quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

“Дети войны” (As crianças da guerra)


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Minha amiga Isabella Martins, de Viçosa, MG, me pediu pra traduzir esta linda apresentação. Vocês já conhecem os vídeos da linda belarussa Angelina Pipper cantando quando ainda era criança, no começo da década de 2010. Mas eu não tinha legendado nada dela já adulta ou mais crescida.

Ela está cantando com uma emocionada interpretação “Дети войны” (Déti voiný), As crianças da guerra, cuja letra foi escrita pelo poeta e letrista Iliá Rakhmilievich Reznik e cuja melodia foi composta pela musicista e compositora Olga Leonidovna Iudakhina. Não sei de quando é a canção, mas ambos os autores ainda estão vivos. O show fez parte do 20.º Festival “Zvezdá” (Estrela) de Canções Militares, transmitido pela televisão em 2017 de Minsk, capital de Belarus. A playlist completa dessa edição está no YouTube.

Curiosamente, há uma música gravada pelo falecido cantor francês de origem armênia, Charles Aznavour, chamada Les enfants de la guerre, literalmente a mesma coisa, de que gosto muito e que também cita essa perda da infância e endurecimento precoce. Eu já falei outras vezes aqui da Angelina Pipper, mas vale relembrar algumas coisas. Jovenzinha, nasceu em 14 de maio de 2000 e sua língua principal de trabalho é o russo, embora também cante em belarusso. Natural da cidade de Brest (Belarus), já ganhou vários prêmios, tendo sido inclusive finalista do Festival de Sanremo Junior. Continua muito ativa e sempre se renovando, e após algum tempo usando o nome de trabalho “Jolya Pi”, Angelina mudou-se pra Cidade do México, por causa do marido que arranjou lá um emprego. Soube desta última informação ao encontrar por acaso um artigo em russo datado de março de 2020, durante pesquisa de fotos.

O conceito de “filhos/crianças da guerra”, em inglês “war children”, também se refere a nascimentos derivados de relações entre soldados de forças ocupantes e mulheres dos países invadidos. É usado, sobretudo, pra crianças geradas por soldados nazistas no norte da Europa, e a discriminação que em geral sofrem não leva em conta situações de estupro ou de entrega ao inimigo por necessidade de sobreviver. Eu mesmo traduzi o texto direto do russo e legendei o vídeo baixado diretamente do canal do festival Zvezdá. Infelizmente, nem tudo foi literalmente traduzido, e também encurtei algumas frases pra adaptar ao audiovisual, mas o sentido essencial ficou intacto:




Дети войны,
Смотрят в небо глаза воспаленные.
Дети войны,
В сердце маленьком горе бездонное.

В сердце, словно отчаянный гром,
Ленинградский гремит метроном,
Неумолчный гремит метроном.

Дети войны
Набивались в теплушки открытые.
Дети войны
Хоронили игрушки убитые.

Никогда я забыть не смогу
Крошки хлеба на белом снегу.
Крошки хлеба на белом снегу.

Вихрем огненным, черным вороном
Налетела нежданно беда,
Разбросала нас во все стороны,
С детством нас разлучив навсегда.

Дети войны
В городках, в деревеньках бревенчатых.
Дети войны,
Нас баюкали русские женщины.

Буду помнить я тысячи дней
Руки близких чужих матерей.
Руки близких чужих матерей.

Застилала глаза ночь кромешная,
Падал пепел опять и опять,
Но спасением и надеждою
Нам была только Родина-мать.

Дети войны,
Стали собственной памяти старше мы.
Наши сыны,
Этой страшной войны не видавшие,
Пусть счастливыми будут людьми!
Мир их дому, да сбудется мир!
Мир их дому, да сбудется мир!

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As crianças da guerra
Olham ao céu com olhos inflamados.
As crianças da guerra
Têm mágoa incontável no coraçãozinho.

No peito, como trovão apavorado,
Ressoa um metrônomo de Leningrado,
Ressoa um metrônomo incalável.

As crianças da guerra
Se espremiam em vagões abertos.
As crianças da guerra
Enterravam brinquedos assassinados.

Nunca vou poder esquecer
Os pingos de gente na neve branca.
Os pingos de gente na neve branca.

Tal cortina de fogo ou corvo negro,
A desgraça aportou sem aviso,
Nos dispersou pra todos os lados,
Apartando-nos pra sempre da infância.

As crianças da guerra
Nas cidadelas, nas aldeolas de madeira.
As crianças da guerra,
As mulheres russas nos acalentaram.

Vou lembrar por milhares de dias
As mãos das íntimas mães estranhas.
As mãos das íntimas mães estranhas.

A noite escura nos encobria os olhos,
As cinzas caíam de novo e de novo,
Mas a salvação e a esperança
Pra nós foi apenas a Mãe-Pátria.

As crianças da guerra,
Ficamos mais velhos que a própria memória.
Que nossos filhos,
Que não viram essa guerra terrível,
Sejam pessoas felizes!
Que a paz se realize em seus lares!
Que a paz se realize em seus lares!




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