sábado, 21 de dezembro de 2024

2017: Putin bane Testemunhas de Jeová


Endereço curto: fishuk.cc/jw-russia


Dedico esta publicação a meu amigo William Cardoso, que sempre nos ajuda em casa com questões de informática, com quem sempre comentei essa proibição e que volta e meia vem nos incomodar com seu “extremismo”, impelindo-me a passar agradáveis momentos em trocas de ideias sobre tudo e mais um pouco.

Um dos capítulos mais vergonhosos da escalada autoritária e sanguinária da ditadura de Vladimir Putin e de sua clique de “eleitos” na Rússia, apoiada por uma “Igreja Ortodoxa Russa” fake que apenas abençoa os crimes do Kremlin, foi a interdição das atividades das Testemunhas de Jeová (doravante JW) em março de 2017 e a consequente dissolução organizativa com, que novidade, confiscação de seus bens pelo Estado em abril seguinte. O pretexto foi uma acusação de atividades “extremistas”, mas sabemos todos que das denominações cristãs existentes na Rússia, os evangélicos, sobretudo os que têm matrizes inspiradas nos EUA, são os mais perseguidos, às vezes insidiosamente, e considerados “agentes e sabotadores estrangeiros”.

Antes mesmo da Copa da FIFA de 2018 (que pra mim, depois da aceitação do Catar e da Arábia Saudita como sedes, ficou totalmente desacreditada), e enquanto eu mesmo, confesso em autocrítica, normalizava a vida no país sem muito conhecimento, por meio desta página e do antigo canal “Pan-Eslavo Brasil” no YouTube, pessoas humildes e comuns eram enjauladas por Putin apenas devido a seu pertencimento religioso. A proibição das JW foi muito comentada ao redor do mundo, mas aparentemente esquecida, e mesmo que eu seja bastante crítico com relação a várias de suas ideias, nunca achei “extremistas” meus conhecidos JW ou de certas afiliações evangélicas, como acho alguns mais visíveis no mainstream, apoiadores de Bolsonaro ou mesmo da RCC católica, pintados como “regra” pela ex-querda pseudoiluminista. Enquanto irreligioso, não preciso elogiar nem concordar com as crenças religiosas de ninguém, mas tolerância cívica, tendo por base as leis do Brasil, é o mínimo que se espera. De todos.

Por falta de tempo e de experiência, este é um dos materiais que mais ficou “encubado” ao longo dos anos, e era pra ter saído legendado no Pan-Eslavo Brasil, e não só traduzido em texto, como se lê agora. E olha que meu canal só começou mesmo a ter um forte crescimento orgânico justamente a partir da Copa de 2018 e das eleições brasileiras no mesmo ano. Já nem lembro mais em que rede, um certo Konstantin Sedov se deu ao esforço de transcrever o vídeo da leitura da sentença, publicado no YouTube no mesmo dia, e até comentou que “o volume e a rapidez da leitura podem ter sido propositais, justamente pra dificultar o entendimento” pelos presentes e possíveis internautas. Trata-se da sessão em que um dos juízes da Suprema Corte (nosso STF) leu a “parte dispositiva” da decisão n.º “АКПИ17-238” de 20 de abril de 2017, dispondo sobre a dissolução definitiva das JW enquanto organização, embora a sentença fosse passiva de “recurso” (ah vá, né!).

O vídeo em que o juiz Iúri Grigórievich Ivanenko lê o texto segue abaixo, junto com um backup caso o canal caia de uma escada ou de uma janela por qualquer motivo. Segundo a “agência” Interfax, as atividades das JW já tinham sido proibidas em 23 de março de 2017, prevendo-se a data de 5 de abril pra análise da “reclamação administrativa” (pra quem conhece o juridiquês, desculpe por qualquer erro e corrija onde tiver certeza de que haja um!) do Ministério da “Justiça” pela Suprema Corte. Em sua própria página, hoje bastante decepada e chamada apenas de “Observatório da imprensa sobre matérias citando as JW”, os seguidores locais relatam como as sentenças contra eles, em vários casos, eram tratadas de forma leviana e sem qualquer apelo.

O relato da oficial RIA Novosti é até bem equilibrado, inclusive trazendo o outro lado, por meio dos advogados de defesa. É curioso como as JW recusam a transfusão de sangue (como se a doutrina consistisse só disso!), mas a extrema-direita global, boa parte dela idólatra de Putin, nega a eficácia das vacinas e vê nisso um “complô de dominação”... Quando meu querido Sedov transcreveu sem custo algum a fala do juiz, o YouTube não era tão avançado quanto hoje, quando, por exemplo, aparecem legendas automáticas, embora imperfeitas. Pra minha alegria, acabei achando no Google por acaso a decisão completa num portal de leis da Rússia, bastando comparar os trechos concernidos, bem como uma ação envolvendo o Conselho da Europa (que Moscou ainda integrava em 2017) contendo uma tradução em inglês da decisão, que salvei à parte no Drive, mas não usei pra cotejar:




Anunciarei a parte dispositiva da decisão. Em nome da Federação Russa, o Supremo Tribunal da Federação Russa, cidade de Moscou, 20 de abril de 2017, composto pelo juiz do Supremo Tribunal da Federação Russa, Iu. G. Ivanenko, junto ao secretário V. A. Stratienko, tendo examinado em sessão aberta do tribunal o processo administrativo sobre a reclamação administrativa do Ministério da Justiça da Federação Russa sobre a dissolução da Organização Religiosa “Centro Administrativo das Testemunhas de Jeová na Rússia”, as explicações da representante do Ministério da Justiça da Federação Russa, S. K. Borisova, e as objeções dos representantes da Organização Religiosa “Centro Administrativo das Testemunhas de Jeová na Rússia” V. M. Kalin, S. B. Cherepanov, V. Iu. Zhenkov, Iu. M. Toporov, A. S. Omelchenko e M. V. Novakov, tendo examinado os autos do caso, tendo tomado os depoimentos de testemunhas e os argumentos judiciais, o Supremo Tribunal da Federação Russa, com base nos artigos 175, 180 e 264 do Código de Processo Administrativo da Federação Russa, decidiu:

– cumprir a reclamação administrativa do Ministério da Justiça da Federação Russa;

– dissolver a Organização Religiosa “Centro Administrativo das Testemunhas de Jeová na Rússia” e as organizações religiosas locais incluídas em sua estrutura;

– converter a propriedade da organização religiosa dissolvida, remanescente após a satisfação das reivindicações dos credores, em propriedade da Federação Russa.

A decisão judicial de cumprir o pedido administrativo de dissolução da Organização Religiosa “Centro Administrativo das Testemunhas de Jeová na Rússia” está sujeita a execução imediata nos termos do encerramento das atividades da organização e de suas organizações.

A decisão pode ser submetida ao Conselho de Apelações do Supremo Tribunal da Federação Russa no prazo de um mês a partir da data de sua adoção na forma final. A decisão final será tomada nos prazos estabelecidos por lei, e uma cópia da decisão será entregue às partes do processo ou enviada a elas no prazo máximo de três dias a partir da data de sua elaboração. As partes do processo têm o direito de conhecer o conteúdo da ata da audiência e, se for o caso, apresentar comentários sobre ela. As partes compreendem o procedimento e o prazo para recorrer da decisão judicial? Declaro encerrada a sessão do tribunal.


Оглашается резолютивная часть решения. Именем Российской Федерации Верховный Суд Российской Федерации, город Москва, 20 апреля 2017 года, в составе судьи Верховного Суда Российской Федерации Иваненко Ю.Г. при секретаре Стратиенко В.А., рассмотрев в открытом судебном заседании административное дело по административному исковому заявлению Министерства юстиции Российской Федерации о ликвидации Религиозной организации “Управленческий центр Свидетелей Иеговы в России”, объяснения представителя Министерства юстиции Российской Федерации Борисовой С.К., возражения представителей Религиозной организации “Управленческий центр Свидетелей Иеговы в России” Калина В.М., Черепанова С.Б., Женкова В.Ю., Топорова Ю.М., Омельченко А.С., Новакова М.В., исследовав материалы дела, заслушав показания свидетелей и судебные прения, руководствуясь статьями 175, 180, 264 Кодекса административного судопроизводства Российской федерации, Верховный Суд Российской Федерации решил:

– административное исковое заявление Министерства Юстиции Российской Федерации удовлетворить;

– ликвидировать Религиозную организацию “Управленческий центр Свидетелей Иеговы в России” и входящие в её структуру местные религиозные организации;

– обратить имущество ликвидируемой религиозной организации, оставшееся после удовлетворения требования кредиторов, в собственность Российской Федерации.

Решение суда об удовлетворении административного иска о ликвидации религиозной организации “Управленческий центр Свидетелей Иеговы в России” подлежит немедленному исполнению в части прекращения деятельности религиозной организации “Управленческий центр Свидетелей Иеговы в России” и входящих в её структуру местных регионных организаций.

Решение может быть обжаловано в Апелляционную коллегию Верховного Суда Российской Федерации в течение месяца со дня его приятия в окончательной форме. Решение в окончательной форме будет принято в установленные законом сроки, копия решения будет вручена лицам, участвующим в деле или направлена им не позднее трёх дней со дня изготовления. Лица, участвующие в деле, вправе ознакомиться с протоколами судебного заседания и подать на него замечания если таковые будут иметься. Сторонам понятен порядок и срок обжалования судебного решения? Судебное заседание объявляется закрытым.



sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

János Koós, o “Trololó” húngaro


Endereço curto: fishuk.cc/trololo-hu


Costuma-se dizer que existiram três “Trololo Man” na antiga URSS, em referência a uma canção sem letra intitulada genericamente Vokaliz e cuja versão de 1976 viralizou pelo YouTube em 2010 com o clipe gravado pelo cantor Eduárd Khil; lembrando que essa se afirma como a fonte original do meme, não sendo o canal oficial de Khil e seus herdeiros. Os outros dois cantores que gravaram a melodia de Arkádi Ostróvski sem letra foram Muslím Magomáiev, barítono de celebridade nacional e de origem azerbaijana, e Valéri Obodzínski, nascido em Odesa e filho de um polonês e uma ucraniana.

