Sem qualquer intenção inicial, eis mais uma publicação a respeito da dependência de aparelhos eletrônicos e, mais precisamente, da conexão permanente às redes sociais, como se houvesse uma fobia de perder qualquer notícia circulando entre seus contatos, a famosa “nomofobia”. Quando publiquei o texto de ontem, tive de procurar sobre o conceito de “alienação virtual”, mencionado na mensagem enviada por Anna King, fundadora do Instituto Delete. No Google, acabei achando a variante mais comum, “alienação digital”, que é praticamente a mesma coisa, e entre vários materiais achei um artigo intitulado “Afinal de contas, o que é alienação digital: você sabe?”, escrito por Amilcar Tchinguelessy, angolano residente em Curitiba, e publicado em seu perfil no LinkedIn em 3 de maio de 2022.
Na mesma rede, Tchinguelessy se apresenta como administrador, “business manager”, escritor, palestrante e formador. É interessante que a “alienação digital” pode ser exatamente considerada o pior subproduto do vício em telas, pois não se trata somente da excitação causada pela luz ou da dopamina liberada pelas reações dos outros, mas também do desinteresse pelo ambiente fora da internet e da preferência por estar sempre conectado pra ter alguma “vida social”. De forma geral, também designa o fenômeno de uma pessoa não conseguir mais pensar de forma crítica ou por conta própria, mas apenas republicando o que outros já escreveram ou usando recursos digitais (IA?...) e as informações dos “influenciadores”. E olha que conheço e já briguei com muita gente assim, viu?
Outra sugestão que ainda não li, mas que deixo a você, é o artigo acadêmico de Nádia Laguárdia de Lima publicado nos Arquivos Brasileiros de Psicologia, ainda em 2006! O título é “O fascínio e a alienação no ciberespaço: uma perspectiva psicanalítica”, e parte do resumo é impressionante: “Este artigo propõe explicar o fascínio pela virtualidade, em especial, pelo ciberespaço, utilizando recursos da teoria psicanalítica sobre a função da imagem na subjetividade. [...] [A] busca pelo prazer imediato e um desinteresse pelas atividades que exigem um esforço ou adiamento de satisfação, e a ilusão de se ter ‘tudo’ [...] pode[m] levar a uma posição de alienação à imagem fascinante, com a consequente perda reflexiva e crítica do pensamento.”
Se Tchinguelessy não tiver nada contra (não o conheço pessoalmente), estou reproduzindo seu informativo artigo, apenas com correções e adaptações na redação, sem mudar, porém, seu próprio estilo de escrita. Também incorporei algumas das imagens que ele mesmo usou:
Hoje, é muito normal estar o tempo todo conectado na internet, seja nas redes sociais, comprando ou interagindo através de mensagens com a família e amigos, e a cada dia que passa essa tecnologia só tende a aumentar. Embora a tecnologia seja benéfica em termos sociais de interação, já que mesmo em grandes distâncias ainda há maneiras de se comunicar, e também vendas e promoção de marcas, o uso exagerado do digital (assim como qualquer outra coisa em excesso) pode fazer mal.
O que é a alienação digital?
A alienação digital pode ser definida como a incapacidade de agir e pensar por si próprio e também uma grande dependência ou exagero ao usar as tecnologias. Um bom exemplo de alienação e excessividade de telas é o filme Wall-E da Disney Pixar, onde os humanos já destruíram a Terra com poluição e lixo, e agora vivem em uma nave no espaço que é toda controlada por robôs. Os humanos em si estão vivos, mas suas vidas, como vemos no filme, são totalmente baseadas em ficar deitados, comendo enquanto passam o dia em frente a uma tela assistindo algo. Não andam, não interagem pessoalmente com outras pessoas e não fazem nada mais:
Hoje ninguém consegue viver sem o telefone e as tecnologias, pois são facilitadoras e consideradas quase que uma extensão de nossos corpos. Se precisarmos anotar algo, já não utilizamos mais um bloco de papel, e sim um aplicativo. Se devemos visitar alguém, já não é necessário, pois temos chamadas de vídeo que podem ser feitas de uma ponta a outra do mundo. Se estamos com fome, pedimos um delivery. Entende aonde quero chegar?
A tecnologia veio, sim, para facilitar a nossa vida, mas ser totalmente dependente dela a ponto de não conseguir realizar atividades básicas sem o telefone é algo um tanto preocupante. Ficar preso por horas nos dispositivos eletrônicos, apenas deslizando a tela do feed é uma forma de alienação bem severa, onde já perdemos até mesmo a noção de tempo e realidade. Já nem prestamos a atenção no que comemos ou na quantidade, estamos absortos e hipnotizados demais para dar atenção a isso.
Inclusive, crianças estão sendo colocadas no mundo digital muito cedo. Não é difícil encontrar uma criança que sabe mexer em um telefone ou iPad antes mesmo de aprender a andar ou falar.
O acesso de tecnologias e computadores deveriam ser utilizados de formas saudáveis, e não de modo excessivo. Tudo deve ser usado com moderação.
Outro filme que pode ser citado, como uma forma de dependência do telefone e outros aparelhos é o filme Ela, interpretado por Joaquin Phoenix, onde o protagonista, após o término de um namoro, se vê apaixonado por um sistema operacional que se comunicava por voz e o ajudava no dia a dia com seu trabalho e demais acontecimentos. O filme foi super bem-vindo pela crítica, sendo um romance muito bem feito e estruturado:
Uma outra forma de alienação, que pode ser proveniente da TV ou rádio, é viver em um mundo onde você não tem a verdade por trás do fato, ou seja, as grandes mídias não passam totalmente a informação. No caso, se algo X está dando uma grande dor de cabeça para o mundo, as pessoas que estão no poder mascaram a verdade e deixam que o povo fique na esperança que está tudo bem. Por isso, é importante buscar as informações verdadeiras e formar as próprias opiniões.
Por isso, vivo dizendo: quanto menos vejo TV, mais informado eu me torno. Porque para mim as TVs desinformam ao invés de informar.
Hoje, por causa de muitos influenciadores da internet, buscamos alguém para basear nossas opiniões, ou seja, esperamos ouvir a opinião do outro para formar a nossa própria. Coisas como “Se fulano gosta de chocolate branco, então eu também gosto”.
É natural mudar de opinião ouvindo outras opiniões, mas deixar de acreditar em algo porque você gosta de uma pessoa que tem um ponto de vista diferente, é quase a mesma coisa que se autossabotar.
Esse tipo de coisa pode até influenciar em opiniões de forma negativa, no caso, aprovar e apoiar algum crime que foi cometido pela celebridade de que você gosta.
Lembrando que este artigo não serve para forçá-lo a largar seu aparelho e nunca mais olhar para eles, ou deixar de ver telejornal às 20h, porque sabemos que a comunicação com as pessoas à distância está aí, seja para trabalho, família etc. A questão que este artigo quer abordar é que devemos nos policiar quanto ao uso e se está realmente nos fazendo bem frequentar por tantas horas a internet, que contém fake news, notícias horríveis, toxicidade, sensacionalismo etc.
Não devemos ficar reféns de notícias contadas pela metade ou alheias ao mundo que está fora da tela de um dispositivo com o propósito de nos alienar cada vez mais.
A pergunta que eu te deixo para refletir é: até que ponto você se deixa alienar?
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