sexta-feira, 27 de setembro de 2024

Severa, chupas + prova 9,5 do Karnal


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Quem cursou História na Unicamp e passou pela matéria de História Antiga com o Prof. Dr. Pedro Paulo Abreu Funari não tem como não ter usado de manual pro semestre seu próprio livro, Antiguidade Clássica: a história e a cultura a partir dos documentos, um crácico da venda, revenda ou simples doação entre “bixos” e “veteranos”, rs. E quem, de outras maneiras, teve contato com o livro, sentiu um gostinho dos famosos grafites romanos, especialmente os de Pompeia antes da grande destruição pela erupção do Vesúvio, nos quais os romanos já faziam “memes” muito antes da internet, com seu fino senso de humor e inteligentes montagens com letras. Da crítica política à narração da própria vida sexual, passando por cotidianos prosaicos e materializações da imaginação, eles inundam os banheiros públicos, prostíbulos, muros e outras instalações e foram conservados ao longo dos séculos e apesar das intempéries, tendo sido descobertos, restaurados e catalogados por arqueólogos desde o século 19.

Se você acredita ou pelo menos teve contato com a narrativa da extrema-direita de que as faculdades públicas de humanidades sexualizam, desinibem e esquerdizam os jovens, sinto muito dizer: em parte isso é verdade, rs. Mas sem brincadeira, os trabalhos do Funari (que também muito escreveu sobre a própria ciência arqueológica) e de seus orientandos trazem outra visão da sexualidade difundida entre o povo romano, não só nos trisavós das “poesias de banheiro”, mas também em textos e diversas obras literárias. Não se “ensina” na Unicamp, é claro, que o cristianismo “é errado”, mas que simplesmente sua visão é diferente e, querendo ou não, nega muitos fatos da natureza humana de forma violenta e restritiva. A História, em todo caso, se não nos obriga a negar tudo o que nos rodeia, nos ajuda a ampliar nosso círculo de visão e concluir que nem tudo “sempre foi assim”, dando margem pra agir de outras formas construtivas, e não necessariamente “acertando contas” com o passado “machista e patriarcal”.

Mas que todo mundo ria na classe com as pinturas romanas dos “falos”, presentes aos montes nas ruas do antigo império, e com pesquisadores que dedicavam a vida a estudar essas obras e traziam infindas fotos delas em suas teses, ah, ria sim, rs... Em todo caso, quanto ao clima cultural geral, mais uma vez creio que os anos 2000 foram um “respiro” tanto em comparação com a hipersexualidade da década de 1990 quando com a virada “conservadora” a partir da crise de 2015 e da ascensão de Bolsonaro. Não sou budista, mas sempre acho também que o ideal é o “caminho do meio”: falar abertamente sobre sexualidade, como apenas mais um aspecto comum da existência humana, mas sem a pintar como algo obrigatório, onipresente e definidor de dignidades, tal se vê nas obras multimídia de ficção ou nas rodinhas de adolescentes. Inclusive, muito do “surto” de doenças mentais que vemos entre os jovens certamente vem dessa relação complexada, seja porque se fantasia uma “falta” que lhe foi imposta, seja porque o deboche não raro acaba levando ao vazio emocional.

Pois bem! Após longa digressão existencial, voltemos ao tema da publicação. Pra você rir um pouco do conteúdo do livro (e outros livros do Funari tratam do mesmo tema, como o agradável A vida quotidiana na Roma Antiga!), seguem a catalogação completa de Severa, chupas!, a decifração de cada parte do desenho e a explicação digitalizada do livro. Aproveitei pra incluir outros exemplos engraçados e, claro, o autógrafo do professor, que lhe pedi no meio do primeiro semestre de 2006, quando cursei História Antiga, uma das primeiras matérias da História! A imagem inicial disponível online, mais nítida e corrigida, vem desta publicação antiga, em que uma aficionada pela Roma Antiga expôs vários desses outros grafites. Curiosamente, há no blog um comentário deixado em 2010 por uma brasileira, estudiosa do mesmo tema, pedindo mais informações sobre o material e que logo em 2011 defendeu sua dissertação a respeito. Nas páginas 209 a 212, há exatamente uma explicação sobre nossa heroína, usando o próprio Funari como referência.







“Para o Erick, com afeto, P. P. Funari, 2006.” A gente se sente tão querido, rs (e ele viva me perguntando sobre o Bragantino, atual Red Bull!):


Estrelando também “Resolutus clunis: a senhora de ânus apertado”, kkkkk:


Funari também é cultura! Ele sempre põe em seus livros essas explicações eruditas, portanto, aproveite pra ficar menos burro aprender:


Aproveitei a ocasião pra enfim publicizar outra “lenda” que sempre faço correr entre amigos, conhecidos e contatos das redes: minha famosa prova da matéria de História da América I com Leandro Karnal e nota nove e meio. Desde que meu ex-professor de América Pré-Colombiana começou a ser tornar uma “estrela” da internet e a aparecer em entrevistas de rádio e televisão, falar que “tive aula com o Karnal” (que pra mim vai ser sempre o “Leandro”!) dá outro status, rs. E mais ainda quando li uma de suas entrevistas pra um grande veículo de mídia (não me lembro qual), em que ele era retratado como um professor “rígido” e com o qual “você já devia estar feliz caso tenha tirado seis”. Então pensei: “Pô, se ele é retratado como rígido e se a maior nota que em geral se podia esperar dele era seis, das duas uma: ou ele mudou muito o jeito de ser, ou (o que, me desculpem, acho mais provável nessa era dos smartphones, das bolhas ideológicas e das informações instantâneas...) o nível ‘dês graduandes’ piorou pra caramba!” Em suma, observando conversas entre alunos dele de anos posteriores, chego à conclusão de que os Homunculi militantes entram no curso de História não pra furar as próprias bolhas mentais (tal como chamamos hoje), mas pra as reforçar com um verniz erudito, sem acrescentar conteúdo substancial...

