sábado, 25 de março de 2023

Putin já foi uma OTANete em 2000?


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Parece mentira, mas Vladimir Putin já aventou a hipótese da Rússia pedir o ingresso na OTAN, caso seus interesses fossem levados em conta, é claro. Mas isso foi em 5 de março de 2000, durante entrevista à BBC britânica, dois dias antes de tomar posse após sua primeira eleição direta, no 26 de março anterior. Tendo sido primeiro-ministro de Boris Ieltsin desde 1999, Putin serviu como presidente interino após a renúncia do bebum, bem na noite de Ano Novo, fato que antecipou as eleições previstas pra junho e favoreceu Putin, que desfrutava de ampla popularidade devido a sua gestão genocida férrea da questão chechena. É o que assistimos neste vídeo sem legendas publicado pela agência russa RBK, apenas com o trecho em questão.

O resumo do material completo também foi descrito em russo pelas agências de notícias Lenta no mesmo 5 de março e Kommersant no dia da posse. Eu mesmo fiz a transcrição das principais partes (também cortei um trecho mais ao meio da própria seleção da RBK), traduzi pro português e legendei o vídeo. Como não tenho tido mais o hábito de legendar devido à expulsão do YouTube, fiz isso mais pra que, além da versão abaixo, pudesse também existir outra versão mais leve e ainda mais curta, compatível com Android e que você pode baixar pra circular nas redes sociais.

O site russo Novoie Vremia (ou New Times) também traz um trecho transcrito, o que me ajudou muito na tarefa, e o artigo em russo no todo traça uma interessante cronologia de como as relações de Putin com a OTAN foram se deterioriando de 2000 a 2018, sendo o “discurso de Munique” de 2007 um dos importantes pontos de inflexão. Na verdade, segundo o autor, que põe em evidência o mito da “fortaleza sitiada”, as primeiras contradições surgiram já em 2004: lembremos que em 2003 os EUA fizeram quase sozinhos a invasão do Iraque e a derrubada de Saddam Hussein, sob reprovação geral.


– A Rússia faz parte da cultura europeia, e não posso conceber meu próprio país como isolado da Europa e do assim chamado, como usualmente falamos, mundo civilizado. Por isso também acho difícil conceber a OTAN como uma espécie de inimigo. [...] Aspiramos à colaboração e à parceria com direitos iguais. Julgamos que só se pode falar em atingir o grau mais alto de integração à OTAN, repito, caso a Rússia seja uma parceira com direitos iguais. Você sabe que nós constantemente nos manifestamos de forma negativa com relação à expansão da OTAN rumo a Leste.
– No final das contas, o sr. acha que a Rússia talvez pudesse entrar na OTAN. O sr. pensa que a Rússia poderia juntar-se à OTAN na qualidade de membro pleno?
– Por que não? Não excluo tal possibilidade, repito, caso os interesses da Rússia sejam levados em conta e ela seja uma parceira com plenos direitos.


– Россия – это часть европейской культуры, и я не представляю себе своей собственной страны в отрыве от Европы и от так называемого, как мы часто говорим, цивилизованного мира. Поэтому с трудом представляю себе и НАТО в качестве врага. [...] Мы стремимся к равноправному сотрудничеству, партнёрству. Мы полагаем, что речь может идти до более высокой степени интеграции с НАТО только в том случае, повторяю, если Россия будет равноправным партнёром. Мы, вы знаете, постоянно высказываемся отрицательно в отношении к расширению НАТО на Восток.
– В конце концов Россия, как вы думаете, наверное, могла бы вступить в НАТО. Думаете ли вы, что Россия могла бы присоединиться к НАТО в качестве полноправного члена?
– Почему нет? Я не исключаю такой возможности, повторяю, в том случае, если с интересами России будут считаться, если она будет полноправным партнёром.



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