Menos conhecido no Ocidente, e quase anônimo no Brasil, é o cantor húngaro János Koós (1937-2019), o “quarto Trololó” nascido János Kupsa numa família de húngaros em Bucareste, capital da Romênia. Na Hungria, como no Japão, o sobrenome vem antes do nome, portanto, é muito comum que seja chamado “Koós János” (János equivale a nosso “João”). Em 1967, segundo este canal em homenagem a Khil, mas que publicou seu áudio, ele gravou uma versão em húngaro da melodia, agora com letra, iniciando o que parecia ser uma turnê por Moscou, com direito a shows e gravações em russo. O célebre e bizarro vídeo, cujo upload é quase tão antigo quanto o “meme” original, pode ser visto abaixo, e nos comentários alguns usuários também publicaram a transcrição do texto e sua tradução em inglês.

Koós se mudou com a família pra Hungria em 1941, tendo estudado composição e oboé em nível superior durante a década de 1950. Após tocar em bandas, começou carreira solo em 1960, quando também adotou esse nome artístico, e também trabalhou como ator e (nota-se, rs) humorista. Fez mesmo muito sucesso na URSS e, pra quem gosta de um estilo mais antigo, suas canções até que são gostosas de ouvir, dependendo do álbum, sobretudo esta coletânea de 2006 chamada Elfelejtett dallamok. A partir da década de 1990, com a carreira ainda vigorosa (ao contrário do pobre Khil...), recebeu condecorações do Estado húngaro e prêmios. Abaixo também incorporei outro exemplo de sua turnê soviética, em que ele canta em russo com forte sotaque, e algumas de suas atuações mais recentes, longe do estilo “Trololó” dos princípios.

Em 1971, Koós se casou com a cantora Sarolta Dékány, com quem teve a filha Réka e o filho György (Gergő). Tirei essas informações das Wikipédias em inglês e russo, e segundo a versão húngara (traduzida pelo Google), sua morte se deu de forma repentina após mal-estar e hospitalização. Porém, as mesmas contas anônimas de YouTube relatam que o cantor seria um beberrão inveterado e isso pode ter comprometido sua saúde, mas não posso comprovar.

Mas enfim, seguem a transcrição em húngaro (cujo letrista é desconhecido), a tradução em inglês dada por um youtuber e a tradução dada pelo Google, com leves correções. E pra sua diversão, também seguem a versão (clipe e áudio) de 1967 do Vokaliz de Khil – portanto, anterior à que viralizou em 2010 – e uma espécie de “Meninas Cantoras de Petrópolis” que criaram em 2016 uma versão em coral e segurando lenços em forma de calcinha, rs:


É melhor no chão do que em cima,
Assim fica tudo muito mais bonito.
A cobertura de neve brilhante sorri,
O vento me acaricia.
Espero que o sucesso seja tão quente
Que o inverno vá embora.

It’s better on the ground then up high,
Everything is lot more beautiful this way.
The shining snowcape is smiling,
The wind is stroking me.
I hope the succes will be so hot
That the winter will flee.

Jobb a földön, mint fenn,
Sokkal szebb így minden.
Mosolyog a csillogó hótakaró,
Simogat a szél.
Remélem, hogy oly forró lesz a siker,
Hogy menekül a tél.











quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

Além de girafa, al-Asad era “pato”


Endereço curto: fishuk.cc/alasad-pato

Após algumas buscas que estava fazendo domingo passado, descobri que um ano depois do início da revolta na Síria contra o ditador Bashar al-Asad, que ainda estava numa fase, digamos, “quente”, os manifestantes se divertiram com humor após descobrirem uma série de e-mails românticos trocados entre ele e sua esposa Asmaa (a “piranha” do Caio Blinder, rs). Vazados no início de março de 2012 por gente conhecida e divulgados na imprensa britânica, neles a esposa chama Bashar com o apelido carinhoso (ê, Gusttavo Lima!) de “pato”, o que fez a alegria da oposição durante o mês inteiro. Mas não sei se a referência faz parte de alguma das duas culturas (ela nasceu no Reino Unido) ou é apenas uma bizarra escolha pessoal dos realmente apaixonados pombinhos... ops, patinhos!

Não tenho muito mais o que falar sobre a situação na Síria, a não ser observar e torcer pra que não degenere em mais guerra civil, sobretudo com a questão curda, ainda longe de ser resolvida e constantemente ameaçada pelo terrorismo turco. Asad em árabe significa “leão”, e Bashar também era apelidado de “girafa” por sua altura e seu pescoço longo, mas antes de jogar gás tóxico na própria população desarmada em 2013 e permitir que Putin a bombardeasse a partir de 2015, o zoológico ambulante era chamado de “pato”. Como recordação desse caso anedótico, seguem dois artigos da época que traduzi do inglês, um anônimo publicado pela ABC News australiana e outro escrito por Ruth Sherlock pro Telegraph britânico. Pra este segundo, sugiro que desabilite o JavaScript no navegador pra ler, pois o 12ft.io não funciona com ele.



De leão a pato: apelido de al-Asad viraliza – Uma suposta troca de e-mails entre o presidente sírio Bashar al-Asad e sua esposa Asmaa, na qual ela se refere a ele carinhosamente como seu “pato”, foi recebida com júbilo por ativistas e gerou uma série de piadas na internet.

A mensagem, revelada por jornais britânicos no início deste mês [março de 2012], faz parte de um conjunto de documentos vazados por ativistas e supostamente entre os al-Asad, seus conselheiros e familiares.

Nele, a primeira-dama da Síria, nascida no Reino Unido, se refere ao marido, que está combatendo uma revolta sem precedentes contra seu regime, como seu “batta” [ بطة ] (“pato”, em árabe).

A mensagem de 18 de janeiro tem o título “Para meu batta [de penas brancas]” e assinada “sua batta”.

Assim que o e-mail vazou, ativistas se divertiram e aproveitaram pra zombar do presidente, o comparando aos personagens Patolino e Pato Donald e usando patos amarelos de papel recortado em manifestações contra o regime.

Foram postadas no YouTube dezenas de vídeos sobre o assunto, incluindo um que mostra al-Asad na forma de um pato com lábios vermelhos e segurando uma metralhadora.

Outro vídeo mostra manifestantes na cidade de Zabadani, perto da capital síria, Damasco, agitando uma faixa amarela com a palavra “batta” em árabe e alguns gritando “Seu pato, que Deus amaldiçoe sua alma”.

Num protesto noturno esta semana em Damasco, vídeos mostram manifestantes segurando patinhos de borracha amarelos que fazem barulho.

Sites e páginas do Facebook da oposição também estão cheios de piadas zombando de al-Asad e fazendo um trocadilho com seu sobrenome, que significa “leão” em árabe.

Numa mensagem do Facebook, ativistas se referem ao exército sírio como “brigadas de patos de al-Asad”, enquanto uma página em árabe do Facebook se chama “Sou um pato e Bashar não me representa”.

A revolta contra o regime de al-Asad começou como um levante popular em março do ano passado [2011], mas se transformou numa insurreição.

Até agora, a violência deixou mais de 9 mil mortos, segundo a ONU.


Não pude deixar de reproduzir este vídeo incorporado à matéria original, com manifestantes em Damasco recebendo uma pessoa fantasiada de pato pra representar “Bathaar al-Batta”, em plena Damasco, em 28 de março de 2012!


Síria: Bashar al-Asad apelidado de “pato” pela esposa Asmaa – O presidente da Síria pode ter ficado famoso por sua violência assustadora, mas é carinhosamente apelidado de “pato” por sua esposa nascida no Reino Unido, Asmaa, conforme e-mails entre o casal que vazaram.

Em algumas mensagens, a sra. al-Asad usou um pseudônimo pro endereço privado de e-mail do marido: “batta”, ou “pato” em árabe.

Em 18 de janeiro [de 2012], enquanto os EUA tentavam aumentar a pressão internacional contra ele, o presidente al-Asad encontrou em sua caixa de entrada um cartão eletrônico [daqueles de aniversário etc.] enviado por sua esposa. O título era “Para meu batta (de penas brancas)” e tinha a assinatura “sua batta”.

A sra. al-Asad enviou ao marido uma série de mensagens românticas, sentimentais e, às vezes, picantes.

Num e-mail, versos sentimentais aparecem na tela com um fundo de música tilintante e borboletas esvoaçantes.

Outros e-mails da amorosa sra. al-Asad incluem poemas de amor rimados: “Por que te amo? Penso e sorrio, porque sei que a lista poderia continuar por quilômetros”, diz uma linha escrita em fonte rosa em negrito.

No início de fevereiro, enquanto os tanques de seu exército bombardeavam zonas da oposição em Homs, o presidente enviou à esposa a letra da canção God Gave Me You [Deus me deu você], do cantor country Blake Skelton.

Eis parte da letra citada: “A pessoa que eu tenho sido ultimamente/Não é quem eu quero ser/Mas você fica aqui bem a meu lado/Vendo a tempestade passar”.

O conjunto de 3 mil e-mails privados entre os al-Asad, seus conselheiros e familiares circulou amplamente na internet e foi aproveitado com humor por ativistas sírios que visam derrubar o regime.

Sites e páginas do Facebook da oposição estão cheias de piadas com o presidente sírio. Uma fotomontagem mostra apoiadores do regime de joelhos, beijando a imagem de um pato.

A caixa de entrada de al-Asad está cheia de mensagens sentimentais e, às vezes, bizarras de admiradoras. Uma delas o chama de “Barry White” em referência ao falecido cantor de soul que chamava a si mesmo “Love God”.

Uma foto, aparentemente enviada pela filha de um diplomata sírio, mostra o desenho de um camelo usando lingerie masoquista, chicote preto em volta do pescoço, olhos cobertos por uma máscara preta e botas de couro pretas de salto alto.



“Para meu patinho, com amor... cuéim cuéim!” kkkkk

quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

When Brazil’s capital is Buenos Aires

I’m not very used to write in English on my page, but since the story has once again evolved in English, I didn’t want to translate into and explain all of it in Portuguese, hehe. In this amazing edition of an NPR’s program about Latino music, an emotional story about Roberto Carlos’ song Amigo (Friend) is brought by Felix Contreras, in which he tells how a woman got moved by its lyrics in Spanish.

