Dada a importância do assunto e seu relativo desconhecimento no Brasil, resolvi procurar esta coletânea de breves artigos traduzidos, antes de terminarem as Olimpíadas de Paris e ao invés de me dedicar a trabalhos de reforma da página. A ginasta romena Nadia Elena Comăneci é conhecida no mundo todo por ter tirado a primeira nota 10 na ginástica olímpica durante os jogos de Montréal, em 1976, quando tinha somente 14 anos de idade, tendo assim se tornado uma eterna estrela do esporte. Ela também brilharia nas Olimpíadas de Moscou em 1980 e se aposentaria em 1984, mas sem ter do que viver e proibida de sair da Romênia, Comăneci fugiu do país em 1989, pouco antes da revolução popular que levaria à fuga do ditador Nicolae Ceaușescu, e se casou com o também ginasta americano Bart Conner em 1996.
Embora Comăneci tenha sempre negado a existência e se recusado a falar sobre esse tópico, pesquisas nos arquivos do partido comunista revelaram que ela foi forçada a manter uma relação estável com Nicu Ceaușescu (1951-1996), filho mais novo do ditador e provável candidato à sucessão. Aprisionada no palácio da família ditatorial, ela teria sofrido abusos sexuais e até físicos de Nicu, levando-a à depressão e quase ao suicídio, segundo sua própria mãe, Alexandrina, que nunca escondeu os fatos e sempre tentou interceder junto às autoridades, em vão.
Pra piorar, o casal de húngaros que a treinou desde pequenina, Béla e Márta Károlyi, também era conhecido por maltratar as ginastas sob seu comando e, no caso de Béla, até de as abusar sexualmente. Curiosamente, eles mesmos também fugiram da Romênia em 1981 e, piorando ainda mais, era no rancho do casal no Texas que o tristemente famoso e atual prisioneiro Larry Nassar, abusador em massa de jovens ginastas dos EUA, realizava o “treinamento” das adolescentes. Se alguém ainda tem dúvidas do caráter macabro do “socialismo” romeno, espero que também tenho nojo desses fanáticos isolados, mesmo na Banânia, que ainda chamam o carniceiro de “camarada Ceaușescu” (argh!) nas redes sociais...
Estou publicando aqui diretamente as traduções de quatro artigos de diversos veículos sobre o mesmo tema, o principal deles sendo o publicado em 25 de novembro de 2020 no Calcio Mercato e escrito por Marco Bernardini, sobre um dos principais livros que, baseado naquela pesquisa de arquivo, revelou os abusos do clã Ceaușescu contra Comăneci. O segundo artigo, publicado em 22 de abril de 2021 no português Visão sobre o mesmo livro, não tem autoria e apenas adaptei em parte a meu próprio estilo do português brasileiro, embora geralmente eu não ache isso digno. Outros três menos importantes são um de 26 de fevereiro de 1990 pelo Tampa Bay Times, um de 21 de setembro de 2019 pelo The Social Post (por Stefania Rao, o único também assinado) e um de 12 de novembro de 2019 pelo macedônio Sloboden pechat (a partir da tradução em inglês).
Eu usei o Google Tradutor pra gerar os textos-base e depois revisei manualmente (pra mim, esse é o modo como toda ferramenta baseada em inteligência artificial devia ser usada, ou seja, como o meio, e não o fim), pra mim importando mais dar informações básicas e você mesmo ir atrás de complementos, se for o caso. Padronizei as grafias de nomes próprios e as corrigi onde devesse e não mantive a maioria dos recursos de destaque feitos pelas próprias edições nem possíveis links originais, eu mesmo inserindo novos quando decidisse.
A história de Nadia Comăneci, a estrela olímpica prisioneira do carrasco Nicu e de um estupro de Estado
O mundo inteiro comemora hoje o dia contra a violência às mulheres, uma ferida aberta e infectada no corpo da humanidade pra qual parece ter sido encontrada uma cura. As cifras relativas às atrocidades, domésticas ou não, sofridas pela outra metade do Universo continuam a impressionar e nem mesmo o sentido da razão que deveria guiar este mundo iluminado parece amenizar essa tendência de sociedade primitiva.
