quarta-feira, 31 de maio de 2023

“A Internacional Tuvana” (1921-44)

Só após traduzir Tooruktuğ dolgay tañdım (A floresta cheia de pinhões), hino nacional da República Popular de Tuva (Tıva Arat Respublik) que na verdade vigorou por muito pouco tempo – depois, o pequeno país foi anexado à URSS, apesar da canção seguir em uso –, descobri que na maior parte de sua existência, a nação socialista usou como hino nacional a canção Tıva İnternatsional (A Internacional Tuvana), que não é uma tradução nativa da famosa Internacional, mas um poema próprio executado numa melodia folclórica. Pra você ter noção, quase não há referência a sua composição na internet, nem mesmo em língua russa, da mesma forma que a efêmera República de Tuva quase não deixou registros fonográficos ou filmados. A única versão da Wikipédia que relata sua origem e dá uma tradução numa língua euro-ocidental é em inglês, e curiosamente nem sequer sobre Tooruktuğ dolgay tañdım há um verbete na Wikipédia em russo.

Mesmo na Wikipédia em inglês, a única fonte citada sobre a canção, mas sem menção a páginas, é o volume 1 do livro Where Rivers and Mountains Sing: Sound, Music, and Nomadism in Tuva and Beyond, escrito por Theodore Levin “com” Valentina Süzükei e publicado nos EUA em 2010. A melodia é mencionada como “tradicional”, e nem na Wikipédia, nem em qualquer outro lugar, há alusões ao possível autor da letra. Segundo o site, A Internacional Tuvana foi usada de 1921 a 1944, e apesar do título, não é uma tradução poética da famosa canção operária A Internacional, escrita em francês no século 19 e cuja tradução poética em russo de Arkadi Kots foi o hino da URSS até 1944. Curiosamente, a referência da Internacional original é à Primeira Internacional na qual os próprios Karl Marx e Friedrich Engels atuaram e combateram Mikhail Bakunin e outros anarquistas, enquanto A Internacional Tuvana é dos raros hinos com esse nome cuja referência explícita é à Terceira Internacional, comunista, fundada por Lenin e também chamada “Comintern”.

Além da própria Rússia/URSS, a partir da década de 1920 apenas a Mongólia e Tuva (Tannu Tuva até 1926), países recém-criados e de culturas muito semelhantes, tinham conseguido implantar regimes socialistas, e por isso mesmo as duas últimas repúblicas dependiam praticamente em tudo da irmã mais que maior. E justamente em homenagem a ela, também adotaram hinos nacionais chamados A Internacional Tuvana e A Internacional Mongol, esta usada de 1924 a 1950 e que era igualmente uma canção toda nova, aludindo à Comintern. Havia, de fato, uma verdadeira tradução poética mongol da Internacional, mas não em tuvano, até onde eu saiba, e podemos pensar que não faria sentido manter hinos com referências à 3.ª Internacional após ela ter sido extinta por ordem monocrática de Stalin em 1943. Não por menos, quando o país foi anexado pela URSS durante a 2.ª Guerra Mundial, Tooruktuğ dolgay tañdım continuou usada pelo agora Oblast Autônomo de Tuva (cujas fronteiras não correspondiam exatamente às da antiga nação), dentro da RSFS da Rússia, e depois, quando foi promovida a República Socialista Soviética Autônoma de Tuva, em 1961, e finalmente quando foi formada a República de Tuva dentro da Rússia capitalista em 1991. Somente em 2011 a entidade recebeu um novo hino, Men – Tyva Men (Eu sou tuvano).

Pra esta introdução não ficar longa demais, e como você já leu sobre a história de Tannu Tuva na publicação sobre Tooruktuğ dolgay tañdım, vou reproduzir a maior parte da história no fim da página, e agora apenas explicar a parte técnica do trabalho. Neste vídeo, procurei ser mais variado e utilizei a maioria das bandeiras e brasões que foram adotadas pelo país, em ordem cronológica, mas não quis ser exaustivo, e até inseri uma nota de 10 “akchá”, moeda da época, de 1940. A Wikipédia em inglês diz que a última bandeira, com o símbolo da foice e do martelo, pode ter sido uma variante da bandeira final, que em tese incluiria apenas a inscrição “TAP” em cirílico (equivalente a nosso “TAR”): com ela, desejei simbolizar a inserção final dentro da URSS. De fato, houve muitas mudanças de bandeira e brasão, nem sempre registradas no Ocidente, de forma que muita coisa é hoje considerada “reconstituição” (Tannu Tuva era isolada do mundo e praticamente só mantinha comércio com os vizinhos). Tentei também usar um “filtro grunge” que achei por acaso no Google, pra ficar mais ou menos parecido com o aspecto dos vídeos com outros hinos das antigas RSS.

Como diversos hinos do passado recente ou distante, A Internacional Tuvana parece nunca ter tido uma gravação oficial de época, e a única versão existente conhecida parece ter sido gravada em 1993 no álbum 60 Horses In My Herd. Old Songs And Tunes Of Tuva, o primeiro do grupo folclórico tuvano Huun-Huur-Tu (ou Hün Hürtü, “Хүн Хүртү”), fundado em 1992 pelo músico local Kaigal-ool Khovalyg (n. 1960). Ele mesmo é especialista no khöömei, um estilo de canto glotal da região que também foi utilizado no hino, junto à instrumentação que pra nós lembra tribos xamânicas. Este sim, seria um socialismo com traços nacionais... Pra traduzir, usei só a versão em inglês mesmo, porque na maioria das ferramentas online, é impossível utilizar indiretamente qualquer língua aparentada, mesmo o turco, pois as túrquicas siberianas quase não são faladas na atualidade. Da Wikipédia em inglês, também aproveitei o original em cirílico e uma transliteração modernizada, alinhada com outras línguas túrquicas e não usada oficialmente na Rússia, que seguem abaixo:



Na última estrofe, se ouvirmos bem o áudio, não foi pronunciado huvuskaalın, mas alguma palavra que, como comprovamos na tradução, tem a mesma raiz latina que nossa “revolução”. Mas como o sentido é o mesmo e como só existe essa versão da letra por toda a internet, fica aqui a nota, sem mais mudanças.


Ortografia modernizada:

Kadagaatı kargızınga,
Kaçıgdadıp çoraan arat
Kaçıgdaldan çarıp algan.
Kaygamçıktıg İnternatsional!

İştikiniñ ezergeenge
Ezergedip çoraan arat,
Ezergekten çarıp algan.
Enereldig İnternatsional!

Bömbürzektiñ kırınayga
Büdüülükke çoraan arat,
Bürün erge tıpsın bergen.
Büzüreldig İnternatsional!

Ületpürçin taraaçınnın
Ünüp turar huvuskaalın,
Ürülçü-le baştap turar.
Üş-le dugaar İnternatsional!


Alfabeto cirílico de 1943:

Кадагааты каргызынга,
Качыгдадып чораан арат
Качыгдалдан чарып алган.
Кайгамчыктыг Интернационал!

Иштикиниң эзергээнге
Эзергэдип чораан арат,
Эзергэктен чарып алган.
Энерелдиг Интернационал!

Бөмбүрзектиң кырынайга
Бүдүүлүкке чораан арат,
Бүрүн эрге тыпсын берген.
Бүзүрелдиг Интернационал!

Үлетпүрчин тараачыннын
Үнүп турар хувускаалын,
Үргүлчү-ле баштап турар.
Үш-ле дугаар Интернационал!


Tradução aproximada:

Sob tiranos estrangeiros
Os altivos camponeses sofrem
Massacrados pelo mal.
A fascinante Internacional!

Tensionados dentro do país
Os altivos camponeses oprimidos
São sobrecarregados às custas do povo.
A graciosa Internacional!

À corrupção global
E às pessoas ignorantes
Traz alternativas totalmente novas
A Internacional independente!

Os camponeses proletários
Formam uma arena revolucionária
Na qual dure eternamente
A Terceira Internacional!



Conhecido como “Tannu Tuva” ou “Tannu-Tuva” até 1926, foi um pequeno país socialista que chegou a existir de 1921 a 1944 após a Revolução de Outubro, etnicamente povoado por tuvanos, mongóis e russos. Hoje quase ninguém sabe de sua existência, porque de fato apenas a própria URSS e a República Popular da Mongólia o reconheciam e mantinham relações diplomáticas com ele, sendo no final das contas, assim como a própria Mongólia, basicamente um satélite soviético. Até 1911, fez parte da Mongólia, esta por sua vez incorporada à China imperial, e naquele ano, com a proclamação da República chinesa, Mongólia e Tuva também se declararam repúblicas independentes. Em 1914, Tuva passou a ser um protetorado do Império Russo, e durante a guerra civil entre monarquistas e bolcheviques, estes terminaram ocupando a região, onde em 14 de agosto de 1921 foi declarada a independência da “República Popular de Tannu Tuva”, sob os auspícios da Rússia. Com a adoção da constituição de 1924, confirmou-se a formação de um governo de partido único nos moldes soviéticos, e em 1926 adotaram-se os primeiros brasão e bandeira, e a capital foi renomeada Kyzyl (“vermelho” em tuvano). O akşa (“akchá”) foi a moeda usada de 1934 a 1944.

