quarta-feira, 3 de abril de 2024

Dia da Independência: Eritreia 2022


Link curto pra esta publicação: fishuk.cc/eritreia2022


Eu guardei estes trechos por alguns anos, mas devido ao doutorado, só agora tive tempo de publicar. Fiz a seleção de partes diferentes, de acordo com o conteúdo, da celebração do Dia da Independência da Eritreia, edição de 24 de maio de 2022, reunida, como sempre no Estádio de Asmara, capital e única cidade relevante do país. Apesar da má qualidade (falta de sinal digital, certamente), o evento foi transmitido pela EriTV (não é “TV do Erick”, rs), canal estatal e o único do país, que por curiosidade transmite seus jornais diários em 4 línguas: tigrínia (majoritária no país), tigré, árabe e inglês! Nada há de interessante no vídeo senão as canções nacionais serem muito animadas, o povo ser muito alegre e a Eritreia, apesar das riquezas culturais, ser pouco conhecida ao redor do mundo (pelo menos o ocidental e o mainstream brasileiro).

Mas há outras peculiaridades dignas de nota. A Eritreia foi uma colônia italiana no passado (ao contrário da Etiópia, sua vizinha e eterna rival, que só foi invadida por alguns anos e resistiu bravamente, com a ajuda britânica), por isso ainda se fazem sentir algumas influências, como algumas cantinas em Asmara e gente mais velha que fala italiano. Com a expulsão dos fascistas, a região da Eritreia voltou a fazer parte da Etiópia, como sua única região com litoral, mas o imperador Haile Selasie, endeusado pelos “pastafarianos”, foi se tornando cada vez mais tirânico e etnocêntrico, e uma guerra civil explodiria na década de 1960. Passando pela ditadura comunista de Mengistu, ela só acabaria em 1991, quando a Eritreia finalmente ficaria independente, mas sob o quadro de uma ditadura igualmente comunista, desde 1993 controlada por Isaias Afwerki e seu partido único. Durante o conflito, sua facção comunista cindiu-se do movimento principal de independência e acabou o combatendo, resultando décadas depois num país pobre, com uma economia não diversificada, a maioria dos jovens emigrando e o uso de Djibuti pela Etiópia como sua única saída pro mar.

Apesar da reconciliação de Afwerki com o primeiro-ministro etíope Abiy Ahmed (que ironicamente ganharia o Nobel da Paz pouco antes de estourar uma guerra civil no próprio país, em 2020), muitas desavenças ainda não foram resolvidas. Embora os dois países usem a escrita ge’ez, uma espécie de “abugida” (silabário em que as bases consonantais recebem sinais vocálicos que, ao contrário do árabe e do hebraico, jamais são omitidos) que remonta a séculos, a língua predominante na Etiópia é o amárico (embora a mais falada seja o oromo), enquanto na Eritreia é o tigrínia. Ambas são aparentadas entre si, e remotamente aparentadas ao árabe, muito falado na Eritreia devido a sua quase vizinhança com a Arábia Saudita e ao fato de cerca de metade da população ser muçulmana (apesar das restrições impostas pelo governo). Atualmente, a ditadura de Afwerki se tornou um fantoche nas mãos de Putin e, junto a um seleto grupo de párias, descaradamente vota na ONU contra as condenações ao genocídio dos ucranianos, tornando-se, portanto, uma das cúmplices de um dos maiores crimes contra a humanidade do século 21.

Mesmo assim, não posso deixar de admirar sua rica cultura, seu povo acolhedor (embora eu acredite que a maioria no estádio seja mortadela ou funcionalismo público), sua música animadora (que compartilha muito com a Etiópia e a Somália) e... confesso, suas lindas jovens, rs. E mesmo que às vezes eu não goste dos regimes, gosto de ver as paradas militares e escutar as bandas marciais. Portanto, aí vão mais ou menos classificadas as pérolas de 2022 pra talvez você querer acompanhar a edição de 2024!


Duas partes musicadas, enquanto o povo espera o começo oficial das celebrações. Detalhe pra abertura cringe das mãos levitando e carregando uma planta, digna de um Hans Donner, rs:




Primeiro trecho com a participação de militares:


Até eles resolvem parar pra curtir “aquele som”, rs:




Eis que entra o ditador putinete Afwerki, e o comando militar pede autorização pra começar a parada:


O ditador faz seu discurso em tigrínia, e você pode ler a tradução em inglês rolando nas legendas (ela vai além da própria fala de Afwerki). Depois, o que acredito ser a leitura da tradução em árabe, que corto na hora em que acabam aquelas legendas:


A breve parada propriamente dita. Muitos soldados, incluindo mulheres, são muito jovens, não tendo outra perspectiva de trabalho senão as Forças Armadas:


E começa um maravilhoso show interpretativo com música e dança:


Jovens passam uma mensagem em tigrínia, traduzida pro árabe e pro inglês:


E agora, cada vídeo com um astro ou uma estrela da música eritreia (o gentílico feminino é o nome do país sem inicial maiúscula):


























Já está quase noite e o povo segue animado, mas agora os três jovens anunciam o fim dos festejos nas três referidas línguas, e se executa o hino nacional da Eritreia, que certamente vai merecer uma publicação separada na página um dia:


E finalmente, cheio de seguranças ao redor, o ditador Afwerki faz uma espécie de volta olímpica e é calorosamente saudado pelo povo que o ama tanto e quase o pisoteia se não fosse a proteção, rs:


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe suas impressões, mas não perca a gentileza nem o senso de utilidade! Tomo a liberdade de apagar comentários mentirosos, xenofóbicos, fora do tema ou cujo objetivo é me ofender pessoalmente.