Nem mesmo o esporte ficou imune a essa praga. Um dos episódios mais espetaculares nesse sentido remete a muitos anos atrás, até 1976, quando, nas Olimpíadas de Montreal, brilhou luminosíssima a estrela de Nadia Comăneci, uma jovem de quatorze anos que ganhou o ouro na ginástica artística com uma nota “dez perfeita”. Ela terminou a apresentação pulando no tapete sem uma gota de suor na testa e sem perder o fôlego. Pro mundo, era um milagre competitivo, e pra Romênia, o país dela, o símbolo máximo da propaganda do regime de Ceaușescu. O poder se apaixonou por ela de todas as maneiras, mesmo aquelas ilícitas por se tratar de uma criança, e com seus tentáculos quis a tornar sua, a agarrando pelas mãos de Nicu, o terceiro filho do ditador.
Apelidado “o príncipe”, o rapaz dez anos mais velho que Nadia era indicado por todos como o sucessor natural de seu pai, o qual ele secundava nos assuntos de Estado. Viciado em jogos de azar, mulheres e álcool, violento e psicopata, Nicu não lhe deixava faltar nada. Ninguém podia lhe dizer “não” sem que depois sumisse do nada. Um sujeito que era melhor não encontrar pelo caminho. Nadia Comăneci, a princesinha de uma nação e quase invisível para o mundo antes de sua chegada, não pôde evitar o encontro com o homem que reclamava e obtinha o “jus primæ noctis” (direito de desvirginar) com todas as filhas dos hierarcas do regime.
Quatro anos de autêntica prisão dourada no Palácio do Poder, de onde Elena, mãe de Nicu, nunca a deixou sair, exceto pra treinar ou participar de competições. Depois, tarde da noite, chegava seu “namorado oficial”, que na verdade era seu carrasco, quase sempre bêbado. Não havia amor na cama, mas verdadeiros estupros alternados com torturas de todo tipo e charutos apagados na pele de Nadia. Até um aborto forçado coroou esse inferno. Tudo isso até as Olimpíadas de Moscou, quando Comăneci foi “roubada” de suas medalhas por um júri corrupto que favoreceu as atletas soviéticas de modo vergonhoso.
Foi nesse momento que a jovem campeã romena decidiu fugir. Ela cruzou a fronteira como uma fugitiva, alcançou Viena e de lá voou pros EUA, onde se tornou cidadã americana e se casou com Burt Conner, atleta apaixonado por ela desde os tempos de Montréal. Eles dirigem uma academia juntos, e há poucos dias, no dia 12 de novembro, Nadia completou 59 anos. A NBC a entrevistou, mas ela se recusou a falar sobre sua prisão no Palácio de Ceaușescu. Daquela horrível trama criminosa, restam cicatrizes em seu corpo e outras, mais profundas e dolorosas, em sua alma.
Nadia Comăneci: como o regime de Ceaușescu sabia dos abusos do treinador, mas não fez nada
A lendária ginasta era xingada constantemente e chegou a levar tapas por engordar 300 gramas. Um novo livro revela “o terror e a brutalidade” de seu dia a dia, sempre seguido de perto pela Securitate, a temida polícia secreta romena.
“Longe de ter sido uma privilegiada, como era apresentada na época, Nadia foi uma vítima do regime.” Stejărel Olaru não afirma isso de forma leviana. Pra escrever o livro Nadia și Securitatea (Nadia e a Securitate), o historiador consultou milhares de relatórios da temida agência da polícia secreta romena, em que abundam as denúncias e os telefonemas sobre a atleta que era chamada pelo codinome “Corina”.
A jovem prodígio que, aos 14 anos, foi a primeira ginasta a obter a classificação máxima de 10, nos Jogos Olímpicos de Montreal de 1976, vivia muito longe do conto de fadas propagandeado pelo regime do ditador Nicolae Ceaușescu. Os documentos, recentemente desclassificados, revelam a “relação abusiva” do treinador da seleção romena de ginástica, Béla Károlyi, pra com Nadia Comăneci e as demais atletas de elite.