De 1925 a 1929, o primeiro-ministro Donduk Kuular, ex-lama do budismo tibetano, tentou implementar políticas mais nacionalistas, buscou obrigar todas as crianças tuvanas a chuparem sua língua fazer do budismo tibetano a religião de Estado e procurou estreitar laços com a Mongólia, coisas que iam na contramão da evolução da URSS sob Stalin. Assim, com apoio soviético, cinco burocratas que tinham estudado em Moscou derrubaram Kuular e formaram uma espécie de junta até 1932, quando um deles, Salchak Toka, chegou à liderança do partido único e Kuular foi fuzilado. Iniciou-se uma política de perseguição à religião e de busca por coletivizar os camponeses nômades, e abandonou-se o mongol como língua culta escrita, adotando-se pra isso o alfabeto latino pra escrever o tuvano. Em 1943, um dos passos rumo à incorporação à URSS foi a adoção do alfabeto cirílico, usado até hoje em Tuva.

Salchak Toka, como líder do partido único da República Popular de Tuva desde 1932, passou a comandar o país na prática, apesar da existência de outras instituições. Solidário ao esforço de guerra soviético desde 1941 e promotor da absorção de seu país pela URSS, continuou liderando o Partido Comunista nos períodos do oblast autônomo e da república autônoma até morrer, em 1973. O mando de Toka se estendeu a essas sub-regiões também, e desde a stalinização de Tuva, deu-se também a russificação de sua cultura, política e instituições.

Provavelmente bastante antiga, a língua tuvana, porém, só foi mencionada pela primeira vez em fontes do início do século 19, e sua primeira forma escrita surgiu no início do século 20, com uma adaptação do alfabeto mongol, escrito verticalmente, pelo acadêmico Nikolaus Poppe. Tradicionalmente mais próximos dos mongóis, os tuvanos, que passaram por vários jugos imperiais, usavam o mongol (ele mesmo escrito hoje no alfabeto cirílico) como língua escrita, até a adoção do latino em 1930, no qual muito pouca coisa foi impressa. Pra piorar, o tuvano faz parte da grande família túrquica, mas do grupo siberiano, o mais oriental de todos e cujos membros só muito recentemente têm recebido mais atenção acadêmica. São línguas com apenas umas centenas de falantes, muito idosos, e o próprio tuvano, dependendo da fonte, teria entre 240 mil e 283 mil falantes por volta de 2010-12. Isso o coloca no primeiro grau de vulnerabilidade ao desaparecimento. Sergei Shoigu, atual ministro da defesa de Putin, nasceu em Tuva e tem pai tuvano e mãe russa nascida na Ucrânia, mas pelo que consta, ele não fala tuvano, e nesta matéria de 2012 informa-se que além do russo, ele dominaria inglês, japonês e turco.

Curiosamente, a República Popular de (Tannu) Tuva foi um dos três primeiros países socialistas do mundo, junto com a URSS e a Mongólia, mas assim como esta, ela afinal tinha sua existência dependente dos soviéticos. Essa fragilidade se reflete nas muitas mudanças de bandeira e brasão, de forma que tive de escolher arbitrariamente como ilustraria esta publicação e o vídeo (ver abaixo). Tanto que hoje, a República de Tuva (ou Tyva em russo e tuvano) é uma das regiões mais pobres da Rússia e tem o menor IDH da federação. Apesar dos obstáculos de Moscou, os tuvanos têm no geral uma tendência à independência, como se verificou em 1990 durante violências contra a população russa local. Este vídeo de um canal de geografia traz uma breve história ilustrada de Tannu Tuva, embora a dicção do narrador seja sofrível. Meu interesse no extinto país surgiu justamente quando visitava a página da Wikipédia sobre as repúblicas soviéticas, na qual descobri, além da SSR Carelo-Finlandesa, outras unidades que existiram brevemente após a revolução ou tentaram ser independentes em 1990 e não chegaram a ter hino.


segunda-feira, 29 de maio de 2023

Memes na Globo e em TVs do mundo


Link curto pra esta publicação: fishuk.cc/memes-globo1

A televisão no Brasil e no mundo, sobretudo os boletins de notícias, muitas vezes podem nos fazer rir ou gerar situações engraçadas ou constrangedoras. Parte disso já ocorreu no próprio Jornal Nacional da TV Globo ou em outros telejornais da emissora, mas como brasileiros, às vezes podemos achar cômicas algumas “notícias” que são veiculadas em outros países. Eu, pelo menos, entendo mais ou menos algumas outras línguas fora do circuito tipicamente “ocidental” e acabo encontrando situações bizarras, e mesmo que não entenda tudo o que está sendo dito, posso deduzir o assunto por vários elementos extralinguísticos.

Esta é só a primeira publicação de uma série que quero continuar no futuro, pois tenho muito mais situações engraçadas que guardei de vários telejornais da TV Globo ao longo dos anos e boa parte das quais eu tinha carregado no Pan-Eslavo Brasil, antigo canal do YouTube. Porém, como você vai ver, há ainda trechos de noticiários de outros países que eu, pelo menos, achei cômicos ou aptos, com mais ou menos modificações, a se tornarem memes universais!



“Tá, mas você já viu o menino-ímã da Armênia?” (Vanadzor, 26 de outubro de 2021) – Descobri por acaso na TV armênia este menino da cidade de Vanadzor, no qual todas as coisas parecem grudar quando colocadas em cima de sua pele, numa espécie de magnetismo natural. Os bolsonaristas diriam que isso ocorreu após ele tomar uma das doses de alguma vacina contra a covid, embora nesse dia o índice de vacinação completa do país ainda estivesse baixíssimo, rs.

Infelizmente, como ainda sei muito pouco de armênio, não pude entender o que estavam dizendo na matéria, mas as imagens falam por si. Aquele estilo de reportagem sensacionalista bem típico do Ratinho ou dos anos 2000... Tanto minha descoberta quanto o conteúdo foram tão aleatórios que no título faço uma brincadeira com isso, rs. Quando o algoritmo impulsiona algum vídeo ou meme aleatório no YouTube, os jovens que o recebem como sugestão na página inicial gostam de comentar mais ou menos assim (adaptação pra este vídeo):

Eu: “Finalmente posso estudar agora.”
YouTube: “Tá, mas você já viu o menino-ímã da Armênia?”


Duas pérolas do pitoresco Edney Silvestre quando ele foi pra Dinamarca pelo Globo Repórter em 2017. Na primeira, ele visitava uma fazenda de produtos orgânicos na Jutlândia (Jylland), península principal do país, cuja produção estava então muito valorizada no mercado. Até os simpáticos suínos, por serem criados soltos que nem galinha caipira, eram orgânicos: “Porcos felizes chafurdando na lama.” Alguma semelhança desse “texto” com a descrição de um brasileiro gado de político?

Na segunda, ele está esperando pra entrevistar Marie Cavallier, a princesa da Dinamarca, e ele solta esta frase que pode ser usada em muitos contextos: “Não é toda hora que a gente entrevista uma princesa.” Aproveitando a expressão lançada pelo histórico vídeo do Porta dos Fundos, eu diria que puxar o saco de monarquias europeias é algo muito “sudestina”, e pra piorar os inocentes nos comentários veem isso como um exemplo de “simplicidade”. Bem, a julgar pelo tamanho comparado de Brasil e Dinamarca, e se pudéssemos supor que Edney teria muito menos chance de sucesso se tentasse fazer a mesma coisa com a monarquia feudal e colonialista britânica, não vejo nenhuma razão pra assombro!




No dia 10 de janeiro de 2020, uma usuária do Twitter filmou e postou uma briga num restaurante árabe da rede Ken’s Kebabs em Portsmouth, na Inglaterra. A inação do cliente Chris Hill, de 52 anos, que aparece por acaso comendo calmamente e apenas observando tudo (relançando em 2023, eu também associaria ao meme “Briguem, desgraçados, briguem”, do pato desenhado comendo um sanduíche), fez o vídeo viralizar por causa da postura cômica. O homem não larga suas batatas fritas nem seu celular com fone de ouvido, enquanto o pau come solto dentro e fora do estabelecimento.

Os donos do restaurante não quiseram se pronunciar sobre o caso, e vários memes com fotos foram feitos da situação. Eu ia deixar por isso, se não fosse, logo depois de ler a matéria a respeito no site da Istoé, eu ter visto parte de uma palestra do professor Leandro Karnal sobre ofensas e xingamentos. Algumas frases se encaixaram tão bem na cena que resolvi fazer este meme! Usei as imagens de um canal viralizador e misturei o áudio com o volume baixado com o áudio aumentado de alguns trechos de palestras do Karnal sobre o assunto. E perto do final, ficou genial o loirinho saudando a câmera quase coincidindo com o professor falando “A vida é muito curta pra levarmos uma existência medíocre”, rs!


Renata Vasconcellos: “Alô, técnica!” (17 de novembro de 2020) – E eis que logo após apresentar uma abordagem crítica sobre a participação de Jair Bolsonaro na reunião virtual dos BRICS, o Jornal Nacional viveu um problema técnico inusitado: parece que William Bonner e Renata Vasconcellos perderam o contato com parte da produção do programa e simplesmente não sabiam mais o que e como apresentar. Como já ouvi falar certa vez: “O Bonner sem o ponto no ouvido não é nada”...

Esse meme ficou muito famoso na época, sobretudo no Twitter, e inspirou ainda mais montagens e piadas. De fato, ia ser uma resposta à afirmação de Bolsonaro de que outros países facilitavam a exportação de madeira ilegal do Brasil, mas parece que o presidente zicou a transmissão, rs. Aproveitei pra fazer uma pequena zoeira com um meme famoso do Bunda Suja (não mais disponível no YouTube), mas não é porque o apoiava.