Porém, um pouco de história sobre essa raridade. Antes de passar no vestibular, eu sequer tinha ouvido falar do Karnal, embora antes do curso de América I (primeiro semestre de 2007) comecei a ouvir falar muito bem dele. Como todo bom CDF sem complexo de superioridade, procurei cursar a matéria seguindo meus três princípios: respeito ao professor, presença às aulas e dedicação às atividades designadas. A prova versava sobre questões que devíamos responder em várias linhas, relacionadas à obra A conquista da América: a questão do outro, de Tzvetan Todorov, um dos livros-texto que usamos no semestre. Curiosamente, uma colega cujo nome não quero citar e que nem atua mais na área teve um ataque de nervoso (ou ansiedade, sei lá), foi amparada pelo próprio Karnal e no fim das contas levou a nota cinco. Quanto a mim, sem contar um simpático “Boa resposta” em vermelho, nove e meio foi a nota mais alta da turma (que também contava com estudantes de anos anteriores, porque a grade é bem móvel) porque ninguém tirou dez, mas os outros dois colegas que também conseguiram a façanha de tirar nove e meio não estão mais entre nós... O que me fez pensar que havia uma “maldição” em torno dessa avaliação, cuja concretização, infelizmente, ainda não ocorreu, e espero que jamais ocorra, rs.

Acontece que também era pra entregarmos um ensaio no final do semestre, versando sobre o enorme livro O Novo Mundo: história de uma polêmica (1750-1850), de Antonello Gerbi, mas bem em maio, estourou a primeira greve das muitas que eu pegaria (ou que me pegariam...) ao longo da graduação, e se não me engano, a matéria foi interrompida no ponto onde tinha parado, como todas as outras. Foi uma experiência ruim, não por ser a primeira, mas porque na época eu não tinha carro, e como eu pegava van, perdia todo um dia de transporte pago (porque os grevistas mimadinhos moravam lá, né); e porque eu ainda não tinha pego o traquejo nos estudos, e interromper pra mim seria praticamente ficar meio sem saber o que fazer e temer perder o semestre pago com o dinheiro do contribuinte.

Mesmo hoje, e de carro, embora Bragança Paulista não seja tão longe do distrito de Barão Geraldo, continua sendo uma viagem, e na época não só as comunicações eram precárias (não dava pra avisar rápido tanta coisa pelo Orkut ou por um fórum do Yahoo, que ainda por cima exigiam um computador de mesa, quanto pelos aplicativos do Facebook ou WhatsApp), como também ninguém, nem mesmo os cabaços do CACH, do DCE ou do STU, se preocupavam em dizer quando a greve ia começar ou mesmo acabar, pra podermos nos planejar nas condições citadas. Será coincidência que hoje, com uma infinidade de tecnologias que permitem trabalhar a distância (smartphones e notebooks portáveis, VPN pro que só pode ser acessado por universitários, difusão da internet móvel, inúmeras bases online de artigos e os drives que podem armazenar arquivos PDF, os assassinos do velho xérox) e com a derrota dos partidos de extrema-esquerda no movimento estudantil em prol do PT e de coletivos sem filiação; será coincidência que as greves nas estaduais diminuíram drasticamente nos últimos anos?...

O único ponto positivo que eu via em encerrar o semestre no meio era justamente prescindir da avaliação final, sobretudo quando tinha obtido uma ótima nota na primeira. Assim como foi o caso com uma matéria na Faculdade de Educação em 2009, quando tirei dez numa prova e minha média ficou assim, minha média em América I com o Karnal ficou nove e meio, sem o risco de me dar mal num eventual ensaio difícil, e terminei mais aquele semestre feliz da vida, rs. Seguem as questões com qualidade um pouco ruim e mantida a parte em branco, e as respostas com minha maldita letra de mão da época, lembrando que se trata da ortografia anterior à reforma implementada em 2009:


Não sei por que ele também escreveu a nota por extenso, como fiz neste texto. Pra quem ficou curioso, o que parecem ser dois eles manuscritos logo abaixo são sua rubrica, que ele também usava em outras ocasiões:






quarta-feira, 25 de setembro de 2024

Zelensky no Conselho de Segurança


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Em sua conta no Facebook, o presidente da Representação Central Ucraniano-Brasileira, Vitorio Sorotiuk, publicou uma tradução do discurso de ontem do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky no Conselho de Segurança da ONU, por ocasião da Assembleia Geral deste ano, reunida em Nova York. Como Zelensky falou em ucraniano, acredito que Sorotiuk tenha traduzido direto desta língua, e agradeço a meu amigo Claudio por ter me enviado a publicação. Segue o texto abaixo, com o mínimo necessário de adaptações:


Suas Excelências!

Um dia, neste salão, eles certamente dirão que a guerra da Rússia contra a Ucrânia acabou: não congelada, não suspensa, não esquecida – verdadeiramente concluída.

E isso não vai acontecer porque alguém está cansado da guerra. Não porque alguém negociou algo com Putin.

A guerra da Rússia contra a Ucrânia terminará quando a Carta da ONU funcionar. Deve funcionar. Nosso direito ucraniano à autodefesa deve prevalecer. Nossa cooperação com os povos do mundo que valorizam a vida tanto quanto nós. Nossa integridade territorial. Nossa soberania, a independência do nosso país. Defendemos o que cada nação gostaria de proteger por si mesma. E o que a Carta da ONU garante para todos.

E é a Rússia que deve sempre mentir para justificar sua guerra. Não nós. A Rússia não pode se referir à Carta da ONU para explicar o que está fazendo contra nós, contra a Ucrânia, contra o povo da Ucrânia. Na verdade, em sua maneira pervertida, em seu mundo distorcido, ela se refere à Carta, mas é simplesmente loucura.

