terça-feira, 2 de julho de 2024

Eleições 2029, “dois mil vinte e quê”...


Link curto pra esta publicação: fishuk.cc/yadali


Estão dizendo que 2024 está sendo o ano com mais eleições de nível nacional, incluindo presidenciais, ocorrendo simultaneamente em vários países: presidenciais na Rússia, nos EUA, na Venezuela, no México, no Egito, no Irã, na Mauritânia, parlamentares na Índia, na União Europeia, no Reino Unido, na França, na Coreia do Sul, na Geórgia... mesmo que ocorram em contextos praticamente autoritários, com pouco peso das urnas sobre ou contra o poder central! Sem contar, claro, países onde possa estar havendo eleições municipais ou locais, como é o caso do Brasil em outubro próximo.

Devido ao acidente de helicóptero, perfeitamente evitável, que livrou a humanidade do presidente iraniano Ebrahim Raisi (na verdade, um boneco do aiatolá Khamenei) em maio, o Irã teve de convocar eleições suplementares marcadas pra última sexta-feira. Caso raro, a farsa foi pro segundo turno, e na frente está um médico e ex-ministro da Saúde, candidato considerado “moderado” por defender alguns retoques na diplomacia, na economia e no tratamento das mulheres, embora tenha defendido a repressão sangrenta aos protestos de 2022 após o assassinato da jovem curda Jîna Emînî pela polícia da “moralidade”. Os outros três aceitos na disputa são considerados pela mídia ocidental “ultraconservadores”, ou seja, é de fanático, misógino e carniceiro pra baixo, e foi um deles que passou em segundo.

Os analistas também chamam os ultraconservadores de “linha-dura”, de forma que se um candidato é moderado e o outro é linha-dura, temos formada talvez a primeira dupla sertaneja de origem iraniana: Moderado & Linha Dura, rs!

Mas o principal astro desta publicação é o simpático âncora do jornal em francês das 22h na principal TV da Mauritânia, país de maioria árabe na África Ocidental, mas com outras etnias, como os negros uolofes. Yadali Hacen apresentou a edição de 29 de junho de 2024, quando ocorreu a eleição presidencial no país de história marcada por vários golpes militares, muitos anos de ditadura (como a do primeiro presidente pós-independência, que reinou de 1961 a 1978) e apenas uma transição pacífica de poder. O atual presidente, que buscava um segundo mandato, foi justamente o participante dessa primeira transição pacífica e, se confirmados os números de domingo à noite (quando estou editando este texto), está reeleito no primeiro turno. No primeiro trecho, o velhinho tenta dizer “2024” em francês (deux-mille-vingt-quatre), mas erra duas vezes: primeiro, chama o corrente ano de “2029”, e depois, até tenta falar o “quatro”, mas acaba saindo “quoi”, que em francês significa “quê”.

No segundo trecho, ele está prestes a repetir as principais manchetes do dia, mas seu celular toca de repente e ele precisa parar a chamada urgentemente, ao que acaba entrando a vinheta com as cenas externas, depois narradas por Hacen. É um encerramento incômodo pro que ele mesmo chamou de “jornada muito eleitoral”! Muito estranho alguém trazer um telefone pra bancada de um telejornal, e ainda por cima não ligar o modo silencioso, mas curiosamente esse celular parece nem ser um smartphone, por causa do formato, do toque e do jeito que ele o pega pra apertar o botão de desativação. Ou o país é pobre, ou o âncora é minimalista, ou ele simplesmente é um “vovozão antitecnologia”, rs:


Et bienvenue à votre [journal des] 22 heures de ce samedi, 29 juin 2029 [deux-mille-vingt-neuf], une journée électorale par excellence. Et pour cause, puisqu’aujourd’hui c’était l’élection présidentielle, donc, deux-mille-vingt-quoi. Ils étaient plus d’un million neuf-cents [mille] électrices et électeurs…

E bem-vindos a seu [jornal das] 22 horas deste sábado, 29 de junho de 2029, uma jornada eleitoral por excelência. Não é por menos, pois hoje foi a eleição presidencial, então, de dois mil e vinte e quê. Foram mais de um milhão e novecentas [mil] eleitoras e eleitores…


Donc, ce journal est à présent terminé, merci à vous… [Le portable sonne] Merci à vous, mesdames, mesdemoiselles et messieurs de l’avoir suivi…

Então, este jornal está agora terminando... [Toca o telefone] Obrigado a vocês, senhoras, senhoritas e senhores, por o terem assistido…


E pra terminar, este meu comentário sobre a foto do discurso que Gabriel Attal, primeiro-ministro da França, fez logo após o primeiro turno das eleições legislativas, somente pra dizer que “temos de barrar a extrema-direita”. Cê é burro, moleque, esse negócio de “o outro não”, ainda mais quando teu presidente tá totalmente desacreditado, é um sinal reverso pro povo votar exatamente “no outro”!


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