Pra piorar, no primeiro turno das eleições de 2018, houve uma séria altercação ao vivo entre a Renata e o Jair, portanto os espíritos já não se dão há muito tempo. Basta lembrar que, durante o Plantão da Globo que anunciou o atentado a faca em Juiz de Fora, a repórter fez ao mesmo tempo com a mão o gesto da facada, o que significa, segundo especialistas, raiva pela outra pessoa. Aproveito a republicação e trago também os “Vereadores comedores”, meme feito pelo mesmo canal de onde tirei o “Alô, técnica!”, rs.




Pior do que a “técnica fujona” foi uma repórter russa que, em 21 de junho de 2019, parece ter enrolado a língua num boletim de notícias do horário das 15h de Brasília! Só me chateei que o arquivo MP3 original não está mais disponível, pois a agência praticamente desmontou a sucursal russa, após o começo da invasão à Ucrânia...

Esse trecho de um minuto e meio do flash de notícias (total de 10 minutos) do serviço em língua russa da Rádio França Internacional (RFI) informa que a Comissão Europeia da UE se recusava a mudar novamente o acordo de saída do Reino Unido, processo conhecido como “Brexit”. O governo de Bruxelas estava particularmente atento à troca de governo no país atlântico, não se adequando à ideia da possível escolha do conservador eurocético Boris Johnson como primeiro-ministro, mas em qualquer cenário reafirmou sua recusa em aceitar um novo acordo. Theresa May, que tinha deixado o cargo algumas semanas antes, tinha recebido muitas novas chances, após muita resistência do Parlamento, mas a moleza finalmente acabou.

A transmissão é lida pela jornalista russa Inna Rakúzina (Инна Ракузина), sobre quem quase não há informações na internet. Há anos percebia essa mulher às vezes tropeçando na fala, quase embargando a voz: não sei se ela tem algum problema neurológico, fônico ou orgânico, mas não custa fazer uma brincadeira especulando coisas mais profundas! Posso ser criticado pela zoeira, mas sendo uma ocorrência frequente, podiam pelo menos tirá-la da transmissão ao vivo. Ironicamente, em 2023, sabemos a que levou a liderança de Johnson no Reino Unido (“Hasta la vista, baby!”)...


Mudando um pouco de assunto, os jovens talvez não entendam muito bem esse tipo de humor (que mesmo pra época era muito sem graça). Em 2006, surgiu no antigo Zorra Total, programa de humor da TV Globo exibido todas as noites de sábado, um quadro com o casal fictício Jajá e Juju, que não seguia muito os padrões contemporâneos de moda e comportamento.

A “graça” estava em que, apesar disso, Jajá era muito apaixonado pela esposa, e que quando começava a elogiá-la ou falar dela, começava a surtar falando “Tô doido, tô doido, tô doido”, fazendo uma “dança do sapo”, como ele mesmo chamava, e quebrando tudo o que via pela frente, sobretudo em restaurantes. Mesmo que se apresentassem as mais lindas e jovens mulheres, Jajá recusava e às vezes até era estúpido com elas.

Com roteiristas e humoristas mais “politicamente corretos” (porque o machismo, a homofobia e o racismo velado de antes eram nojentos!), mas muito aguados e ainda mais sem graças, o programa se reconfigurou e se renomeou apenas Zorra (finalmente extinto em dezembro de 2020), sem obviamente enganar ninguém. Porém, como eu achava engraçada a “dancinha do sapo”, resgatei dois vídeos com episódios da época pra separar a “apoteose” aos interessados em relembrar e aos jovens curiosos! Era um dos maiores sucessos do Pan-Eslavo Brasil...

Fontes:
http://youtu.be/yWctxJ9iIiY
http://youtu.be/T5sZzp2HbE8


Numa das inúmeras reprises que o Faustão fez em seu programa de domingo durante o ano de 2020 (por causa da pandemia), quando ele ainda estava na TV Globo, apareceu o artista de rua paraense Mike do Mosqueiro, que 10 anos antes tinha causado muita sensação na internet com seu sucesso autoral Shananá nananá. Há várias postagens com filmagens caseiras dele, mas no dia 14 de março de 2010 ele conseguiu chegar ao famoso quadro “Se vira nos 30”, deixando até o Faustão desconcertado. Shananá nananá, obviamente, não tem nada a ver com o resto da letra, sendo apenas uma imitação cômica de palavras em inglês que muita gente não entende em certas canções. Época em que esses programas de auditório, sem a desidratação pelas redes sociais, eram mais autênticos...

O que chamou a atenção foram suas interpretações peculiares de grandes nomes da música brasileira, como Victor e Leo, que estavam então no auge, e o violão desafinado, que segundo alguns ficou assim de propósito, só por “sacanagem” com o Mike. Infelizmente, nosso amigo humorado faleceu em março de 2013: tendo problemas com álcool e drogas, que corroeram seu prêmio da Globo, ele foi atropelado sem querer enquanto cambaleava, talvez bêbado, por uma estrada. Esta versão, cujo canal infelizmente foi apagado, é a que ele canta antes de sair do palco, puxando até o Faustão pra cantar e dançar junto. Pra quem fizer questão da criativa letra, aí está ela com minha redação, rs:

Shananá, nananá,
Shananá, nananá,
Shananá, nananá,
Shananá, nananá,
Ai, vai meu amor,

(O quê, o quê, o quê, o quê?)
Eu quero te dizer,
Falar que eu te amo,
E não vivo sem você.
Você é minha vida,
Você é tão especial.
Faria qualquer coisa
Pra não te fazerem mal.

O teu olhar no meu,
O meu olhar no teu.
Você me conquistou,
Me envolveu, me enlouqueceu.
Com esse seu jeitinho
Sedutor e especial,
Mudou a minha vida,
Sem você não é legaaaal.

Shananá (vai, vai, vai, vai)
Shananá, nanáááá,
Shananááá,
Shananá.

Por isso eu te amo
E lhe canto essa canção
Declarando meu amor
Do fundo do coração.
Não quero nunca mais,
Saber de um outro alguém.
Entreguei meu coração,
Agora igual a você não teeeem.

Shananá (vai, vai, vai, vai)
Shananá nanáááá...


O melhor exame de próstata – Quem não se lembra (se já era nascido, claro...) da icônica “Luvinha da Vitória”, um acessório plástico que era anunciado pelas TVs mais trash (eu via pelo SBT) durante a Copa do Mundo de 1994? Sim, ninguém menos que Pelé, o “Rei do Futebol” que faleceria no finzinho de 2022, foi chamado pra anunciar essa utilidade que certamente nos ajudou muito a conquistar o Tetra!

Bizarrices dos anos 90... Eu tinha 6 anos de idade e ainda torcia pra Seleção, mas nunca me passou pela cabeça comprar essa beleza, rs. Se você procurou por anos esta propaganda, ei-la aqui pra seu desfrute! Aos jovens, saibam o que é realmente zoar da vida... Muito melhor do que vuvuzela, pelo menos.

O resgate só foi possível porque os reclames estavam contidos em excertos da antiga rede CNT Gazeta postados com melhorias pelos canais de Juliano Trindade (não mais disponível) e do grande documentarista Êgon Bonfim. O primeiro deve ser de junho de 1994, pois os preços ainda estavam em cruzeiros e aludia-se à futura chegada do Plano Real, em 1.º de julho. O segundo é de 19 de julho, exatamente quando a Seleção vitoriosa era recebida no retorno ao Brasil!

Esta reportagem engraçada da época, na Folha de S. Paulo, alude a possíveis “maracutaias” por trás da venda e fabricação da “Luvinha da Vitória”, rs.


sábado, 27 de maio de 2023

Mix de política ao redor do mundo (3)


Link curto pra esta publicação: fishuk.cc/mix-politica3

Vamos rir e aprender um pouco?


Há alguns meses, este vídeo foi postado no RuTube e apresentado como uma instalação que representaria “o nariz de Zelensky”, presidente da Ucrânia. Vale lembrar que pouco após o começo da invasão em larga escala pela Rússia, em fevereiro de 2022, o ditador Putin lançou uma narrativa associando o ex-comediante e seu governo a um “bando de drogados, toxicômanos”, imagem que também ficou colada ao alto escalão nazista nas décadas de 1930 e 1940. As demais associações você mesmo pode fazer... Na verdade, como revelaram programas russos de canais no exílio, trata-se de um museu na Itália, ainda em 2018, sem alusão explícita a pessoas. Embora, por mim, eu associaria a Diego Maradona ou Aécio Neves, rs.


Maxamed Siyaad Barre (1910-1995), mais conhecido como Muhammad Siad Barre, foi um general somali, fluente em italiano, que presidiu seu país de 1969 a 1991, tendo chegado ao poder por um golpe de Estado. Fundou a República Democrática da Somália, inicialmente ligada à antiga URSS, e se fez chamar desde então “Jaalle Siyaad” (Camarada Siad).

Na década de 1980, por razões pragmáticas, Siad Barre se voltou rumo aos EUA e por eles foi apoiado numa guerra com a Etiópia que visava anexar a parte de maioria étnica somali daquele país. Os etíopes, porém, que viviam sob a ditadura do socialista Mengistu Haile Mariam, foram apoiados pelos soviéticos e por tropas cubanas, assim vencendo e precipitando a crise da ditadura somali. Após sua derrubada, Siad Barre morreu exilado em Lagos, na Nigéria. Nestas imagens raras, o chefe político-militar abre um desfile de tropas em 1980 com correligionários, ao som do hino nacional da Somália.


Este curto boletim de notícias foi transmitido pelo canal PRTV em 23 de dezembro de 1992, e segundo um dos usuários que comentou o vídeo, foi falado em persa (mesma língua do Irã, ou talvez o dari, que é a variante local do persa). Na abertura da vinheta vemos a palavra akhbār (اخبار), que significa “notícias” em árabe e passou pra maioria das línguas de países islâmicos.