“As meninas eram agredidas com tanta força que sofriam hemorragias nasais”, lê-se num dos relatórios, de 1974, que relata “o terror e a brutalidade” impostos por Károlyi. A humilhação era também uma constante. Um antigo médico da seleção, entrevistado por Olaru pra este livro agora lançado na Romênia, acusa o treinador de as chamar com frequência de “vacas” e “idiotas”.
Tudo isso era conhecido pela Securitate, que não se limitava a ter agentes vigiando Nadia em permanência. A polícia secreta recolhia igualmente informações junto a médicos, responsáveis da federação de ginástica e elementos da sua própria equipe. Um pianista e um coreógrafo foram duas das fontes privilegiadas da polícia secreta, explicou o historiador à AFP.
Não é a primeira vez que se ouve falar de abusos, físicos e psicológicos, por parte de Béla Károlyi e de sua mulher, Márta. Nadia, que tem hoje 59 anos e é cidadã americana, quase nunca tocou no assunto, mas foram muitas as atletas que, nas últimas décadas, denunciaram os maus tratos por parte do casal de treinadores. E não apenas romenas, como você vai ler.
Károlyi sempre se defendeu das acusações aludindo às medalhas obtidas pelas atletas. “Minhas ginastas são as mais bem preparadas do mundo, e elas ganham, é tudo o que conta”, dizia. “Por natureza, nunca estou satisfeito”, justificava-se. “Nunca é suficiente, nunca.”
O certo é que, apenas seis meses depois de Montréal, Nadia se recusou a continuar sendo treinada por ele. Béla Károlyi era seu treinador e mentor desde os seis anos de idade.
Agora, com a publicação de Nadia și Securitatea, ficamos sabendo que a ginasta deu uma entrevista em 1977, em que reconhecia ser “xingada” constantemente pelo treinador e que tinha chegado a levar tapas por ter engordado 300 gramas. “Aconteceram coisas demais […], não aguento mais”, dizia nessa entrevista que não foi publicada, mas acabou indo parar nos arquivos da Securitate porque a casa de Nadia, em Onești, estava sob escuta.
A certa altura, a polícia secreta também teve acesso a seu diário pessoal, em que descrevia as agressões que todas as ginastas sofriam quando cometiam um erro durante um exercício; e como treinavam até a exaustão e nem sempre eram observadas por médicos quando se lesionavam.
A mãe de Nadia, aliás, chegou a apresentar queixa na federação, tendo mesmo solicitado uma audiência com Ceaușescu que foi anulada de última hora, sem qualquer explicação. O mesmo regime que promovia Comăneci como uma “heroína do trabalho socialista” fingia não saber o que acontecia durante seus treinos – “por puro calculismo político”, lamenta Olaru.
O próprio treinador era vigiado pela Securitate, conta o historiador. O fato de Béla Károlyi pertencer à minoria étnica húngara fazia com que a polícia secreta suspeitasse que ele promovesse atividades hostis contra a Romênia.
Em 1981, Béla e Márta desertaram pros EUA e acabaram sendo convidados a treinar as ginastas da seleção nacional. Durante décadas, foram reverenciados pelas medalhas que ajudaram a conquistar, mas, recentemente, o escândalo que levou à prisão do médico da Federação Americana de Ginástica, Larry Nassar, por abuso sexual de várias jovens atletas e pornografia infantil, não os poupou. Afinal, era em seu rancho, no Texas, que as atletas de elite estagiavam.
No início de 2018, após grande pressão da ginasta olímpica Simone Biles, o rancho deixou de ser o centro de treinamento da seleção de ginástica feminina dos EUA e um dos locais de eleição do comitê olímpico americano. Até hoje, os dois treinadores negam ter tido qualquer envolvimento no escândalo que deu origem a um documentário da Netflix, mas várias ginastas garantem que ambos eram abusivos e fomentavam uma cultura de medo.
