terça-feira, 6 de junho de 2023

Rússia destrói barragem e afoga povo


Link curto pra esta publicação: fishuk.cc/kakhovka

Na madrugada de 6 de junho de 2023, a barragem da Usina Hidrelétrica de Nova Kakhovka, cidade ucraniana na beira do rio Dnipró, foi destruída por explosões que imediatamente causaram inundações mortíferas, espalharam substâncias tóxicas nocivas ao meio-ambiente regional e ameaçaram o sistema de resfriamento da já prejudicada Usina Nuclear de Zaporizhia. Construída na época soviética, a barragem terá de ser toda refeita, não tem como ser apenas consertada, e seu rompimento já era algo temido pelos analistas militares. Numa semana em que a contraofensiva da Ucrânia tem ganhado mais visibilidade, o Kremlin tratou imediatamente de culpar Kyiv por um “bombardeio” intencional, mas ao que parece, a estrutura explodiu de dentro, isto é, entre as análises mais aventadas estão a ativação de bombas que já teriam sido colocadas pelos invasores (já que a região está sob controle russo) ou o possível colapso de alguma operação de reparo, conserto ou mudança que deu errado, muito errado.

Seja como for, Zelensky e o Ocidente tratam o fato como mais um “atentado terrorista de Putin”, mas observando melhor, a tragédia corre o risco muito mais de arruinar de vez a ocupação russa (soldados já teriam morrido, a população da região teve de ser evacuada e, o principal, a Crimeia vai ficar sem abastecimento de água limpa) do que atrasar a contraofensiva ucraniana, mesmo que não esteja claro se o Kremlin teve essa intenção. É mais um dos reflexos da bagunça que virou o front russo, com tropas abandonadas, comandantes incompetentes e relapsos, falta de equipamentos e briga entre exército oficial e milícias criminosas. Penso pessoalmente que Putin, ou quem quer que esteja controlando, já perdeu as esperanças de manter o controle das regiões ocupadas (o qual, de fato, nunca se consolidou), e que, talvez preparando uma retirada, vai pelo menos deixar tudo em ruínas. Não deixa de ser um crime, em todo caso, que futuramente vai cair na conta do ditador da Rússia.

Esta declaração do Ministério das Relações Exteriores ucraniano sobre o incidente foi traduzida por Vitorio Sorotiuk, de quem já publiquei vários artigos aqui, e ressalta o lado terrorista do que pode ter sido uma explosão provocada pelos russos. Infelizmente, tá difícil receber boas notícias sobre essa invasão criminosa, e agradeço ao amigo Claudio pelo envio dos textos. Apenas adicionei algumas notas e fiz algumas mudanças redacionais pra adequar ao estilo da página.



Rússia realiza ato terrorista contra o povo ucraniano

Declaração do Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia sobre o ato terrorista da Rússia na Usina Hidroelétrica de Kakhovka

Na noite de 6 de junho, a Federação Russa explodiu a barragem da Usina Hidroelétrica de Kakhovka, localizada perto da cidade de Nova Kakhovka, no território temporariamente ocupado da região de Kherson.

Dezenas de assentamentos em ambos os lados do Dnipró correm risco de inundação.

Unidades da Polícia Nacional e do Serviço de Emergência do Estado da região de Kherson estão tomando medidas urgentes para evacuar a população civil de possíveis zonas de inundação. Moradores da margem esquerda [em relação ao curso do rio rumo ao mar] temporariamente ocupada da região de Kherson estão sendo alertados.

Consideramos a detonação da Usina Hidrelétrica de Kakhovka pela Federação Russa como um ato terrorista contra a infraestrutura crítica ucraniana, que visa causar o maior número possível de vítimas e destruição. O ataque terrorista à Usina Hidroelétrica de Kakhovka foi anteriormente discutido ativamente no nível das forças de ocupação na região de Kherson e propagandistas na televisão russa, o que indica que foi planejado com antecedência.

O enfraquecimento da barragem Usina Hidrelétrica de Kakhovka é um terrorismo ecológico causado pelo homem, o maior desastre causado pelo homem na Europa nas últimas décadas, outra manifestação do genocídio da Rússia contra os ucranianos. Esta é a resposta do Kremlin aos países que pedem negociações de paz com a Federação Russa.

Devido à diminuição do nível da água no reservatório de Kakhov, pode haver o perigo de um incidente em outro objeto crítico de infraestrutura ocupado pela Rússia – a Usina Nuclear de Zaporizhia.

Apelamos à comunidade internacional para condenar veementemente o ataque terrorista russo à Usina Hidrelétrica de Kakhovka.

O crime cometido pelo homem na Federação Russa confirma a alta relevância da Fórmula da Paz do Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. Apelamos aos parceiros internacionais para que se associem à sua implementação o mais rapidamente possível, em particular nos pontos de combate ao ecocídio, segurança nuclear e energética.

A Rússia terá que compensar todas as consequências de seu crime: tanto para as pessoas quanto para a infraestrutura e o meio ambiente.

Apelamos também aos países do Grupo dos Sete [G7] e à UE para que considerem urgentemente a imposição de novas sanções de longo alcance à Federação Russa, em particular à indústria russa de mísseis e à indústria nuclear.

De acordo com os resultados da reunião do Conselho de Segurança Nacional e Defesa da Ucrânia na manhã de 6 de junho, a lista de ações do MRE da Ucrânia, propostas pelo Ministro das Relações Exteriores, sr. Dmytró Kuleba, no contexto da resposta, incluirá, em particular, a convocação de uma reunião urgente do Conselho de Segurança da ONU pela Ucrânia e trazer a questão do ataque terrorista russo para a reunião do Conselho de Governadores da AIEA, bem como acionar o Mecanismo de Defesa Civil da União Europeia.



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