Em abril, tinha sido derrubado o governo socializante pró-URSS e instaurado um “Estado islâmico” (não confundir com o atual ISIS) por ação de guerrilheiros mujahedin, que ainda não era o regime totalitário dos Talibã. Este grupo surgiu como uma cisão ainda mais radical dos outros mujahedin e a partir de setembro de 1996 terminou reinando em dois terços do Afeganistão, chamado então pelos Talibã de “Emirado Islâmico do Afeganistão”. Desse ano até 2001, o grupo proibiu a TV e a música nos territórios que controlou, tornando então impossíveis vídeos como este.

Em 15 de agosto de 2021, com a queda de Cabul novamente nas mãos dos Talibã (e a vergonhosa fuga estadunidense que rodou o mundo), a “república islâmica” tutelada pelos EUA foi derrubada, o presidente Ashraf Ghani simplesmente sumiu sem avisar, o “emirado islâmico” foi restaurado e terminava a guerra que durou 20 anos no Afeganistão. Capotagens da Terra Plana...


No programa Direto ao ponto, apresentado por Augusto Nunes na Jovem Pan em 26 de julho de 2021, Roberto Jefferson equiparou a comunidade LGBT (ou LGBTQIA+) a viciados em droga, assaltantes e traficantes. Ex-deputado federal e então presidente do PTB, estava confirmando seu apoio irrestrito ao desgoverno de Jair Bolsonaro e à sua possível campanha de reeleição em 2022. Adotando o tom provocador e preconceituoso do presidente em suas épocas mais confortáveis, “Bob Jeff” afirmou que todos aqueles “apoiariam Lula e o PT” num eventual 2.º turno presidencial, pois se trataria de uma “luta superior entre o bem e o mal”.

Na campanha de 2022, Jefferson decidiu concorrer sozinho, mas impedido pela justiça, cedeu o lugar ao pitoresco Padre Kelmon, que se tornou a figura folclórica dos debates do 1.º turno. Aquele fim de ano foi tão caótico que teve direito a Jefferson resistindo à prisão pela Polícia Federal em sua casa a tiros de fuzil e a granadas, um dos processos levando à detenção ligado justamente àquela fala asquerosa na Jovem Pan. Padre Kelmon também foi acusado de fazer “dobradinha” com Bolsonaro (que sairia derrotado no 2.º turno) nos debates, já que defendia bandeiras iguais e trocava ideias com ele nos intervalos. Na verdade, foi uma “tripladinha”, já que o partido Novo, fascistizado contra a vontade do fundador João Amoêdo, lançou Felipe D’Ávila praticamente como um poste do militar gorado.




Dois memes rodaram as redes após a derrota de Donald Trump ante Joe Biden pra presidência dos EUA, no fim de 2020. O primeiro foi o final de um episódio do canal de humor Comedy Central, retratando Trump de volta à creche e tutelado pelo vice, Mike Pence, mas publicado ainda em 2017. A ideia original era retratar a Galinha Laranja como um velho de mentalidade infantil, mas o encerramento foi relido como o bilionário não querendo sair da Casa Branca!

O segundo vídeo foi postado numa conta brasileira do Twitter cujo endereço não tenho mais, e parece estar entre os primeiros usos massivos da técnica de deep fake pra colocar um rosto no lugar do rosto de outra pessoa falando. Neste caso, foi feita uma adaptação com o então famoso meme de um senhor cego turco na rua, tocando com seu tamborim uma versão muito pessoal de uma melodia inspirada em anime, e usada também uma montagem de Trump fazendo suas dancinhas durante a campanha. O vídeo foi tuitado logo após o assalto ao Capitólio, e mostraria Biden comemorando o banimento do republicano daquela rede por causa do evento. Também poderia ser simplesmente “Trump comemora a derrota de... Trump”, rs.


Procurando no YouTube o discurso original do ditador tajique Emomali Rahmon na assembleia da ONU daquele ano, acabei achando por acaso um vídeo, lançado em 18 de setembro de 2020 e agora apagado da plataforma. Trata-se da “taxa de câmbio” (қурби асъор) da moeda nacional, o somoni (cомонӣ), em relação a outras moedas do mundo (o ponto nos valores equivale a nossa vírgula decimal). No cirílico tajique, o “ӣ” sempre indica um som de “i” que é tônico, enquanto o “и” indica um som de “i” que vem depois da sílaba tônica.

O somoni vem do nome do emir Ismoil Somoni, que viveu entre os séculos 9 e 10 e é considerado o pai da nação tajique. Dividido em 100 dirams (дирам), foi introduzido em 2000 pra substituir o rublo tajique, desvalorizado pela inflação (1 somoni = 1000 rublos). Este mesmo só veio a substituir o rublo russo em 1995, após a dissolução da antiga URSS e também devido à inflação (proporção de 1 pra 100). Na cotação de 20/5/2023, um somoni custava a bagatela de 46 centavos de real, e o real valia 2,18 somoni.

Moedas mostradas sucessivamente no vídeo: euro, dólar americano, libra esterlina (“funt”), franco suíço, rublo russo, tenguê cazaque, som quirguiz, yuan chinês, dinar kuwaitiano, som/sum usbeque e lira turca.



Fodasse, eis um deep fake de “Vladimir Trumpin”, rs.

sexta-feira, 26 de maio de 2023

Mix de política ao redor do mundo (2)


Link curto pra esta publicação: fishuk.cc/mix-politica2

A versão 2 do “mix de política” só sairia amanhã, mas esses dias acumulei tanta coisa interessante que resolvi adiantá-la pra uma publicação extra hoje! Amanhã, então, somente com vídeos, vai sair a versão 3. Fiquem no aguardo! Aqui eu misturo um pouco de situações engraçadas e novidades interessantes:


Em 1.º de junho de 2016, Vladimir Putin estava condecorando famílias que receberiam no Kremlin a “Ordem da Glória Parental”, instituída em 2010 pra famílias (casais, uniões estáveis ou mãe/pai solo) que estivessem criando quatro filhos ou mais. Naquele ano, cada premiado recebeu também 100 mil rublos, na época um valor considerável.

A garotinha Iana Kuleshova (Яна Кулешова), então com 4 anos de idade, era uma das filhas de uma família da província de Tula que foi receber o prêmio. Quando Putin foi conversar com os convidados, ela começou a chorar compulsivamente, pois parecia preocupada com a agitação do local. Os jornais dizem que o ditador conseguiu acalmá-la, embora em minha mente a metáfora acima foi o que realmente se passou... Vale lembrar que em agosto de 2022, Putin exumou o título soviético de “Mãe-Heroína”, pra aquelas que passarem a marca dos dez pimpolhos: compreensível, num contexto de moeção geral de carne de canhão, ter de fabricar mais soldadinhos!


Tenho grande respeito pelo Jones Manoel (o que já falei várias vezes aqui) e pela Marly Vianna, que foi a principal historiadora marxista, ainda no início da década de 1990, a desmistificar algumas lendas que rondavam as insurreições militares de 1935 no Brasil, chamadas de “Intentona Comunista” e acusadas de ter o dedo direto de Moscou (o que ela e outros depois conseguiram desmentir). Porém, não consegui poupar este meme pronto: “Compre por 60 lulas nosso curso sobre revoluções”, rs.


O reforço da presença militar na fronteira dos EUA com o México e o acordo alcançado hoje com os republicanos pra evitar um calote na dívida pública (de 31 trilhões de dólares, enquanto no Brasil é de mais de 100 bilhões de reais) ativaram o modo “America First versão Múmia”, rs.


Ora pois, se o Cabo é Verde, lá só podia haver esse tipo de música!


Alain Foka, jornalista camaronês de cujo trabalho gosto bastante, informou sobre a iniciativa do pequeno Togo de criar um fórum de debate político informal entre os países da África, em vista da paralisia de órgãos como a União Africana e a CÉDÉAO, comunidade da África Ocidental em muito controlada pela França. O objetivo da Aliança Política Africana (APA) não seria suplantar essas instituições, mas complementá-las, e justamente seu lançamento, no início de maio de 2023, foi feito de forma discreta e sem buscar atrair a grande imprensa internacional. Esta matéria lançada pelo próprio governo togolês faz um resumo das motivações dos iniciadores, e infelizmente está só em francês, assim como o vídeo de Foka. O logotipo sugerido, que reproduzi acima, pelo menos parece bonitinho, não?


Nada a ver, mas decidi reproduzir aqui uma propaganda gratuita de pastelaria em Bragança Paulista, interior de SP, mandada por um amigo pelo WhatsApp, rs.


quinta-feira, 25 de maio de 2023

Hino “A Internacional” em latim


Link curto pra esta publicação: fishuk.cc/internacional-la

Achei por acaso esta curta versão em latim do célebre hino socialista A Internacional, e quis republicar aqui. Segundo quem postou, é a única versão que se podia encontrar com rimas conforme nossa poética atual, embora constitua apenas a primeira estrofe e o refrão. Mesmo assim, o sentido ficou muito próximo do original francês e de outras traduções!

Nesta publicação minha você pode conhecer mais sobre a história da Internacional e ler o original em francês e minha tradução literal pro português. Me parece que esta publicação pode ter representado a primeira aparição do texto na internet, na página de quem diz ser seu próprio tradutor, Scott Horne, que a fez em 2005. O vídeo já tinha legendas em inglês e latim, e eu mesmo traduzi pro português e legendei (não sei quem tá cantando, mas ficou oscilando entre pronúncia reconstituída e eclesiástica).

