Fernando Collor de Mello está bem velhinho e elogia Bolsonaro em inauguração de obra, mas continua com a mesma voz imponente e o mesmo vocabulário empolado. E, claro, o nariz também cresceu não só por conta da velhice, mas porque todo político experiente sofre da “síndrome de Pinóquio”. O que também adquiriu com o tempo foi realismo e cabeça fria, pois deixou de enfrentar os “marajás” e passou a compor com presidentes de todo o espectro político, desde Lula da Silva e Dilma Rousseff até Jair Bolsonaro. Foi assim na inauguração de um bairro popular residencial em Maceió, capital das Alagoas e curral eleitoral de Collor, em 13 de maio de 2021.
Se você é jovem, só deve ter conhecido o Collor moço, ex-presidente da República e atual senador, por vídeos e por relatos de pais, tios ou avós. Inclusive, minha intenção era fazer uma montagem comparando o loucão da década de 1990 com o sereno de agora, mas fiquei com uma baita preguiça. Após o fim da ditadura militar em 1985, ele foi o primeiro presidente desde 1960 eleito pelo voto popular, nas eleições de 1989, quando o Brasil vivia uma grave crise econômica e uma hiperinflação descontrolada.
Como Bolsonaro, ele venceu com a promessa de “virar o sistema de cabeça pra baixo”, mas só trouxe desilusão, pois embora tenha promovido uma abertura econômica e industrial, antecedendo nosso acesso moderno à alta tecnologia, Collor não controlou os preços e se viu envolvido em escândalos de corrupção. A bem da verdade, os valores então concernidos não são nada perto do que PT, PSDB, MDB, PP/Progressistas e Bolsonaros esbanjaram nas últimas décadas, mas no fim das contas, após ser deposto pelo Congresso Nacional, só teve os direitos políticos cassados por 8 anos e não recebeu outras punições.
No fim da mesma transmissão, Bolsonaro fez um breve discurso em que chamou o ex-presidente Lula de “Nove Dedos”, acusando-o de dar prejuízo à Caixa, e o senador Renan Calheiros, então relator da CPI da Covid, de “vagabundo” e “sem moral”. Enquanto isso, ouve-se ao fundo o gado bradando em coro: “Renan... Vagabundooo!!!”. Quando vi por cima uma manchete dizendo que “Ain, o Bolsonaro proferiu um monte de ofensas”, corri pra ver o que era, mas me impressionei que naquele dia ele sequer falou um palavrão ou xingou a mídia!
Claro que em 2021 o presidente estava com a popularidade em baixa e acuado pela investigação no Senado. Mas infelizmente as “esquerdas” estão voltando a passar pano no intragável Renan, como Haddad fez com Maluf em 2012, e assim a “réia pulitca” retoma seu curso normal na Banânia. As capotadas que a Terra Plana dá nos permitem ver inclusive o Mito e o Caçador de Marajás trocando afagos, este obviamente se precavendo muito mais de entrar em temas sensíveis, dada sua experiência.
Mas os dois ex-políticos da ARENA/PP/Progressistas nem sempre foram todo amor. Como publicou o jornal Extra em 2020, Bolsonaro, então recém-alçado a deputado federal perpétuo, acusou Collor em 1991 de não cumprir promessas pra militares e disse que não era pessoa “digna” de ser presidente. Tempos depois declarou: “Aprendi, na caserna, que o Chefe que mente não merece credibilidade. E o Sr. Presidente da República, Chefe do Supremo das Forças Armadas, não deixa de ser um grande mentiroso”. Em setembro de 1992, no curso do impeachment contra Collor, Bolsonaro disse que ele impunha “grande sacrifício” ao povo e assim o descreveu: “Luto com todas as minhas forças para tirar o Presidente que aí está, sem moral para governar o país.”
Nesse universo de morde-e-assopra, quem aí também sempre torce pela briga?
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