. Futuramente, se encontrar os textos e os respectivos vídeos, posso traduzir também de presidentes anteriores ou mesmo estender minha coleção a outros países.
Com essa iniciativa, recupero uma “pegada” mais histórico-documental, talvez a mais estimada pelo público da página e que era a preferida (depois das canções, acredito, rs) da audiência do finado Pan-Eslavo Brasil. Ocasionalmente, posso interromper a sequência com outros artigos informativos, sobretudo traduzidos, mas vou evitar a publicação de “humor” duvidoso, notas aleatórias e memes de baixa qualidade. Ao final, com a tradução de todos os discursos encontrados, vou lançar a página unificada, pra ficar disponível à consulta de todos os pesquisadores e interessados em história contemporânea.
Desde a primeira posse de Emmanuel Macron, em 2017, os registros no site oficial do Elysée começaram a ficar muito bagunçados, e alguns discursos sumiram, outros ficaram mais difíceis de encontrar, não foi constituído um acervo de vídeos históricos etc. Por isso, fiquei dependente do que pude encontrar pelo Google ou no YouTube. Curiosamente, os europeus pareciam gostar nos anos 2000 muito mais do Dailymotion ou do Vimeo do que do próprio YouTube, portanto, foi muito mais fácil achar os discursos de Sarkozy, como os votos pra 2008, na primeira plataforma. Há também um backup no YouTube, de resolução igualmente baixa. Além disso, até hoje não entendo por que nenhum vídeo do presidente François Hollande foi publicado no YouTube oficial, enquanto o Dailymotion oficial é o mais completo de todos. Além disso, conforme as datas dos vídeos, há um “buraco” no YouTube entre 28 de janeiro de 2011 e 15 (“Ao vivo”) ou 18 (“Vídeos”) de janeiro de 2019...
Dito isso, reitero que o ano de referência sempre vai ser o próximo, ao qual cada presidente está desejando votos, e não o que está acabando, quando o discurso é gravado e lançado. Estou usando o Google Tradutor pra obter os textos mais rapidamente, mas revisando e confrontando manualmente com os originais. Pra França, a fonte desses textos, como é o caso dos votos pra 2008, está sendo um site de informações políticas, econômicas e sociais chamado “Vie publique”, ligado ao gabinete do primeiro-ministro, mas infelizmente pouco divulgado.

Francesas, franceses, meus caros compatriotas,
Neste 31 de dezembro, ao final de um ano tão cheio para nosso país, é com gratidão pela confiança que vocês me demonstraram e consciente dos deveres que ela me impõe que me dirijo a vocês.
Esta noite, tenho um pensamento para cada um de vocês.
Penso em vocês que estão se preparando para celebrar o Ano Novo com a família, com os amigos, esquecendo as preocupações do dia a dia.
Penso em vocês que são obrigados a trabalhar esta noite a serviço dos outros e em vocês, soldados franceses em operações longe de seus lares e que arriscam suas vidas para defender nossos valores.
Penso também em vocês que estão sozinhos e para quem esta noite sem ninguém com quem conversar será uma noite de solidão como todas as outras.
Penso em vocês, a quem a vida pôs à prova e a quem a tristeza ou a dor afastou da celebração.
Quero dirigir a cada um de vocês uma mensagem de esperança, uma mensagem de fé na vida e no futuro. Gostaria de convencer até mesmo aquele que duvida de que a desgraça não é inevitável.
Em meio às alegrias e tristezas que a existência reserva para cada um de nós, podemos, por meio do esforço de todos, construir uma sociedade onde a vida será mais fácil, onde o futuro poderá ser encarado com maior confiança.
Essa é a tarefa que vocês me confiaram ao me elegerem Presidente da República em maio passado. Uma tarefa imensa, considerando o quanto a França ficou atrasada no caminhar do mundo.
Sei quão grande é a expectativa que vocês têm de uma mudança profunda após anos de esforços e sacrifícios que a maioria de vocês sente ter feito em vão.
Sei dos medos que muitos de vocês sentem quanto ao futuro de seus filhos. Sei da angústia que toma conta de vocês quando temem perder o emprego ou receiam que o aumento do custo de vida não lhes permita mais, mesmo trabalhando duro, proporcionar uma vida decente para sua família.
Sei de sua exasperação quando querem empreender ou quando querem trabalhar mais e têm a sensação de que tudo é feito para impedi-los.
Pois bem, nem tudo pode ser resolvido em um dia! Mas acreditem, minha determinação é inabalável. Apesar dos obstáculos, apesar das dificuldades, realizarei tudo o que prometi. Farei tudo simplesmente porque é do interesse da França.
Desde que vocês me escolheram para presidir os destinos de nosso país, eu quis pôr em marcha todo o possível para manter a promessa que lhes fiz de lhes devolver o orgulho de ser franceses, de lhes dar o sentimento de que, em nosso velho país, tudo poderia se tornar possível.
