Ontem, sexta-feira, terminaram as “eleições presidenciais” no Irã, ditadura teocrática onde quem tem a verdadeira última palavra é o “guia supremo”, o aiatolá Ali Khamenei, um idoso particularmente sádico e recalcado à frente do grande país há sôfregos 35 anos. Após o assassinato por um agente do Mossad, Eli Kopter, do presidente Ebrа̄him Raisi, que não passava de uma versão piorada de Khamenei e se preparava exatamente pra o suceder como “guia supremo”, foram convocadas novas eleições pra presidência, que dada a natureza do regime, não passaram de uma encenação. A começar pelo fato de que vários candidatos, sem motivo aparente, sempre têm sua participação interditada por uma comissão estrita de outros velhos igualmente sádicos e recalcados.
Como eu disse na publicação anterior, ocorreu um raro segundo turno entre um candidato considerado “ultraconservador” (que bateu outros quatro que eram ainda piores do que ele) e outro considerado “progressista”, seja lá o que isso queira dizer num meio totalitário. E como também brinquei aqui, foi praticamente uma turnê da nova dupla sertaneja Moderado & Linha Dura, rs. Como era de se esperar numa votação farsesca, compareceram apenas 40% da população apta a votar no primeiro turno, e pouco menos da metade no segundo turno. Mas surpreendentemente, segundo os resultados anunciados hoje, o “Moderado” ganhou e vai fazer carreira solo: seu nome é Mas’ud Pezeshkiyа̄n (transliteração que prefiro, no lugar da mais comum Masoud Pezeshkian), cirurgião sem experiência política que já foi ministro da Saúde no começo do século e, ao menos de boca, prega uma reaproximação com os EUA e um relaxamento da repressão às mulheres sem véu ou com véu mal colocado.
Outros dados são ainda mais curiosos: sua esposa, ginecologista, morreu num acidente de carro e ele criou sozinho seus quatro filhos, não tendo se casado de novo. Seus pais são de origem azerbaijana, “minoria-maioria” que vive na fronteira do Azerbaijão propriamente dito, algo tanto mais notável quanto Raisi e outros dignatários morreram exatamente enquanto voltavam daquele país, após encontro com o ditador Ilham Aliyev. Quer mais? Além do persa, ele também é fluente em azerbaijano e curdo (talvez nas duas maiores variantes, kurmanji e sorani?), lembrando que Jîna Emînî, inspiração da grande revolta em 2022-23, era exatamente curda e residente na região do Curdistão iraniano. Dou um prêmio pra quem se oferecer a ensinar um pouco de inglês pro “Vovô Pezê”, mas em todo caso, também tive outra ideia de montagem pra essa ocasião diferente, rs:
Aproveitando a ocasião, embora o Irã não seja um país de língua e cultura árabes, seguem alguns resultados de meu estudo de árabe, conforme o volume 4 do manual Gateway to Arabic, do querido professor Imran Hamza Alawiye. São dois pequenos diálogos em inglês apresentados pra versão, seguidos das respectivas versões em árabe que eu mesmo fiz e das versões vocalizadas (sinais que não são usados o tempo todo, os harakaat, em vermelho). Apenas no segundo texto não vocalizado, infelizmente esqueci de pôr o ponto sobre uma consoante enfática “daad”, que sem ele é pronunciada como a outra enfática “saad”. Não repeti os nomes das personagens:
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