Não é exagero dizer que o último domingo, dia 8 de dezembro, pro bem ou pro mal, foi uma data histórica pra geopolítica global, pois a família al-Asad controlava a Síria desde 1971, e o Partido Ba’ath (literalmente “Renascimento”), misturando socialismo, pan-arabismo e laicidade, se reivindica como herdeiro direto de Gamal Abdel Nasser. Além disso, a imigração massiva de sírios comuns pra vários cantos do mundo (não esqueçamos os venezuelanos e haitianos!) mudou a demografia mundial e causou reviravoltas políticas na envelhecida Europa. Seguindo os mais esclarecidos, não cabe comemorar o que pode vir por aí (porque até os Talibã diziam ter se “reformado”), inclusive pelo fato do país já estar com um terço de seu território praticamente cindido e ter sido palco da disputa entre potências desde 2011, talvez antes.
Porém, nós, que não fazemos parte da comunidade síria, não temos o direito de “lamentar” a queda de Bashar al-Asad, que pareceu muito mais uma fuga covarde, um abandono do povo, igual exatamente a Ashraf Ghani, boneco dos EUA no Afeganistão, em 2021. Não vou me alongar muito, mas incrivelmente temos alguns “ex-querdistas” de cátedra neste país que continuam passando pano pra qualquer ditadura sanguinária, genocida e obscurantista simplesmente por ser antiamericana. Felizmente, o avanço da internet e dos smartphones também permitiu desmentir quem se permitia mentir em nome do combate à “mídia hegemônica” e à “manipulação ocidental”. Há gente sendo solta após ficar presa desde as décadas de 1980 ou 1990 simplesmente por se opor ao regime, e não como criminosos comuns! As terríveis cenas das cadeias incluem mulheres com filhos pequenos... (desculpem falar) frutos de estupro pelos carrascos da ditadura.
Portanto, não há opção política que permita passar pano a uma barbaridade dessas. A Seita da Família Pimenta dizia que “a vitória do Talibã é uma derrota do imperialismo estadunidense”, mas não havia cenas de júbilo popular pela volta dos fanáticos, muito pelo contrário: valia até se pendurar na roda do avião americano pra fugir do obscurantismo! Hoje, nas contas pró-Palestina, silêncio ensurdecedor (exceto numa que cita apenas os bombardeios do Bibi do Hamas a depósitos de armas dos al-Asad), até porque a ditadura era uma das maiores financiadoras do terrorismo na região. Mesmo que a decepção possa logo chegar, são os sírios que devem decidir seu destino, e é simplesmente nojento essa passada pelo alto de toda a barbárie documentada e verbalizada pela imigração em prol de falsos esqueminhas “anti-imperialistas”!
“Hodie mihi, cras tibi”: em 2021, as tropas dos EUA e seu fantoche Ghani fugiram do Khorasan, e ontem, as tropas da Rússia e sua marionete Bashar fugiram juntas do Levante rumo à Moscóvia. Não dá mesmo pra “torcer” por ninguém, até porque a própria agitação pode desviar os olhos da barbárie que ainda ocorre nos territórios palestinos. Na “ex-querda” tropical, também me irrita que nas redes sociais, críticas ou zoeiras feitas a poderosos cujos sacos eles chupam são respondidas com gravidade e até xingamentos, como se as concernidas fossem as próprias mães infelizes deles. Mas com o “Bozo” e a “istrema dereita” pode, né?...
Apesar de tudo, quero registrar aqui alguns pontos que achei engraçados do que tem circulado por aí, mesmo que eu é que tenha tentado extrair algum “humor” deles. Em 6 de dezembro, Guga Chacra participou de uma edição histórica do podcast “O Assunto”, em que ele compara a família al-Asad à fictícia família Corleone e diz que Bashar tem o aspecto de uma “girafa”, de um “nerd desengonçado” e de um “jogador ruim de basquete”. Claro que os guardiões da militância acharam isso “horrível”, mas pelo menos as máfias não governam diretamente os Estados, portanto, eu preferiria comparar aos Somoza da Nicarágua, aos Bongo do Gabão recentemente derrubados, a Paul Biya dos Camarões e a Teodoro Obiang da minúscula Guiné Equatorial, dois exemplos de longevidade em vários aspectos e ignorados pelo espectro político bananeiro. Sobre o “nerd/geek”, realmente seus estudos superiores no Reino Unido e sua falta de preparação pro poder, ao qual seu irmão mais velho (morto num misterioso acidente de carro) estava destinado, justificam o estereótipo.