A Rússia permaneceu em silêncio porque não conseguiu explicar por que um míssil russo atingiu recentemente um navio com grãos a caminho de um porto egípcio do outro lado do Mar Negro. A Rússia está em silêncio ou mente sobre por que seus drones e mísseis são detectados no espaço aéreo da Polônia, Moldova e Romênia. Todos os dias os ucranianos são feridos e mortos. Todos os dias. Hoje, bombas russas atingiram edifícios residenciais novamente. Até mesmo uma padaria comum se tornou um alvo. O que é tão perigoso para a Rússia na produção de pão? Putin não tem resposta. E a Rússia nunca tem uma resposta honesta para a questão de por que seu exército mata crianças na Ucrânia, “derrota” escolas e hospitais, luta não pela justiça, mas pela desenergização da nação vizinha. Putin não tem nada a dizer se perguntado por que ele está tentando arrastar Belarus para a guerra, por que seus propagandistas ameaçam os povos do Cáucaso ou da Ásia Central, ou por que a Rússia investe mais não no desenvolvimento da humanidade, mas no ódio. A Rússia não tem nenhuma razão legítima – absolutamente – para tornar o Irã e a Coreia do Norte cúmplices de fato em sua guerra criminosa na Europa, quando suas armas nos matam, matam ucranianos e ajudam Putin a roubar nossas terras de nosso povo.

Sabemos que algumas pessoas no mundo querem falar com Putin. Nós sabemos disso. Conheça, converse, comunique. Mas o que exatamente eles podem ouvir dele? Que ele está chateado porque exercemos nosso direito de proteger nosso povo? Ou que ele quer continuar a guerra e o terror apenas para que ninguém pense que ele estava errado? Isso também é loucura.

Desde o primeiro segundo desta guerra, a Rússia faz o que não pode ser justificado de forma alguma sob a Carta da ONU. Cada cidade ucraniana destruída, cada vila queimada – e já existem centenas e centenas delas – é a prova de que a Rússia está cometendo um crime internacional. E é por isso que esta guerra não pode simplesmente “ser isolada”. É por isso que esta guerra não pode ser acalmada pela conversa. Ações necessárias. E sou grato a todas as nações que realmente ajudam de uma maneira que salva a vida do nosso povo.

Putin violou tantas normas e regras internacionais que não vai parar sozinho. A Rússia só pode ser forçada a fazer a paz. E isso é exatamente o que é necessário – forçar a Rússia à paz como o único agressor nesta guerra, o único violador da Carta da ONU.

Agora, com a aproximação do terceiro inverno desta guerra, a Rússia está novamente tentando destruir nossa energia, e neste outono eles estão agindo de forma ainda mais cínica. Eles estão se preparando para atacar nossas usinas nucleares, três delas, temos essa informação e temos evidências disso. Se a Rússia está disposta a ir tão longe, isso significa que nada do que você valoriza importa para Moscou. Esse tipo de cinismo russo continuará a atacar se for dado qualquer lugar no mundo.

A Carta da ONU não deixa espaço para isso. E é por isso que a Fórmula da Paz também não deixa lugar.

Em 2022, no auge da guerra, quando propus a Fórmula da Paz, propus aderir à Carta da ONU – para tornar efetivo tudo para o qual esta organização foi criada. Cada ponto da Fórmula da Paz é baseado nos princípios, propósitos e normas da Carta da ONU – nos direitos que ela garante aos países e nas resoluções da Assembleia Geral, que já são apoiadas pela maioria dos países.

E não existem versões diferentes da Carta da ONU para diferentes partes do mundo. Não há quase estatutos regionais. Não há uma Carta da ONU separada para os BRICS ou o G7. Não há uma Carta da ONU Rússia-Iraniana separada ou uma Carta da ONU Sino-Brasileira separada. Há apenas uma Carta da ONU que une a todos – deve unir a todos. O caminho para uma paz justa é um: passos claros que todos entendem igualmente, e isso se reflete na Fórmula da Paz. Esta é a implementação da Carta da ONU. E todos nós sabemos o que fazer se avaliarmos honestamente a situação e realmente quisermos parar a guerra da Rússia. E o mais importante, ajam. Juntos, é claro. Claro, em unidade. Sem criar divisões novas e desnecessárias do mundo em blocos ou grupos regionais. A unidade sempre funciona por causa da paz.

Precisamos preparar uma segunda Cúpula da Paz para acabar com a guerra. Todos juntos. E convido todos vocês – todas as nações de princípios – a se juntarem a nós neste processo. Qualquer um que realmente respeite a Carta da ONU.

Convidamos a China. Convidamos o Brasil. Eu já convidei a Índia. Trabalhamos com os países da África, com toda a América Latina, Oriente Médio, Ásia Central, Europa, região do Pacífico, América do Norte. Todos são igualmente importantes para a paz. Todos. Sem exceções. Assim como a Carta da ONU deve funcionar sem exceção. Este é um processo que nos levará à paz. Para uma paz justa. Paz verdadeira. Um mundo que será duradouro. Todos nós já sabemos como alcançá-lo. Temos uma fórmula para a paz. Temos a Carta da ONU. E temos toda a força que precisamos para trazê-la à vida.

Tudo do que vocês precisam é determinação.

Muito obrigado.

Glória à Ucrânia!





domingo, 22 de setembro de 2024

Arquivos sobre o PCB na Comintern


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Em minha tese de doutorado, por sugestão dada na banca de qualificação (fim de fevereiro de 2023) pelo prof. Angelo Segrillo (USP), o maior especialista brasileiro moderno em história contemporânea da Rússia, inseri este apêndice na versão final do texto. Ele julgou a iniciativa de extrema relevância pros pesquisadores brasileiros que não leem russo, ainda que em maior ou menor grau possam contar com as traduções automáticas (e nem sempre perfeitas) dos navegadores de internet. Por isso, e renovando minha gratidão por ele também ter participado da banca final no fim de janeiro passado e feito outras observações absolutamente pertinentes, republico aqui sem modificações o texto integral desse apêndice. Receio que ele ainda esteja incompleto, mas espero que seja de alguma valia pros fanáticos em história e geopolítica que vez ou outra vêm aqui prestigiar meu trabalho.