Yes, Roberto has composed most of his songs in Portuguese (he’s recognized as the most prominent Brazilian popular singer), and a great part of them has also been translated into Spanish to attract the rest of Latin America population. However, Contreras presented it as if it were originally written in Spanish and does not relate Roberto and his work to their actual movement, that is, the broad Brazilian ‘MPB.’ After making some corrections, I decided to publish here a letter I sent to NPR’s production, pointing out some major mistakes and omissions:



I have been very delighted this morning in listening to such a kind tribute to the simply most prolific and talented singer, composer, and musician of all Brazilian history. It is also an honor that Roberto Carlos has recorded tracks in so many languages as Spanish, Italian, and French, making him very loved by our friend Hispanic neighbors.

However, even if the woman in the story found Amigo a life-change masterpiece, I cannot help making some remarks on imprecisions and omissions about Roberto and that song, what prevents listeners to find out all complexity behind the topic.

First, you did not even mention that the original language of the song is PORTUGUESE, and I guess you know, as most of Americans, that Brazil’s official language is not Spanish. Fortunately, most of Roberto’s songs were translated into this language to be enjoyed also in the Hispanic world.

Second, ‘Carlos’ is not his last name (or surname), but a second name. His last name is Braga, but Erasmo Esteves (died in 2022) was such a close friend of Roberto’s that they regarded themselves as brothers (irmão or hermano, following the first verse of Amigo). Thus, Erasmo chose ‘Erasmo Carlos’ as his stage name, and that makes no sense in saying that ‘They are not related, despite sharing the same name.’

And third, there is also not a single mention to the movement which Roberto is really linked to, that is, the ‘MPB’ (Brazilian Popular Music), a concept too broad and of complex definition. What I can say is that, despite the undeniable Hispanic influences, any attempt to bound MPB to ‘Latino’ music in general is quite problematic, so is the relationship between Brazilian cultures and the broader Hispanic world.

Indeed, the recent tendence of Brazilians, especially students and scholars, living in the US to identify themselves as ‘Latinos,’ ignoring possible confusions with the Hispanic world, has been rather political than cultural. (But do not understand me wrongly: I do not mean Brazilians cannot anyway be considered ‘Latinos,’ but the point is the total absence of MPB in your story, which is far more relevant to describe Roberto’s work than any affiliation to ‘Latinoity.’ I guess, after all, translating his songs have had much more a financial than an intercultural sense...)

And despite much criticism, mostly against the way he treats other people, Roberto is simply considered the ‘King’ of the MPB, what is not without relevance in Brazil!


terça-feira, 17 de dezembro de 2024

O russo que quer proibir Papai Noel


Endereço curto: fishuk.cc/papainoel-ru

Este idiota cabeça de coco (foto um tanto antiga já) que não ocupa nenhum cargo oficial no governo federal do Kremlin nem é filiado ao Rússia Unida, mas chupa o saco da ditadura até dizer “Chega!”, é um político, advogado de formação, chamado Vitáli Boródin (n. 1983). É conhecido como o “principal donóschik da Rússia”, termo que pode ser traduzido como “delator” ou “denunciador”, dependendo do contexto, mas pode muito bem representar um inquisidor. Criou e preside uma associação de combate à corrupção, justo num país em que a corrupção é institucional, mas ele mesmo foi várias vezes acusado de corrupção (caso bem típico no mundo...). Seu passatempo preferido é denunciar celebridades por supostos desvios com relação à linha de Putin, sobretudo em comentários contra a invasão ilegal e genocida da Ucrânia.

Seu mais novo delírio, acreditem, é querer enquadrar o “Papai Noel” (pelo menos quem usa sua imagem) como “agente estrangeiro”, ou “inoagént”, uma categoria que constrange qualquer cidadão russo a inúmeras restrições de comunicação, deslocamento, financiamento, liberdade de expressão etc. Nem os deputados federais mais radicais apoiaram a ideia, e até mesmo, como se pode ver abaixo, usaram uma linguagem infantilizada e condescendente pra se referir a Borodin, como se um pobre coitado tivesse exagerado em seus recalques. Todos os textos que traduzi abaixo foram publicados no dia 9 de dezembro de 2024, com informação inicialmente lançada pelo canal anônimo SHOT no Telegram.

O portal The Moscow Times também publicou uma notícia a respeito, da qual tirei o básico do que já tinha sido trazido pelo SHOT, e pro final deixei a matéria escrita por María Alfiórova, quando até outros sicofantas julgam o passo maior do que as pernas. Há várias referências ao Ded Moróz (lit. “Vovô do Frio”, mais ou menos) russo, que também é uma alegoria de são Nicolau (venerado por católicos, ortodoxos e protestantes), mas geralmente associado às festas de Ano Novo, sendo por isso tolerado na antiga URSS. Divirta-se com mais essa sequela da militarização da sociedade!

Um russo exigiu que o Papai Noel fosse enquadrado como agente estrangeiro – Como apurado pelo SHOT, o principal caçador de agentes estrangeiros, Vitali Borodin, dirigiu essa iniciativa à Procuradoria-Geral. Segundo o ativista social, um velhote americano de calças e gorros vermelhos e cinturão preto não é nada engraçado, mas muito perigoso: a marca “Papai Noel” (Santa Claus) é popular em países hostis à Rússia. E, de fato, está substituindo a imagem de nosso tradicional Ded Moroz: é reconhecido por quase 100% da população.

O Papai Noel americano é usado por muitas empresas estrangeiras, incluindo a Father Christmas Ltda., proprietária das marcas registradas Santa Claus, Father Christmas e Cyber Santa. Segundo Borodin, a marca vale cerca de US$ 1,6 trilhão e é muito provável que empresas estrangeiras possam financiar a imagem do Papai Noel na Rússia. O objetivo desses escritórios seria a destruição dos valores tradicionais russos, garante o ativista.

Jingle bells, jingle... No bosque nasceu um pinheirinho...

Principal inquisidor da Rússia exige que Papai Noel seja enquadrado como “agente estrangeiro” – O chefe do Projeto Federal de Segurança e Combate à Corrupção, Vitali Borodin, enviou um pedido ao Procurador-Geral exigindo que a marca “Papai Noel” (Santa Claus) fosse enquadrada como “agente estrangeira”, escreve SHOT.

Na quarta-feira passada [4 de dezembro], Mikhaíl Ivanóv, presidente do Movimento Social Pan-Russo “Rússia Ortodoxa” e deputado da Duma da província de Briansk, propôs retirar as estatuetas do Papai Noel das lojas e as substituir pelos símbolos tradicionais do Ano Novo russo.

“O Papai Noel se tornou menos um símbolo do Natal do que do comércio e da produção em massa. Sua onipresença nas vitrines não é um acaso, mas o resultado de uma estratégia de marketing direcionada contra o autêntico espírito da festa, pra destruir nossos valores”, disse Ivanov, segundo a Life.

Borodin era conhecido como inquisidor da mídia russa independente e, desde o início da guerra na Ucrânia, começou a denunciar artistas e atores russos que se manifestavam contra a invasão. Entre eles estão Valeri Meladze, Semion Slepakov, Diana Arbenina, Lia Akhedzhakova e Alla Pugachova.

“Não é nosso método”: Milonov se opôs a enquadrar o Papai Noel como agente estrangeiro – O deputado Milonov disse que a Rússia não vai enquadrar o Papai Noel como um agente estrangeiro

A imagem do Papai Noel usada nos países ocidentais é uma personificação de são Nicolau, portanto, sua proibição não se enquadraria na defesa dos valores tradicionais, afirmou Vitáli Milónov, deputado da Duma Estatal, em conversa com o Gazeta.ru. Esse foi o comentário do político à iniciativa do ativista social Vitali Borodin de fazer enquadrar o Papai Noel como agente estrangeiro.

“Acho que o estimado Vitali Borodin apenas não sabe que, na verdade, Papai Noel [Santa Claus] é são Nicolau. Essa é a pronúncia alemã, e ninguém deseja banir são Nicolau, o Aprazível, o Taumaturgo e um dos santos mais reverenciados em solo russo. Sou categoricamente contra, basta não confundir. É a imagem do Papai Noel no mercado e no comércio, criada pela empresa Coca-Cola como um vovô tão bonzinho, que é totalmente nova, não tradicional pra Europa e pra cultura europeia e russa. Mas sim, ela se transformou”, explicou Milonov.

[Na verdade, nem a pronúncia nem o nome são alemães, mas a forma inglesa Santa Claus é uma corruptela da forma holandesa Sinterklaas, um dos nomes de são Nicolau e, mais especificamente, de uma figuração alegórica característica do verdadeiro dia do santo, muito popular nos Países Baixos e na Bélgica. Desse personagem teria saído a inspiração final pro Papai Noel (Pai Natal, em Portugal) que se conhece na maior parte do mundo.]

O político enfatizou que os cristãos no Ocidente não podem usar a imagem do Ded Moroz, que é familiar à Rússia, mas que a Rússia não vai “descontar” isso no Papai Noel.

“No final das contas, o que há de errado com o Ded Moroz? Aqui [temos] o Ded Moroz, enquanto a tradição ocidental tem o Papai Noel. O Ano Novo é celebrado pelas pessoas boas em todo o planeta, e elas não existem apenas na Rússia, mas também em outros lugares. Elas simplesmente não podem celebrar com o Ded Moroz. Acredite, são os mesmos cristãos tradicionais, amam os valores tradicionais, nos tratam bem. Portanto, descontar no Papai Noel certamente não é nosso método, não é típico dos russos”, concluiu.

Antes disso, soube-se que um russo propôs enquadrar o Papai Noel como agente estrangeiro. Vitali Borodin apresentou a iniciativa ao Procurador-Geral, relatou SHOT.

O ativista social afirma que a imagem popular do Papai Noel americano estaria substituindo o tradicional Ded Moroz russo. Segundo ele, o uso da imagem do Papai Noel por muitas empresas estrangeiras poderia ser usada pra minar os valores russos.