“Dá uma sensação estranha assim que a gente pisa no Rancho Károlyi”, contava à CNN a ex-ginasta Mattie Larson, antes de seu encerramento. “É muito remoto e, em caso de emergência, o hospital mais próximo fica tão longe que só de helicóptero. Pra chegar lá, é preciso dirigir por uma estrada de terra, durante uma eternidade… Além disso, não há sinal de celular. O rancho está completamente isolado, e é de propósito. É assim que os Károlyi querem. O completo distanciamento do mundo exterior, além dos adultos negligentes, fez do rancho o ambiente perfeito pra que os abusadores e os assediadores prosperassem.”
Nos EUA, onde Nadia se exilou em 1989, poucas semanas antes da revolução na Romênia, esse novo livro foi recebido como a confirmação de que os métodos de Béla Károlyi já vinham de longe.
Quanto à ginasta, por enquanto não deu nenhuma entrevista sobre o livro, mas disse à AFP que esteve em contato com Olaru e respondeu a algumas de suas perguntas. O historiador a vê como uma mulher “rebelde” e uma “lutadora” que foi capaz de se reerguer das provações por que passou. “Ela fez o que tinha de fazer pra cumprir suas ambições.”
Nicu Ceaușescu capturado e televisionado na revolução romena (22/12/1989)
Filho de Ceaușescu acusado de agredir Comăneci
A ginasta campeã Nadia Comăneci foi espancada repetidamente durante seu relacionamento de cinco anos com o filho do ditador romeno Nicolae Ceaușescu, afirmou a mãe dela no domingo [25/2/1990]. “Gostaria de enforcá-lo pela língua e vê-lo morrer”, disse Alexandrina Comăneci, cuja filha ganhou três medalhas de ouro e obteve um “10” perfeito nas Olimpíadas de Montréal em 1976.
Numa entrevista, a sra. Comăneci revelou detalhes do relacionamento entre sua filha e Nicu Ceaușescu.
Espancado e esfaqueado por seus captores revolucionários, Nicu, de 39 anos, aguarda julgamento por acusações de genocídio e é considerado sortudo por ter escapado ao destino de seus pais: execução por pelotão de fuzilamento.
A sra. Comăneci disse que Nicu dominou sua filha “de corpo e alma” por um período de cinco anos que culminou com a fuga midiatizada de Nadia da Romênia pros EUA, semanas antes da revolução.
Ela disse que Nicu iniciou sua obsessão por Nadia, hoje com 28 anos, quando ela era a principal estrela esportiva do país, na década de 1970.
Depois que Nicolae Ceaușescu nomeou seu filho ministro da Juventude em 1981, Nicu empregou Nadia como treinadora de ginástica e coreógrafa.
Em entrevista à revista Life, publicada na semana passada, Nadia disse que os relatos de sua dominação por Nicu Ceaușescu eram “tudo mentira”. Mas a sra. Comăneci disse à Reuters:
“Nadia logo ficou à mercê de Nicu. Depois que ela se aposentou da ginástica competitiva, ela precisava trabalhar. Ela também estava com pouco dinheiro porque todos os seus ganhos tinham sido usados pela família Ceaușescu. Ele começou a lhe telefonar em casa e a nos visitar em estado de embriaguez. Então, começou a ameaçá-la e fez com que seu salário fosse cortado. Nadia repeliu repetidamente suas investidas, mas no final não conseguiu dizer não. Quando Nicu ligou, Nadia foi obrigada a dirigir 180 milhas [c. 290 km] até a cidade central de Sibiu, onde Nicu era chefe regional do partido comunista. Depois de uma de suas visitas a Sibiu, ela me mostrou hematomas nas coxas quando chegou em casa. Noutra ocasião, ela voltou de uma visita a Nicu com as unhas arrancadas. Nadia me disse que isso tinha sido causado por uma infecção, porque não queria que eu ficasse chateada. A vida de terror de Nadia com Nicu continuou até que enfim ela não aguentou mais e fez planos pra escapar.”
Nadia Comăneci e Nicu Ceaușescu: a história de um amor doentio
Nadia Comăneci, a campeã de ginástica artística, era um mito pra muitas meninas que desejavam ser como ela. Mas por trás dessa determinação estava escondida muita dor.