APÊNDICE II: Como encontrar os documentos sobre o PCB nos arquivos da Comintern

O siteДокументы Советской Эпохи” (Documentos da Era Soviética), uma das subdivisões do portal principal “Архивы России” (Arquivos da Rússia), guarda os arquivos da Internacional Comunista, dos organismos a ela ligados e dos partidos comunistas a ela filiados. Infelizmente, não existem versões traduzidas em nenhum outro idioma, e este anexo serve como um auxílio para quem deseja pesquisar materiais que podem, porém, estar em português, inglês, espanhol ou francês. A partir do menu que se encontra abaixo do grande título em vermelho, escolher a opção “ДОКУМЕНТАЛЬНЫЕ КОМПЛЕКСЫ” (conjuntos documentais), e na lista com cinco itens numerados que aparecer, escolher a opção 2 e clicar no link “Организации и учреждения (в т.ч. общественные)” [Organizações e instituições (inclusive sociais)], ao lado do qual também está escrito “Архив Коминтерна” (Arquivo da Comintern).

Na grande lista que aparecer, estão indicados os principais fundos pela sigla “РГАСПИ. Ф.” (RGASPI. F.), ou seja, Arquivo Estatal de História Social e Política da Rússia, fundo X. Logo no início, os fundos de 488 a 494 referem-se a cada um dos sete congressos que a Comintern conseguiu reunir.

Dentro do fundo 495 estão os “Опись” (dossiês) referentes a diversos órgãos internos da Internacional, como o CEIC (Comitê Executivo) (1), seu Presidium (2), Secretariado Político (3) e reuniões plenárias (159-171), o OMS (Departamento de Ligações Internacionais) (23) e as comissões sobre diversos assuntos ou partidos comunistas. Clicando-se no link referente a ele, abre-se uma página com os dados arquivísticos mais importantes, como “Архивный шифр” (Código de referência) e “Крайние даты” (Datas-limite). Na parte inferior, o link em negrito “Переход на следующий уровень” (Passar para o nível seguinte) permite o acesso à lista completa dos “Дело”, pastas em que se encontram os documentos propriamente ditos e cujos links levam a outras páginas com dados arquivísticos similares. Para se ter acesso aos documentos em formato de imagem, clica-se no número que aparece em forma de link após a frase em negrito, “Количество графических образов” (Quantidade de elementos gráficos).

As folhas são agrupadas de vinte em vinte. Na parte de baixo, a indicação “Страница X из Y” (Página X de Y) mostra a página (vintena) da pasta em que se encontra no momento e o total de páginas que tem aquela pasta. Existem menus de navegação que permitem pular entre as páginas (sinas simples de maior e menor) ou passar diretamente à primeira ou última página da pasta (sinais duplos de maior e menor). Além disso, pode-se digitar no campo X uma página específica. Ao clicar-se em qualquer imagem de folha, que é então aberta, pode-se clicar diretamente em qualquer uma das folhas daquela vintena ou, no menu inferior, aumentar ou diminuir o zoom (sinais de mais e menos), ativar a resolução original (1:1), voltar à visualização integral da folha (círculo com flecha) ou navegar entre as folhas (sinais de mais e de menos). Acima das fotos, o link “Карточка” (Cartão), com o ícone de uma folha, permite voltar à página anterior, com os dados arquivísticos da pasta. E nessa página, como também se pode notar, é possível por meio de links voltar diretamente à página “Организации и учреждения (в т.ч. общественные)” [Organizações e instituições (inclusive sociais)] – os documentos da Comintern – ou ao referido “Опись” (dossiê), “Фонд” (fundo) ou “Дело” (pasta).

Especial interesse apresenta o dossiê 79, referente ao Secretariado Regional Latino-Americano (SLA/IC) no âmbito do CEIC, pois era aí que ocorriam as discussões de cúpula sobre questões do subcontinente. O dossiê 17 refere-se ao secretariado pessoal de Dolores Ibárruri no CEIC de 1935 a 1941, quando, após a reordenação da Comintern e o fim dos secretariados regionais, a espanhola ficou diretamente responsável pelos partidos latino-americanos; o dossiê 102 trata do mesmo assunto, mas referindo-se ao período de 1937 a 1940. Os dossiês 23 e 138 referem-se ao OMS. O dossiê 29 refere-se ao Partido Comunista do Brasil. Os dossiês de 73 a 75 contêm a correspondência de Georgi Dimitrov (1934-1944), respectivamente, com os órgãos dirigentes e os departamentos do CEIC, com a direção dos partidos comunistas de diversos países e com outros correspondentes. O dossiê 76 contém correspondência e outros documentos sobre as Brigadas Internacionais na Espanha. Os dossiês 79 e 101 referem-se ao SLA/IC, o primeiro abrangendo o período de 1921 a 1936, e o segundo abrangendo o período de 1928 a 1935. O dossiê 155 refere-se a um “birô negro (seção)” do Secretariado Oriental do CEIC, abrangendo o período de 1926 a 1937, embora não se saiba o porquê da vinculação de ambos os domínios. O dossiê 197 contém as pastas pessoais de vários membros do PCB e de outras pessoas ligadas ao movimento operário e pró-URSS, mas aparentemente não estão preenchidas com os arquivos digitais.

