Este é um trecho do mapa da Wikipédia que colore os países conforme seus sistemas de governo (o que nem sempre tem a ver com democracia ou autocracia). Segundo a definição do site, o verde-musgo indica “países em que as disposições constitucionais pra um governo estão suspensas”, como aqueles governados por juntas militares.
E precisamente com Guiné, Mali, Burquina-Fasso, Chade, Sudão e, até segunda ordem, Níger formando um cordão contínuo de países governados por juntas militares do Atlântico até o mar Vermelho, concretiza-se aquilo que alguns analistas têm chamado desde 2021 de Coup Belt, ou seja, “cinturão do golpe” ou “cinturão golpista” (ceinture de coup d’État em francês). E coincide exatamente com a região do Sahel (entre o Saara e a África Subsaariana), que hoje está quase dominada pelo terrorismo islâmico internacional.
Uma das culpadas pela proliferação de golpes militares nessa região seria a França, pois, como diz o pesquisador Folahanmi Aina neste artigo em inglês publicado pela Al-Jazeera, ela só teria apostado em intervenções bélicas pontuais e não investido no reforço das instituições locais ou na aquisição da simpatia das populações, que agora a veem como uma “potência colonial” indesejável. O Reino Unido, por exemplo, com sua abordagem diferente desde o tempo da “descolonização”, não faz esse tipo de coisa o tempo todo. E é exatamente no vazio deixado por Paris que toma corpo a ameaça iminente de intervenção da Rússia por meio dos bandoleiros do Grupo Wagner, pois eles souberam explorar esse ressentimento pelas mídias sociais e prometeram uma segurança que sabem muito bem não poder fornecer.
Eu acrescentaria que alguns estudiosos também recuam a origem dos males atuais até a intervenção da OTAN na Líbia, cujo principal agitador foi justamente o ex-presidente Nicolas Sarkozy. Então, foi deposto o ditador Muammar Gaddafi, o país até hoje está retalhado por guerras entre facções militares e se tornou um lugar de livre trânsito de sucursais terroristas ainda mais perigosas da Al-Qaeda e do Daesh (como prefiro chamar o “Estado Islâmico”), que avançam cada vez mais ao sul e, assim, provocam um apoio até certo ponto espontâneo da população aos militares golpistas. Passamos então por François Hollande, que lançou a primeira grande intervenção no Mali, e por Emmanuel Macron, que simplesmente menospreza o “Sur Grobá”. A receita perfeita pro caos ou, como chamou o jornalista camaronês Alain Foka (em francês), a “somalização” do Sahel...
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