Uma vida dedicada à ginástica – A pequena e miúda ginasta romena, que em 1976, com apenas 14 anos, conseguiu a façanha impossível de tirar um “10 perfeito” nas Olimpíadas de Montréal, teve uma vida diferente das meninas de sua idade, marcada por um encontro que virou tudo de cabeça pra baixo.
Nadia se aproximou da ginástica artística com apenas 6 anos, imediatamente chamou a atenção pelos extraordinários resultados obtidos, uma vitória atrás da outra sem trégua, e logo se destacou por sua habilidade e determinação.
Como todos os atletas que alcançam resultados semelhantes, a pequena Nadia pontua seu cotidiano entre treinos contínuos e diários e depois, obviamente, a participação nas competições. Sua vida não é como a de outras meninas: é submetida a uma dieta muito rígida, porque não podia engordar nem mesmo cem gramas.
A pequena Nadia, apelidada de “Fada dos Cárpatos”, acordava às 5h30min da manhã e suas refeições consistiam em 100 g de carne no almoço e 50 à noite, 200 g de vegetais por refeição e três frutas. Naturalmente, devia seguir minuciosamente a dieta imposta por seu treinador e não podia comer batatas, pão, açúcar e óleo.
O encontro fatal na Romênia comunista – Sem querer, Nadia se torna “grande como um elefante”: após o recorde em Montréal, sua visibilidade é tal que toda a Romênia, bem como o mundo todo, fala dela. Nesse cenário em que o comunismo romeno era o pano de fundo, Nadia não pôde passar despercebida pelo herdeiro da família Ceaușescu, seu terceiro filho Nicu.
10 anos mais velho que ela, ele já era naquela época um rapaz perdido, viciado em álcool e drogas. Ele conseguia o que queria a qualquer custo, e dizia-se até que exigia ter qualquer mulher, casada ou não, em que ele pusesse os olhos. Houve inclusive moças que se ofereciam a ele representar o poder num país onde vigorava a ditadura de seu pai e de toda a sua família.
A relação entre os dois começa e Nadia é levada pra morar no palácio com a desprezível Elena, mãe de Nicu, que aprova o relacionamento porque Nadia permitia que o mundo falasse sobre a Romênia. A própria Nádia conta várias vezes como era usada pra fazer propaganda de seu país e exibida como um troféu.
Nádia não tinha coragem de se rebelar e fugir do regime, sofria e se conformava com tudo o que lhe acontecia. A certa altura, perdida, ela se largou a si mesma, engordando e até tentando o suicídio.
Mas o regime encobriu o escândalo e a recolocou no prumo pras Olimpíadas de Moscou. Porém, ninguém mais a considerava como Nadia, a heroína do país.
Ela conseguiu escapar e, enfim, pedir asilo político nos EUA. Estamos na “revolta” na Romênia e no fim do regime de Ceaușescu. Nicu, seu amante, foi condenado a 20 anos de prisão, acusado de cometer crimes contra o Estado. Foi solto em 1992 por motivos de saúde e morreu de cirrose hepática em 1996.
O final feliz pra Nadia – Em 1994, nos EUA, Nadia conheceu o atleta Bart Conner, que tinha se apaixonado por ela em Montréal nas famosas Olimpíadas em que se tornou a rainha da ginástica artística.
Os dois se casaram e em 2006 tiveram um filho, Dylan. Junto com o marido, ela fundou uma rede de academias e finalmente sua vida é feliz.
Nadia Comăneci: o milagre de uma criança cuja vida quase foi arruinada pelo filho de Ceaușescu e pelo serviço secreto [em macedônio]
Nadia Comăneci nasceu na cidade de Onești, Romênia, em 12 de novembro de 1961. Começou a treinar ginástica aos seis anos de idade e teve sua primeira competição internacional com apenas 10 anos.
O mundo todo descobriu quem era Nadia Comăneci aos 14 anos, quando ela se tornou uma verdadeira estrela e uma das lendas da ginástica nas Olimpíadas de Montréal de 1976, ao receber um 10, a nota mais alta no exercício de barras assimétricas.
