sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

Oliver Stuenkel apoia a Ucrânia


Endereço curto: fishuk.cc/stuenkel-ua

Na maior “cara de pau” (rs), reproduzo aqui uma excelente análise, embora bem panorâmica, que Oliver Stuenkel, especialista teuto-brasileiro em relações internacionais, publicou hoje em seu Instagram sobre a secular política colonialista e racista da Rússia pra com a Ucrânia. Agradeço a meu amigo Gustavo Firmino, que me enviou essa pérola, e aproveito pra fazer um jabá de seu blog de psicologia, Psi da massa, todo dia atualizado com maravilhosas reflexões! Como nada do que cai aqui fica intocado, revi as transliterações (a mais óbvia sendo “Kiev”!), aboli algarismos romanos e fiz poucos adendos. Relembro apenas que, embora o “Holodómor” tenha atingido particularmente a Ucrânia, a fome causada pela coletivização irracional e idiota atingiu toda a URSS no início da década de 1930. Mesmo assim, subscrevo suas observações, e fico feliz com essa lufada de ar fresco no meio de tanto “acadêmico” apoiando o Cabeça de Rola... Se possível, riamos também das kremlinetes se estrebuchando de raiva sem terem entendido o texto:


Ocasionalmente, ouço pessoas defenderem a ideia de que os ucranianos deveriam simplesmente ter aceitado o desejo da Rússia de controlá-los, em vez de resistirem militarmente à invasão, evitando assim a morte de dezenas de milhares de soldados e civis. Esse argumento ignora o fato de que a invasão russa não é apenas uma tentativa de impedir que Kyiv fortaleça seus laços com o Ocidente, mas sim a continuação de séculos de esforços para “russificar” a sociedade ucraniana, suprimir sua língua, cultura e identidade e deslegitimar a existência da Ucrânia como país soberano.

Desde o século 17, Moscou tentou enfraquecer a identidade ucraniana. Em 1720, Pedro 1.º, o Grande, proibiu a impressão de livros em ucraniano. Em 1863, o Decreto [ukáz] de Valúiev restringiu publicações em ucraniano, afirmando que a língua “nunca existiu e nunca existirá”. Em 1876, o Decreto [também um ukaz] de Ems proibiu a importação e publicação de livros em ucraniano e a realização de peças teatrais nesse idioma. Durante o regime soviético, a repressão continuou com a limpeza étnica do Holodómor (1932-33) e a perseguição à intelligentsia ucraniana, conhecida como “Renascença Executada”.

Como Putin disse em 2008 a Bush: “Você não entende, George, a Ucrânia sequer é um país.”

Para a Ucrânia, por outro lado, a guerra é apenas mais uma tentativa de suprimir sua busca por autonomia, uma luta entre império e colônia.

A invasão de 2022 russa teve o efeito contrário ao desejado por Moscou: em vez de enfraquecer a identidade nacional ucraniana, reforçou-a significativamente, assim como o ressentimento contra a Rússia, tornando qualquer tentativa russa de dominação ainda mais difícil e custosa a longo prazo. Mesmo que ocupasse a Ucrânia neste instante, a Rússia enfrentaria um problema recorrente na história dos impérios: o controle de povos resistentes à dominação estrangeira é custoso e, em muitos casos, insustentável.

Essa consequência é reforçada pelas violações sistemáticas de direitos humanos em áreas ucranianas ocupadas pela Rússia. Cargos políticos-chave são reservados para russos, a língua ucraniana é banida e há repressão generalizada contra qualquer forma de resistência cultural ou política. [Adiciono que todo o dito neste parágrafo está amplamente documentado, mas nem nossa mídia liberal sabão em pó divulga, tanto as violações de direitos humanos quanto a supressão da língua ucraniana; já que, como sabemos, nas “áreas russas” não só o russo era/é falado, assim como Kyiv sempre foi/tinha sido uma cidade bilíngue.]


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