Em 30 de novembro de 2024 foi publicada no site da National Public Radio (NPR) dos Estados Unidos, uma entrevista do repórter Scott Simon com Marcel Fratzscher, presidente do Instituto Alemão de Pesquisa Econômica. Segundo a agência, eles conversam sobre o enfraquecimento da economia da Alemanha e o possível impacto que isso pode ter nas próximas eleições federais do país, e o áudio pode ser ouvido em formato podcast na própria página. Em tradução livre pro português, o título da matéria seria “A economia da Alemanha está cambaleando [ou “vacilando”]. Essa pode ser uma oportunidade pra extrema-direita”.
Eu usei o Google Tradutor pra obter a base do texto, mas fiz o que todo mundo devia fazer após usar ferramentas de IA: revisar manualmente pra não ficar algo antinatural ou simplesmente passado “na máquina”... Além disso, imprimi ao conjunto meu próprio estilo de redação e simplifiquei o texto quando possível, mesmo que o resultado “robótico” fosse totalmente aceitável. Sobre o estatuto jurídico “público” da NPR, remeto à introdução da primeira tradução que fiz de um material deles.
Scott Simon – Por décadas a Alemanha teve a maior e mais estável economia da Europa. Mas na semana passada, o país registrou um crescimento do PIB menor do que o esperado, culpando principalmente a redução da produção industrial e a guerra na Ucrânia. Marcel Fratzscher é presidente do Instituto Alemão de Pesquisa Econômica e fala direto de Berlim. Muito obrigado por estar com a gente.
Marcel Fratzscher – Obrigado por me receber.
Scott Simon – O que houve? Afinal, o modelo econômico alemão era considerado o mais bem-sucedido da Europa.
Marcel Fratzscher – Bem, a Alemanha foi atingida com uma força excepcional pela pandemia e, agora, pelo choque energético devido à guerra na Ucrânia. Antes dela, a Alemanha era muito dependente de combustíveis fósseis russos, implicando um grande aumento do custo da energia. E a Alemanha tem uma indústria que usa energia com grande intensividade. Essa é uma parte da história. A outra parte é que, depois de uma década de 2010 muito bem-sucedida, muitas empresas alemãs falharam na transição pra novas tecnologias.
Scott Simon – O que você acredita que as empresas alemãs precisariam fazer pra tornar a economia em geral mais bem-sucedida?
Marcel Fratzscher – As empresas alemãs precisam fazer duas coisas: primeira, remodelar ou reequilibrar seu modelo de globalização. Elas são dependentes demais da China, então, diversifiquem, sejam menos dependentes da China e dos EUA. Essa é outra grande ameaça vinda do governo Trump e do conflito comercial em que ele provavelmente vai se engajar com a Alemanha e a Europa.
Segunda coisa: precisam inovar mais em tecnologias digitais e tecnologias verdes. Carros elétricos são um exemplo em que as empresas aproveitaram o sucesso da última década, mas, até certo ponto, foram vítimas de seu próprio sucesso.
Scott Simon – Quais são as implicações políticas? Afinal, claro, o governo de coalizão entrou em colapso há apenas algumas semanas.
Marcel Fratzscher – Bem, num mundo ideal, o governo interviria e haveria um grande estímulo fiscal – talvez, até certo ponto, comparável ao que a economia dos EUA experimentou tanto sob Trump quanto sob Biden, talvez um pouco menos forte, porque isso aumentaria enormemente a dívida pública. Mas o governo alemão tem feito o contrário: um freio da dívida que basicamente não permite que o governo, tanto o federal quanto os estaduais, tenham déficits.
Então, cortar gastos e investimentos públicos específicos em tempos difíceis, como agora, é o pior que um governo pode fazer. Mas, pra isso, ele realmente precisa mudar de rumo e dar um grande impulso aos investimentos, incluindo cortes de impostos pra empresas e cidadãos.
Scott Simon – Quais partidos políticos estão em posição de se beneficiar?
Marcel Fratzscher – Há expectativas completamente irrealistas entre os cidadãos sobre o que o governo e o Estado devem oferecer. A Alemanha tem um modelo econômico muito diferente do americano, com um sistema de previdência social muito grande. Há essa expectativa de que o governo deva cuidar dos cidadãos, e isso não é nada realista numa situação dessas, em que as empresas devem fazer a maior parte do trabalho pesado.
Assim, a oposição está claramente se beneficiando nesta campanha pro novo governo – eleições que vão ocorrer no fim de fevereiro de 2025. Mas os cidadãos vão se decepcionar, porque o novo governo, não importa por qual coalizão seja formado, não vai ser capaz de viver com essas expectativas.
Scott Simon – E isso às vezes promove o populismo e o extremismo?
Marcel Fratzscher – Bem, na Alemanha, temos uma crescente polarização social com a desigualdade de poupanças. E as pessoas que perdem com a globalização e a inovação tecnológica frequentemente têm renda e qualificação mais baixas. Isso traz muito apoio aos partidos de extrema-direita. A antidemocrática AfD (Alternativa para a Alemanha, na sigla em alemão) recentemente avançou em muitas pesquisas e eleições estaduais. Então, o populismo está em alta porque populistas fingem que há soluções fáceis, quando não há.
Scott Simon – Mas seguindo sua explicação dos acontecimentos, parece que muitos alemães da classe trabalhadora têm razões pra estar insatisfeitos.
Marcel Fratzscher – Se você olhar pros fatos, temos emprego recorde. Nunca tivemos mais pessoas empregadas quanto hoje. Os salários têm aumentado, inclusive pros trabalhadores de baixa renda, e desde 2015 o salário mínimo aumentou substancialmente mais de 40%. Mas as preocupações, as inquietudes com o futuro, são totalmente compreensíveis. A sociedade alemã está envelhecendo, então, os benefícios sociais vão ter que ser reduzidos pra continuarem geríveis. Alguns também vão precisar pagar mais impostos pra financiarem os gastos do governo. Há a mudança climática. Há conflitos geopolíticos na Europa com a Ucrânia, que fica bem ao lado da União Europeia. Então, meu ponto é: olhando pros últimos 15 anos, acho que a Alemanha se saiu muito bem. A guerra concerne aos próximos 15 anos, e essas preocupações são plenamente justificadas e compreensíveis.
Scott Simon – Sr. Fratzscher, tenho certeza que não preciso lhe dizer que o resto do mundo fica um pouco mais preocupado com qualquer avanço da extrema-direita na Alemanha do que em outros lugares.
Marcel Fratzscher – Sim, a história da Alemanha tem uma mancha muito, muito escura nas décadas de 1930 e de 1940. A democracia alemã tem muitos freios e contrapesos. Os cidadãos alemães são, em última análise, pró-europeus. E eu sei que é preciso ter cuidado ao dizer isso, mas acho mesmo que eles se lembram bem da história e tiraram lições dela. Então, estou realmente bastante confiante que a democracia alemã é forte o suficiente pra resistir aos conflitos que estamos vivendo atualmente.
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