Mais uma das sugestões dos tempos do Pan-Eslavo Brasil (ou seja, antes de agosto de 2021) que não me lembro quem fez e quando fez, mas estava guardada e julguei valer a pena traduzir na página renovada. Não sei se foi o Tiago Rocha Gonçalves, meu amigo de longa data do Paraná que já traduziu canções ucranianas pra mim, mas em todo caso dedico esta publicação a ele, como homenagem ao fim próximo de sua graduação em Direito, rs. Esta música popular do oeste da Ucrânia se chama “Гоп-стоп, Канада!” (Hop-stop, Kanáda!) e poderia ser traduzida como “Canadá, aí vou eu!”, pois homenageia imigrantes que deixaram a referida região pra se fixarem no extremo norte da América.
Porém, decidi não traduzir o hop-stop, porque em russo, por exemplo, na pronúncia gop-stop, costuma ser o anúncio de um assalto por um delinquente de rua, geralmente jovem, por isso chamado “gópnik”, enquanto no mundo anglófono tem outros significados, geralmente ligados a chamar a atenção. A autoria é desconhecida e o “ucraniano” da letra, característico da era pré-bolchevique, ainda possui alguns traços dialetais ou em comum com o russo, como a expressão “nádo” pra indicar necessidade (hoje se usa mais “tréba”) e a variante “marmeliád” ao invés de “marmelád”. Uma das versões diferentes desta que traduzi foi gravada pelo grupo ucraíno-canadense Burya em 2014.
Como informa esta página folclórica, a canção Hop-stop Kanada data da virada do século 19 pro 20 e se relaciona com um tipo de polca muito popular na região central do Canadá, dançada em compasso 2/4, em movimentos ligeiros que envolvem a alternância entre dedão e calcanhar. É chamada em inglês “heel-(and-)toe polka”, e como parte dos imigrantes ucranianos se fixou naquela região, o estilo de dança se tornou popular também no oeste da Ucrânia sob o nome... “kanáda”. Curioso, não? Esta página do mesmo portal traz outra versão da letra e mais informações, e há inclusive um artigo acadêmico sobre a kanada, cujo título pode ser traduzido como “A dança folclórica ‘kanada’: retratando eventos históricos e sociais na Ucrânia Ocidental no fim do século 19 e começo do 20”. Publicado em 2023 na revista ucraniana Questões Atuais de Ciências Humanas, seu autor é o coreógrafo Oleksándr Zastávny, estudante de doutorado na Universidade Nacional Iván Frankó de Lviv.
A versão que traduzi aqui foi gravada pelo cantor Semión Anatólievich Diúkov (n. 1954), talvez por isso mais conhecido como “Semión Kanáda”, em seu álbum de estreia em 1999, Piánitsa (Bebum), e reincluída em seu álbum de 2002, Rodnáia zhená (Querida esposa). O cantor, compositor e produtor nasceu na Khárkiv soviética, possui dupla nacionalidade ucraniana e russa e desde adolescente trabalha com música, cantando e tocando em bandas. No total, ele só possui cinco álbuns solo, o último tendo saído em 2013, e seu site pessoal não é atualizado desde 2016, quando também gravou seu último clipe. Na Wikipédia em russo (única em que Semion Kanada aparece), seus últimos trabalhos citados são dois inícios de atuação como produtor em 2018 e 2019, depois ele simplesmente some. Por isso, brindei vocês no início da publicação com a capa de uma esquecida conta sua no Facebook, mostrando seu jeitão que mistura Shoko Asahara com José Rico!
Com essa versão, foram feitas pelo menos três montagens que seguem abaixo, publicadas respectivamente em 2015, 2013 e 2018, obviamente antes do clima atual contra a Ucrânia se endurecer. Trata-se de trechos da comédia musical soviética Casamento em Malínovka (Свадьба в Малиновке), de 1967, que se passa no vilarejo de mesmo nome (“Malýnivka” em ucraniano), localizado no território da atual província de Kirovohrád. Durante a Guerra Civil Russa (1918-1920), a aldeia troca várias vezes de mãos entre bolcheviques e “brancos”, e o humor consiste na constante mudança de adereços e atitudes dos habitantes a cada tropa que chega e nas dificuldades de dois jovens camponeses apaixonados em meio aos combates. Apesar do enredo, as filmagens foram feitas nas províncias de Poltava e Khárkiv, nas quais estariam as verdadeiras “Malýnivkas” que serviram de cenário. Curiosamente, em vários trechos aparecem atuações do Grupo “Joc” de danças folclóricas moldovas, e embora o áudio seja totalmente diferente, alguns passos parecem mesmo aludir à referida kanada.
Numa publicação no Facebook do ucraniano Ivan Gerhardt está a versão da letra que serviu de base pra eu traduzir direto do original, sem a ajuda do Google, exceto por pesquisas pontuais sobre alguns conceitos desconhecidos. Porém, seu vídeo se baseia na gravação feita por Borýs Sychévsky em 2007. Sinta-se à vontade pra entrar em contato comigo e dar mais informações culturais ou fazer alguma correção, já que parte da letra parece não fazer muito sentido e não fui muito a fundo na natureza dessa “dança”:
1. Me deem pão e um quilo de geleia,
Refrão (2x):
2. Vou viajar pelo Canadá, ficar contando dólares,
(Refrão 2x) 3. As mães têm um morteiro, o pai tem um canhão,
(Refrão 2x) 4. Mesinha após mesinha, depois outra mesinha,
(Refrão 2x) 5. O pai tem um canhão, as mães têm um morteiro,
(Refrão 2x) (Refrão...) ____________________
Приспів (2x):
2. По Канадi ходжу, долляри рахую,
(Приспів 2x) 3. Мати мають мину, батько ма гармату,
(Приспів 2x) 4. Столик за столиком, за столиком столик,
(Приспів 2x) 5. Батько ма гармату, мати мають мину –
(Приспів 2x) (Приспів...) |
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