Dentro do fundo 503 está o “Опись” único, referente ao Secretariado Sul-Americano da Comintern (SSA/IC), sediado em Buenos Aires de 1925 a 1930, quando foi renomeado Birô Sul-Americano (BSA/IC) – nome com que o fundo é chamado – e transferido para Montevidéu. Os documentos abarcam o período de 1925 a 1935 e se relacionam, sobretudo, à correção doutrinária e à gestão de conflitos nos partidos comunistas concernidos. Seguindo-se os passos já mencionados para o avanço de níveis, as pastas 52 (“Teses do BSA/IC sobre o PCB”) e 54 (“Correspondência do birô com o representante no PCB e com o Comitê Central do PCB”) fazem referência direta ao Brasil e ao PCB, mas todas as outras também têm muito material dessa origem, como cartas e textos de brasileiros, material partidário e recortes de jornal. Além da pasta 1, “Informações sobre a formação do BSA/IC, correspondência do Birô”, são relevantes as pastas 6 (“Correspondência do BSA/IC com o CEIC e seus departamentos”), 8 (“Circulares, manifestos e panfletos do BSA/IC”), 14 (“Correspondência do BSA/IC com o Secretariado do CEIC”), 17 (“Circulares do BSA/IC aos partidos comunistas da América Latina”), 31 (“Materiais da [Primeira] Conferência dos Partidos Comunistas da América Central e do Sul”), 37 (“Correspondência do BSA/IC com os partidos comunistas e com pessoas”), 39 (“Informação sobre o trabalho do BSA/IC”), 44 e 53 (“Circulares do BSA/IC aos partidos comunistas da América do Sul”), 45 (“Correspondência do BSA/IC com os partidos comunistas”) e 49 (“Correspondência do CEIC com o BSA/IC”).

Algumas pastas com nomes indênticos possuem entre parênteses as indicações “1-й экз.” (1.º exemplar) e “2-й экз.” (2.º exemplar); neste caso, o segundo exemplar é apenas uma duplicata completa ou parcial do primeiro, que deve ser a versão consultada. Caso o navegador aponte problemas de privacidade, deve-se encontrar a opção que permita manualmente a entrada no site, já que os riscos apontados inexistem por tratar-se de um acervo disponível à consulta pública.

Para instruções menos detalhadas em inglês, mas com algumas dicas para fazer buscas no texto em russo, acessar esta página.



domingo, 15 de setembro de 2024

CAUSA E CONSEQUÊNCIA!





Em entrevista pra jornalistas latino-americanos, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky (que foi eleito pelo povo e não pode sair por determinação constitucional, diferente daquele outro que frauda eleições, tira candidatos e persegue opositores pra obter resultados bananeiros e mutilou a Constituição pra se perpetuar no poder) criticou o governo da Jararaca por ser conveniente com a Rússia e omisso perante o genocídio que se desenrola diante de nossos olhos na Ucrânia. O modo como ele descreve o alegado plano de paz dos BROCAS me lembra muito quando a Dilma queria “conversar co Stadislâmicu”, rs:






NÃO CONSIGO UM DIA DE SOSSEGO, KKKKK! “Lule puede estar extinto hoy. Campbell (1997) escribe que en 1981 hubo un informe no confirmado de que 5 familias todavía hablan Lule en Resistencia en la provincia del Chaco en el centro-este.”




sexta-feira, 13 de setembro de 2024

Ereções presidenciais nos EUA


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Com esta mensagem motivacional do dr. Imran Hamza Alawiye, professor nigeriano online de árabe, vamos começar mais um mix de política com humor duvidoso! Não pude deixar passar esta entrevista do analista geopolítico francês Pascal Boniface com um de seus conhecidos (eles se tratam por “tu”), comentando as eleições americanas e seu impacto sobre o resto do mundo. Juro que o som do erre parisiense foi bem pronunciado no lugar da letra ele, e que ele disse, portanto, “ereção do presidente”, e não “eleição”. Pior, temos que imaginar também uma ereção feminina, pois ele também cita a provável vitória de Kamala Harris!

Curiosamente, esse trocadalho do carilho é muito antigo no Brasil dentro do humorismo tipo Casseta & Planeta ou revistinhas de piadas da banca. Não vou pôr nada relativo aos “haitianos que comem cães e gatos em Springfield” porque, além da publicação já estar saturada, você pode achar qualquer coisa a respeito no Google Imagens:


Il y a aussi un évènement important qui va survenir le 5 novembre, qui peut avoir des répercussions très, très grandes sur le reste [du monde]… c’est l’élection américaine. Comment tu vois l’érection du président ou de la présidente des États-Unis ?

Há também um evento importante que vai ocorrer em 5 de novembro, que pode ter repercussões muito, muito grandes no resto [do mundo]… é a eleição americana. Como você vê a ereção do presidente ou da presidenta dos Estados Unidos?






A trágica entrevista de Luciano Huck com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, que só colocou lenha no fogo do rabo das putinetes, serviu pelo menos pra eu ter uma ideia de meme. Segundo o ex-pianista peniano, Lula pensa que a Rússia ainda é a URSS, e não vou desenvolver seus argumentos, pois logo imaginei como esse embotamento ideológico podia ser traduzido em imagens. Fiz ainda duas versões, caso a plataforma usada por quem deseje “roubartilhar” não seja amigável com fotos muito largas!




Recadinho pra pobretão que ainda defende biliardário na internet: não, abiguinho, você NÃO É capitalista só porque você se diz “adepto do capitalismo”, como alguém é, por exemplo, “socialista”, “conservador” ou “peronista”. E quem está falando isso é o glossário do célebre Manual de economia da USP!


Nestas ereções eleições municipais, vire os pés da política em sua cidade: vote no Curupira da Câmara dos Comuns britânica, rs!


E por falar nelas, vamos aos oráculos populares de ontem do G1, que já são célebres nesta página. Nota prévia: “Marsal” com esse, sites de apostas... já podemos deduzir em que planeta vive este ser!






quarta-feira, 11 de setembro de 2024

Arquivos da tirania comunista búlgara


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“Nunca mais!”


Este conteúdo não vai ser encontrado nas redes sociais da “ex-querda bananeira”, porque ela segue acriticamente o que a extinta URSS dizia, mas nem nas redes da dita “direita conservadora e patriota”, porque ela é muita burra pra chegar nesse conteúdo e prefere remoer os antigos espantalhos. No último 9 de setembro, os búlgaros lembraram os 80 anos da entrada das tropas soviéticas no país, durante a expulsão dos nazistas na 2.ª Guerra Mundial, quando a monarquia local já tinha passado pro lado dos Aliados, após um tempo alinhada com o Eixo fascista.