O deputado [Andréi] Alshévskykh já tinha aconselhado aos agentes estrangeiros que não se inquietassem tanto.



segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

“A liga dos proctos” (série Globoplay)


Endereço curto: fishuk.cc/proctos


Depois que liberaram aquele recurso de IA no Équis pros desocupados ficarem fazendo montagens com caras de famosos, olha o que me chega pelo Zap. É cada coisa... Na verdade, nem sei qual é a ligação dos Três Patetas com hospital e qual é a tara com médico de quem criou. Em minha indignação, já que provavelmente foi feito por algum gado de político facho (e não pelo amigo que repassou!), rebatizei como uma nova série do Globoplay: A liga dos proctos! Detalhe: pra tirarem o medo dos machões que vão fazer “aquele exame”, eles fazem primeiro uma demonstração em si mesmos, rs.

Avaliação da série por uma putinete que inclusive já adaptou a escrita nativa à ortografia do Kremlin:


Num vídeo do canal de Dmítri (Dmytró) Górdon, vulgo “Karnal da Ucrânia”, famoso jornalista ucraniano que também grava em russo e pelo qual já estou querendo substituir a TV Rain (Dozhd) e sua linha pró-EUA e pró-Israel em excesso, achei este piseiro ritual que os árabes costumam fazer na cara de quem não gostam. O texto diz “Abu Kasaar al-Idlibiy, do meio do palácio de al-Asad”, e acabei por acaso achando o TikTok do catireiro. Garanto que se esse retrato tivesse sido pintado na Rússia, com certeza Putin já teria mandado fuzilar o artista...




E pra encerrar, uma dica de documentário curto recente! Alguns cristãos assírios (caldeus) exilados em várias partes do Ocidente decidem voltar ao Curdistão iraquiano pra refazer a vida, 10 anos após a expansão e expulsão do Daesh (vulgo Estado Islâmico). Dizem não ter se adaptado aos países de acolhida ou apenas querem usar seu conhecimento pra reconstruir a região e, ao mesmo tempo, se religar às raízes. Mas é claro, a ex-querda bananeira nem liga pros cristãos perseguidos em países muçulmanos, e se for entre maiorias xiitas, supostamente “anti-EUA”, nem se fala então! Produção da France 24, em francês:


domingo, 15 de dezembro de 2024

Bayrou, mais um premiê francês!


Endereço curto: fishuk.cc/bayrou-pm

Quem acompanha a política francesa há alguns anos, como eu, já está familiar com essa cara de senhor bonachão de 73 anos nascido no sul, o famoso Languedoc berço de um idioma românico muito diferente do dialeto parisiense. François Bayrou (pron. “bai-rrú”, e não “berrú”, como se esperaria) sempre se identificou com o chamado “centro político”, uma noção jamais popular na França e que o obrigou a ficar às margens do jogo eleitoral e, sobretudo, ideológico.

Embora fosse professor colegial de letras clássicas por profissão, logo a largou pra passar a maior parte da vida na política, ocupando cargos legislativos, ministérios em diversos governos, se candidatando três vezes à presidência (a melhor delas com um terceiro lugar em 2007) e sendo mentor de Emmanuel Macron (pelo menos antes dele recair no neoliberalismo descarado). Antes agindo sempre meio que nas sombras, aparece agora como última opção pra ocupar o cargo de primeiro-ministro da França, cuja indicação, ao contrário de outros países, é prerrogativa exclusiva do presidente.

Só pra voltar a resumir, o macronismo diminuiu ainda mais a representação na Assembleia Nacional após a dissolução desastrada de junho de 2024 e não quer conversa com o bloco de esquerda NFP (uma salada de partidos conflitantes), que obteve mais votos. Isso torna a escolha de um novo premiê cada vez mais difícil, porque embora Macron seja livre, tem que levar em conta a correlação de forças partidárias de algum modo. E o personagem fica cada vez mais “aguado”, sem carisma, clareza ideológica e apoio popular: só em 2024, Borne renunciou após inúmeros usos do antidemocrático “artigo 49.3”; Attal foi vítima da dissolução “que eu não escolhi”; Barnier foi derrubado pela Assembleia, algo inédito desde 1962; e se o “extremo-centrista” Bayrou cai, como já prometeu a extrema-esquerda, o próprio Macron pode ser deposto ou ter de renunciar.

A sensação de renovação trazida pela “juventude” macronista derreteu ao longo dos anos, e o saldo, fruto especialmente das políticas de Bruno Le Maire, ex-ministro das Finanças direitista, foi um poder de compra corroído, preços que não param de subir e uma dívida pública de três trilhões de euros! Imagine o Brasil devendo algo roçando os 20 trilhões de lulas... Ao assumir, Bayrou disse que a tarefa vai ser difícil (jura?) e exumou uma frase de François Mitterrand: “Enfim, as chateações estão começando...” Ambas as ideias podiam ser traduzidas em bom politiquês da seguinte forma:


Se Jean-Luc Mélenchon, líder da LFI de extrema-esquerda que integra o citado bloco parlamentar NFP (herdeiro da NUPES das eleições de 2022), tem sido acusado de “trumpizar” o debate político na rede Équis, pelo menos uma coisa sábia ele escreveu ontem. Aludindo ao fato de que Macron tinha outro nome em mente, mas que o cacique do Movimento Democrático (MoDem) praticamente se impôs a si mesmo numa turbulenta reunião, dixit o Rui Pimenta francês: “Quatro primeiros-ministros em um ano! Três escolhidos, um imposto. Bayrou também deveria nomear outro presidente.”


Mas não pensemos em seu “centrismo” (ou mesmo em seu propalado lema “nem de direita, nem de esquerda”, retomado por Macron em 2017) como equivalente a ser isentão ou algo fisiológico e anódino, parecido com o MDB e o PSD bananeiros. A coincidência da cor laranja entre o MoDem e o Partido NOVO (pelo menos na concepção original do Amoêdo) traz a lume outra característica comum: liberal na economia, conservador nos costumes. Não por menos, Bayrou é geralmente encaixado na família “democrata-cristã” europeia, mas seu catolicismo parece nem sempre funcionar na prática.

Como foi relembrado na edição de sexta-feira do programa francês C dans l’air, Bayrou é basicamente um “poser”, ou seja, adora estar sob os holofotes, a ponto de sentir prazer ao se escutar ou assistir a si mesmo falando no rádio ou na mídia. Quando era candidato a presidente em 2002, teve a campanha coberta pela repórter Alix Bouilhaguet, que esteve no programa e contou como ele, ao viajar pra Israel, insistiu com as autoridades judaicas por uma foto com Yasser Arafat, não por amor à causa palestina, mas pra “se registrar ao lado de uma figura histórica”. Ela também filmou esta cena clássica, em que Bayrou, ao visitar um bairro pobre de Estrasburgo, deu um tabefe na bochecha de um menino por ele supostamente ter tentado tirar coisas de seu bolso.

Sarkozy teve mais sorte (ou não, porque isso foi fatal pra reeleição...) em 2012 ao ser flagrado conseguindo tirar do pulso um relógio caríssimo enquanto cumprimentava uma multidão. Mas no Brasil de 2024, além de custar a eleição e talvez a candidatura, o gesto de Bayrou poderia lhe ter valido multa e cadeia. Mesmo relegado ao quarto lugar, o tapa televisionado em horário nobre fez sua pontuação... dobrar, como se esperaria num bolsoverso. “Faire la poche” (lit. “fazer o bolso”, em inglês “pickpocket”) significa tirar algo do bolso de alguém sem que a pessoa perceba, o que no Brasil se associa aos batedores de carteira ou, independente do conteúdo e em se tratando de crianças de rua, aos chamados trombadinhas:


sábado, 14 de dezembro de 2024

Melô do k-golpe (“Feliz Navidad”)


Endereço curto: fishuk.cc/kgolpe


Estou juntando nesta única publicação as imagens “humorísticas” que fiz há alguns dias sobre o “k-golpe” fracassado do presidente conservador sul-coreano, Yoon Suk-yeol (pronúncia aproximada: “yun sân-nhâl”). No começo do mês, ele tentou decretar a lei marcial, o que lhe permitiria fechar o parlamento, suspender os partidos políticos e governar com plenos poderes, mas os deputados não aceitaram seu argumento de que o país estaria infestado de forças políticas “trabalhando” em prol da Coreia do Norte.

A rocambolesca sequência foi coberta pela mídia do mundo inteiro, então não vou ser exaustivo: os deputados pularam o muro do parlamento pra poder derrubar a lei marcial; o povo começou a se mobilizar na rua pela renúncia de Yoon, cuja popularidade tinha chegado a seu mínimo; uma primeira moção de destituição (impeachment) votada pelo Legislativo não passou, e uma segunda passou neste sábado, pondo fim à presidência do candidato eleito pelo Partido do Poder Popular (PPP).

O primeiro-ministro vai ocupar o cargo por 60 dias, prazo máximo em que novas eleições devem ser realizadas. Enquanto isso, em procedimento diferente do brasileiro, o Tribunal Constitucional deve validar o pedido de destituição, embora eu pessoalmente não faça ideia se ele vai querer usar de sua prerrogativa de poder o negar. Mesmo assim, permanece a piada de que o “autogolpe” muito parecido com o que o ex-presidente peruano Pedro Castillo quis se aplicar na mesma época, mas em 2022, devia ser chamado de “k-golpe”, porque, assim como os protagonistas do estilo musical, morreu cedo...

Nesse meio-tempo, outra banda de “k-golpe”, mas de um subgênero chamado “k-bab”, parece ter tido mais sucesso na Síria, e ela se chama “HTS”. Mas meu objetivo principal foi aproveitar o ensejo pra apresentar este interessante cantor que viralizou com sua paródia da famosa canção em inglês e espanhol, Feliz Navidad, lançada em 1970 pelo portorriquenho José Feliciano e regravada em tradução brasileira por Ivan Lins em 1999. Não identifiquei o artista filmado em 5 de dezembro, mas abaixo podemos o ver de dois ângulos diferentes: um trazido por um jornal sul-coreano em inglês e outro por uma conta pessoal no TikTok, que fez a bênção de pôr a letra em coreano e a tradução em inglês, rs. Neste caso, deixei apenas o vídeo sem as legendas.