Fiquei com dúvida na construção de certos versos, mas minha tradução ficou assim (segue-se também uma transliteração em cirílico, pronúncia eclesiástica, que inventei na época):


Rebelem-se, párias do mundo!
Rebelem-se, famintos!
A razão renasce da agonia,
Tornando-se passado a perdição.
Vejam a velha época se abalando,
Multidão de escravos, levante-se!
Pois o mundo já muda totalmente:
Quem não é nada, tornem-se tudo!
Esta é a batalha derradeira;
Reunamo-nos para que amanhã
Seja a Internacional
Uma só humanidade!

Consurgite, damnati mundi!
Consurgite, famelici!
Ratione orta moribundi
Pereunt status relici.
Ecce, saeculum vetustum nutat –
Turba servorum, surgite! –
Nam mundus iam penitus mutat:
Qui estis nil, omnia fite!
Hoc est proelium finale;
Congregemur ut cras
Sit Internationale
Unā humanitas.

Консурджите, дамнати мунди!
Консурджите, фамеличи!
Рациёне орта морибунди
Переунт статус реличи.
Экче, сайкулум ветустум нутат –
Турба серворум, сурджите! –
Нам мундус ям пенитус мутат:
Кви эстис нил, омния фите!
Ок эст пройлиюм финале;
Конгреджемур ут крас
Сит Интернациёнале
Уна уманитас.



terça-feira, 23 de maio de 2023

Florence Foster Jenkins, avó do Vitas


Link curto pra esta publicação: fishuk.cc/jenkins-vitas


Uns anos atrás, numa noite de sábado, minha família estava na sala vendo o filme Florence: Quem É Essa Mulher?, estrelado por Maryl Streep (papel principal) e Hugh Grant em 2016, que conta a comovente história da socialite estadunidense Florence Foster Jenkins (1868-1944), cujo sonho era ser cantora lírica, mas dados os péssimos resultados das aulas, nunca foi permitida por seu pai quando era criança. Apenas quando seu pai morreu e ela herdou sua fortuna pôde se dedicar ao “hobby” com mais liberdade, mas só tinha um porém: ela nunca deixou de cantar mal pra caramba, e só ganhou notoriedade por causa das roupas bizarras com que dava shows e dos gritos que na verdade eram seu “canto”! Felizmente, a maioria das apresentações era pra conhecidos que ganhavam o ingresso, e a renda ia pra instituições de caridade.

Porém, dada sua triste história de vida, persistiu nas aparições pra públicos cada vez maiores, dando finalmente um show especial no Carnegie Hall pouco tempo antes de morrer, em prol dos soldados feridos e mutilados que voltavam da 2.ª Guerra Mundial. Florence os alegrou bastante das chagas físicas e mentais e chegou até a gravar alguns discos, mas sua trajetória, pouco conhecida no Brasil, ficou mais pra coleção de curiosidades mesmo. O filme de Maryl Streep ajudou a divulgar a história, e hoje podem até ser achados alguns dos áudios remasterizados de Florence no YouTube, como da própria ária Queen of the Night, que aparece no vídeo acima. Só que ao passar pela sala de minha família, pensei: “Cara, essa mulher deve ter sido a avó fracassada do Vitas, o cantor-meme russo de que ainda falam tanto aqui!”

Portanto, segue aqui esta pérola, pra quem ainda não tinha visto o filme, que eu espero se tornar mais um meme emplacado, rs. Aquela que foi então chamada pelos jornais americanos de “a pior cantora do mundo”! O mais mágico é que tanto Meryl Streep está “cantando” de verdade, e não sendo dublada, quanto o ator pianista sabe realmente tocar. Do vídeo original, só cortei o quadro, o comecinho e o fim, e aumentei (como se precisasse...) o volume. O endereço indicado no Facebook é inválido:


domingo, 21 de maio de 2023

Novamente, memes sobre Bolsonaro


Link curto pra esta publicação: fishuk.cc/bolso-memes3


Estamos sob um novo governo menos destrutivo, mas tenho que republicar (e pedir pra que você divulgue) estes “memes” restantes sobre um tal Jair Messias. Primeiro, porque são restolhos do antigo canal Pan-Eslavo Brasil (e por isso, infelizmente, muitos ainda estão por vir), e segundo, porque tem coisas que realmente não devem ser esquecidas, visto que a maioria da população hoje só se informa pelas postagens imediatas de WhatsApp, e incrivelmente muita gente só acredita no que é vomitado pela bolha virtual fascista...

Ao contrário da primeira e da segunda publicações de memes da “Nova Era”, que tinham caráter mais humorístico porque a máfia ainda não tinha mostrado todo seu caráter destrutivo, os vídeos depois dos dois primeiros são montagens criadas por grupos de oposição não identificados, que foram feitas a princípio pra circularem nas principais mídias sociais, como WhatsApp e Twitter. Elas precisam mesmo ser imortalizadas, pois além do humor genial, esculpem no mármore as desgraças e escândalos então construídos, sobretudo durante 2021, nosso pior ano com a pandemia de covid. Devemos evitar que no futuro haja uma “reabilitação” do bolsonarismo por meio da deturpação da memória histórica, como ocorreu com a ditadura civil-militar e, parcialmente, com o período imperial.

No caso do primeiro vídeo, há de fato algum humor por causa do jeito que fiz a montagem e das situações em que o ex-presidente se encontrava. O título original da publicação era The Greatest Hits of Jair Bolsonaro: presidente canta pro seu jejum na quarentena. A questão do jejum tem a ver com uma de suas proposições malucas nas lives de quinta-feira, quando a pandemia ainda estava no início: ele ainda insistia na falácia da cloroquina, atacava as vacinas que seriam produzidas e... sugeriu que (ao menos) os evangélicos jejuassem contra o coronavírus! Segue apenas a descrição original com poucas mudanças:

Você que está aí curtindo uma fominha de frango assado e macarrão [devia ser domingo], bora ver alguns dos momentos musicais do “Mytho” nos últimos anos? Estão reclamando que só tô zoando o presidente, mas acontece que não sou eu que crio os “memes”: o cara e sua família já são um meme ambulante [devo essa expressão a um antigo colega de grupo do Whats], rs. Claro que não podia deixar de fazer aquelas montagens pra dar sabor ao conteúdo, mas seguem abaixo os vídeos de onde tirei as cenas (com a participação do ex-agrominion [na verdade ele mesmo seria reeleito e apoiaria a reeleição do Coiso] Ronaldo Caiado e vários ministros que já tombaram):

http://youtu.be/HbctGSUe498
http://youtu.be/RfdKrbQv4Io
http://youtu.be/UshziUyglmM
http://youtu.be/-sPFFZ7zlnM
http://youtu.be/8blpqX-DhvA
http://youtu.be/xWjHxqe61x0
http://youtu.be/bO9xegZJRTc
http://youtu.be/cV1jsrM6q6M
http://youtu.be/Vq8yrSWj_GY
http://youtu.be/hux10uKCTQA
http://youtu.be/Hlgaw3kJJfU
http://youtu.be/UshziUyglmM


Bolsonaro sobre Bolsonaro – A live do Micto transmitida pela Jovem Pan em 18 de março de 2021 podia passar apenas como mais um festival de pérolas ou, pelos muitos comentários deixados, como a primeira vez em que os comentários o xingando (e isso num canal governista!) pareciam superar os aduladores. Mas na pressa antes que por isso mesmo os administradores resolvessem editar ou apagar o vídeo, selecionei os trechos em que o presidente faz o favor de ler parte de um “artigo” publicado na Folha de S. Paulo do mesmo dia, assinado por uma tal Mariliz Pereira Jorge. Tratava-se apenas de uma sucessão de xingamentos e ofensas, com o título “Bolsonaro”, embora não houvesse nenhum palavrão propriamente dito, ao contrário do que disse o destinatário (exceto talvez por “c... de boi”).

Interessante é o arcaísmo ou a complexidade de certos termos, que deixaram Messias Jair engasgando na leitura ou talvez precisando de um dicionário a tiracolo pra fruir o conteúdo. Por causa de uns outdoors que foram colocados em Palmas, e por causa do processo movido (não pelo Micto) contra Felipe Neto, que em seu canal chamou o presidente de “genocida” (por causa das mortes incontroláveis pela covid), estão correndo na internet a expressão regional nortista “pequi roído” e o epíteto “genocida”. Ambas terminam exatamente o “texto”, no único parágrafo independente. Dando destaque a mais uma magnífica interpretação em Libras dos sucessivos arrazoados, segue minha edição pra que ninguém dependa de achar os trechos dentro do vídeo de 57 minutos!

Nenhuma menção ao senador Major Olímpio, seu ex-aliado falecido de covid na mesma quinta. Ruy Castro (curiosamente empossado em março de 2023 como “Fraldão” da ABL, como dizemos em casa, rs), que parece ter uma coceira anal pelo ex-capitão, também publicou naqueles dias algo parecido, embora tentando “tirar o dele da reta”, como sempre, atribuindo a autoria a um “amigo músico”.


BOLSOCARO: a inflação no Brasil volta a ameaçar em março de 2021

Desde o início de março de 2021, começou a circular nas redes sociais de forma anônima esta montagem chamada ironicamente de “BolsoCaro” (este canal de um petista apenas repostou) em referência ao aumento de preços no Brasil. Os autores ou autoras fizeram uma paródia das propagandas escandalosas e cafonas de supermercados, hipermercados e lojas de departamentos frequentados pelas massas populares, comuns sobretudo em canais de TV locais ou com menor audiência e que se destacam pelos preços presumidamente baixos das principais mercadorias.