Nos últimos oito meses, com François Fillon e todo o governo, empreendi muitas mudanças profundas.
A quem acha que as coisas não aconteceram rápido o suficiente, quero dizer que fiz tudo o que julguei possível fazer, levando em conta a exigência de diálogo social e negociação. Não acredito na brutalidade como método de governo. Acredito que meu papel é convencer e reunir, e não ofender e dividir. É nisso que tenho me esforçado, com respeito por todos.
A quem acha que a mudança foi muito rápida, quero dizer que não devemos perder de vista o fato de nosso país ter esperado demais e de o tempo estar se esgotando, se quisermos continuar sendo donos de nosso destino.
Eu quis que todos encarassem suas responsabilidades. Tomei as minhas. Posso ter cometido erros. Mas durante oito meses, agi apenas com a preocupação de defender os interesses da França, e não houve um dia em que não repetisse a mim mesmo o compromisso que assumi com cada um de vocês: “Não os enganarei, não os trairei.”
Eu lhes devo a verdade. Sempre a direi a vocês. Não me permitirei nenhuma hipocrisia. Coloquei todo meu coração e toda minha energia em ser o presidente de todos os franceses, e não apenas daqueles que sempre compartilharam minhas convicções. Foi por isso que eu desejava a abertura, foi por isso que eu a fiz isso com homens e mulheres de valor. Eu não pedi que eles se renegassem. Simplesmente lhes propus que servissem a seu país. Eles aceitaram. Sou grato a eles por isso.
É com o mesmo espírito de abertura, com a mesma vontade de cumprir minhas promessas, que abordo este novo ano em que, apesar de uma conjuntura internacional freada pela crise financeira, deverão se fazer sentir os primeiros resultados da ação empreendida.
Estou bem ciente de que ainda há muito por fazer para que as medidas implementadas resultem em melhorias visíveis nas vidas diárias de vocês, assim atendendo a todas as expectativas que vocês expressaram ou restabelecendo à França sua posição e papel no mundo.
Neste final de 2007, está se concluindo uma primeira etapa no caminho da mudança. É a da emergência: emergência em superar as velhas divisões partidárias. Emergência no choque fiscal e social para restaurar a confiança e apoiar a atividade e que permitiu a nossa economia resistir à desaceleração conjuntural melhor do que outras. Emergência no poder de compra. Emergência na autonomia universitária. Emergência em reformar os regimes especiais, em liberar e reabilitar o trabalho. Emergência no serviço básico. Emergência na modernização do Estado, finalmente iniciada, emergência nas reformas esperadas há 20 ou 30 anos. Emergência em que a França sirva de exemplo em questões de meio-ambiente, qualidade de vida e desenvolvimento sustentável. Emergência no tratado simplificado para desbloquear a Europa, a Europa em que nunca deixei de pensar como indispensável. Emergência em que a França volte a falar com todos para poder desempenhar o papel que deve ser o seu a serviço da paz e do equilíbrio do mundo, a serviço dos que sofrem, das crianças e mulheres martirizadas, dos perseguidos, dos que esperam no fundo de suas prisões que a França fale e aja por eles.
Com 2008, começa uma segunda etapa: a de uma política que toca ainda mais no essencial, em nosso modo de ser na sociedade e no mundo, em nossa cultura, em nossa identidade, em nossos valores, em nossa relação com os outros, ou seja, fundamentalmente, em tudo o que forma uma civilização.
Por muito tempo, a política foi reduzida à gestão, permanecendo distante das verdadeiras causas de nossos males, que muitas vezes são mais profundos. Estou convencido de que, nos tempos em que vivemos, precisamos do que chamo de uma política de civilização.
Não resolveremos nada se não construirmos a escola e a cidade do século 21, se não colocarmos no cerne da política a preocupação com a integração, com a diversidade, com a justiça, com os direitos humanos e com o meio-ambiente, se não redescobrirmos o gosto pela aventura e pelo risco, o senso de responsabilidade simultâneo ao de respeito e solidariedade, ou se não nos comprometermos a moralizar o capitalismo financeiro. Não se trata de fazer discursos – tantos desses já feitos –, mas de agir para obter resultados.
Então, que a França mostre o caminho! É o que desde sempre todos os povos do mundo esperam dela.
É o que faremos a partir de 1.º de julho, quando a França assumir a presidência da União Europeia. É o que queremos fazer com a União para o Mediterrâneo, que é um grande sonho de civilização. É o que queremos fazer no mundo todo para devolver a esperança aos que não têm mais nenhuma. É o que, naturalmente, superando nossas dúvidas e angústias, devemos fazer primeiro pela própria França.
Nosso velho mundo precisa de uma nova Renascença. Pois bem, que a França seja a alma dessa Renascença! Esse é meu maior desejo para o próximo ano.
Desejo do fundo do coração que seja um ano de felicidade e sucesso para a França, para cada um de vocês e para todos aqueles que lhes são queridos.
Meus caros compatriotas,
Viva a República! Viva a França!
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