Até hoje, o fato divide opiniões, pois enquanto a ditadura pró-Moscou na “guerra fria” e os comunistas (tornados socialistas) sustentavam e seguem sustentando que a ação do Exército Vermelho colaborou pra libertação da Bulgária, outros lembram que os soviéticos também roubaram, estupraram e sumariamente fuzilaram pessoas a torto e a direito, mesmo sem um motivo aparente. Muito parecido com certa potência que está atualmente invadindo um país vizinho... Assim como nos países bálticos (que foram de fato anexados pela URSS), alguns búlgaros vivem o fato como uma “ocupação estrangeira”, sucedida por um regime fantoche da segunda superpotência global. As tropas soviéticas ficariam no país balcânico até 1947.

O clima esquentou no ano passado, quando na onda de indignação contra a invasão da Ucrânia, o governo liberal pró-Europa (a Bulgária tem um regime parlamentarista) ordenou a retirada de um monumento ao Exército Vermelho construído em 1958 na capital Sófia. Lá, o regime socialista ainda traz a lembrança de estabilidade geopolítica e segurança social, mas os babacas daqui inventam que há um “projeto deliberado de desmonte da memória antifascista nos antigos países do bloco soviético”. Enfim, cada um com seus delírios...

Por ocasião da data, a Agência Estatal de Arquivos lançou uma exposição virtual com documentos há pouco digitalizados e desclassificados sobre os fatos em questão, intitulada “A ocupação soviética da Bulgária, 1944-1947”. Infelizmente, nem a exposição nem o próprio site dos arquivos está abrindo, talvez por questões de manutenção ou de excesso de visitas (usar um VPN, talvez?), mas pode ser que quando você estiver lendo este texto, ela já tenha voltado. Usando o Google Tradutor e revisando manualmente, traduzi este artigo da Rádio Nacional Búlgara, que tem também uma entrevista em áudio de 7 minutos com o prof. Mílko Palangúrski, e este artigo em inglês da agência Sofia Globe, mais longo e mais informativo.

Seguem também fotos do site em inglês, com minhas traduções dos cartazes carregados pelos manifestantes, e outras atualidades políticas em imagens que também resolvi inserir aqui, pois que ligadas com o imperialismo moscovita “bonzinho” e “anti-imperialista”:



“80 anos do 9 de setembro de 1944. 80 anos de mentiras, propaganda e esquecimento! Mas nós lembramos!”


80 anos após o golpe de 9 de setembro, foi publicada uma lista das vítimas do Exército Vermelho (por Marta Mladénova)

80 anos após o golpe de 9 de Setembro, que marcou o início da ocupação do Reino da Bulgária pela União Soviética, foi publicada pela primeira vez uma lista das vítimas do Exército Vermelho.

A coleção de 1 472 documentos com 2 670 imagens, muitas das quais estão sendo apresentadas ao público pela primeira vez, pode ser encontrada no site temático “Ocupação Soviética na Bulgária (1944-1947)”, criado pela Agência Estatal “Arquivos”.

O professor associado Mikhaíl Grúev, presidente da agência, explicou que durante décadas, com relação a esse período, foram estudados apenas os acontecimentos históricos até a entrada do Exército Vermelho na Bulgária.

Em 5 de setembro, isto é, quatro dias antes do golpe de 1944, Moscou declarou guerra à Bulgária e, na noite de 8 para 9 de setembro, foi derrubado o governo de Konstantín Muravíev. O poder foi tomado pela Frente Patriótica e o novo governo foi chefiado por Kimón Georgíev.



“Fora RúZZia, império do mal!”


Nos 80 anos da invasão soviética, divisões sobre a história persistem na Bulgária (da redação)

Em 9 de setembro de 2024, a Bulgária estava mais dividida do que nunca em sua história, por ocasião dos 80 anos da invasão soviética que abriu caminho para décadas de mando comunista.

Como ocorre há décadas, alguns búlgaros amaldiçoam a invasão de setembro de 1944 por ter inaugurado décadas de opressão por Moscou e seus asseclas comunistas búlgaros, enquanto os situados no campo pró-Kremlin saúdam a “libertação” da Bulgária no fim da 2.ª Guerra Mundial.

Na noite de 9 de setembro deste ano, foi realizado um protesto perto do monumento desmantelado ao Exército Soviético, no centro de Sófia, demonstrando o entusiasmo pelo pertencimento da Bulgária moderna à OTAN e à União Europeia e destacando a brutalidade do regime que tomou o poder em 1944 e o conservou até a queda do Muro de Berlim.

Os participantes seguravam bandeiras da Bulgária, da OTAN, da UE e da Ucrânia.

Em declaração, o partido reformista “Da Bâlgária” (Sim Bulgária), integrante da coalizão pró-Ocidente PP-DB (“Continuamos a Mudança-Bulgária Democrática”, segundo maior grupo no Parlamento da Bulgária), disse que depois de 1944, “os 45 anos seguintes de morte, terror, repressão, espionagem, propaganda, prisão em campos de concentração e mudanças de nome marcaram, mas não quebraram, o povo búlgaro e sua busca pela liberdade”.

A Agência Estatal de Arquivos da Bulgária lançou um site com cerca de 1 500 documentos, intitulado “Ocupação Soviética na Bulgária, 1944-1947”.

Um total de 1 472 documentos com 2 670 imagens estão no site, muitos sendo publicados pela primeira vez. Os documentos foram coletados de 27 arquivos, incluindo o Arquivo Estatal Central.

O site tem uma lista de vítimas do Exército Vermelho na Bulgária: “Ele permite que seus parentes e concidadãos saibam mais especificamente qual foi o destino dessas pessoas”, disse o Arquivo Estatal.