Em meio à crise econômica e sanitária causada pela pandemia, a sátira visa especialmente a inação do governo de Jair Bolsonaro, a inflação de produtos básicos que ameaçava disparar nos próximos meses e os escândalos de corrupção que se insinuavam na família do presidente. Meses depois, fizeram também uma versão especial de Sete de Setembro focada nos escândalos de corrupção e falcatruas:




CUSTO BOLSONARO: o quanto a gestão federal está entravando o país?

Também no início de março de 2021, assim como o vídeo viral do “BolsoCaro”, outra montagem anônima (canal que apenas repostou) invadiu as redes sociais. Desta vez, a sátira se chama “Custo Bolsonaro”, em referência à famosa expressão “custo Brasil” de nosso economês, indicando os entraves da infraestrutura nacional ao crescimento da riqueza, ou a variantes parecidas, como “custo PT”, “custo Lula” etc. Isso é notável quando lembramos que durante a campanha, o agora ex-presidente culpou a esquerda por nossos males e prometeu “tirar o Estado do cangote do cidadão”, reduzir os preços e liberalizar a economia.

Com a crise da covid mal administrada e decisões econômicas erráticas, os efeitos foram totalmente o contrário. Os autores ou autoras também atacam o pouco pragmatismo em política internacional, os ataques ao meio-ambiente, a intervenção de crenças religiosas e o isolamento do Brasil, que, em comparação com outros países, estaria ficando pra trás em benefícios. Sem esquecer novamente, claro, os escândalos de corrupção que se insinuavam junto à “família presidencial”.


Epílogo trágico: Claro que ainda estávamos em 2021 e a invasão russa em larga escala à Ucrânia (“larga escala” porque na verdade ela já começou sorrateiramente em 2014!) era impensável, pelo menos em março ou setembro. Deflagrado o conflito, que também avariou a economia mundial, é claro que o Bunda Suja arranjava mais um pretexto pra encobrir sua incompetência! Justo quem tinha visitado Putin pouco antes da agressão e dito “Somos solidários à Rússia”...

É claro que o antiamericanismo cego do PT (não só de Lula) e da maior parte de nossas esquerdas está impedindo que tenhamos um papel relevante pra tirar o Kremlin da Ucrânia e impedir a China de agir como “bombeiro pirômano”, principalmente por meio do privilegiado foro que são os BRICS. Mas nem por isso o atual governo culpa a guerra pelas coisas que ainda faltam por consertar no Brasil e pelas que ele tem dificuldade de encarar!


sábado, 20 de maio de 2023

V. Sorotiuk sobre o ruscismo (рашизм)


Link curto pra esta publicação: fishuk.cc/rashizm


Tomei a liberdade de republicar sem autorização prévia “Le mort saisit le vif ! (Os mortos apoderam-se dos vivos!): O ruscismo”, mais um artigo de Vitorio Sorotiuk, presidente da Representação Central Ucraniano-Brasileira, que circulou nas redes sociais. Seu objetivo é explicar o conceito de рашизм (rashízm), um neologismo criado pelos ucranianos que mistura as palavras “russo” e “fascismo”, com alusão à pronúncia inglesa de Russia, que é “râsha”. Não sei se essa era a versão definitiva, mas eu mesmo fiz correções e adaptei ao estilo da página.

O aportuguesamento da palavra saisit do francês levou à existência do termo “saisina” que, em termos populares, significa o direito de herança. Estabelece nosso Código Civil no artigo 1784 que, “Aberta a sucessão, a herança transmite-se desde logo aos herdeiros legítimos e testamentários.” E, além dos cuidados com o legado que os herdeiros se apossam, os que mais se identificam com o de cujus tomam muito cuidado com os seus restos mortais e sua memória.

Os restos mortais do príncipe russo Grigori Aleksandrovich Potiomkim (1739-1791) repousavam em uma catedral de pedra do século 18, em Kherson, até recentemente. Com a contraofensiva ucraniana que reocupou a cidade, uma missão especial dada às forças armadas russas foi roubar a ossada de Potiomkim para levá-la à Rússia. Foi Grigori Potiomkim quem convenceu a sua amante, a imperatriz russa Catarina, a Grande (1729-1796), a anexar a Crimeia, em 1783, e buscou criar uma Nova Rússia – um domínio que se estendia pelo território que hoje é o sul da Ucrânia, margeando o mar Negro. Quando Vladimir Putin determinou a invasão da Ucrânia, em fevereiro de 2022, evocou a visão de Potiomkim.

Antes, Vladimir Putin havia determinado a transferência dos restos mortais do “ideólogo” Ivan Ilin (1883-1954) da Suíça para a Rússia; e, em 2009, consagrou o seu túmulo. Putin vem mencionando e citando Ivan Ilin em seus discursos desde 2005. Encerrou o seu discurso em 30 de setembro de 2022, quando da anexação ilegal das províncias de Luhansk e Donetsk, o citando novamente. Seus livros são leitura obrigatória para todos os funcionários do governo. Ivan Ilin foi expulso da Rússia, em 1922, por determinação de Vladimir Lenin (1870-1924); e no exílio tornou-se o ideólogo do Movimento Branco, facção monarquista que defendia o retorno do tsarismo e um defensor da ideologia fascista. Foi defensor de Hitler, Mussolini e Franco mesmo depois do fim da Segunda Guerra Mundial.

As características imperialistas e fascistas do novo regime russo, alicerçado após o fim da União Soviética, compõem, sem dúvida alguma, o acervo da herança guardada com zelo por Vladimir Putin. O historiador Timothy Snyder afirmou, em artigo publicado no New York Times, que “a Rússia de hoje atende à maioria dos critérios que os estudiosos tendem a aplicar. Tem um culto em torno de um único líder, Vladimir Putin. Possui um culto aos mortos, organizado em torno da Segunda Guerra Mundial. Tem um mito de uma era de ouro passada de grandeza imperial, a ser restaurada por uma guerra de violência curadora – a guerra assassina na Ucrânia.” Os filósofos e cientistas sociais, sem desconsiderar essa herança, se debruçam, entretanto, para caracterizar o novo regime sob outra denominação tendo em vista as características atuais do fenômeno social e político russo.

A Verkhovna Rada, parlamento supremo da Ucrânia, adotou, no início deste mês de maio, uma resolução “Sobre o uso da ideologia do ruscismo pelo regime político da Federação Russa”, condenando os fundamentos e práticas do ruscismo como totalitários e misantrópicos. A letra “f” da palavra “fascismo” foi substituída pelo “r” em referência à Rússia (фашизм = рашизм). Para o português seria mais literal o “rascismo”, mas a tradução como ruscismo dá o real conteúdo de referência expressa pelos ucranianos. O termo ruscismo começou a ser usado no discurso público após a guerra de 2008 na Geórgia; ganhou maior popularidade após a anexação da Crimeia pela Rússia e o início da agressão russa, em 2014; e, agora, é termo oficial por lei na Ucrânia.

A conceituação estabelece que o ruscismo é a ideologia usada pelas autoridades da Federação Russa e a forma do atual fascismo russo. São consequência dessa ideologia a violação em massa e sistemática dos direitos humanos, tanto dentro da Federação Russa quanto nos territórios ocupados da Ucrânia. As liberdades de reunião, manifestação, partidária, assim como o feminismo e a liberdade sexual e comportamental são vistas pela Rússia como “degeneração” da sociedade ocidental. A menor dissidência na Rússia é vista como traição aos interesses nacionais. Atualmente, está proibida a palavra “guerra” e quem a use está sujeito à prisão. Os oponentes políticos ou são mortos envenenados ou presos quando têm sorte.

O nacionalismo russo é a base da ideologia do Estado onde se aplica o conceito do Russki mir (o “Mundo Russo”): o autoengrandecimento da Rússia e dos russos às custas da opressão violenta, da negação do direito à autodeterminação ou, em geral, do direito à existência de outros povos. A Ucrânia, para Vladimir Putin, é uma invenção de Lenin. Essas ideias agora estão sendo plantadas agressivamente nos territórios ocupados da Ucrânia e são acompanhadas pela proibição de tudo o que é ucraniano.

“Entendemos o ruscismo como um novo tipo de ideologia e prática totalitária, que está no cerne do regime que se formou na Federação Russa, sob a liderança do presidente V. Putin; e é baseado nas tradições do chauvinismo e do imperialismo russos, nas práticas do regime comunista da URSS e do nacional-socialismo”, diz, em comunicado oficial, a Verkhovna Rada.

Segundo Anne Applebaum, em entrevista concedida à BBC: “ruscismo é uma forma de colonialismo ou ‘hiperimperialismo’ da Rússia moderna. Este é um Estado que se percebe tão superior aos seus vizinhos, pelo menos se falamos da sua elite, que se julga no direito de os apagar da face da terra, do mapa-múndi, de destruí-los à vontade, para matar seus civis – e não apenas soldados.”

O historiador Timothy Snyder diz que “fascistas chamando outras pessoas de fascistas” é o fascismo levado ao seu extremo ilógico como um culto à irracionalidade. É um ponto final onde o discurso de ódio inverte a realidade e a propaganda é pura insistência. É o apogeu da vontade sobre o pensamento. Chamar os outros de fascistas, sendo fascista, é a prática essencial de Putin. Jason Stanley, um filósofo americano, chama isso de “minar a propaganda”. Chamei isso de “esquizofascismo”. Os ucranianos têm a formulação mais elegante: eles chamam isso de ruscismo (“rashism” em inglês).

