terça-feira, 3 de setembro de 2024

Acredite: Ucrânia invadiu a si mesma


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Neste novo documentário de duas hora e meia, a TV Dozhd tenta sondar nos países vizinhos à Rússia como eles esperam uma possível invasão do exército de Vladimir Putin. Há uma comparação entre os mais temerosos e os que acreditam na paz, sejam eles ou não apoiadores do Kremlin, e me chamou a atenção a cidade estoniana de Narva, que fica na fronteira com a Rússia e tem 90% de população falante de russo.

O repórter vai até lá numa comemoração do Dia da Vitória, o feriado russo de 9 de maio, quando Moscou coloca de seu lado da fronteira (separada por um rio) um grande telão exibindo a parada militar na Praça Vermelha. Mikhail, um velho senhor que não só apoia Putin, mas também acredita na narrativa da “junta neonazi de Kyiv”, protagoniza um momento engraçado numa entrevista, mostrando como as pessoas afetadas pela desinformação simplesmente não conseguem usar a razão pra concatenar fatos e dados simples. Não podia deixar de fazer minhas famosas edições, com a participação de Nikolai Patrushev dizendo quem teria sido responsável pelo atentado no Crocus City Hall:


– A Rússia simplesmente não vai invadir [a Estônia].
– A Rússia não vai invadir?
– Nããão.
– Mas nós invadimos a Ucrânia.
– O quê? Invadiram? Quem invadiu? Foi a Ucrânia!
– Invadiu a si mesma?
– ... É claro!

– Россия это точно не нападёт [на Эстонию].
– Россия не нападёт?
– Нееет.
– Ну, на Украину же вот пришли мы.
– Чего? Пришли? Кто пришёл? Украина.
– Сама к себе пришла?
– ... Конечно!


E falando em manipulação, é triste reconhecer que a Banânia tá cheia de seus próprios Mikhails. Mesmo em reportagens do G1 que mostram explicitamente a barbárie putinista na Ucrânia, quando bombardearam massivamente grandes cidades há alguns dias, tem gente que ainda põe a culpa em Zelensky e na OTAN... Mas tamanho grau de confusão e desconhecimento, felizmente, não pôde ter passado despercebido nem pelo mais comum dos cidadãos.

(“Depósito”, kkkkk)


Outro material interessante. Este gráfico mostra o crescimento da propaganda virtual do “Daesh-K” ou “ISIS-K”, mais conhecido como “Estado Islâmico (da Província/Wilaya) do Khorasan” ou “Wilayat Khurasan”, uma filial do grupo terrorista internacional que atua basicamente no Afeganistão e contra os Talibã, reputados como “nacionalistas”. “Khorasan” ou “Coraçã” é o nome persa de um território histórico hoje equivalente à maior parte do Afeganistão e a alguns territórios de países vizinhos, e foi exumado pelos assassinos em forma de manipulação histórica. É um print de reportagem do canal britânico Sky News que tem como fonte o Centre for Information Resilience, com dados de até 10 de agosto deste ano.

Desde as primeiras propagandas do Daesh na primeira metade da década de 2010, sabemos como ele recruta até mesmo europeus comuns por meio das redes sociais, na época quase sempre pelo YouTube e hoje também pelo Instagram, TikTok e, sobretudo, Telegram, o mais usado na Ásia Central e em regiões da Rússia. A disparada coincide com a onda de atentados islâmicos na Rússia e concerne especialmente a idiomas falados no Afeganistão e em antigas repúblicas soviéticas. Traduzidos na ordem: pashto ou pastó (o indo-europeu mais falado no Afeganistão), usbeque (túrquico), inglês, tajique (uma variante do persa), persa (indo-europeu, em específico a variante iraniana), árabe, urdu (variante paquistanesa do hindi), russo, persa (de novo? Será que um deles era o dari, variante falada no Afeganistão?) e turco.

É reveladora a disparada na quantidade produzida em pastó, idioma étnico dos Talibã, em tajique, cujos falantes sofrem da crescente pobreza no Tajiquistão, e em persa, que sempre foi por séculos a língua franca da região. E por mais que o Homer Simpson tropical sempre tenda a ver muçulmano como “tudo igual”, lembremos que o Irã xiita também sofre muito com atentados do Daesh sunita...


E pra terminar com um pouquinho de humor, vamos pra Israel, onde a Marília Mendonça caiu junto com a mãe depois de ressuscitar por milagre, rs. (Falando sério, não só sempre achei cafona o uso dessa coroa pela “rainha” de sei lá o quê, como também a TV estava falando de um concurso local de Miss Mamãe e Miss Vovó... Pelamor, “vai ter que Hezbollah” mesmo!)


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