“O objetivo da Agência Estatal ‘Arquivos’ é preencher uma lacuna importante e essencial no conhecimento de toda a nossa sociedade sobre o passado recente, e suas expectativas são encontrar sua continuação lógica na pesquisa acadêmica, em documentários e no jornalismo.”

Segundo o Arquivo Estatal, a intenção da equipe de composição é que o acervo seja periodicamente expandido e enriquecido com novos documentos.

Em contraste, no site oficial do partido minoritário pró-Kremlin “Vâzrazhdáne” (Renascimento), seu líder Kostadín Kostadínov disse que há 80 anos “a Bulgária sofreu um golpe que se transformou numa revolução social que transformou completamente o país.”

“Milhões de búlgaros foram retirados de sua secular condição social e receberam uma oportunidade de começar a vida de forma equânime, às custas de milhares que perderam sua posição privilegiada, propriedade, dinheiro e, em alguns casos, até suas vidas”, disse Kostadinov.

As classes na sociedade búlgara foram “destruídas”, e o país começou uma rápida industrialização combinada com a coletivização da agricultura, disse.

“A Bulgária deixou de ser um país atrasado e subdesenvolvido pra se tornar um país com energia nuclear e sua própria tecnologia espacial. Educação e assistência médica se tornaram gratuitas, acessíveis e de qualidade”, segundo Kostadinov.

Atanás Zafírov, líder interino do Partido Socialista Búlgaro, o segundo menor grupo no Parlamento atual, disse: “80 anos desde este dia memorável, o dia em que as esperanças de milhões de pessoas em nosso país se tornaram realidade”.

“Nestes dias, pra mostrar que ninguém é esquecido e nada é esquecido, vamos visitar os monumentos a nossos camaradas que deram suas vidas pra que a Bulgária pudesse existir”, disse Zafirov.

“Nos curvamos à memória dos que permaneceram fiéis a suas convicções e ideais e estavam, ao mesmo tempo, cheios de amor por nossa Pátria.”

“Graças a seu autossacrifício, à resistência antifascista em nosso país e a nossa participação na derrota do fascismo na Europa no fim da 2.ª Guerra Mundial, a Bulgária foi salva de outra catástrofe nacional, as fronteiras de nosso país foram preservadas intactas e o Tratado de Paz de Paris foi concluído”, disse.

Em busca desse mundo novo, desse sonho, os que permaneceram vivos depois do 9 de Setembro criaram o feito da construção socialista: “Eles transformaram a Bulgária de um país irremediavelmente atrasado num país que forneceu a todos os seus cidadãos a oportunidade de uma vida digna”, disse Zafirov.

“Mas hoje, após 35 anos de transição, a Bulgária se parece muito com a de antes de 1944. Mais uma vez, a vasta maioria da população está afundada na miséria. Mais uma vez, o governo de direita está levando nosso país à beira de uma grave catástrofe nacional, desta vez demográfica”, disse Zafirov, acrescentando que “hoje, a Bulgária mais uma vez precisa de uma mudança revolucionária: a formação de um ideal nacional que uniria nosso povo”.

Nem Kostadinov nem Zafirov mencionaram o “Tribunal Popular” comandado pelos comunistas no pós-guerra, que condenou à morte ou a longas penas de prisão milhares de búlgaros e foi sucedido por décadas de confinamento de inimigos políticos em campos de concentração cujas condições eram brutais, se não fatais.

Pros socialistas búlgaros, sucessores lineares do Partido Comunista Búlgaro que por décadas manteve o controle do país, o dia 9 de setembro de 2024 dificilmente foi também uma ocasião pra sua tradicional alegria pela invasão soviética, dada a atual guerra civil dentro do próprio partido socialista.

Até a noite de 9 de setembro, não havia nenhuma referência ao jubileu no site oficial ou nas redes sociais da embaixada da Rússia de Putin, que declarou a Bulgária um Estado inimigo.




A mãe de Ekaterina Kotrikadze, jornalista russo georgiana exilada, foi morta num atentado a bomba num prédio residencial em Moscou, na noite de 9 de setembro de 1999, quando a profissional tinha apenas 15 anos de idade. Um terrorista apoiador da causa chechena, desaparecido desde 2002, foi formalmente acusado pelas autoridades, mas muitos especialistas suspeitam que tudo tenha sido forjado (pois é...) pelos próprios serviços especiais de Putin, então primeiro-ministro de Ieltsin, como pretexto pra começar a segunda guerra contra a Chechênia.

Em seu Instagram pessoal, Kotrikadze publicou uma foto sua quando criança junto de sua mãe (que era a cara dela!) por ocasião dos 25 anos de sua morte. Traduzo a tocante mensagem publicada em russo: “Minha mãe Lika Bakhtadze foi pra mim a melhor amiga, principal conselheira e rochedo que me protegia de todo mal e desconhecido. Quando nos mudamos pra Moscou, ela literalmente me ensinou tudo o que perdi na escola georgiana nos primeiros cinco anos. E quando, aos 15 anos, eu estava apaixonada por Leonardo Di Caprio, ela confortava e secava pacientemente meus rios de lágrimas. Me lembro que temia muito a perder, num pânico como se estivesse esperando por alguma coisa. Ela era forte, inteligente e bonita. Ela só tinha 37 anos, menos do que eu tenho agora. Um minuto antes de 9 de setembro de 1999, ela morreu num apartamento do quarto andar, entrada 4, rua Guriánov, prédio 19. Estava indo dormir. Já faz 25 anos que mamãe se foi, mas quando choro, chamo por ela.”


E pra terminar, delicie este avanço ucraniano na província russa de Kursk, segundo o Instituto de Estudos da Guerra (ISW). O dia 10 de agosto criou até anteninhas, rs:








segunda-feira, 9 de setembro de 2024

Pablo Marçal não acredita em Darwin


Endereço curto: fishuk.cc/marcal-darwin

Muito se poderia dissecar do falatório de Pablo Marçal, futuro candidato a picareta-mor da Gadolândia bananeira, no Roda Viva do dia 2 de setembro, mas vou me focar neste trecho quase ao final, pois já é muito revelador.

