quinta-feira, 12 de outubro de 2023

“Enfia a bandeira palestina no c...”?


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À guisa de disclaimer, gostaria apenas de ressaltar algumas ideias, em parte fatos constatados, em parte posições minhas:

  • Os ataques do Hamas a Israel devem ser condenados, em qualquer hipótese, por qualquer ser pensante; não se precisa “apoiar” nenhum dos lados pra condenar as violências de ambos.
  • Os abusos de Israel ao longo das décadas não justificam nem podem ser vistos como tendo esses ataques por “cúmulo” ou “resposta legítima”; o Hamas não pensa na população, e sim em poder, e essa “mostra de força” visa lhe dar mais capital político.
  • Os usos que o bolsonarismo tem feito da imagem de Israel, desde sempre até esta guerra, são nojentos.
  • A destruição de fato da Faixa de Gaza, que está em curso, é uma resposta errônea e, longe de resolver, vai agravar o problema.
  • A criação de Israel em si não foi “um erro”, mas como todo Estado recém-criado, tem problemas e comete erros; e já havia ampla imigração judia do mundo todo pra lá, fugindo do antissemitismo, antes mesmo da fundação do movimento sionista.
  • O direito dos povos palestino e judeu terem seus próprios Estados são igualmente legítimos e não podem conhecer hierarquia entre si.
  • A Autoridade Palestina, comandada pelo Fatah e adversária do Hamas, o qual não controla, está corrompida e fraca, e está desacreditada entre os próprios palestinos; os terroristas são tão repulsivos que até o Egito, com medo de fugas, está atravancando a abertura da fronteira com Gaza, já que conhece as “belezas” da Irmandade Muçulmana, irmã do Hamas.
  • As maiores culpadas pela briga entre os dois povos são as grandes potências, sobretudo o Reino Unido (quando governou a Palestina no entreguerras) e os EUA, que apoiou cegamente todos os governos israelenses; mas também as potências regionais, como Egito, Irã, Síria e Arábia Saudita, que instrumentalizaram a causa palestina quando convinha ou botaram lenha na fogueira.
  • Binyamin Netanyahu não representa toda a história de Israel, muito menos seu povo, que no geral o detesta e o acha incompetente; em vários momentos ele executou políticas repulsivas quanto aos terroristas, seja “comprando” o Fatah, seja deixando livre o Hamas pra enfraquecer aquele.
  • A ditadura terrorista do Irã jamais deve ser defendida sob o pretexto de um falso “anti-imperialismo”, e sendo um regime em crise, está promovendo esta guerra por procuração, já que morre de medo de encarar Israel de frente.
  • Síria e Irã também combatem o Daesh, mas assim como os EUA, por interesse próprio: al-Assad foi o tirano que, com a cobertura de Putin, lançou bombas de fósforo contra a própria população, e Ali Khamenei sustenta a “rebelião” xiita no Iêmen, parte de cujo lema é “Morte a Israel, malditos sejam os judeus”.

Dito isto, gostaria de mostrar uma coisa que, nessa semana tão violenta, finalmente lavou minha alma e provavelmente não vai aparecer nas mídias bananeiras, nem na hegemônica, nem na “alternativa”! No Estádio Azadi de Teerã, no dia 8 de outubro de 2023, no dia seguinte do ataque do Hamas a Israel, os esbirros da guarda “revolucionária” da ditadura terrorista do Irã (um país não árabe) tentaram distribuir bandeiras da Palestina à torcida e instigá-la a expressar apoio ao Hamas. Porém, nesse jogo entre o Gol Gohar e o Persepolis, a torcida deste tomou coragem e desafiou os mulás cantando: “Enfie essas bandeiras palestinas no c..., enfie no c..., enfie no c...!” Nos últimos dias, o regime promoveu “manifestações” de rua que, na verdade, foram recheadas de militares e funcionários públicos sem muita escolha, mas o povo já esmagado pela repressão tem simplesmente ignorado essas mascaradas.


Eis a versão Zaratustra do “You can shove your coronation up your arse!” entoado recentemente nos estádios escoceses, quando da entronização de Charles 3.º! Segundo uma amiga minha iraniana, que mora na Turquia e confirmou a veracidade do vídeo (que está circulando em diversos perfis de iranianos), esta é a transcrição:

پرچم فلسطین را
بکن تو کونت
بکن تو کونت

Cuja transcrição pra você cantar é: Parcham-e felestin (r)â bokon to kunet, bokon to kunet! Emily Schrader, jornalista e ativista israelense, publicou a versão mais replicada na rede X, mas o fato também foi amplamente noticiado tanto na mídia iraniana exilada quanto na imprensa israelense, das quais tirei as informações fatuais. Pra mim o negócio funciona mesmo na base do deboche e da zoeira, mas reitero que não tenho nenhuma intenção de ofender a causa palestina (a qual, infelizmente, não merece os “defensores” que tem), e sim a instrumentalização que criminosos como o ditador do Irã fazem dela, bem percebida por seu povo que não aguenta mais essa hipocrisia sanguinária pra ex-querdista ver.


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