Há também uma referência a Kim Keon-hee, esposa do “Yoon Suk-naro” (como foi apelidado pelos carinhosos leitores do G1...) e envolvida em diversos escândalos de corrupção. Curioso que, embora ele tenha sido eleito com a fama de procurador-geral implacável, enterrou todos os processos contra a primeira-dama enquanto ocupava a chefia do Executivo! Sobre a escolha de uma canção de Natal mundialmente famosa, podemos pensar na época do ano e na influência norte-americana, mas sempre importa lembrar que 31% dos sul-coreanos são cristãos (fruto da evangelização no passado), e tanto Yoon quanto seu antecessor, Moon Jae-in, são católicos.

Sei apenas o básico da escrita coreana e não a domino totalmente, portanto, pra escrever a transcrição abaixo, apanhei um pouco com a útil ferramenta do portal Lexilogos, que traz teclados virtuais em dezenas de línguas. Além disso, não me arrisquei a escolher um método de transliteração (ou transcrição pro latino), pois teria de prolongar ainda mais as pesquisas e já temos fanáticos demais por doramas no Brasil pra aproveitarem bem o material. Depois, joguei no Google Tradutor só pra comparar, e o resultado não foi muito diferente do que foi dado em inglês. Perceba que a expressão “Merry Christmas” também foi adaptada e transcrita segundo a fonética coreana:




Yoon S[uk] y[eol] deve ir à m... for a Merry Christmas
Kim Keon-hee deve ser punida for a Merry Christmas
O PPP deve ser dissolvido for a Merry Christmas
Impeachment imediatamente!

O impeachment é a resposta
O impeachment é a resposta
O impeachment é a resposta
Se isso continuar, o país vai entrar em colapso

____________________


윤ᄉᄋ 꺼져줘야 메리크리스마스
김건희 벌받아야 메리크리스마스
국힘당 해체해야 메리크리스마스
지금 당장! 탄핵해

탄핵이 답이다
탄핵이 답이다
탄핵이 답이다
이러다가 나라가 망한다



E pra encerrar, aproveitando que estamos falando de um lugar onde o excesso de trabalho é um problema de saúde pública... Fiz recentemente uma conta no LinkedIn (mais uma, só pra provavelmente ser apagada depois!), e olha o que me aparece de sugestão, meu pai do céu! É pra instigar rivalidade mais sentimento de frustração:


sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

“Dur dur d’être Bashar...”


Endereço curto: fishuk.cc/alasad-memes2



Pra entender a referência do título, favor escutar esta música que foi hit tocado até nos domingos do SBT no início da década de 1990, rs. Mas o assunto principal é: na edição de quarta-feira do programa The World with Yalda Hakim, da TV britânica Sky News, uma equipe conseguiu entrar na casa principal da família al-Asad em Damasco com o acompanhamento e consentimento dos terroristas militantes do HTS, grupo islamista armado que tomou o poder na Síria. Não tinha o tamanho e opulência de muitos dos outros palácios espalhados pelo país, mas o que foi encontrado lá, e até “levado como lembrança” pelo repórter (me lembra até o William Waack com os documentos da Comintern em Moscou por volta de 1991-92...), chamou muito a atenção.

Havia várias fotos de Bashar al-Asad e sua família, reveladas e impressas, espalhadas pelo chão durante a primeira onda de saques. Tem o patriarca Hafez, a esposa Asmaa (que na época do casório nem era uma piranha tão “bela”, como depois acharia Caio Blinder), primos, filhos, ele mesmo durante o serviço militar e... momentos mais prosaicos, como um refrescante banho de piscina, cujas imagens você pode ver em meus prints abaixo! Em meio a muitas caixas de perfumes, produtos de luxo e outras coisas que custariam milhares de euros no Velho Continente, os zoólogos acidentais do HTS descobriram uma nova espécie de girafa subaquática, vestida de sunguinha (ou cueca?) cinza e junto a outras pernas familiares ao fundo! Bem churrasco de domingo mesmo, só faltou o caixote estéreo tocando um CD de Teodoro & Sampaio... Pelo menos o shape dele dá de dez a zero naquela pançona do Saddam Hussein.

A pobreza, a falta de serviços básicos e a violência a que a familícia al-Asad submeteu o povo sírio por mais de 50 anos contrastam com essa imagem “classe média” que de alguma forma eles queriam fazer passar (pelo menos nos anos 2000). A Jararaca também foi avidamente perseguida apenas por causa de um humilde sítio em Atibaia e seus pedalinhos com o nome dos netos e um triplex chinfrim no Guarujá. Portanto, mesmo nos recônditos das almas mais tirânicas, sobretudo daquelas inicialmente destinadas a uma exitosa carreira no Banco de Olhos de Sorocaba, posso pensar que sempre vai tocar aquela canção da saudosa dupla Cascatinha & Inhana: “Eu queria ter na vida simplesmente um lugar de mato verde pra plantar e pra colher, ter uma casinha branca de varanda, um quintal e uma janela para ver o Sol nascer...”





Fecho com este surto que o Garôtu Ixperrtínhu deu súbita e inesperadamente na rede antissocial do Ilomasque (ué, não é a Turma do Amor que queria boicotar o “esgotão digital faxixte”?...), na manhã da terça-feira passada. Não sei que remédio(s) ele se esqueceu de tomar, mas acho que a referência devia ser a um elogio do jornal aos sucessos macroeconômicos de Javier Milei, apesar da sôfrega situação da grande massa popular. Em todo caso, divirta-se com esse destilado gratuito, entre muitos outros, do “ódio do bem” tão caro aos (verdadeiros) extremistas do DCM, do BR247, do PCO, do BdF e outres:


quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

Zé Carioca adverte: trabalho mata!


Endereço curto: fishuk.cc/trabalho-jp

Esta matéria, publicada no site da Rádio França Internacional (RFI) em 8 de dezembro de 2024, foi escrita por Bruno Duval, correspondente em Tóquio, e tem por título “No Japão, ‘o trabalho mata todos os dias’”. Ela foi publicada na rubrica “Reportagem internacional” e, pra maravilha dos estudantes de francês, também está disponível em áudio no tamanho de 2 minutos e 28 segundos.

Eu traduzi o texto usando a ferramenta disponível no Google Chrome, mas, como sempre, cotejei com o francês e imprimi minha própria “cara” ao texto. Espero que goste, e lembre-se, tire um descanso de vez em quando, rs:



No Japão, uma grande virada – “histórica”, diz a imprensa – pra dezenas de milhões de trabalhadores: o governo planeja proibir que as empresas obriguem seus funcionários a trabalharem durante mais de 14 dias consecutivos. Duas semanas sem a menor pausa parecem bastante inverossímeis em qualquer outro lugar, mas saiba que no arquipélago nada impede as empresas de privarem os seus empregados de férias durante 48 dias consecutivos. A lei, portanto, vai ser mais rigorosa, com o objetivo de reduzir o número de japoneses que morrem por terem trabalhado demais.

A vida de Emiko Sato mudou há onze anos, quando sua filha, Mika, que era jornalista na televisão pública NHK, morreu de parada cardíaca quando tinha apenas 31 anos. Depois de trabalhar várias semanas sem tirar férias, de doze a quinze horas por dia. “No Japão, o trabalho mata todos os dias. Ano após ano, esta tragédia se repete inexoravelmente, pois muitas empresas sem escrúpulos maltratam seus funcionários. Não é uma lei que vai mudar as coisas: é você. Escute as pessoas a seu redor que estão sofrendo no trabalho. Eu lhe imploro: proteja-as. Só você pode salvar suas vidas.”

No Japão, várias dezenas de trabalhadores morrem todos os anos por trabalhar demais: ou porque sucumbiram a um grave acidente de saúde ocorrido no trabalho (um AVC ou um infarto, por exemplo), ou porque, exaustos de corpo e de nervos, põem fim a suas vidas, julgando que elas já não têm sentido. No ano passado, cerca de 900 trabalhadores japoneses – um número recorde – foram postos em licença médica devido a graves problemas de saúde mental causados por seu ambiente profissional.

Não precisando mais trabalhar durante semanas sem um único dia de folga, esses trabalhadores de Tóquio saúdam a reforma anunciada. Contudo, nem o entusiasmo nem o otimismo parecem apropriados: “Há anos as empresas deviam ter sido proibidas de forçar seus funcionários a trabalharem durante 48 dias consecutivos. Ao demorarem tanto tempo pra legislar, nossos políticos são culpados de não ajudarem as pessoas em perigo.” Este outro funcionário não tem muita escolha: “De tudo jeito, tenho que trabalhar seis dias por semana, portanto também aos sábados. Caso contrário, o dinheiro não dá pra nada no final do mês, pois meu salário aumentou muito menos que o custo de vida.”

Apenas dez dias de folga por ano – Este funcionário acha que vai ser difícil fazer cumprir a lei, sob pena de ser “mal visto”: “Qual funcionário vai ousar exigir o usufruto desse novo direito de não ter que trabalhar muito? No Japão, é totalmente inconcebível dizer não a seu empregador ou o levar a um tribunal se ele infringir a lei. É assinar sua sentença de morte profissional.”

Os trabalhadores japoneses aproveitam apenas metade dos dias de férias a que têm direito. No final das contas, isso equivale a apenas 10 dias de férias por ano – mais exatamente 10,9. É que faltar com muita frequência causa má impressão, considera-se falta de dedicação ao empregador. Por mais que a reforma anunciada pelo governo possa ser considerada uma mudança histórica, não é certeza de que vai alterar esse traço maior da cultura empresarial nipônica que causa tanto sofrimento aos trabalhadores.