O fascínio com as obras de Ivan Ilin revela a paixão pelo chauvinismo russo e a busca pelo retorno à “grandeza” do Império Russo, sepultado pela revolução de 1917. O esforço de Vladimir Putin para trazer à Rússia os restos mortais do ideólogo do Estado forte e defensor do nazismo e fascismo indica claramente a assunção da herança do nazifascismo de Hitler e Mussolini. O roubo dos restos mortais de Gregori Potiomkim, em Kherson, revela a assunção da herança imperialista e despótica da Rússia.

Esse acervo hereditário, misturado com revanchismo contra a história, onde a Rússia caiu por seus próprios pecados, edificou a nova ideologia e prática denominada de ruscismo. O ruscismo é nome do coquetel venenoso que embebedou a elite russa com a maldita herança da maldade humana.



sexta-feira, 19 de maio de 2023

Grupo Wagner adota logo “decente”


Link curto pra esta publicação: fishuk.cc/pensamentos7

Últimas notícias e pensamentos da semana! Em meio ao próprio derretimento no leste da Ucrânia, a Gangue do Vaguinho mudou seu símbolo pra se tornar “mais apresentável”. Imagine só: o símbolo da caveira é algo associado à repressão e à violência, enquanto trocá-la pela inscrição “Sangue, honra, pátria, bravura” e esconder símbolos nazistas ou ligados ao nazismo, como a Cruz de Ferro preta e uma suástica redonda escondida nas áreas vermelhas, quando cortamos algumas de suas partes, parece mais aceitável pros “rashistas”!




“Alguéns” nasceram na época errada: há quase 100 anos, o sonho do Monark e do “deputado” Kim Katabosta já tinha sido realizado, rs!!!


Ainda na vaibe do Adolfinho vienense, você já ouviu falar de Ron DeSantis, o governador republicano da Flórida que tá tretando até com a Disney? Pois é, ele inventou uma mamadeira de piroca chamada wokism, termo adotado até por Marine Le Pen e que enfia todo tipo de progressismo ou combate à discriminação num só balaio. O cristalibã tem pretensões de puxar o tapete da Galinha Laranja na disputa pela sucessão da Múmia Amnésica, então imagine o que pode acontecer! Vamos esperar uns dois anos pra que o termo wokism chegue, pra variar, com atraso entre os bolsominions, então enquanto isso, conheça estas explicações didáticas sobre suas ideias e ações:




Pensamentos aleatórios que expus no WhatsApp sobre notícias políticas e sociais da última semana:


E odiado pelo povo, eu ainda adicionaria. A jogada golpista já tinha rendido (até quinta-feira) a este programa diário da RFI sobre as Américas nada menos que três edições seguidas (dias 16, 17 e 18) com o foco no Sérgio Chapelin do merdaverso:





Este último fenômeno tem até um apelido entre nossos hermanos: “Argenzuela”, rs. Eu já diria que Cristina Fernández tem muito mais em comum com Bolsonaro do que com Lula: incitação de turbas, perseguição a institutos de dados independentes, ofensas aos opositores, não passagem de cargo ao sucessor, criminalização do judiciário, corrupção, abuso de poder, nepotismo, vitimismo, inflação descontrolada e fuga de debates. Ou seja, depois do “bolsochavismo” denunciado pelo Ladrão de Merenda por Geraldo Alckmin, um verdadeiro bolsokirchnerismo!


quinta-feira, 18 de maio de 2023

Não! Haddad é Bolsonaro do PT?


Link curto pra esta publicação: fishuk.cc/bolsoddad


Haddad, o “Bolsonaro do PT”? Sério que eu li isso? Gente... Depois se afastam do povo e ajudam a eleger fascistas não sabem por quê. Isso só me faz ter mais convicção pela opção de abandonar a universidade pública depois do doutorado 🤦‍♀️🤦‍♀️🤦‍♀️

Como sempre, a ex-querda branca, urbana, com ensino superior, de classe média alta e com tempo pra bostejar no Twitter reproduz o “radicalismo pequeno-burguês” que o antigo PCB tanto criticava: a mínima decepção com o leninismo já os empurrava pros braços do fascismo ou da reação liberal... Aqui o matiz é um pouco diferente: briga-se com tudo e todos pra votarem 13, mesmo que a opção não seja o Bunda Suja, e chupa-se o saco do Molusco até dizer chega, ele é promovido a ídolo, salvador. Fazem até dancinha no TikTok. Depois, quando os sábios mais calejados alertam pra manter a vigilância contra o fascismo, aqueles são os primeiros a meter o pau mais ferrado no governo, só pra posarem de radical chic mesmo nunca tendo dado carona pra um pedreiro na vida. E são também os que mais gostam de “lacrar” e julgar os outros nas redes (postura escrota que nos EUA já tá sendo chamada de wokism, apesar da origem não pejorativa do termo), mas não apresentam um fulo projeto ou criação original!


Este é outro exemplo de estreiteza vindo de um conhecido meu. Por que Haddad e Dino seriam figuras excludentes? Eu muito bem votaria em qualquer um dos dois, embora, por coincidência, eu também simpatize e confie muito mais em Dino. De fato, não sei se está mesmo havendo a tal luta de egos e disputa pela sucessão, como alguns já estão comentando, sobretudo porque Dino é o fazedor ideal de memes pra essa ex-querda tuiteira preencher seu vazio mental e operativo, enquanto a cara de bunda do Haddad é crônica. Porém, até o lixo do Alckmin utilizou seu último bônus de dignidade pra não compactuar com o fascismo, e até o partido ele compartilha com o Dino (ainda que siglas não digam muita coisa).

Agora, “sede austericida”, pelamor, né? O Bunda Suja vandalizou nossas contas públicas, queria ver essa gente dar murro em ponta de faca na época da hiperinflação tentando resolvê-la com as políticas que o PT defendia na época! Falam isso porque já são confortáveis na vida e não tão com o dinheiro público na mão, né? As únicas “massas” que conhecem são macarrão, nhoque e ravióli, das melhores cantinas com direito a localização marcada no Facebook... Realmente, tirando o pessoal que defende causas concretas (negros, mulheres, povos nativos, gênero, deficiências, imigrantes etc.), já não basta termos que engolir “com o que tem pra hoje” no governo, e ainda vem essa cambada envenenar o debate público! Por isso é que desisti da maior parte do que agora chamo de ex-querda...


quarta-feira, 17 de maio de 2023

Fernández aludiu ao Brasil na posse


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Em 2020 ou 2021 selecionei e postei no antigo Pan-Eslavo Brasil (YouTube) um trecho do discurso de posse de Alberto Fernández, atual presidente da Argentina, pra comparar com a atitude escrota de Jair Bolsonaro, que sequer cumprimentou ou desejou ir a sua posse, após ter sido eleito no fim de 2019. Na cordialidade de seu discurso inaugural, o peronista e eunuco citou o nome inteiro da “República Federativa do Brasil” pra aludir a uma futura colaboração criativa em vários domínios científicos e econômicos.

Minha impressão na época era: ninguém é obrigado a gostar do Partido Justicialista, muito menos da vice-presidente Cristina Kirchner, essa sim uma corrupta arrogante e cínica. Mas o próprio Fernández, apesar de escorregar no quiabo com a intromissão na causa do “Lula Livre”, parece um político bem razoável, destoa um pouco do kirchnerismo tradicional e tem tido aprovada sua atitude perante a pandemia da covid-19, mesmo pela oposição. Agora em maio de 2023, o que pude contastar é que em boa parte das iniciativas seu governo vai acabar em fiasco: alta mortalidade na pandemia, inflação e cotação do dólar nas alturas, seca nas grandes plantações, violência em alta, briga com o FMI, apelo por uma ajuda do Brasil (agora com o PT de volta do poder) e descrédito por parte do povo.

Resultado: há alguns dias, ele anunciou que sequer vai tentar a reeleição nas eleições deste ano, e ainda não sabemos quem pode o substituir. Apesar de também ter falhado em quase tudo, o direitista Mauricio Macri, ex-prefeito de Buenos Aires e antecessor de Fernández, pode ter alguma chance de voltar à Casa Rosada. Em todo caso, desde os primeiros tempos de Juan Domingo Perón, a Argentina parece ter se tornado um poço sem fundo e um abacaxi irresolvível, de forma que todo seu brilho de potência austral no início do século 20 ficou no passado. Ainda por cima, ficou conhecido por gafes e falas impensadas: em 2021, tendo se confundido entre poetas e cantores, causou polêmica ao dizer num discurso: “Os mexicanos vieram dos índios, os brasileiros saíram da selva, mas nós os argentinos, chegamos de barcos.” Em outra ocasião, trocou o nome da revista Garganta Poderosa, em que trabalhava um amigo seu, por Garganta profunda, um famoso filme pornô de 1972.

Eu nem sei por quê, mas a cara do general Mourão me deu vontade de colocar a abertura desta bela polca paraguaia ao fundo, com o andamento reduzido, rs. O discurso completo do Doutor Chapatín de Alberto Fernández foi pronunciado em 10 de dezembro de 2019 na presença da vice Kirchner e do antecessor Macri. O essencial do texto em português (que mudei pouco) eu tirei do site do PT, que disponibilizou uma tradução integral, e também se pode ler numa página argentina todo o texto em espanhol.


Seguem os referidos trechos nas duas línguas:

“Con la República Federativa del Brasil, particularmente, tenemos para construir una agenda ambiciosa, innovadora y creativa, en lo tecnológico, productivo y estratégico, que esté respaldada por la hermandad histórica de nuestros Pueblos y que va más allá de cualquier diferencia personal de quienes gobiernan la coyuntura. La vamos a honrar, vamos a avanzar juntos en la construcción de un futuro de progreso compartido.”

