Igor Dodon, então presidente da República da Moldova e comandante-em-chefe das Forças Armadas, condecorou o contingente de soldados e oficiais que participaram da parada celebrando os 75 anos do Dia da Vitória na 2.ª Guerra Mundial em Moscou, no 24 de junho anterior. O evento se deu no dia 16 de julho de 2020 na capital Chișinău, e logo depois foi postado no canal oficial do presidente. Eu apenas suprimi a parte em que Dodon discursa, mas o próprio vídeo original já é um resumo do evento.
Como este vídeo é uma republicação de meu finado canal Pan-Eslavo Brasil, cabem aqui alguns esclarecimentos. Primeiro, a parada foi realizada em junho provavelmente por causa de alguma restrição, vigente durante a data original (9 de maio), contra a pandemia de covid-19 que estava se alastrando pelo mundo. O jubileu de diamante da Vitória acabou sendo publicamente celebrado, mas certamente o deslocamento da data frustrou Putin, pois quase todo seu capital político depende dessa exploração desonesta da história nacional, que culminou, como vemos hoje, na “caça aos nazistas” inventada na Ucrânia. Ademais, a Rússia demorou a tomar medidas efetivas contra a doença (praticamente ninguém estava usando máscara na Praça Vermelha), e sua celebrada vacina Sputnik V não tem eficácia comprovada.
Dodon é reconhecidamente pró-Moscou e perdeu as eleições no final de 2020 pra candidata europeísta, Maia Sandu, que está promovendo reformas muito positivas no país, apesar das inúmeras resistências conservadoras. Eles também tinham disputado o segundo turno em 2016, mas a candidata perdeu. O canal de Dodon continua ativo, mas vejam só: no ápice do Pan-Eslavo Brasil, cheguei a ter mais de 42 mil inscritos, enquanto o ex-presidente moldovo não chega a 19 mil, rs. Inclusive, ficou por um bom intervalo sem novas publicações, provavelmente porque Dodon chegou a passar um tempo preso por acusações de corrupção (ele mesmo alegou perseguição política, pra variar), e não sei como terminou solto. Ainda hoje lidera o PSRM (Partido Socialista da República da Moldova), que faz oposição ao PAS (Partido Ação e Solidariedade) de Sandu.
Outrora integrando a região histórica da Bessarábia, pertencente à Romênia (que lutou junto ao Eixo) e fazendo fronteira com o oeste da Ucrânia, a República Socialista Soviética da Moldávia foi integrada à URSS após a guerra mundial, e inclusive adotou uma variante do alfabeto cirílico pra escrever seu dialeto local do romeno. Em 1991 o país obteve a independência, mudando seu nome pra Moldova e adotando o regime parlamentarista. Igor Dodon pertence ao Partido Socialista, mas teve algumas ações autoritárias questionadas em vários domínios.
Devido a esse pertencimento à URSS, os moldovos também comemoram o Dia da Vitória e por vezes enviam participantes à parada solene na capital da Rússia. Muitos moldovos ainda falam russo, como o ex-presidente Dodon, de forma bem fluente, e inclusive a região separatista da Transnístria é majoritariamente russófona. Sandu também fala russo, por ter crescido e sido educada nos tempos soviéticos, mas obviamente se sente bem menos à vontade do que, por exemplo, com o inglês, língua que usou ao estudar no Reino Unido. A invasão da Ucrânia afetou parte da popularidade de Sandu, pois a Moldova dependia inteiramente do gás russo, e tendo o cortado subitamente, precisou correr atrás de outros fornecedores, e o preço ao consumidor subiu. Porém, dada a condenação da invasão e o giro pró-Europa, as relações com Moscou quase já não existem, e não raro o Kremlin critica abertamente a presidente. Há um grande cerco a forças subversivas pró-Rússia, e inclusive foi fechado o partido de Ilan Shor, oligarca pró-Putin e propagador de desinformação que se exilou em Israel.
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