Estudos comparativos internacionais mostram que apenas 60% dos japoneses estão satisfeitos com seu trabalho e se sentem aí realizados: uma taxa significativamente mais baixa que na maioria dos grandes países industrializados.



quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

Lições motivacionais de sabedoria


Endereço curto: fishuk.cc/licoes



A prática da vida sempre nos ensina muitas coisas diferentes! Devemos tirar lições da prática e repassar às pessoas de nossa estima. Veja também o exemplo de Amadeu Marques, autor do antigo livro Say It Right! pra ajuda na pronúncia do inglês: ele gosta de indicar as pronúncias corretas por meio da rima com palavras que, em geral, já conhecemos. Infelizmente, na época dele ainda não havia nem smartphones nem essa praga chamada “tigrinho”, e ele não teve oportunidade de fazer uma associação genial:



Nunca é tarde pra trocar de profissão ou começar um novo ofício, vamos parar com o etarismo! Após longos anos fazendo a mesma coisa, temos o direito de mudar de rota e ser acolhidos por aqueles que podem nos ajudar. Os currículos virtuais e as redes sociais profissionais são um grande trampolim nesse sentido, pondo em evidência suas melhores qualidades e facilitando o contato com os empregadores. Aqui segue um exemplo de ampla experiência, mas com urgente necessidade de recolocação na jaula de uma prisão no mercado de trabalho, Arbeit macht frei! (agradeço a um amigo pela sugestão):


terça-feira, 10 de dezembro de 2024

Queda de Bashar al-Asad: TV Globo


Endereço curto: fishuk.cc/alasad-globo

Pra fins de registro histórico, reuni nesta publicação toda a cobertura jornalista da TV Globo sobre a queda da ditadura da família al-Asad na Síria, finalizada no último domingo, 8 de dezembro, por meio da ofensiva contra Damasco de vários grupos rebeldes capitaneados pela Organização pela Libertação do Levante (HTS, na sigla em árabe). Até alguns anos, este grupo e seu líder, que está ocupando a presidência provisória do país, eram considerados terroristas pelos países ocidentais e estavam com a cabeça a prêmio pelas autoridades americanas. Só pra não pagar de isentão: como dizem os especialistas, embora a guerra civil possa resfriar por enquanto, é pouco provável que acabe, pois agora todos os muitos grupos que fracionam o país devem (em teoria) se entender entre si.

Eu sei que muitos grupos políticos amam odiar a “Grobe”, mas esses mesmos “nerds em geopolítica” adoram procurar no YouTube a cobertura de grandes eventos nacionais e internacionais passados com a narração de Cid Moreira ou Celso Freitas. Apesar da oscilação nos termos a serem usados e do rabicho excessivo com a mídia anglo-saxã, a TV dos Marinho, pelo menos, consegue passar um mínimo de informação necessária sem ser partidária, seja exagerando na detração dos árabes e muçulmanos, seja culpando o “Ossidentx Mauvadaum” por todos os males do mundo. E por ser ainda a referência jornalística em língua portuguesa, certamente os vloggers do futuro vão procurar loucamente por estas pérolas pra jogar no YouTube. Segue a cobertura de todos os jornais, exceto o Hora 1 de hoje (10 de dezembro), capturada do Globoplay com a extensão Video Downloadhelper, que funciona (pelo menos) no Edge e no Chrome.

A evolução começa no Jornal Nacional de 7 de dezembro, quando o avanço ainda estava se dando, e bem no fatídico dia 8, um domingo, o Fantástico era o único programa jornalístico do dia. Mesmo ficando um arquivo muito pesado, fundi tudo o que se referia a uma mesma edição, apenas indicando cada fonte individual, e parei no Jornal Hoje deste dia 10, sem esperar “o Bonner e a Renata”. Perceba que em contraste com a intensidade da cobertura do dia 9, já há um “rescaldo” do assunto na manhã de hoje, tanto porque tem coisas que num certo momento “enjoam” o Homer Simpson quanto porque o noticiário tem sido preenchido pela hospitalização da Jararaca e dos sucessivos recordes batidos na cotação das “verdinhas”:



“Rebeldes extremistas chegam à terceira maior cidade da Síria e avançam em direção à capital”, Jornal Nacional, 7 de dezembro de 2024


“Ditador Bashar Al Assad fugiu da Síria depois que rebeldes extremistas tomaram Damasco”, Fantástico, 8 de dezembro de 2024


“Milhares de sírios que viviam no exílio voltam para o país depois da queda de Assad”, Jornal da Globo, 9 de novembro de 2024


“Rússia confirma que deu asilo a Bashar Al-Assad por razões humanitárias”, Hora 1, 9 de dezembro de 2024
(Nota pessoal: embora estejam abrigando um dos maiores assassinos da atualidade e tenham sido colaboradores de seus crimes, esses cachorros se recusaram a dar asilo pros refugiados sírios comuns, jogando todo o peso na Europa!)


“Festa e incerteza na Síria após queda de Bashar Al Assad”, Bom Dia Brasil, 9 de dezembro de 2024

“Refugiado sírio que mora no Brasil fala sobre expectativa após queda do regime Assad”, idem

“Itamaraty orienta brasileiros a buscarem orientações na embaixada em Damasco”, idem

“Rússia convoca Conselho de Segurança da ONU em meio à pressão por estabilidade na Síria”, idem

“Guga Chacra: cai ditadura sanguinária, mas futuro da Síria é incerto”, idem


“Sírios comemoram a queda do governo de Bashar al Assad” Jornal Hoje, 9 de dezembro de 2024

“Queda de ditador sírio Bashar al-Assad enfraquece Vladimir Putin”, idem

“Governo brasileiro retira funcionários da embaixada em Damasco, na Síria”, idem

“Conselho de Segurança da ONU vai se reunir nesta segunda para discutir situação na Síria”, idem

“Brasileiros na Síria relatam alívio e apreensão com a queda de Bashar al-Assad” idem


“Governos avaliam se reconhecem ou não transição na Síria com participação de terroristas”, Jornal Nacional, 9 de novembro de 2024

“Refugiados e brasileiros na Síria relatam misto de alívio com queda da ditadura e angústia sobre futuro”, idem


“Oliver Stuenkel analisa se o grupo que derrubou Assad tem condições de estabelecer um governo”, Jornal da Globo, 10 de dezembro de 2024


“Parentes buscam informações de sírios detidos em um dos presídios mais cruéis do regime Assad”, Bom Dia Brasil, 10 de dezembro de 2024

“Israel continua ataques na Síria e nega que Exército ultrapassou zona desmilitarizada ocupada”, idem


“Líderes europeus monitoram situação na Síria”, Jornal Hoje, 10 de dezembro de 2024

“Rebeldes escolhem primeiro-ministro interino para a Síria”, idem


segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

Queda de Bashar al-Asad: memes


Endereço curto: fishuk.cc/alasad-memes


    

Não é exagero dizer que o último domingo, dia 8 de dezembro, pro bem ou pro mal, foi uma data histórica pra geopolítica global, pois a família al-Asad controlava a Síria desde 1971, e o Partido Ba’ath (literalmente “Renascimento”), misturando socialismo, pan-arabismo e laicidade, se reivindica como herdeiro direto de Gamal Abdel Nasser. Além disso, a imigração massiva de sírios comuns pra vários cantos do mundo (não esqueçamos os venezuelanos e haitianos!) mudou a demografia mundial e causou reviravoltas políticas na envelhecida Europa. Seguindo os mais esclarecidos, não cabe comemorar o que pode vir por aí (porque até os Talibã diziam ter se “reformado”), inclusive pelo fato do país já estar com um terço de seu território praticamente cindido e ter sido palco da disputa entre potências desde 2011, talvez antes.

Porém, nós, que não fazemos parte da comunidade síria, não temos o direito de “lamentar” a queda de Bashar al-Asad, que pareceu muito mais uma fuga covarde, um abandono do povo, igual exatamente a Ashraf Ghani, boneco dos EUA no Afeganistão, em 2021. Não vou me alongar muito, mas incrivelmente temos alguns “ex-querdistas” de cátedra neste país que continuam passando pano pra qualquer ditadura sanguinária, genocida e obscurantista simplesmente por ser antiamericana. Felizmente, o avanço da internet e dos smartphones também permitiu desmentir quem se permitia mentir em nome do combate à “mídia hegemônica” e à “manipulação ocidental”. Há gente sendo solta após ficar presa desde as décadas de 1980 ou 1990 simplesmente por se opor ao regime, e não como criminosos comuns! As terríveis cenas das cadeias incluem mulheres com filhos pequenos... (desculpem falar) frutos de estupro pelos carrascos da ditadura.

Portanto, não há opção política que permita passar pano a uma barbaridade dessas. A Seita da Família Pimenta dizia que “a vitória do Talibã é uma derrota do imperialismo estadunidense”, mas não havia cenas de júbilo popular pela volta dos fanáticos, muito pelo contrário: valia até se pendurar na roda do avião americano pra fugir do obscurantismo! Hoje, nas contas pró-Palestina, silêncio ensurdecedor (exceto numa que cita apenas os bombardeios do Bibi do Hamas a depósitos de armas dos al-Asad), até porque a ditadura era uma das maiores financiadoras do terrorismo na região. Mesmo que a decepção possa logo chegar, são os sírios que devem decidir seu destino, e é simplesmente nojento essa passada pelo alto de toda a barbárie documentada e verbalizada pela imigração em prol de falsos esqueminhas “anti-imperialistas”!

Hodie mihi, cras tibi”: em 2021, as tropas dos EUA e seu fantoche Ghani fugiram do Khorasan, e ontem, as tropas da Rússia e sua marionete Bashar fugiram juntas do Levante rumo à Moscóvia. Não dá mesmo pra “torcer” por ninguém, até porque a própria agitação pode desviar os olhos da barbárie que ainda ocorre nos territórios palestinos. Na “ex-querda” tropical, também me irrita que nas redes sociais, críticas ou zoeiras feitas a poderosos cujos sacos eles chupam são respondidas com gravidade e até xingamentos, como se as concernidas fossem as próprias mães infelizes deles. Mas com o “Bozo” e a “istrema dereita” pode, né?...

Apesar de tudo, quero registrar aqui alguns pontos que achei engraçados do que tem circulado por aí, mesmo que eu é que tenha tentado extrair algum “humor” deles. Em 6 de dezembro, Guga Chacra participou de uma edição histórica do podcast “O Assunto”, em que ele compara a família al-Asad à fictícia família Corleone e diz que Bashar tem o aspecto de uma “girafa”, de um “nerd desengonçado” e de um “jogador ruim de basquete”. Claro que os guardiões da militância acharam isso “horrível”, mas pelo menos as máfias não governam diretamente os Estados, portanto, eu preferiria comparar aos Somoza da Nicarágua, aos Bongo do Gabão recentemente derrubados, a Paul Biya dos Camarões e a Teodoro Obiang da minúscula Guiné Equatorial, dois exemplos de longevidade em vários aspectos e ignorados pelo espectro político bananeiro. Sobre o “nerd/geek”, realmente seus estudos superiores no Reino Unido e sua falta de preparação pro poder, ao qual seu irmão mais velho (morto num misterioso acidente de carro) estava destinado, justificam o estereótipo.