Sem dizer, ele trata a evolução das espécies como uma “opinião”, pior, “incompatível com o cristianismo”, como se ser cristão fosse negar evidências científicas. Pior ainda, “o homem veio do macaco” é uma deturpação grosseira da própria teoria! Será que ele teria liberdade de “criticar” a lei da gravidade ou o heliocentrismo? E assim como lhe perguntaram se ele acredita no aquecimento global, Marçal certamente ia sabonetar pra caramba se lhe perguntassem se ele ainda considera a evolução das espécies como uma questão de “opinião”, pois não deixou claro se mantém a “opinião” de 5.ª série (tal como mantém o mesmo comportamento, rs).

O candidato a prefeito de SP também demonstra ignorância: despacho não se faz em terreiro, mas ao ar livre (confesso, fui pesquisar isso na Wikipédia!). E pra não fugir do script, reclama de “cristofobia” (o Bozo é quem usa o termo, mas o tiktoker trouxe a essência exata), enquanto as religiões de matriz afro são as mais perseguidas no Brasil (desde a era colonial!), inclusive com terreiros vandalizados por evangélicos fanáticos. Esses também se incluem na “cristandade” do Pablo?

Não passou em federal (culpou não ter dinheiro pra cursinho), não passou na OAB (salvo engano) e sem querer reforçou a imagem caricatural dos evangélicos como anticiência (e alguns são, claro), continuando, à maneira da familícia, a manipular um “cristianismo” genérico pra enganar ofensivamente as pessoas de fé. Esse é o futuro de nossa política?


Porque se alguém fala que vai num terreiro fazer um despacho, ninguém tira sarro, só tira sarro de quem é crente, só tira sarro de quem é evangélico. Na escola, na quinta série, eu nunca concordei que a gente veio do macaco, e aí sabe o que acontecia? Eu ouvia: “Cê é um crentinho!” E eu sempre defendi minhas convicções e quero que todo mundo pense, eu quero que todo mundo tenha liberdade. Eu sou cristão, sim, e eu acredito nisso e nunca vou curvar minha cabeça pra isso. E viva a liberdade nesse país!


quarta-feira, 4 de setembro de 2024

MEU AMIGO FEZ VARÉNYKY!


Endereço curto: fishuk.cc/varenyky

Conteúdo incomum, assunto incomum, rs. Semana passada, o Claudio me mandou estas fotos pelo WhatsApp pra provar que é um ótimo cozinheiro, sorte de sua esposa paranaense e descendente de ucranianos! Me autorizando a publicá-las aqui, ele apresenta seus “varényky”, (вареники) prato típico do oeste da Ucrânia e de países eslavos vizinhos, também escrito “vareniki” por muitos. É chamado ainda de “pyrohý” (пироги), ambos os substantivos sendo plurais, e por influência da cultura polonesa, costuma também levar aqui o nome de “pierogi” ou “pirogues”.

Também perguntei pra ele se era similar aos “pelméni”, conhecidos raviólis russos, mas ele respondeu que este, na verdade, se faz com carne “e é bem russo” (acho que ele quis dizer “tipicamente russo”, sem relação com as regiões que citei acima), e “a forma é diferente”. Os varényky do Claudio, segundo ele, têm recheio “de batata com bacon e cebola fritos”. Em todo caso, existem vários relatos a respeito e receitas em sites de cultura ou culinária eslava ou geral, que podem ser encontrados na primeira página de uma busca no Google. Entre eles, o Sauerkraut (Fábio Flatschart, 2022), o Estadão (Jim Webster, 2022), o caderno F5 (Irina Ignatenko, 2018) e o Clube Eslavo (Snizhana Maznova, 2017).

Nas três primeiras fotos, podem-se ver o recheio e a massa, e a seguir a confecção dessa delícia. Ele não deu a receita, mas sugiro que fiquem com os links acima e apreciem esta beleza por simples fruição cultural, rs. Bom proveito e, se resolver preparar, boa sorte!



















Adendo (4/10/2024): Hoje o Claudio me repassou este vídeo publicado no Instagram pelo presidente da Representação Central Ucraniano-Brasileira, Vitorio Sorotiuk, com uma matéria do jornal Meio-Dia Paraná do canal RPC, afiliado à TV Globo. Apresentada pela simpática Dulcinéia Novaes, que tanto já participou também do Globo Repórter, mostra como descendentes de ucranianos em Curitiba preparam os varényky aos quilos pra vender. As senhoras trabalham ao som do próprio canto da música folclórica Chórni óchka, iák terén, e desta vez temos uma receita de primeira mão, publicada no perfil do Vitorio:

Ingredientes:
Massa:
1 kg de farinha de trigo
1 colher (sopa) de manteiga
1/2 colher de sal
1 copo de água fervida e levemente morna
2 gemas
1 ovo inteiro
Recheio:
1/2 kg de batata
1/2 kg de requeijão

Modo de preparo: Primeiro faça o recheio: cozinhe a batata com sal, escorra e passe pelo espremedor. Depois misture bem com o requeijão. Em seguida faça a massa: misture as gemas, a manteiga, o sal e a água. Bata bem.

Vá acrescentando a farinha, até que dê pra amassar. Amasse bastante com as mãos até que fique bem lisa e firme. Abra a massa com um rolo e corte em rodelas com um copo.

Coloque no meio de cada rodela um pouco de recheio, dobre em forma de pastel apertando as bordas com os dedos e vá colocando sobre um pano. Coloque para ferver meia panela de água com sal. Assim que estiver fervendo, vá jogando os pastéis. Quando a água ferver novamente e os pastéis subirem à tona, retire-os com o auxílio de uma escumadeira, regue com manteiga derretida e sirva com nata, ou com pedacinhos de bacon frito, ou com molho de carne, ou com cebola frita no azeite.