Quanto à “girafa”, além de ser o aspecto mais evidente, as putinetes atlânticas devem saber que os próprios opositores o chamavam jocosamente de “zaraafa”, nome do animal em árabe. Fato tanto mais curioso quanto na mesma língua, “asad” significa “leão”, rs. Infelizmente, os stalinistas da USP, devido à clara condescendência do “Ocidente coletivo”, não vão começar a gostar do “Talibã fumante e cantante” só porque, como presumo na foto lá em cima, ele resolveu se disfarçar de Fidel Castro pra parecer cool... Pra seu deleite e prazer, seguem o áudio do Kobakhidze da GloboNews e mais algumas montagens “menos geniais” que achei da zaraafa:
E essa raríssima situação de indefinição institucional? Te amo, Uiquipedja, rs:
Forçando a barra um pouco, até que essa bandeira do grupo de K-BAB norte-siriano HTS (sigla em árabe pra Comitê/Organização pela Libertação do Levante), principal responsável pela fuga da Girafa, lembra a do Palmeiras:
O funcionário garatujeiro do Kremlin exuma um “trabalho” de 2012 pra ilustrar seus delírios geopolíticos decrépitos. Como eu disse, todos os comentaristas sérios concordam que a família al-Asad brutalizou o país, nem os libaneses aguentaram a intervenção nos anos 2000. Desde 2012 também tivemos armas químicas contra opositores, o movimento das mulheres no Irã (ele nunca fez uma só arte pela memória da Jîna Emînî!) e outras chacinas “anti-EUA”, mas isso não lhe parece importante...
E pra fechar, ele ainda clama cinicamente pela proliferação nuclear, o extremo oposto da esquerda da década de 1980! Enfim, sempre evito falar ou me informar sobre esse ser pra não me sentir mal. Mas como o dia foi histórico, me senti obrigado a ver o que externou o rabiscador queridinho dos chupa-sacos do “despotismo oriental”, como teorizava o próprio Marx:
Extra! Jornalista que cobria os eventos na Síria levou uma abusiva cantada de seu colega, que teria dito: “Você parece uma obra de arte!” “Ah, obrigada! Um Da Vinci ou um Monet, talvez?” “Não, um Picasso, kkkkk”:
Moradores de Lataquia (se não me engano) derrubam uma estátua gigantesca de Hafez al-Asad, pai da Girafa, e invejando os moradores do interior paulista e mineiro, resolvem fazer um trenzinho com ela:
Direto do túnel do tempo: Caio Blinder se vingou da “piranha” Asmaa al-Asad que agora, infelizmente, vai ter que nadar nas águas gélidas do rio Moscou, rs. Por volta de abril de 2011, viralizou um trecho do Manhattan Connection, que era então transmitido pela GloboNews, em que Lucas Mendes já começa comentando com péssimo gosto as “primaveras árabes” ao lhe perguntar “qual é a mais bonita das Marias Antonietas do mundo árabe”. Ardente defensor de Israel e, portanto, provavelmente com o sangue na cabeça devido ao histórico da Síria, da Jordânia e do Egito (que elegeria o anticristão e antissemita Morsi em 2012), Blinder chama a rainha e as primeiras-damas de “piranhas”, por supostamente serem cúmplices da tirania de seus maridos. Ele chega a dizer que al-Asad é muito pior do que Abdullah 2.º, mas convenhamos que o governo deste é constitucional.
Realmente, os comentários são asquerosos e fora de lugar, e por isso deixei apenas o trecho referente à nova hóspede de Putin. Outro termo ficaria ótimo, sem invalidar a crítica. Até Ricardo Amorim, querendo posar de “adulto na sala”, repreende Blinder dizendo que elas têm muito menos influência na tirania de seus maridos do que o Ocidente, cuja conivência seria essencial pra os manter no poder. Discordo: elas têm autonomia pra decidir se continuam ou não cúmplices do sistema, por isso, e porque também torram o saque à população, elas têm, sim, parte da culpa. E essa de “Ain, o Ossidentx...”, pelamor, é como se esses caras (tiro a Jordânia, embora imperfeita, da história) fossem moleques inimputáveis pelos crimes que cometem!
Anos depois, o próprio Blinder daria entrevistas dizendo que tinha se arrependido profundamente de seu arroubo machista. Mas como, pelo menos, o pior capítulo da “primavera árabe” parece estar virando a página, não custa cantar com o saudoso Bezerra da Silva: “Piranha não dá no mar, piranha, somente na água doce se apanha...”:
E pra (finalmente!) terminar a série, queria recordar um vídeo que volta e meia circula aí, com um ex-presidente “comandando tropas durante um desfile”. Exceto pelos detratores, é um prato cheio pro gado destilar sua tara por uma boina, uma farda e uma botina, rs. Mas pra decepção deles, isso tá muito longe de ser uma apresentação pública, parecendo mais uma espécie de mero ensaio, que na antiga Alemanha Oriental, por exemplo, era chamado Paradeübung. Até o terreno é parecido, como se fosse uma quadra poliesportiva abandonada no meio do mato!
Toda vez que vejo esse vídeo ao som do Dobrado Baptista de Mello, essa indumentária me lembra muito os uniformes dos exércitos e comandantes ba’athistas da década de 1980, sobretudo do próprio Saddam Hussein. É curioso que João Figueiredo, na mesma época, tenha vendido armas exatamente pro Iraque, inclusive quando era perpetrado aí um genocídio dos curdos... Mas na essência, fico pensando se o Recruta Zero na verdade não seja nem de direita, nem de esquerda, e sim sonhava apenas em ser mais um Saddam ou Hafez da vida, rs:
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