Quanto à “girafa”, além de ser o aspecto mais evidente, as putinetes atlânticas devem saber que os próprios opositores o chamavam jocosamente de “zaraafa”, nome do animal em árabe. Fato tanto mais curioso quanto na mesma língua, “asad” significa “leão”, rs. Infelizmente, os stalinistas da USP, devido à clara condescendência do “Ocidente coletivo”, não vão começar a gostar do “Talibã fumante e cantante” só porque, como presumo na foto lá em cima, ele resolveu se disfarçar de Fidel Castro pra parecer cool... Pra seu deleite e prazer, seguem o áudio do Kobakhidze da GloboNews e mais algumas montagens “menos geniais” que achei da zaraafa:



    


E essa raríssima situação de indefinição institucional? Te amo, Uiquipedja, rs:






Forçando a barra um pouco, até que essa bandeira do grupo de K-BAB norte-siriano HTS (sigla em árabe pra Comitê/Organização pela Libertação do Levante), principal responsável pela fuga da Girafa, lembra a do Palmeiras:


O funcionário garatujeiro do Kremlin exuma um “trabalho” de 2012 pra ilustrar seus delírios geopolíticos decrépitos. Como eu disse, todos os comentaristas sérios concordam que a família al-Asad brutalizou o país, nem os libaneses aguentaram a intervenção nos anos 2000. Desde 2012 também tivemos armas químicas contra opositores, o movimento das mulheres no Irã (ele nunca fez uma só arte pela memória da Jîna Emînî!) e outras chacinas “anti-EUA”, mas isso não lhe parece importante...

E pra fechar, ele ainda clama cinicamente pela proliferação nuclear, o extremo oposto da esquerda da década de 1980! Enfim, sempre evito falar ou me informar sobre esse ser pra não me sentir mal. Mas como o dia foi histórico, me senti obrigado a ver o que externou o rabiscador queridinho dos chupa-sacos do “despotismo oriental”, como teorizava o próprio Marx:


Extra! Jornalista que cobria os eventos na Síria levou uma abusiva cantada de seu colega, que teria dito: “Você parece uma obra de arte!” “Ah, obrigada! Um Da Vinci ou um Monet, talvez?” “Não, um Picasso, kkkkk”:


Moradores de Lataquia (se não me engano) derrubam uma estátua gigantesca de Hafez al-Asad, pai da Girafa, e invejando os moradores do interior paulista e mineiro, resolvem fazer um trenzinho com ela:


Direto do túnel do tempo: Caio Blinder se vingou da “piranha” Asmaa al-Asad que agora, infelizmente, vai ter que nadar nas águas gélidas do rio Moscou, rs. Por volta de abril de 2011, viralizou um trecho do Manhattan Connection, que era então transmitido pela GloboNews, em que Lucas Mendes já começa comentando com péssimo gosto as “primaveras árabes” ao lhe perguntar “qual é a mais bonita das Marias Antonietas do mundo árabe”. Ardente defensor de Israel e, portanto, provavelmente com o sangue na cabeça devido ao histórico da Síria, da Jordânia e do Egito (que elegeria o anticristão e antissemita Morsi em 2012), Blinder chama a rainha e as primeiras-damas de “piranhas”, por supostamente serem cúmplices da tirania de seus maridos. Ele chega a dizer que al-Asad é muito pior do que Abdullah 2.º, mas convenhamos que o governo deste é constitucional.

Realmente, os comentários são asquerosos e fora de lugar, e por isso deixei apenas o trecho referente à nova hóspede de Putin. Outro termo ficaria ótimo, sem invalidar a crítica. Até Ricardo Amorim, querendo posar de “adulto na sala”, repreende Blinder dizendo que elas têm muito menos influência na tirania de seus maridos do que o Ocidente, cuja conivência seria essencial pra os manter no poder. Discordo: elas têm autonomia pra decidir se continuam ou não cúmplices do sistema, por isso, e porque também torram o saque à população, elas têm, sim, parte da culpa. E essa de “Ain, o Ossidentx...”, pelamor, é como se esses caras (tiro a Jordânia, embora imperfeita, da história) fossem moleques inimputáveis pelos crimes que cometem!

Anos depois, o próprio Blinder daria entrevistas dizendo que tinha se arrependido profundamente de seu arroubo machista. Mas como, pelo menos, o pior capítulo da “primavera árabe” parece estar virando a página, não custa cantar com o saudoso Bezerra da Silva: “Piranha não dá no mar, piranha, somente na água doce se apanha...”:


E pra (finalmente!) terminar a série, queria recordar um vídeo que volta e meia circula aí, com um ex-presidente “comandando tropas durante um desfile”. Exceto pelos detratores, é um prato cheio pro gado destilar sua tara por uma boina, uma farda e uma botina, rs. Mas pra decepção deles, isso tá muito longe de ser uma apresentação pública, parecendo mais uma espécie de mero ensaio, que na antiga Alemanha Oriental, por exemplo, era chamado Paradeübung. Até o terreno é parecido, como se fosse uma quadra poliesportiva abandonada no meio do mato!

Toda vez que vejo esse vídeo ao som do Dobrado Baptista de Mello, essa indumentária me lembra muito os uniformes dos exércitos e comandantes ba’athistas da década de 1980, sobretudo do próprio Saddam Hussein. É curioso que João Figueiredo, na mesma época, tenha vendido armas exatamente pro Iraque, inclusive quando era perpetrado aí um genocídio dos curdos... Mas na essência, fico pensando se o Recruta Zero na verdade não seja nem de direita, nem de esquerda, e sim sonhava apenas em ser mais um Saddam ou Hafez da vida, rs:


domingo, 8 de dezembro de 2024

Economia alemã está cambaleando


Endereço curto: fishuk.cc/alemanha2024

Em 30 de novembro de 2024 foi publicada no site da National Public Radio (NPR) dos Estados Unidos, uma entrevista do repórter Scott Simon com Marcel Fratzscher, presidente do Instituto Alemão de Pesquisa Econômica. Segundo a agência, eles conversam sobre o enfraquecimento da economia da Alemanha e o possível impacto que isso pode ter nas próximas eleições federais do país, e o áudio pode ser ouvido em formato podcast na própria página. Em tradução livre pro português, o título da matéria seria “A economia da Alemanha está cambaleando [ou “vacilando”]. Essa pode ser uma oportunidade pra extrema-direita”.

Eu usei o Google Tradutor pra obter a base do texto, mas fiz o que todo mundo devia fazer após usar ferramentas de IA: revisar manualmente pra não ficar algo antinatural ou simplesmente passado “na máquina”... Além disso, imprimi ao conjunto meu próprio estilo de redação e simplifiquei o texto quando possível, mesmo que o resultado “robótico” fosse totalmente aceitável. Sobre o estatuto jurídico “público” da NPR, remeto à introdução da primeira tradução que fiz de um material deles.



Scott Simon – Por décadas a Alemanha teve a maior e mais estável economia da Europa. Mas na semana passada, o país registrou um crescimento do PIB menor do que o esperado, culpando principalmente a redução da produção industrial e a guerra na Ucrânia. Marcel Fratzscher é presidente do Instituto Alemão de Pesquisa Econômica e fala direto de Berlim. Muito obrigado por estar com a gente.

Marcel Fratzscher – Obrigado por me receber.

Scott Simon – O que houve? Afinal, o modelo econômico alemão era considerado o mais bem-sucedido da Europa.

Marcel Fratzscher – Bem, a Alemanha foi atingida com uma força excepcional pela pandemia e, agora, pelo choque energético devido à guerra na Ucrânia. Antes dela, a Alemanha era muito dependente de combustíveis fósseis russos, implicando um grande aumento do custo da energia. E a Alemanha tem uma indústria que usa energia com grande intensividade. Essa é uma parte da história. A outra parte é que, depois de uma década de 2010 muito bem-sucedida, muitas empresas alemãs falharam na transição pra novas tecnologias.

Scott Simon – O que você acredita que as empresas alemãs precisariam fazer pra tornar a economia em geral mais bem-sucedida?

Marcel Fratzscher – As empresas alemãs precisam fazer duas coisas: primeira, remodelar ou reequilibrar seu modelo de globalização. Elas são dependentes demais da China, então, diversifiquem, sejam menos dependentes da China e dos EUA. Essa é outra grande ameaça vinda do governo Trump e do conflito comercial em que ele provavelmente vai se engajar com a Alemanha e a Europa.

Segunda coisa: precisam inovar mais em tecnologias digitais e tecnologias verdes. Carros elétricos são um exemplo em que as empresas aproveitaram o sucesso da última década, mas, até certo ponto, foram vítimas de seu próprio sucesso.

Scott Simon – Quais são as implicações políticas? Afinal, claro, o governo de coalizão entrou em colapso há apenas algumas semanas.

Marcel Fratzscher – Bem, num mundo ideal, o governo interviria e haveria um grande estímulo fiscal – talvez, até certo ponto, comparável ao que a economia dos EUA experimentou tanto sob Trump quanto sob Biden, talvez um pouco menos forte, porque isso aumentaria enormemente a dívida pública. Mas o governo alemão tem feito o contrário: um freio da dívida que basicamente não permite que o governo, tanto o federal quanto os estaduais, tenham déficits.

Então, cortar gastos e investimentos públicos específicos em tempos difíceis, como agora, é o pior que um governo pode fazer. Mas, pra isso, ele realmente precisa mudar de rumo e dar um grande impulso aos investimentos, incluindo cortes de impostos pra empresas e cidadãos.

Scott Simon – Quais partidos políticos estão em posição de se beneficiar?

Marcel Fratzscher – Há expectativas completamente irrealistas entre os cidadãos sobre o que o governo e o Estado devem oferecer. A Alemanha tem um modelo econômico muito diferente do americano, com um sistema de previdência social muito grande. Há essa expectativa de que o governo deva cuidar dos cidadãos, e isso não é nada realista numa situação dessas, em que as empresas devem fazer a maior parte do trabalho pesado.