“Com a República Federal [sic] do Brasil, em particular, temos que construir uma agenda ambiciosa, inovadora e criativa, na área tecnológica, produtiva e estratégica, apoiada pela irmandade histórica de nossos povos e que vá além de qualquer diferença pessoal daqueles que governam a conjuntura. Vamos honrá-la, avançaremos juntos na construção de um futuro de progresso compartilhado.)


terça-feira, 16 de maio de 2023

Todo meu apoio a Jones Manoel!



Gosto do Jones porque o conheço do Face desde 2012 ou 2013, quando ele ainda mantinha o blog “Makaveli teorizando”, com traços trotskistas, e porque depois, já engajado de vez no PCB, seu trabalho no YouTube ficou excelente.

Quanto às bandeiras sociais no Brasil e na América Latina, exceto pela defesa das ditaduras na Nicarágua, Cuba e Venezuela, sempre concordo com ele, mesmo não sendo comunista. Acho sua escolha magistral, porque se é pra comunas (Sabrina Fernandes, Laura Sabino, Humberto Mattos, Meteoro Brasil, Galãs Feios, Gustavo Gaiofato, com os quais também concordo em muito) falarem m... sobre a URSS, Rússia, Ucrânia etc. sem conhecimento de causa, melhor que fechem a boca mesmo 👏🤐


segunda-feira, 15 de maio de 2023

Marcelo Costa e outros “modões”


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Esta é a edição número 23 do programa musical e cultural Arena Brasil, que era apresentado no canal Rede Vida pelo cantor sertanejo Juliano Cezar até mais ou menos o fim de 2019. Infelizmente, bem no último dia de 2019, Juliano sofreu um infarto fulminante no meio de um show e foi sepultado no Ano Novo seguinte. Um grande artista que nos deixou... Quando eu ainda tinha o Pan-Eslavo Brasil no YouTube, publiquei à parte algumas das minhas canções preferidas do vídeo, e identificando o nome delas, achei muito digno de retomá-las aqui.

Como cresci e ainda moro no interior de São Paulo, sou apaixonado por música sertaneja (mas não o universilixo de hoje), sobretudo o estilo “bailão” que fez muito sucesso nas décadas de 1990 e de 2000. Quem era considerado o “Rei do Bailão”? O cantor e apresentador Marcelo Costa, que continua bem de saúde, mas encerrou a frutífera carreira no início dos anos 2000. Como muitos, cresci vendo seu programa Especial Sertanejo na Record TV e nutri grande carinho pelo artista. Esta edição do Arena Brasil é muito especial, porque além do Marcelo, há outros músicos que estouraram nos “anos 90” e que eu curtia muito!

Junto com violeiros e sanfoneiros, Juliano Cezar apresenta o programa com Marcelo Costa (em aparição especial), Wilson & Soraia e Donizeti. Várias das canções aqui mostradas foram regravadas por muitos outros cantores e duplas. A Rede Vida sempre tem a ótima iniciativa de realizar programas com música e cultura sertanejas, já que está ancorada na tradição popular católica do Sudeste brasileiro construída em torno da veneração à “padroeira” Nossa Senhora de Aparecida. À memória do grande Juliano Cezar, “Caba não, mundão!”


Amargurado (Juliano Cezar, Marcelo Costa e convidados)


Evidências (Marcelo Costa, em ritmo de tango)


Mais uma noite sem você (Wilson, Soraia e Donizeti)


Moreninha linda (Donizeti, Juliano Cezar e convidados)


Não aprendi dizer adeus (Juliano Cezar e Marcelo Costa)


O palco caiu (Juliano Cezar e Marcelo Costa)


Onde andará (Donizeti e Juliano Cezar)


Por causa de você (Wilson & Soraia)


Você virou saudade (Donizeti e Juliano Cezar)


domingo, 14 de maio de 2023

Chuck Norris versus Tony Ramos


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No primeiro capítulo da novela Torre de Babel, lançada em 1998 pela TV Globo pro horário das 20h, Tony Ramos aparece como o personagem Clementino, um senhor que estava preso há 19 anos pelo assassinato de sua esposa. No refeitório da prisão, quando aparece na televisão o magnata que foi uma das testemunhas de acusação, interpretado pelo finado Tarcísio Meira, ele tem um acesso de raiva, atravessa a mesa toda e joga um banquinho de madeira sobre o aparelho. Após essa ousadia, ele é contido pelos guardas e mandado a uma solitária, cena tão feia que decidi não reproduzir aqui. Me lembro dessa cena porque assisti à novela quando eu tinha 10 anos, época em que acompanhava mais esse tipo de coisa junto com minha família.

Pois, há vários anos, uma cena do ator Chuck Norris (sem contar as várias outras atuações que viraram memes...) no filme Braddock: O Super Comando, de 1984, em que ele interpreta um coronel das Forças Especiais estadunidenses, James Braddock, tem se tornado objeto de inúmeras montagens, pois ele também aparece ligando a TV em seu quarto e, de tão irritado com a programação, a chuta e a faz faiscar e cair no chão. Será que sem que soubéssemos, finalmente quando desenterrei esta pérola, Tony Ramos na verdade era o Chuck Norris brasileiro? Enfim, sinta-se à vontade pra baixar o vídeo caso queria fazer alguma montagem, rs.





sábado, 13 de maio de 2023

Traduzir corretamente “Allahu akbar”


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Nesta lição de uma das séries do YouTube do professor nigeriano Imran Alawiye, o qual considero o melhor canal pro aprendizado do árabe padrão moderno (“MSA” em inglês) – que tem muitas complicações comparado ao árabe coloquial, porém – e que complementa o curso com livros impressos chamado Gateway to Arabic, ele explica a formação e a tradução da forma comparativa em árabe, a partir dos radicais dos adjetivos. Assim como em português, o comparativo (“mais... do que”, “maior”) e o superlativo (“o/a/s mais... de”, “o maior”) têm a mesma forma em árabe, mas o jeito de traduzir vai depender do contexto, até porque nesse caso eles não usam o artigo definido, como nós. Além disso, a mesma forma é usada pra um adjetivo masculino ou feminino, o que não acontece em português, exceto nos comparativos irregulares.

Mostrando como a partir da raiz triconsonantal “k-b-r” se formam o adjetivo kabiir (grande) e o comparativo ou superlativo akbar (maior, o maior), ele aproveita pra explicar que essa ambiguidade de significado (já que em inglês temos duas terminações diferentes: greater e greatest) gera confusão na hora de traduzirmos a famosa expressão muçulmana Allahu (ou Allaahu) akbar, que ora é dada como “Alá é maior”, “Alá é o maior” ou até, em português, “Alá é grande” (por analogia a “Deus é grande”). Imran Alawiye explica que devemos traduzir pelo comparativo, porque o sentido é que “Alá é maior do que qualquer coisa” que exista ou a que se possa referir no mundo. O árabe religioso tem dessas minúcias poéticas, neste caso referir-se ao que estamos fazendo naquela hora em que o muezim da mesquita chama os fiéis à prece. Em outro vídeo, ele também explica que Assalaam alaykum significa literalmente “A paz (de Alá) esteja sobre vocês”, pois o plural evoca a crença de que, mesmo sozinhos, somos circundados pelos anjos da guarda!

Segue o trecho que cortei do vídeo, a transcrição em inglês que pode conter erros (como o inglês não é sua língua materna, Imran Alawiye muitas vezes usa termos coloquiais, termina expressões pela metade, tem uma pronúncia peculiar etc.) e a tradução, que acho mais válida, porque praticamente é a forma explicativa que eu mesmo dei ao conteúdo:


Let’s go back to this section: kabiirun, kabiiratun, that mean “big” or “great”. Now, akbaru, “greater”, or “bigger”, or “larger”. Now, that’s very interesting when people translate Allaahu akbar. Many people will translate it as “Allah is the greatest”. But whereas this is not actually superlative, this is a comparative, “to be greater than...”. And the reason behind that to what we call lugha maftuuḥa [لغة مفتوحة], a very open expression really. So, when for instance the caller to prayer, to us as Muslim[s], we hear Allaahu akbar, and “Allah is greater than”... so, no answer there, that is open. So, whatever we may be doing at that time when we hear the caller to prayer, Allaahu akbar, “Allah is greater than” whatever you’re doing now. “Allah is greater than”... whatever. So, that is a comparative, the more accurate translation of Allaaahu akbar to be “Allah is greater than...”, and then you fill in the gap.

Vamos voltar pra esta seção: kabiirun [masculino], kabiiratun [feminino], que significam “grande”. Agora, akbaru, “maior” ou “mais amplo”. Agora, é muito interessante quando as pessoas traduzem Allaahu akbar. Muitos vão traduzir como “Alá é o maior”. Contudo, isso na verdade não é um superlativo, é um comparativo, “ser maior do que...”. E a razão por trás disso está no que chamamos lugha maftuuḥa [لغة مفتوحة], uma expressão realmente muito aberta. Então, por exemplo, quando somos chamados à prece, nós como muçulmanos ouvimos Allaahu akbar, e “Alá é maior do que”... bem, sem resposta aqui, é algo aberto. Então, o que quer que possamos estar fazendo na hora em que somos chamados à prece, Allaahu akbar, “Alá é maior do que” qualquer coisa que você esteja fazendo. “Alá é maior do que”... o que quer que seja. Então, esse é um comparativo, a tradução mais precisa de Allaaahu akbar é “Alá é maior do que...”, e aí você preenche a lacuna.