É interessante que o placar que então mostrava as notas dos juízes não podia mostrar o número 10, portanto, sua pontuação foi escrita 1,0. O público reagiu imediatamente com assobios e protestos, o que obrigou os juízes a explicarem à pequena Comăneci que, na verdade, ela tinha alcançado um feito histórico. Nadia Comăneci se tornou uma das mais jovens campeãs olímpicas da história.
Ela terminou os Jogos de Montréal com cinco medalhas: três ouros (individual geral, trave de equilíbrio e barras assimétricas), uma prata (competição por equipes) e um bronze (exercício de solo). Quatro anos depois, ganhou quatro medalhas (dois ouros e duas pratas) nas Olimpíadas de Moscou.
Contudo, fora dos esportes, a vida privada da jovem Nadia Comăneci era um verdadeiro horror encenado pelo então Partido Comunista da Romênia, liderado por Nicolae Ceaușescu, e pelo serviço secreto.
Seus treinadores, Béla e Márta Károlyi, fugiram pros EUA durante uma exibição em 1981, enquanto Nadia, num grande erro, voltou pra Romênia. Até 1989, ela viveu enjaulada devido ao controle constante do Estado, ou seja, do casal Ceaușescu.
Nadia Comăneci foi forçada inclusive a ter um relacionamento com o filho deles, Nicu. Em 1987, quando o filho do ditador descobriu que Nadia estava se relacionando com o ator americano Stefan Bianchi e estava grávida dele, enviou agentes do serviço secreto pra o perseguir. Sob ameaça, foi forçado a esquecer Nadia, sob pena de ser morto, e no segundo dia dessa trama, Nadia Comăneci perdeu o filho e tentou o suicídio.
“Até hoje, quando me lembro desses fatos, meus olhos se enchem de lágrimas. Não contei a ninguém o que estava acontecendo comigo. Apenas meu irmão e sua esposa sabiam quem me levou secretamente à fronteira húngara. Eu temia que minha mãe morresse de tristeza quando descobrisse, mas eu não podia mais viver naquele país”, lembrou Comăneci.
Nadia finalmente conseguiu fugir pros EUA em 1989 em busca de uma vida melhor, mas o começo não era promissor. Ela foi mantida refém por Constantin Panait, que lhe permitiu fugir da Romênia por 5 mil dólares e chegar aos EUA via Hungria e Áustria. Ele percebeu que poderia ganhar um bom dinheiro em cima da melhor ginasta de todos os tempos e cobrou por todas as entrevistas e participações em programas de TV ou rádio. Estima-se que dessa forma, Constantin ganhou cerca de 200 mil dólares, dos quais Nadia não recebeu um só tostão.
Com a ajuda de amigos, ela conseguiu se livrar de Constantin Panait um ano depois e se mudar pra Montréal, no Canadá. Mas mesmo em Montréal, a vida não era um mar de rosas. Ela ganhava dinheiro anunciando equipamentos de ginástica e aeróbica, e não raro roupas íntimas.
A vida começou a melhorar quando ela voltou à cidade de Oklahoma em 1991 pra ajudar o ginasta americano e campeão olímpico Bart Conner em sua escola pra jovens ginastas. Eles ficaram noivos em 1994 e se casaram dois anos depois, perto de Bucareste. O casamento de Conner foi sua primeira visita à Romênia desde a queda do ditador Nicolae Ceaușescu.
“Enquanto me casava em Bucareste, havia cerca de 10 mil pessoas nas ruas. Naquele dia elas não foram trabalhar, foi um momento emocionante pra mim porque então eu vi o quanto as pessoas se importavam comigo”, diz Nadia Comăneci, relembrando sua primeira chegada à terra natal.
É interessante que Nadia queria que o então presidente da Romênia, Ion Iliescu, fosse seu padrinho do casamento, mas em razão do cargo que ocupava, ele teve que recusar o convite. Arnold Schwarzenegger, Hillary Clinton e Robert De Niro foram convidados pra cerimônia.
Dylan, filho do casal, nasceu em 2006, e Nadia tem dupla cidadania, romena e americana, enquanto Bart mudou de religião e se tornou cristão por amor à esposa. Nadia e Bart também participam regularmente de torneios exibitórios e doam o dinheiro pra caridade.
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