Assim, a oposição está claramente se beneficiando nesta campanha pro novo governo – eleições que vão ocorrer no fim de fevereiro de 2025. Mas os cidadãos vão se decepcionar, porque o novo governo, não importa por qual coalizão seja formado, não vai ser capaz de viver com essas expectativas.

Scott Simon – E isso às vezes promove o populismo e o extremismo?

Marcel Fratzscher – Bem, na Alemanha, temos uma crescente polarização social com a desigualdade de poupanças. E as pessoas que perdem com a globalização e a inovação tecnológica frequentemente têm renda e qualificação mais baixas. Isso traz muito apoio aos partidos de extrema-direita. A antidemocrática AfD (Alternativa para a Alemanha, na sigla em alemão) recentemente avançou em muitas pesquisas e eleições estaduais. Então, o populismo está em alta porque populistas fingem que há soluções fáceis, quando não há.

Scott Simon – Mas seguindo sua explicação dos acontecimentos, parece que muitos alemães da classe trabalhadora têm razões pra estar insatisfeitos.

Marcel Fratzscher – Se você olhar pros fatos, temos emprego recorde. Nunca tivemos mais pessoas empregadas quanto hoje. Os salários têm aumentado, inclusive pros trabalhadores de baixa renda, e desde 2015 o salário mínimo aumentou substancialmente mais de 40%. Mas as preocupações, as inquietudes com o futuro, são totalmente compreensíveis. A sociedade alemã está envelhecendo, então, os benefícios sociais vão ter que ser reduzidos pra continuarem geríveis. Alguns também vão precisar pagar mais impostos pra financiarem os gastos do governo. Há a mudança climática. Há conflitos geopolíticos na Europa com a Ucrânia, que fica bem ao lado da União Europeia. Então, meu ponto é: olhando pros últimos 15 anos, acho que a Alemanha se saiu muito bem. A guerra concerne aos próximos 15 anos, e essas preocupações são plenamente justificadas e compreensíveis.

Scott Simon – Sr. Fratzscher, tenho certeza que não preciso lhe dizer que o resto do mundo fica um pouco mais preocupado com qualquer avanço da extrema-direita na Alemanha do que em outros lugares.

Marcel Fratzscher – Sim, a história da Alemanha tem uma mancha muito, muito escura nas décadas de 1930 e de 1940. A democracia alemã tem muitos freios e contrapesos. Os cidadãos alemães são, em última análise, pró-europeus. E eu sei que é preciso ter cuidado ao dizer isso, mas acho mesmo que eles se lembram bem da história e tiraram lições dela. Então, estou realmente bastante confiante que a democracia alemã é forte o suficiente pra resistir aos conflitos que estamos vivendo atualmente.



sábado, 7 de dezembro de 2024

Гоп-стоп, Канада! (folclore ucraniano)


Endereço curto: fishuk.cc/hopstopkanada


Mais uma das sugestões dos tempos do Pan-Eslavo Brasil (ou seja, antes de agosto de 2021) que não me lembro quem fez e quando fez, mas estava guardada e julguei valer a pena traduzir na página renovada. Não sei se foi o Tiago Rocha Gonçalves, meu amigo de longa data do Paraná que já traduziu canções ucranianas pra mim, mas em todo caso dedico esta publicação a ele, como homenagem ao fim próximo de sua graduação em Direito, rs. Esta música popular do oeste da Ucrânia se chama “Гоп-стоп, Канада!” (Hop-stop, Kanáda!) e poderia ser traduzida como “Canadá, aí vou eu!”, pois homenageia imigrantes que deixaram a referida região pra se fixarem no extremo norte da América.

Porém, decidi não traduzir o hop-stop, porque em russo, por exemplo, na pronúncia gop-stop, costuma ser o anúncio de um assalto por um delinquente de rua, geralmente jovem, por isso chamado “gópnik”, enquanto no mundo anglófono tem outros significados, geralmente ligados a chamar a atenção. A autoria é desconhecida e o “ucraniano” da letra, característico da era pré-bolchevique, ainda possui alguns traços dialetais ou em comum com o russo, como a expressão “nádo” pra indicar necessidade (hoje se usa mais “tréba”) e a variante “marmeliád” ao invés de “marmelád”. Uma das versões diferentes desta que traduzi foi gravada pelo grupo ucraíno-canadense Burya em 2014.

Como informa esta página folclórica, a canção Hop-stop Kanada data da virada do século 19 pro 20 e se relaciona com um tipo de polca muito popular na região central do Canadá, dançada em compasso 2/4, em movimentos ligeiros que envolvem a alternância entre dedão e calcanhar. É chamada em inglês “heel-(and-)toe polka”, e como parte dos imigrantes ucranianos se fixou naquela região, o estilo de dança se tornou popular também no oeste da Ucrânia sob o nome... “kanáda”. Curioso, não? Esta página do mesmo portal traz outra versão da letra e mais informações, e há inclusive um artigo acadêmico sobre a kanada, cujo título pode ser traduzido como “A dança folclórica ‘kanada’: retratando eventos históricos e sociais na Ucrânia Ocidental no fim do século 19 e começo do 20”. Publicado em 2023 na revista ucraniana Questões Atuais de Ciências Humanas, seu autor é o coreógrafo Oleksándr Zastávny, estudante de doutorado na Universidade Nacional Iván Frankó de Lviv.

A versão que traduzi aqui foi gravada pelo cantor Semión Anatólievich Diúkov (n. 1954), talvez por isso mais conhecido como “Semión Kanáda”, em seu álbum de estreia em 1999, Piánitsa (Bebum), e reincluída em seu álbum de 2002, Rodnáia zhená (Querida esposa). O cantor, compositor e produtor nasceu na Khárkiv soviética, possui dupla nacionalidade ucraniana e russa e desde adolescente trabalha com música, cantando e tocando em bandas. No total, ele só possui cinco álbuns solo, o último tendo saído em 2013, e seu site pessoal não é atualizado desde 2016, quando também gravou seu último clipe. Na Wikipédia em russo (única em que Semion Kanada aparece), seus últimos trabalhos citados são dois inícios de atuação como produtor em 2018 e 2019, depois ele simplesmente some. Por isso, brindei vocês no início da publicação com a capa de uma esquecida conta sua no Facebook, mostrando seu jeitão que mistura Shoko Asahara com José Rico!

Com essa versão, foram feitas pelo menos três montagens que seguem abaixo, publicadas respectivamente em 2015, 2013 e 2018, obviamente antes do clima atual contra a Ucrânia se endurecer. Trata-se de trechos da comédia musical soviética Casamento em Malínovka (Свадьба в Малиновке), de 1967, que se passa no vilarejo de mesmo nome (“Malýnivka” em ucraniano), localizado no território da atual província de Kirovohrád. Durante a Guerra Civil Russa (1918-1920), a aldeia troca várias vezes de mãos entre bolcheviques e “brancos”, e o humor consiste na constante mudança de adereços e atitudes dos habitantes a cada tropa que chega e nas dificuldades de dois jovens camponeses apaixonados em meio aos combates. Apesar do enredo, as filmagens foram feitas nas províncias de Poltava e Khárkiv, nas quais estariam as verdadeiras “Malýnivkas” que serviram de cenário. Curiosamente, em vários trechos aparecem atuações do Grupo “Joc” de danças folclóricas moldovas, e embora o áudio seja totalmente diferente, alguns passos parecem mesmo aludir à referida kanada.

Numa publicação no Facebook do ucraniano Ivan Gerhardt está a versão da letra que serviu de base pra eu traduzir direto do original, sem a ajuda do Google, exceto por pesquisas pontuais sobre alguns conceitos desconhecidos. Porém, seu vídeo se baseia na gravação feita por Borýs Sychévsky em 2007. Sinta-se à vontade pra entrar em contato comigo e dar mais informações culturais ou fazer alguma correção, já que parte da letra parece não fazer muito sentido e não fui muito a fundo na natureza dessa “dança”:






1. Me deem pão e um quilo de geleia,
Adeus, rapazes, estou partindo pro Canadá!
Adeus, rapazes, estou partindo pro Canadá!

Refrão (2x):
Hop-stop, Canadá! Não preciso de caipiras velhas,
Preciso de moças, e vocês, rapazes, toquem!
Hop-stop, Canadá! Não precisamos de rublos!
Deem dólares, e vocês, rapazes, toquem!

2. Vou viajar pelo Canadá, ficar contando dólares,
E onde estiver ao anoitecer, aí que vou pernoitar!
E onde estiver ao anoitecer, aí que vou pernoitar!

(Refrão 2x)

3. As mães têm um morteiro, o pai tem um canhão,
Enquanto iam dormir, explodiram a choupana!
Enquanto iam dormir, explodiram a choupana!

(Refrão 2x)

4. Mesinha após mesinha, depois outra mesinha,
E naquela mesinha está sentado um bêbado!
E naquela mesinha está sentado um bêbado!

(Refrão 2x)

5. O pai tem um canhão, as mães têm um morteiro,
Deitaram na cabana, estão bombardeando Berlim!
Deitaram na cabana, estão bombardeando Berlim!

(Refrão 2x)

(Refrão...)

____________________


1. Дайте менi хлiбу, кiло мармеляду,
Прощавайте, хлопцi, ïду до Канади!
Прощавайте хлопцi, ïду до Канади!

Приспів (2x):
Гоп-стоп, Канада! Cтарих баб не надо –
Молодих давайте, а ви, хлопцi, грайте!
Гоп-стоп, Канада! Нам рублiв не надо!
Долляри давайте, а вы, хлопцi, грайте!

2. По Канадi ходжу, долляри рахую,
А де нiчь застане, там i заночую!
А де нiчь застане, там i заночую!

(Приспів 2x)

3. Мати мають мину, батько ма гармату,
Полягали спати – пiдiрвали хату!
Полягали спати – пiдiрвали хату!

(Приспів 2x)

4. Столик за столиком, за столиком столик,
А за тiм столиком сидит алкоголик!
А за тiм столиком сидит алкоголик!

(Приспів 2x)

5. Батько ма гармату, мати мають мину –
Залягли у хатi, луплять по Берлiну!
Залягли у хатi, луплять по Берлiну!

(Приспів 2x)

(Приспів...)